Bertila, nascida em 630, de pais nobres e
piedosos, não sentia satisfação com a vida fútil só de folguedos e festas. Com
o passar dos anos, aumentou essa insatisfação e a certeza de que não
encontraria a felicidade nos prazeres que o mundo oferecia, nas aldeias e nos
palácios. Dizia sempre que sua vida estava destinada à caridade e à humildade a
serviço de Deus. E assim aconteceu.
No início da adolescência, a seu pedido e
com aprovação dos pais, ingressou no mosteiro beneditino de Jouarre, próximo de
Paris. Assim, bem jovem, já vivia sob a regra de São Columbano, no mosteiro de
Jouarre, perto de Meaux, que fora fundado entre 658 e 660. Sob a abadessa Teodequiles,
Bertila foi uma das melhores monjas da fundação.
Quando a Rainha Batilda, esposa do rei
Clóvis II, decidiu organizar um mosteiro em Chelles, recorreu a Jouarre, e
Bertila foi encarregada de presidir os trabalhos da nova casa. Ali, mais tarde,
a própria soberana passou o resto da vida, submissa à doce abadessa. Santa
Batilda faleceu em 680, e Bertila trinta e três anos depois, isto é, em 713.
Um dia, quando Santa Bertila ainda vivia
no mosteiro de Jouarre, conta-se que uma irmã, depois de lhe falar com ira,
faleceu. A Santa tremeu. O que aconteceria àquela alma que assim se fora toda
em cólera contra ela? Achegou-se, depois de muita mortificação, ao lado do
cadáver, e pousou, delicadamente sobre o peito da morta, uma das mãos, e rogou
a Nosso Senhor que não a deixasse ir antes dum perdão formal.
No mesmo instante, a irmã abriu os olhos e
fitou a companheira. Perguntou:
- Por que me fizeste voltar do caminho tão
brilhante que se me estendia pela frente? Que fizeste, irmã?
Bertila, humildemente, rogou-lhe que não
se fosse sem que a perdoasse; que se esquecesse do acontecido entre ambas.
- Que Deus te dê indulgência, disse então
a irmã. Não guardei qualquer rancor de ti. Pelo contrário, amo-te muito, e
quero convidar-te que peças a Deus por mim. Agora, deixa-me partir em paz, não
me retardes mais, porque o brilhante caminho está perto. Sem tua permissão, não
o ganharei.
Santa Bertila respondeu:
- Vai, então. Vai na paz de Nosso Senhor e
roga por mim, doce e amável irmã.
A outra fechou os olhos e deixou de viver.
O fervor que Bertila transmitia na piedade
e caridade contagiou todas as religiosas. A fama de celeiro de santidades do
mosteiro ganhou as cortes de toda Europa. E os pedidos para ingressar no
Mosteiro de Chelles começaram a chegar de todos os lugares. Eram dezenas e mais
dezenas de mulheres que queriam seguir o exemplo de humildade da abadessa
Bertila, abandonando a nobreza para dedicar a vida à penitência, oração e
caridade, aos pobres e doentes abandonados.
Assim, no Mosteiro de Chelles ingressaram
várias princesas e rainhas. Até mesmo a sua fundadora, Rainha Batilda, que,
influenciada pela jovem abadessa, trocou a coroa pelo hábito beneditino.
A incansável santa Bertila, como era
chamada por todos ainda em vida, dirigiu a instituição por quarenta e seis
anos, até morrer em 5 de novembro de 705. O seu corpo foi sepultado no
cemitério do mosteiro, local que logo se tornou rota de peregrinação dos fiéis,
desejosos de agradecer a intercessão da querida santa.
Mais tarde, o culto e a festa de Santa
Bertila foram confirmados pela Igreja; ela é festejada no dia de sua morte. As
suas relíquias, hoje, estão guardadas na bela Catedral de Chelles.
Fontes:
Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XIX, p. 205-206;
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