sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Santas Eustolia e Sopatra, virgens e monjas de Constantinopla – 9 de novembro

    
     Os menologistas são muito lacônicos a respeito destas santas. No entanto, o código gregoriano do Vaticano 807 (século X) dá-nos uma informação mais difundida: Eustolia, nascida em Roma, foi a Constantinopla e se pôs a visitar as igrejas para fazer suas devoções. Próximo da Basílica da Santa Mãe de Deus, no distrito de Blacherna, ela conheceu Sopatra, filha do imperador Maurício (582-602), que se uniu a ela e implorou que ela se tornasse sua "mãe espiritual".
     Elas conquistaram outras jovens e tentaram fundar um mosteiro. Sopatra obteve uma terra de seu pai, onde construiu uma capela e edifícios monásticos. Com a morte de Eustolia, ela assumiu a direção do mosteiro: este foi construído perto do chamado toù panagiòn, que mais tarde recebeu o título de Theotocos dos "mongóis", sob o Phanar.
     A festa das duas santas está inscrita no dia 9 de novembro no Martirológio Romano e no sinassário bizantino.





O monaquismo

     A palavra ‘monaquismo’ vem do grego ‘moncos’ = aquele que está só; designa uma forma de vida cristã totalmente consagrada a Deus no retiro, no silêncio, na oração, na penitência e no trabalho.
     O monaquismo cristão tem seus fundamentos imediatos no próprio Evangelho, onde Nosso Senhor Jesus Cristo aconselha a deixar tudo e seguir incondicionalmente o Cristo - ver Lc 9,57-62; Mt 19,16-22, 1Cor 7,8s.25-35. Pode-se crer, com o testemunho de São Paulo em 1Cor 7, que já nas primeiras décadas do Cristianismo havia homens e mulheres que se abstinham do casamento para poder-se consagrar mais plenamente ao serviço de Deus.
     No século III essa modalidade de vida ascética tomou a forma eremítica: os cristãos retiravam-se para o deserto, tendo como modelo Santo Antão (251-356), considerado o Patriarca do monaquismo. Filho de família rica, ouviu o apelo do Senhor proclamado na igreja e resolveu deixar tudo, retirando-se para o deserto do Egito, após ter providenciado a subsistência de sua irmã mais jovem. A Vida de Sto. Antão, escrita no século IV por Santo Atanásio, exerceu grande influência sobre as gerações posteriores.
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     A vida eremítica foi cedendo aos poucos à vida cenobita ou comunitária. Esta apresentava suas vantagens, a saber: mais frequente ocasião de se praticar a caridade e controle da comunidade sobre atitudes e comportamentos, às vezes esdrúxulos, dos monges eremitas. São Pacômio (c.346) foi o primeiro organizador da vida cenobítica, que ele quis submeter a uma Regra e a um superior chamado “Abade” (= pai). A Regra visava a regulamentar a disciplina dos monges na oração, no trabalho, no vestuário, na alimentação, apresentando um caminho de santificação concebida pela sabedoria do Fundador. A casa dos cenobitas tomou o nome de monastérion em grego (donde mosteiro, em português). O primeiro mosteiro data de 320, fundou-o São Pacômio em Tabenisi, a 575 km ao sul da moderna cidade do Cairo.
     Em Constantinopla, o monaquismo desenvolveu-se por influência dos monges orientais. O primeiro mosteiro foi fundado em 382.
     Os mosteiros tanto podiam acolher um reduzido número de monges como algumas centenas. Desenvolviam tarefas de carácter caritativo como: o acolhimento de órfãos e de pessoas idosas, a administração dos hospitais e de hospícios. A sua fundação cabia geralmente à iniciativa de um particular, cujos objetivos eram, acima de tudo, fazer uma doação pia e ao mesmo tempo reservar o seu lugar de recolhimento ou de sepultura. No entanto, os mosteiros e os seus monges permaneceram sempre sob a autoridade do bispo.
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     Ao lado dos mosteiros masculinos fundaram-se grande número de mosteiros femininos. Estes tinham suas raízes especiais na prática de consagrar a virgindade ao Senhor seja mediante voto particular, seja mediante voto público de castidade (cf. 1Cor 7,37s). Os escritores dos séculos III e IV: Tertuliano (c.220), São Cipriano (c.258), Metódio de Olímpio (c.311), Santo Ambrósio (c.397) deixaram escritos que louvam e recomendam a virgindade consagrada.
     São Pacômio fundou dois mosteiros femininos. Geralmente tais mosteiros ficavam situados nas proximidades dos cenóbios masculinos, a fim de facilitar o intercâmbio espiritual, o mútuo auxílio econômico e a proteção em casos de assalto (como ocorriam às margens dos desertos). Houve mesmo mosteiros duplos – o masculino e o feminino – separados entre si pela igreja conventual.
     Esta disposição acarretava perigos de ordem moral, por isto o concílio regional de Agde (Gália) em 506 e o Imperador Justiniano em 546 proibiram a existência de mosteiros duplos. O concílio de Nicéia II em 787 proibiu ao menos a fundação de novos e baixou medidas relativas aos já existentes. Todavia no Ocidente esse tipo de instituição perdurou até o fim da Idade Média com bons frutos espirituais, principalmente no século XII.
     Em Bizâncio, os mosteiros tiveram um papel de relevo. No entanto, durante a crise iconoclasta, os monges foram perseguidos de tal forma que tiveram que fugir para o Ocidente. Só com a Imperatriz Irene é que retomaram o lugar perdido para novamente serem perseguidos no segundo período iconoclasta. Depois do triunfo dos ícones, assistiu-se a uma renovação e incremento da vida monástica, visível do século IX ao século XI, continuando os monges a ser beneficiados pelos imperadores. Foram dotados de meios importantes e tornaram-se materialmente independentes, adquirindo mais autonomia, mesmo em relação ao poder do bispo.
     A partir do século XII, a fundação de mosteiros fica muito restringida e durante o século XIII passaria a ser raríssima, uma situação que se vê agravada com a tomada de Constantinopla pelos latinos. Teria de se esperar pela renovação cultural que ocorreria no século XIV para se assistir ao nascimento de novas fundações.

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