sexta-feira, 1 de março de 2019

Beata Maria de Jesus Deluil-Martiny, Virgem, Fundadora – 27 de fevereiro

    
     O cardeal De-Champs, na época Arcebispo de Malines-Bruxelas, chamou-a "a Teresa d’Ávila do nosso século".
     Maria Deluil-Martiny nasceu em 28 de maio de 1841. Seu pai é um brilhante e renomado advogado, e excelente católico. Sua mãe é uma digna sobrinha bisneta da Venerável Ana Madalena Remuzat, a visitandina que durante a peste de 1720 havia conseguido que Marselha se consagrasse ao Coração de Jesus.
     Maria é a mais velha, tem um irmão e três irmãs. Foi educada pelos pais e pelas religiosas da Visitação. Um dia as Irmãs contam suas travessuras ao Mons. de Mazenod, fundador dos Oblatos de Maria Imaculada (canonizado em 1995), que lhes responde: "Não se inquietem, são coisas de menina; verão que um dia será a Santa Maria de Marselha".
     A sua personalidade se revela na idade de onze anos quando no pensionato ela reúne algumas amigas e forma com elas uma comunidade em miniatura, com regra, noviciado e oblação. Descoberta sua existência, as “Oblatas de Maria” foram suprimidas.
     Aos 16 anos, prossegue sua formação em Lyon com as religiosas do Sagrado Coração, fundadas por Santa Sofia Barat.
     Antes de deixar Lyon, Maria quer ir a Ars. O Santo Cura, João Batista Maria Vianney, está no fim de sua longa e heroica jornada; a multidão se aperta a seu redor para vê-lo e ouvi-lo uma última vez, no ano seguinte Deus chamará para Si o seu servo fiel.
     Acompanhada da avó, Maria fica dois dias em Ars sem poder aproximar-se dele; preparando-se para partir faz uma última oração no altar de Santa Filomena, quando o bom ancião vem ajoelhar-se próximo a ela: “Padre, lhe diz vivamente Maria, havia desejado tanto consultar o senhor a respeito de minha vocação!”. Minha filha, antes de a conheceres, terás de rezar muitos Veni, Sancte Spiritus. Sim, serás toda de Deus, mas deverás esperar longamente no mundo”. Depois a faz entrar no confessionário.
     A provação não a poupa. Retornando à sua família, perde a sua irmãzinha Clemence, de dez anos. Maria escreve “Clemence era a metade da minha alma, a paixão do meu coração”. Pouco tempo depois morrem a avó paterna e a materna. Sua mãe sempre em sofrimento depois do nascimento da última filha, se faz substituir por Maria nas numerosas obras de caridade por ela animadas.
     Provada pela aridez, escreve no seu diário: “Não podendo amar Nosso Senhor, fazia de tudo para fazê-lo conhecer e amar pelos outros”.
     Em 1864, providencialmente cai em suas mãos um folheto procedente da Visitação de Bourg-en-Bresse intitulado: Guarda de honra do Sagrado Coração: finalidade da obra. Ela lê e relê essas linhas que parecem dirigidas a sua alma de fogo. A 7 de fevereiro escreve ao Mosteiro solicitando ser inscrita na Guarda de honra e oferecendo-se, cheia de entusiasmo, para trabalhar pela obra.
     Inicia-se então uma ativa correspondência entre a Irmã Maria do Sagrado Coração e a "pequena Maria", como a chama carinhosamente a fundadora. Maria consegue seu primeiro êxito fazendo chegar a Guarda de Honra até Santa Sofia Barat, que se inscreve com todas suas religiosas.
      No dia 5 de junho do mesmo ano, o Cardeal de Villecourt consagra solenemente a nova igreja de Nossa Senhora da Guarda, em Marselha. É uma cerimônia impressionante a qual assiste também o Cardeal Pitra e grande número de bispos franceses. Maria consegue que os dois cardeais e 20 bispos se inscrevam na Guarda de Honra.
     Durante um retiro, em maio de 1865, Deus liberta sua alma de uma dolorosa cruz que a oprimia. Encarregada de recolher os pensamentos sobre o Sagrado Coração nas Obras de São Francisco de Sales, o faz com uma capacidade surpreendente.
     Na última sexta-feira do mês de dezembro de 1866, o Rev. Padre Calage, S.J, pregando sobre o Sangue e a Água brotados do Coração trespassado de Jesus, toca vivamente Maria e se torna seu guia espiritual. Em março de 1867, ela perde sua irmã mais jovem, Margarida, de quinze anos.
     No mesmo ano, durante um retiro, imersa em profunda adoração procurava identificar-se aos atos de adoração do Coração Sacratíssimo de Jesus, para adorar por meio d´Ele, a Adorável Trindade. Uma noite de setembro, deste ano de 1867, enquanto rezava em uma igreja sente Jesus lhe dizer interiormente:
     Não sou conhecido, não sou amado… sou um tesouro que não é apreciado, quero preparar para mim almas que possam compreender-me. Sou uma torrente que quer transbordar e da qual não se pode mais conter as águas! Quero fazer para mim almas que as recolham, quero fazer para mim cálices para encher-lhes das águas do meu amor… Tenho sede de corações que me apreciem e me façam alcançar o fim pelo qual permaneço sobre os altares!… Quero difundir todas as graças que foram desprezadas… Sabes que coisa que dizer adorar? Eu sou o único que realmente adora!
     Em novembro de 1868, Maria Deluil-Martiny pronuncia um ato de doação total ao Coração de Jesus. Durante a Santa Missa é posto sobre o altar e é assinado: Maria de Jesus, Filha do Coração de Jesus.
     Em setembro de 1869, assim expõe seu plano:
     “... A Eucaristia, a recordação do Calvário, a Igreja, eis em que coisa se concentra a vida da Virgem Santíssima depois da Ascensão. As Filhas do Coração de Jesus serão as adoradoras da Eucaristia exposta solenemente nas igrejas do seus Mosteiros e a cercarão do mais profundo respeito e amor: esta será a sua vida, a sua razão de ser. Elas serão vítimas com a Virgem Maria: para honrar os íntimos sofrimentos do Coração de Jesus, a sua imolação mística sobre o Altar e o martírio oculto e silencioso de Maria. A sua imolação será sobretudo interior”.
     No mesmo mês, Maria escreve também:
     A cada hora, Jesus Cristo se imola sobre o Altar. Se oferece, mas quer ser oferecido por nós… Mas não somente devemos oferecer Jesus, devemos também nos imolar, nos deixar imolar com Ele continuamente, e completar o que falta à sua Paixão”.
     Em janeiro de 1872 morre o seu único irmão e, em fevereiro, a única irmã que lhe restava. Sua mãe está sempre em sofrimento e seu pai muito enfraquecido pela dor.
     Em 19 de junho de 1873, na modesta capela de uma casa de campo de Berchem (na Bélgica), Mons. Van den Berghe impõe o véu àquela que se torna Madre Maria de Jesus e algumas de suas companheiras. No dia seguinte, 20 de junho, festa do Sagrado Coração, depois a primeira Missa em comunidade, essas recitam as Sete Palavras de Jesus na Cruz e o Magnificat.
     O fim próprio das Filhas do Coração de Jesus, assim se chamam as religiosas da Madre Maria de Jesus, é de responder tanto quanto possível, ao amor muito desconhecido do Coração Divino de Jesus. Com esta finalidade, elas se propõem:
     1°. A oferecer ao Coração de Jesus, Sacerdote e Vítima no Santíssimo Sacramento do altar, uma reparação perpétua pelos horríveis ultrajes feitos à Divina Majestade, especialmente por aqueles que ferem mais profundamente este Coração adorável, como os sacrilégios, as profanações da Santa Eucaristia, a impiedade dos perseguidores da Igreja.
     2º. A agradecer continuamente ao Coração de Jesus por seus benefícios muito frequentemente incompreendidos, de sua grande misericórdia para com os pecadores e, sobretudo pelas especiais bênçãos que Ele prodigaliza às almas sacerdotais e religiosas.
     3º. A oferecer incessantemente à Santíssima Trindade o Sangue precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, com constantes súplicas para obter o advento do reino de Cristo no mundo, o triunfo da Santa Igreja, a extinção das sociedades secretas, e sobretudo a perfeição, a santidade cada vez mais crescente do Sacerdócio católico e das Ordens religiosas.
     Elas terão como patrona e modelo, Maria, Mãe da Igreja. Unidas o mais perfeitamente possível aos sentimentos e às disposições da Virgem Maria, seja quando de pé aos pés da Cruz oferecia à Justiça divina pela salvação do mundo o Sangue precioso do seu divino filho, seja quando, nos últimos anos de sua vida, toda penetrada pelas recordações do Sacrifício cruento da Cruz e revivida continuamente pela realidade do Sacrifício de nossos altares, Ela se dedicava ao bem da Igreja nascente e a sustentava com as suas orações e a sua imolação oculta, as Filhas do Coração de Jesus não cessarão de oferecer suas orações, penitências e ocupações, o seu sacrifício e a sua própria vida, pelos interesses da Igreja Católica, do Sacerdócio e das Ordens religiosas”.
     Elas celebram a liturgia das horas; alternam-se a cada meia hora em adoração diante do Santíssimo Sacramento exposto. Seguem a regra de Santo Inácio. As Constituições foram aprovadas em 1876, pelo Cardeal De-Champs, Arcebispo de Malines. Em 17 de agosto de 1878, a Basílica do Sagrado Coração em Berchem é confiada a seu Instituto, esta é a Paray-le-Monial da Bélgica. Em 22 do mesmo mês, cinco religiosas pronunciam os votos perpétuos. A fundação de um mosteiro Aix-en-Provence em 1877, é seguida em 1879 daquela da Servianne próximo a Marselha.
     Eis como Maria de Jesus vê a mortificação:
     Os sofrimentos causados pelo calor e pelo frio são verdadeiras fortunas por uma alma mortificada. Suportadas em silêncio essas são uma mortificação preciosa; ninguém as vê e percebe; tudo é só por Jesus”.
     No mês de abril de 1882 ela é obrigada a fechar o mosteiro de Aix-en-Provence devido à ameaça de perseguição por parte do governo francês. As religiosas são acolhidas parte em Berchem, parte em La Servianne.
     Madre Maria de Jesus escreve: “Legalmente, eles não têm nenhum poder sobre nós na La Servianne: estou na minha casa, na propriedade da minha família por quatro gerações e nenhum tribunal pode me mandar sair daqui. Mas, em nome da revolução, com o motim, os infames poderão quanto Deus permitir. Não haverá regras que os detenham. Quanto a nós, permaneçamos muito tranquilas...”.
     Madre Maria de Jesus é uma religiosa, uma contemplativa, mas não vive nas nuvens, fora do mundo. Nem é ignorante ou ingênua. A família e o ambiente do qual provém lhe abriram os olhos a tudo. Assim, o quadro que traça nesta carta de 8 de dezembro de 1882 é completo, a visão da História do mundo é lúcida, com um conhecimento claro de quanto gera na sociedade a rebelião contra Cristo e a Sua Igreja. Na segunda parte da carta, ela escreve:
     "Ao ver o triunfo do erro, a aparente legalidade com que se quer legitimar tanto mal, deveríamos nos desesperar do presente e do futuro? Não, irmãs, nunca! Jesus venceu satanás e o mundo! A Jesus Cristo pertence todo poder; ao ouvir o seu Nome todos os joelhos se dobram, inclusive nos abismos. As nações Lhe foram dadas em herança. Enquanto Ele permite que o monstro infernal se agite aos seus pés em fugazes e falsos sucessos, Ele vence e triunfa, os Anjos já cantam a Sua vitória definitiva. As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja fundada por Ele. O triunfo final não é para aqueles que trazem as insígnias do dragão, mas para nós que levamos o nome de Jesus Cristo sobre nossas frontes e o Seu amor em nossos corações!"
     "A Igreja prossegue de luta em luta, de conquista em conquista, até a eternidade bendita. Engana-se quem quisesse, no momento presente, julgar o conjunto das coisas. Nós temos a promessa e a certeza da vida eterna e, aquilo que conforta: Deus triunfa tão mais grandiosamente quanto mais a nós custa a vitória...."
     "A nossa tarefa é lavrar a terra, trabalhar removendo penosamente o terreno! Outros colherão a seara... Mas esta, fecunda e copiosa, será colocada certamente no celeiro do Pai celeste... Modestas operárias desta grande obra, trabalhemos no silêncio e na esperança. Rezemos - é a condição para o sucesso; reparemos, porque a dor suprema é a de ver Deus ultrajado e blasfemado; soframos, lutemos, morramos, se for preciso, certas de que lá no alto a Providência vela, a Onipotência de Deus nos assiste e tornar-se-á vitoriosa..."
     "Nós somos da estirpe de Maria Santíssima, a qual Deus mesmo pôs na inimizade perpétua com a raça de satanás, estirpe à qual Ele dá a vitória por meio de Jesus Cristo, sem, entretanto, eximi-la da fadiga, nem privá-la da honra e do mérito da luta".
    Em 10 de janeiro de 1883, Madre Maria de Jesus escreve à uma amiga: “O meu coração sangra pelo triunfo escandaloso da impiedade e das seitas! E é para reparar tais ultrajes que o nosso Instituto surgiu. Ah, se pudesse lavá-los com meu sangue! Se tivéssemos um coração de serafim!
     Ela está pronta para o supremo sacrifício. Em 27 de fevereiro de 1884 é assassinada em Servianne pelo jardineiro do convento, um anarquista, que naquela mesma manhã tinha mandado ao jornal “L’Hydre anarchiste” uma carta incitando os companheiros a imitá-lo. A sua vítima morre dizendo: “Vos perdoo, pela Obra!
     Ela foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 22 de outubro de 1989, após o reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão. O martírio em odium fidei não foi atestado.
Seu corpo incorrupto no mosteiro de Roma
Fonte: www.figliedelcuoredigesuvenezia.it/
Por Padre Penning de Vries S.I.

Postado pela 1ª vez neste blog em 24 de fevereiro de 2011

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