segunda-feira, 8 de abril de 2019

Venerável Maria Teresa Gonzales Quevedo, Virgem do Instituto das Carmelitas da Caridade de Santa Joaquina de Vedruna – 8 de abril

     
     No dia 9 de junho de 1983 o papa João Paulo II proclamou Venerável uma jovem espanhola de Madri: Maria Teresa González-Quevedo, que viveu só 20 anos, de 12 de abril 1930 até 8 de abril 1950. A Igreja coroara assim, oficialmente, esta breve existência, mas vivida intensamente, concluída no noviciado das Carmelitas da Caridade, a congregação onde ela queria viver toda sua vida na oração e no apostolado ativo, com o desejo claro de trabalhar em terra de missão.
     A vida desta jovem madrilena está ligada de vários modos à Companhia de Jesus. De fato, Teresita (como comumente era apelidada) formou sua vida espiritual na participação ativa à Congregação Mariana, por ela frequentada no Instituto das Carmelitas da Caridade, onde fez seus estudos.
     É conhecido que as Congregações Marianas têm sua origem na Companhia de Jesus. Os Jesuítas as difundiram em boa parte do mundo católico, como uma "via" do compromisso cristão, aberta especialmente aos jovens, que levam ao seu ambiente, família, lugar de trabalho e atividades apostólicas, os valores de uma espiritualidade amadurecida graças aos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, fundador dos Jesuítas.
     Outro laço com a Companhia de Jesus é o fato de que a família da Ven. Maria Teresa conta entre seus parentes dois jesuítas, irmãos do pai de Teresita, um deles é o Pe. Antônio González-Quevedo. Deste, Teresita recebeu a Primeira Eucaristia.
     O período em que viveu não foi nada tranquilo, aliás foi o tempo da violenta guerra civil espanhola, durante a qual se desencadeou uma verdadeira perseguição religiosa, que causou a morte de 7.000 padres e 13 bispos. Entre esses mártires há também três irmãos do pai de Teresita.
Os primeiros anos
     Maria Teresa González Quevedo nasceu em Madri o dia 12 de abril de 1930, após o irmão Luiz e a irmã Carmem. O pai, Calisto González, era um conhecido médico da capital. A mãe era Maria do Carmo Cadarso, sobrinha do almirante Luís Cadarso y Rei, tombado na batalha de 1898, a bordo do cruzeiro “Regina Cristina”.
     A Venerável cresceu numa grande casa no centro de Madri, no coração da elegante capital, a praça do Oriente, na frente do Palácio Real. A primeira infância foi serena, e sua escola foi a do Instituto das Carmelitas da Caridade. Uma escolha favorecida pelo fato que uma tia de Teresita, Ir. Carmem, lecionava no Instituto. A mesma que anos depois a teria acolhido como Madre Mestra no noviciado.
     Maria Teresa amava o ambiente da escola, menos o estudo... e se entusiasmava pelos jogos e por isso sabia escolher com cuidado as companheiras de time. Era muito procurada pela sua habilidade, era generosa em tantas pequenas coisas da vida quotidiana, e por causa disso as pessoas não hesitavam em recorrer a ela.
     Uma madrilena autêntica, com um extraordinário humorismo, uma menina como todas as outras, mas com uma inquietação na alma que pouco a pouco a teria levado muito longe, além do quanto ela podia prever, até a doação total ao Senhor. Desta “inquietação” encontramos o primeiro traço numa anotação quando ela tinha dez anos, mesmo com falhas gramaticais: “Decidi me tornar santa”.
     Aos treze anos Maria Teresa já tinha uma fisionomia interior e um caráter bem delineados. Não é alta, mas bem proporcionada e muito ágil. Loira, com olhos azuis um pouco amendoados e uma atitude que convida ao sorriso. Quem a conheceu a lembra como muito elegante e com uma postura distinta inconfundível. Neste período desenvolveu os fundamentos da vida espiritual, graças aos Exercícios Espirituais ocorridos em seu Instituto.
     Seu caráter ia se manifestando decidido e corajoso. Aprendeu a dirigir o carro e o pai nos conta como devia ter cuidado com ela, já que Teresita se lançava na estrada sem hesitação ou medo. Uma vez se encarregou de furar as orelhas de uma amiga para lhe colocar os brincos. Logo no começo a “vítima” sentiu-se mal e desmaiou. Mas Teresita, filha de médico, em lugar de se apavorar, achou que era o momento próprio para continuar seu trabalho e, aproveitando da inconsciência de sua amiga, colocou imediatamente os brincos. Uma firmeza assim unida a um fino equilíbrio, uma calma que lhe conferia um característico domínio nas mais variadas situações.
     No tempo em que Maria Teresa frequentava o Instituto, foi instituída a Congregação Mariana, que foi logo apresentada com suas exigências de compromisso. Teresita foi logo conquistada por este ideal, no qual confluía sua particular devoção à Virgem Maria.
     Os companheiros de Teresita testemunharam que com sua participação à Congregação Mariana, começou nela uma verdadeira evolução interior, surpreendente e definitiva.
     A cada congregada era entregue uma medalha. Segundo o costume. Maria Teresa devia fazer gravar uma frase e ela escolheu uma que expressasse seu programa de vida: “Minha mãe, que quem me olhe Vos veja”.
     Durante a celebração Mariana do mês de maio, eis que Teresita formula uma oração especial, expressando algo que sente muito profundamente, mesmo se ainda não totalmente claro: “Minha Mãe, dá-me a vocação religiosa”!
     Este desejo de doação total ao Senhor apareceu espontâneo num episódio na tarde de um domingo, quando Teresita conversava com uma amiga que lhe confia: “Eu viajarei, vou me divertir durante a juventude, e quando serei mais velha entrarei no convento para me garantir o Céu”.
     A resposta de Teresita foi imediata e reveladora: “Como você é mesquinha e egoísta!... E você acha que Jesus vai te aceitar cheia de achaques, depois que deu sua parte melhor ao mundo? Jesus tem gostos melhores, e Ele quer de presente a juventude, com suas alegrias e seus sonhos!”
     É o ano de 1947. Teresita tem 17 anos. No verão a família vai para Fuenterrabía, ao norte da Espanha, para tirar férias na praia, não muito longe da divisa francesa. Ali Teresita está magnificamente: pescava, jogava tênis e participava das típicas danças bascas na praça da aldeia. Mas não esquecia o compromisso em prol dos outros. Participava ativamente nas vendas de beneficência em favor das missões.
     Sabemos de um rapaz que se enamorou dela, Luís José González-Gillén, hoje engenheiro da aeronáutica; no dia de vestir o hábito religioso, lhe enviou um lindo buquê de flores brancas.
     Maria Teresa, entretanto, tinha clara a decisão de dar o "grande passo", pedir para ingressar no Noviciado das Carmelitas da Caridade. Mas era uma decisão que ninguém ainda conhecia e, que, aliás, teria surpreendido muitas pessoas.
     Acabado o verão, recomeçou o ano escolar. No fim de outubro, algo de extraordinário: a participação a um encontro da Juventude Missionária que as Carmelitas organizaram em Tarragona. Cerca de 400 jovens de toda a Espanha vieram para esta cidade e o grupo de Madri era guiado pela própria Maria Teresa. Uma participação, como sempre, ativa e entusiasta.
     O tema do encontro em Tarragona era sobre as missões na China. Teresita – já sensível a estes assuntos – é mais uma vez conquistada pelo ideal missionário, inclusive já tinha uma "adoção à distância" de um menino das missões, enviando ofertas para sua formação.
Durante o Noviciado manifestou explicitamente este desejo: “Tenho uma evidente vocação missionária: minha vocação é claríssima”. Mas, como aconteceu com santa Teresa de Lisieux – que desejava deixar a França para viver no Carmelo do Vietnã – a doença lhe proibiu de realizar este sonho, ao menos nesta terra...
     Aos 21 de novembro de 1947 decidiu comunicar sua opção para a tia, Irmã Carmem, que mora em Carabanchel, onde está o noviciado. A tia compreendeu a seriedade da decisão da sobrinha, mas procurou faze-la refletir.
     Como Teresita era muito devota à Virgem Maria, o Pe. Músquiz lhe sugere comunicar sua decisão à família na festa da Imaculada, 8 de dezembro. Mas Teresita quer comunicar a notícia só após a festa da Epifania, de modo que o período natalino passe serenamente.
     Acabado o tempo de Natal, aos 7 de janeiro de 1948, Teresita comunica ao pai a "grande notícia". O pai compreende, conhece a filha, sabe que se ela decidiu é porque ela está ciente daquilo que faz; mesmo assim procura fazê-la refletir, mas ela comunica ao pai a data de entrado no Noviciado: 23 de fevereiro.
     Outra paixão de Teresita era a neve, que nunca falta em Madri durante o inverno. E para "batalhar com bolas de neve" a grande Praça d’Oriente era o ideal! Na véspera da partida, aos 22, veio saudá-la a amiga Amparo. Esta admira o elegantíssimo vestido de Teresita, parece surpreendida por tanta elegância. Teresita entende e sorri: "Você sabe, Amparìn, eu gosto de me vestir bem e todas estas coisas me dão prazer, mas quando entrar no Noviciado tudo isso acabará. Quero ser santa, não quero mediocridade".
     Durante a noite uma nevada cobre de branco a grande cidade de Madri e na manhã do dia 23 de fevereiro de 1948, Teresita, feliz, agradece ao Senhor por esta sua "delicadeza" a seu respeito.
     No noviciado de Carabanchel Teresita encontrou o que mais profundamente desejava: o que mais apreciava era o estilo de vida pobre das carmelitas, em contraposição aos luxos e à riqueza que sempre tivera em família. Aqui aprofundou seu amor à Virgem Maria, e o resultado foi uma grande confiança: “Dela consigo tudo, sinto-a ao alcance da mão. Se nossas mães nos amam tanto, quanto nos amará a Santa Virgem? O que Ela nos recusará? Estou certa que serei santa, porque o peço à Virgem e Ela pode tudo”. E continuava: “Tenho muita devoção para com São José. O que diriam Jesus e Maria, se não amasse este grande Santo?”
     Na hora de receber a veste de postulante, Ir. Carmem não pode deixar de contemplar a beleza de seus cabelos que serão escondidos pelo véu. Admira os cachos dobrados com cuidado e comenta: “Oh! quanta vaidade, quanta vaidade!” Teresita retruca: “Sim, madre, muita, mas agora acabou tudo!”
     Maio de 1949 o último na vida de Teresita. No começo do mês Teresita diz: “Outras vezes vi claramente o que a Virgem pede de mim, mas agora não vejo nada...” No entardecer, alguém nota que Ir. Maria Teresa está com febre: “Não está bem?” – lhe pergunta a tia, que é também Mestra. “Que nada! Sinto-me sim, preguiçosa”. Mas o termômetro explicou o motivo daquela preguiça.
     Durante o noviciado Teresita lera a História de uma alma de Santa Teresa de Lisieux e escreveu no seu diário: “Da pequena via de Santa Teresa gostei muito, mas, para mim, acho que esta via deve passar pela Santa Virgem”.
     Santa Teresa de Lisieux prometeu de “passar seu Céu fazendo o bem na terra”: Maria Teresa dizia para a Madre Provincial: “Madre, aqui não lhe seria muito útil, mas do Céu verá quanto trabalharei!” A às colegas noviças: “No Céu estarei muito ocupada, apresentando [à Virgem Maria] todas as homenagens que lhe são oferecidas!”
     Teresita sofria uma pleurite aguda, que a manteve de cama todo o mês de maio, mesmo assim não parava de difundir otimismo, amabilidade e alegria. Uma melhora – mais ilusória do que real - permitiu-lhe voltar logo à vida normal, mas a doença continuava seu curso.
     Lemos em seu diário, “Durante a Comunhão desejava ardentemente me doar toda a Jesus para lhe demonstrar quanto queria amá-lo, que me oferecia como vítima para que fizesse de mim o que ele queria”.
     Na festa de Santo Estanislau Kostka, jesuíta, um grupinho de noviças estava comentando a figura do santo. “Que alma privilegiada aquela de Santo Estanislau! – diz Teresita – morrer no noviciado, amando tanto a Virgem Maria, em seus braços, mas a coisa melhor é fazer a vontade de Deus, em tudo aquilo que Ele pede”.
     Falava com uma noviça durante as férias de Natal, e sem sombra de dúvida lhe disse: “Certamente neste Ano Santo [1950] irei pro Céu, porque a Virgem me tomará no seu dia, terá tanta festa no Céu pelo dogma da Assunção! Estou certa que estarei lá”.
     18 de janeiro, Teresita adverte uma forte dor de cabeça. A Madre Mestra, inicialmente otimista, achou bom chamar logo o pai, que era médico, mas sem temer nada de grave. O Dr. Quevedo, ao contrário, logo percebeu da gravidade do caso. A diagnose não deixava esperança: meningite tubercular. O pai mesmo foi avisar a filha sobre seu estado terminal.
     Para espanto de quantos a assistiam e visitavam, a notícia de sua próxima morte fez explodir em Teresita uma alegria enorme: “Venha, Ir. Jacinta, que já estou mais contente, mas como estou contente!” “Mas não tens medo de morrer?” “Como posso ter medo se tenho uma Mãe no Céu que virá ao meu encontro?” “Mas se você ainda não ganhou o Céu – insinuava a Madre Mestra – como poderás possui-lo tão cedo?” “Claro que não o ganhei! Mas vão mo dar de presente. Tu sabes o fato do bom ladrão. Se Jesus e Maria, que nunca separo, quiserem mo dar, são muito livres de fazê-lo”.
     Era impressionante o espírito sobrenatural e a alegria de Teresita diante da morte quando recebeu a Unção dos Enfermos. “Ganhei o primeiro prêmio!” – dizia alegre Teresita a suas coirmãs. E àquelas que aprendiam os cantos litúrgicos: “Como vai a Missa de Réquiem? Acho que serei a primeira a inaugurá-la”.
     Mas a doença continuava e as dores eram lancinantes. Na alvorada da Quinta-Feira Santa, no ano 1950, o Ano Santo proclamado por Pio XII, quando todos se alegravam por uma relativa melhora, após dois longos meses de intenso sofrimento, de repente Teresita lança um grito agudíssimo, lhe vem um tremor generalizado, uma total perda de sentidos. Mesmo neste estado as suas costumeiras orações marianas lhe vinham espontâneas nos lábios. Participou com fervor e perfeito entendimento nas orações feitas ao seu redor pela salvação de sua alma, e se apagando, continuava repetindo: “Jesus te amo por aqueles que não te amam! Minha Mãe! mil vezes morrer do que te ofender!”
     A noite da Quinta-Feira Santa foi cruel para ela: depois de um ataque da doença, seu pescoço ficou rígido e não podia se mexer, a não ser com dores terríveis. E quando todos pensavam não ouvir mais sua voz, exclamou com força, tanto que a escutaram no quarto do lado, com os braços levantados para o alto: “Minha Mãe, vem me receber e leva-me contigo no Céu!” Depois, mais calma: “Por aqueles que não te amam...”.
     Finalmente levantou pela última vez as mãos e sorrindo disse: “Como é bonito!” A que se referia? Suas mãos se baixaram, e repetia silenciosamente as jaculatórias que lhe sugeriam. Espirou após alguns minutos.
     Era o dia 8 de abril de 1950. Faltavam poucos dias para completar seus vinte anos de idade.

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