No
dia 9 de junho de 1983 o papa João Paulo II proclamou Venerável uma jovem
espanhola de Madri: Maria Teresa González-Quevedo, que viveu só 20 anos, de 12
de abril 1930 até 8 de abril 1950. A Igreja coroara assim, oficialmente, esta
breve existência, mas vivida intensamente, concluída no noviciado das
Carmelitas da Caridade, a congregação onde ela queria viver toda sua vida na
oração e no apostolado ativo, com o desejo claro de trabalhar em terra de
missão.
A vida desta jovem madrilena está ligada
de vários modos à Companhia de Jesus. De fato, Teresita (como comumente era
apelidada) formou sua vida espiritual na participação ativa à Congregação
Mariana, por ela frequentada no Instituto das Carmelitas da Caridade, onde fez
seus estudos.
É conhecido que as Congregações Marianas
têm sua origem na Companhia de Jesus. Os Jesuítas as difundiram em boa parte do
mundo católico, como uma "via" do compromisso cristão, aberta
especialmente aos jovens, que levam ao seu ambiente, família, lugar de trabalho
e atividades apostólicas, os valores de uma espiritualidade amadurecida graças
aos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, fundador dos Jesuítas.
Outro laço com a Companhia de Jesus é o
fato de que a família da Ven. Maria Teresa conta entre seus parentes dois
jesuítas, irmãos do pai de Teresita, um deles é o Pe. Antônio González-Quevedo.
Deste, Teresita recebeu a Primeira Eucaristia.
O período em que viveu não foi nada
tranquilo, aliás foi o tempo da violenta guerra civil espanhola, durante a qual
se desencadeou uma verdadeira perseguição religiosa, que causou a morte de
7.000 padres e 13 bispos. Entre esses mártires há também três irmãos do pai de
Teresita.
Os primeiros anos
Maria Teresa González Quevedo nasceu em
Madri o dia 12 de abril de 1930, após o irmão Luiz e a irmã Carmem. O pai,
Calisto González, era um conhecido médico da capital. A mãe era Maria do Carmo
Cadarso, sobrinha do almirante Luís Cadarso y Rei, tombado na batalha de 1898,
a bordo do cruzeiro “Regina Cristina”.
A Venerável cresceu numa grande casa no
centro de Madri, no coração da elegante capital, a praça do Oriente, na frente
do Palácio Real. A primeira infância foi serena, e sua escola foi a do
Instituto das Carmelitas da Caridade. Uma escolha favorecida pelo fato que uma
tia de Teresita, Ir. Carmem, lecionava no Instituto. A mesma que anos depois a
teria acolhido como Madre Mestra no noviciado.
Maria Teresa amava o ambiente da escola,
menos o estudo... e se entusiasmava pelos jogos e por isso sabia escolher com
cuidado as companheiras de time. Era muito procurada pela sua habilidade, era
generosa em tantas pequenas coisas da vida quotidiana, e por causa disso as
pessoas não hesitavam em recorrer a ela.
Uma madrilena autêntica, com um
extraordinário humorismo, uma menina como todas as outras, mas com uma
inquietação na alma que pouco a pouco a teria levado muito longe, além do
quanto ela podia prever, até a doação total ao Senhor. Desta “inquietação”
encontramos o primeiro traço numa anotação quando ela tinha dez anos, mesmo com
falhas gramaticais: “Decidi me tornar santa”.
Aos treze anos Maria Teresa já tinha uma
fisionomia interior e um caráter bem delineados. Não é alta, mas bem
proporcionada e muito ágil. Loira, com olhos azuis um pouco amendoados e uma
atitude que convida ao sorriso. Quem a conheceu a lembra como muito elegante e
com uma postura distinta inconfundível. Neste período desenvolveu os
fundamentos da vida espiritual, graças aos Exercícios Espirituais ocorridos em
seu Instituto.
Seu caráter ia se manifestando decidido e
corajoso. Aprendeu a dirigir o carro e o pai nos conta como devia ter cuidado
com ela, já que Teresita se lançava na estrada sem hesitação ou medo. Uma vez
se encarregou de furar as orelhas de uma amiga para lhe colocar os brincos.
Logo no começo a “vítima” sentiu-se mal e desmaiou. Mas Teresita, filha de
médico, em lugar de se apavorar, achou que era o momento próprio para continuar
seu trabalho e, aproveitando da inconsciência de sua amiga, colocou
imediatamente os brincos. Uma firmeza assim unida a um fino equilíbrio, uma
calma que lhe conferia um característico domínio nas mais variadas situações.
No tempo em que Maria Teresa frequentava o
Instituto, foi instituída a Congregação Mariana, que foi logo apresentada com
suas exigências de compromisso. Teresita foi logo conquistada por este ideal,
no qual confluía sua particular devoção à Virgem Maria.
Os companheiros de Teresita testemunharam
que com sua participação à Congregação Mariana, começou nela uma verdadeira
evolução interior, surpreendente e definitiva.
A cada congregada era entregue uma
medalha. Segundo o costume. Maria Teresa devia fazer gravar uma frase e ela
escolheu uma que expressasse seu programa de vida: “Minha mãe, que quem me olhe
Vos veja”.
Durante a celebração Mariana do mês de
maio, eis que Teresita formula uma oração especial, expressando algo que sente muito
profundamente, mesmo se ainda não totalmente claro: “Minha Mãe, dá-me a vocação
religiosa”!
Este desejo de doação total ao Senhor
apareceu espontâneo num episódio na tarde de um domingo, quando Teresita
conversava com uma amiga que lhe confia: “Eu viajarei, vou me divertir durante
a juventude, e quando serei mais velha entrarei no convento para me garantir o
Céu”.
A resposta de Teresita foi imediata e
reveladora: “Como você é mesquinha e egoísta!... E você acha que Jesus vai te
aceitar cheia de achaques, depois que deu sua parte melhor ao mundo? Jesus tem
gostos melhores, e Ele quer de presente a juventude, com suas alegrias e seus
sonhos!”
É o ano de 1947. Teresita tem 17 anos. No
verão a família vai para Fuenterrabía, ao norte da Espanha, para tirar férias na
praia, não muito longe da divisa francesa. Ali Teresita está magnificamente: pescava,
jogava tênis e participava das típicas danças bascas na praça da aldeia. Mas
não esquecia o compromisso em prol dos outros. Participava ativamente nas
vendas de beneficência em favor das missões.
Sabemos de um rapaz que se enamorou dela,
Luís José González-Gillén, hoje engenheiro da aeronáutica; no dia de vestir o hábito
religioso, lhe enviou um lindo buquê de flores brancas.
Maria Teresa, entretanto, tinha clara a
decisão de dar o "grande passo", pedir para ingressar no Noviciado
das Carmelitas da Caridade. Mas era uma decisão que ninguém ainda conhecia e,
que, aliás, teria surpreendido muitas pessoas.
Acabado o verão, recomeçou o ano escolar.
No fim de outubro, algo de extraordinário: a participação a um encontro da Juventude
Missionária que as Carmelitas organizaram em Tarragona. Cerca de 400 jovens de
toda a Espanha vieram para esta cidade e o grupo de Madri era guiado pela
própria Maria Teresa. Uma participação, como sempre, ativa e entusiasta.
O tema do encontro em Tarragona era sobre
as missões na China. Teresita – já sensível a estes assuntos – é mais uma vez
conquistada pelo ideal missionário, inclusive já tinha uma "adoção à distância"
de um menino das missões, enviando ofertas para sua formação.
Durante
o Noviciado manifestou explicitamente este desejo: “Tenho uma evidente vocação
missionária: minha vocação é claríssima”. Mas, como aconteceu com santa Teresa
de Lisieux – que desejava deixar a França para viver no Carmelo do Vietnã – a
doença lhe proibiu de realizar este sonho, ao menos nesta terra...
Aos 21 de novembro de 1947 decidiu
comunicar sua opção para a tia, Irmã Carmem, que mora em Carabanchel, onde está
o noviciado. A tia compreendeu a seriedade da decisão da sobrinha, mas procurou
faze-la refletir.
Como Teresita era muito devota à Virgem
Maria, o Pe. Músquiz lhe sugere comunicar sua decisão à família na festa da
Imaculada, 8 de dezembro. Mas Teresita quer comunicar a notícia só após a festa
da Epifania, de modo que o período natalino passe serenamente.
Acabado o tempo de Natal, aos 7 de janeiro
de 1948, Teresita comunica ao pai a "grande notícia". O pai
compreende, conhece a filha, sabe que se ela decidiu é porque ela está ciente
daquilo que faz; mesmo assim procura fazê-la refletir, mas ela comunica ao pai
a data de entrado no Noviciado: 23 de fevereiro.
Outra paixão de Teresita era a neve, que
nunca falta em Madri durante o inverno. E para "batalhar com bolas de
neve" a grande Praça d’Oriente era o ideal! Na véspera da partida, aos 22,
veio saudá-la a amiga Amparo. Esta admira o elegantíssimo vestido de Teresita,
parece surpreendida por tanta elegância. Teresita entende e sorri: "Você
sabe, Amparìn, eu gosto de me vestir bem e todas estas coisas me dão prazer,
mas quando entrar no Noviciado tudo isso acabará. Quero ser santa, não quero
mediocridade".
Durante a noite uma nevada cobre de branco
a grande cidade de Madri e na manhã do dia 23 de fevereiro de 1948, Teresita,
feliz, agradece ao Senhor por esta sua "delicadeza" a seu respeito.
No noviciado de Carabanchel Teresita
encontrou o que mais profundamente desejava: o que mais apreciava era o estilo
de vida pobre das carmelitas, em contraposição aos luxos e à riqueza que sempre
tivera em família. Aqui aprofundou seu amor à Virgem Maria, e o resultado foi
uma grande confiança: “Dela consigo tudo, sinto-a ao alcance da mão. Se nossas
mães nos amam tanto, quanto nos amará a Santa Virgem? O que Ela nos recusará?
Estou certa que serei santa, porque o peço à Virgem e Ela pode tudo”. E
continuava: “Tenho muita devoção para com São José. O que diriam Jesus e Maria,
se não amasse este grande Santo?”
Na hora de receber a veste de postulante,
Ir. Carmem não pode deixar de contemplar a beleza de seus cabelos que serão
escondidos pelo véu. Admira os cachos dobrados com cuidado e comenta: “Oh!
quanta vaidade, quanta vaidade!” Teresita retruca: “Sim, madre, muita, mas
agora acabou tudo!”
Maio de 1949 o último na vida de Teresita.
No começo do mês Teresita diz: “Outras vezes vi claramente o que a Virgem pede
de mim, mas agora não vejo nada...” No entardecer, alguém nota que Ir. Maria Teresa
está com febre: “Não está bem?” – lhe pergunta a tia, que é também Mestra. “Que
nada! Sinto-me sim, preguiçosa”. Mas o termômetro explicou o motivo daquela
preguiça.
Durante o noviciado Teresita lera a
História de uma alma de Santa Teresa de Lisieux e escreveu no seu diário: “Da
pequena via de Santa Teresa gostei muito, mas, para mim, acho que esta via
deve passar pela Santa Virgem”.
Santa Teresa de Lisieux prometeu de “passar
seu Céu fazendo o bem na terra”: Maria Teresa dizia para a Madre Provincial: “Madre,
aqui não lhe seria muito útil, mas do Céu verá quanto trabalharei!” A às
colegas noviças: “No Céu estarei muito ocupada, apresentando [à Virgem Maria]
todas as homenagens que lhe são oferecidas!”
Teresita sofria uma pleurite aguda, que a
manteve de cama todo o mês de maio, mesmo assim não parava de difundir
otimismo, amabilidade e alegria. Uma melhora – mais ilusória do que real -
permitiu-lhe voltar logo à vida normal, mas a doença continuava seu curso.
Lemos em seu diário, “Durante a Comunhão
desejava ardentemente me doar toda a Jesus para lhe demonstrar quanto queria
amá-lo, que me oferecia como vítima para que fizesse de mim o que ele queria”.
Na festa de Santo Estanislau Kostka,
jesuíta, um grupinho de noviças estava comentando a figura do santo. “Que alma
privilegiada aquela de Santo Estanislau! – diz Teresita – morrer no noviciado,
amando tanto a Virgem Maria, em seus braços, mas a coisa melhor é fazer a
vontade de Deus, em tudo aquilo que Ele pede”.
Falava com uma noviça durante as férias de
Natal, e sem sombra de dúvida lhe disse: “Certamente neste Ano Santo [1950]
irei pro Céu, porque a Virgem me tomará no seu dia, terá tanta festa no Céu
pelo dogma da Assunção! Estou certa que estarei lá”.
18 de janeiro, Teresita adverte uma forte
dor de cabeça. A Madre Mestra, inicialmente otimista, achou bom chamar logo o
pai, que era médico, mas sem temer nada de grave. O Dr. Quevedo, ao contrário,
logo percebeu da gravidade do caso. A diagnose não deixava esperança: meningite
tubercular. O pai mesmo foi avisar a filha sobre seu estado terminal.
Para espanto de quantos a assistiam e
visitavam, a notícia de sua próxima morte fez explodir em Teresita uma alegria
enorme: “Venha, Ir. Jacinta, que já estou mais contente, mas como estou
contente!” “Mas não tens medo de morrer?” “Como posso ter medo se tenho uma Mãe
no Céu que virá ao meu encontro?” “Mas se você ainda não ganhou o Céu –
insinuava a Madre Mestra – como poderás possui-lo tão cedo?” “Claro que não o
ganhei! Mas vão mo dar de presente. Tu sabes o fato do bom ladrão. Se Jesus e
Maria, que nunca separo, quiserem mo dar, são muito livres de fazê-lo”.
Era impressionante o espírito sobrenatural
e a alegria de Teresita diante da morte quando recebeu a Unção dos Enfermos. “Ganhei
o primeiro prêmio!” – dizia alegre Teresita a suas coirmãs. E àquelas que
aprendiam os cantos litúrgicos: “Como vai a Missa de Réquiem? Acho que serei a
primeira a inaugurá-la”.
Mas a doença continuava e as dores eram
lancinantes. Na alvorada da Quinta-Feira Santa, no ano 1950, o Ano Santo
proclamado por Pio XII, quando todos se alegravam por uma relativa melhora,
após dois longos meses de intenso sofrimento, de repente Teresita lança um
grito agudíssimo, lhe vem um tremor generalizado, uma total perda de sentidos. Mesmo
neste estado as suas costumeiras orações marianas lhe vinham espontâneas nos
lábios. Participou com fervor e perfeito entendimento nas orações feitas ao seu
redor pela salvação de sua alma, e se apagando, continuava repetindo: “Jesus te
amo por aqueles que não te amam! Minha Mãe! mil vezes morrer do que te ofender!”
A noite da Quinta-Feira Santa foi cruel
para ela: depois de um ataque da doença, seu pescoço ficou rígido e não podia
se mexer, a não ser com dores terríveis. E quando todos pensavam não ouvir mais
sua voz, exclamou com força, tanto que a escutaram no quarto do lado, com os
braços levantados para o alto: “Minha Mãe, vem me receber e leva-me contigo no
Céu!” Depois, mais calma: “Por aqueles que não te amam...”.
Finalmente levantou pela última vez as
mãos e sorrindo disse: “Como é bonito!” A que se referia? Suas mãos se
baixaram, e repetia silenciosamente as jaculatórias que lhe sugeriam. Espirou
após alguns minutos.
Era o dia 8 de abril de 1950. Faltavam
poucos dias para completar seus vinte anos de idade.
Fontes:
que bela história de amor, entrega e fé.
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