Estamos na oitava da Celebração dos Fieis Defuntos. Nesta quarta-feira, dia da semana que a Santa Igreja dedica ao nosso Pai Amantíssimo, São José, este blog se deparou com o texto que segue, sugerindo-nos uma reflexão sobre a morte tendo como exemplo sublime a morte do grande Patriarca.
A
Morte de São José
No dia 19 de março comemora-se a festa de São José. A propósito, é oportuno reproduzir o Conto inspirado no conjunto escultural representando São José em agonia (foto), que se venera na igreja de São José, no centro do Rio de Janeiro, ao lado da Assembleia Legislativa
São José chegara ao fim de seus dias.
Ninguém como ele, entre tantos varões veneráveis que o precederam na santidade,
fora incumbido de missão tão alta. Ele era o guarda e protetor do Filho de Deus
feito homem e de sua Mãe Santíssima.
Deus Pai o escolhera pessoalmente para
esse mister elevado entre todos. E São José cumprira sua missão com tanta
perfeição, tanta dignidade, tanta humildade junto a seus inefáveis protegidos,
tanta força e astúcia contra os inimigos de Jesus, insuflados por toda parte
pelo demônio, que esteve inteiramente à altura dos desígnios divinos.
Tanto quanto é possível a uma simples
criatura, ele teve proporção com o sublime encargo de ser esposo da Santíssima
Virgem e pai adotivo do Verbo de Deus encarnado.
Quanto isto significa!
Aproximava-se, porém, o tempo em que Jesus
iria iniciar sua missão pública; a Virgem Maria não mais se encontrava na
situação de uma jovem mãe que precisa de proteção diante de um mundo hostil e
de línguas aleivosas.
A missão de São José chegara
magnificamente a seu termo, e ele agonizava placidamente.
De um lado e de outro da cama, Nosso
Senhor e Nossa Senhora, emocionados, o contemplavam com amor e gratidão,
tristes porque ele partia, mas supremamente consolados por saber que o
aguardava a melhor das recompensas celestes.
Do lado de fora, como quer uma antiga
tradição, a morte impaciente, mas temerosa, não ousava entrar para recolher sua
presa, pois esperava um sinal do Altíssimo, postado ao lado do moribundo.
São José tivera sempre tal veneração pela
Virgem Santíssima, uma ideia tão elevada de seus méritos e virtudes, tal
respeito por sua virgindade imaculada, que jamais ousara tocar sequer um fio de
seu cabelo.
Agora, posto ele em seu leito de morte, a
Santíssima Virgem, como recompensa por tanta dedicação lhe segura a mão, num
supremo ato de reconhecimento e amizade.
Aquele toque quase divino comunicou a São
José, ainda lúcido, tal alegria sobrenatural, que ele, varão castíssimo, sentiu
sua alma invadida por uma graça de superior virginalidade, como se a inundasse
um rio de águas puríssimas, cristalinas e benfazejas.
Essa sensação inefável –– até então para
ele desconhecida, porque acima do que a natureza humana pode alcançar –– o
elevou a um patamar de indizível união com Deus, inacessível à nossa
compreensão atual, mas que um dia no Céu ele poderá nos contar.
Estava São José nesse verdadeiro êxtase,
quando sentiu pousar sobre seu ombro direito a mão amiga do Filho de Deus.
Incontinenti, viu-se submerso em Deus, e Deus nele.
Era a visão beatífica, não concedida até
então a nenhum mortal, pois o acesso ao Céu fora fechado pelo pecado de Adão, e
lhe era comunicada por antecipação, ainda que fugazmente.
São José notou em seguida que uma coorte de pessoas se aproximava dele. Reconheceu na primeira fila o patriarca Abraão e o profeta Moisés, seguidos de todos os justos que o haviam precedido com o sinal da fé.
São José notou em seguida que uma coorte de pessoas se aproximava dele. Reconheceu na primeira fila o patriarca Abraão e o profeta Moisés, seguidos de todos os justos que o haviam precedido com o sinal da fé.
Só então ele se deu conta de que não
estava mais nesta Terra, e que adentrara os umbrais do Limbo.
Todos os habitantes daquele lugar o
interrogavam atropeladamente: Quando se consumará a Redenção? Quando nos será
aberto o Paraíso celeste que tanto esperamos, alguns há milhares de anos? Como
é o Filho de Deus? E sua Mãe Santíssima, como é a sua presença?
São José a todos respondia com atenção e
bondade, mas já começando a sentir uma saudade imensa daqueles dois seres
perfeitíssimos, com quem conviveu tão proximamente nesta Terra de exílio.
Autor:
Gregório V Lopes
Excerto
da Mística Cidade de Deus (*), 3º tomo, 5º livro, cap. 15: O Feliz Trânsito de
São José assistido por Jesus e Maria:
Doutrina
da Rainha do Céu Maria Santíssima
A hora da
morte
880. Minha caríssima filha, não é sem
motivo que teu coração sentiu particular compaixão pelos que se acham em perigo
de morte, desejando ajudá-los nessa hora. Realmente, conforme entendeste,
naqueles momentos sofrem as almas incríveis e perigosos trabalhos por parte das
ciladas do demônio, da própria natureza e dos objetos visíveis. Aquele instante
é o termo do processo da vida que receberá a última sentença: de morte ou de
vida eterna, de pena ou glória perpétua.
O Altíssimo, que te inspirou aquele desejo,
quer aceitá-lo para que o executes. De minha parte, te confirmo o mesmo e te
admoesto a colaborares com todo esforço possível para nos obedecer. Adverte,
pois, amiga: quando Lúcifer e seus ministros das trevas reconhecem, pelos
acidentes e causas naturais, que a pessoa está com perigosa e mortal
enfermidade, imediatamente preparam toda sua malícia e astúcia, para investir
contra o pobre e ignorante enfermo, e tentar derrubá-lo com diversas tentações.
Como a esses inimigos está a terminar o prazo de perseguir a alma, querem
suprir a falta de tempo pela violência da ira e maldade.
Tal vida,
tal morte
883. Daqui compreenderás o grande perigo
da morte, e quantas almas perecem naquela hora, quando começam a frutificar os
méritos e os pecados.
Não te declaro os muitos que se condenam,
para não morreres de pena, se tens verdadeiro amor ao Senhor. A regra geral,
porém, é que à virtuosa vida segue-se boa morte; o resto é duvidoso, raro e
contingente. O remédio e segurança é prevenir-se muito antes. Por isto,
advirto-te que, ao veres a luz no amanhecer de cada dia, penses ser aquele o
último de tua vida. E, como se de fato fosse, pois não sabes se o será, ordenes
tua alma de modo a receber alegremente a morte, se ela vier. Não demores um
instante em te arrependeres dos pecados, com propósito de os confessar se os
tiveres, e emendar até a mínima imperfeição.
Não deixes em tua consciência falta alguma
repreensível, sem te doeres e te lavares com o sangue de Cristo, meu Filho
santíssimo. Põe-te no estado em que possas aparecer na presença do justo Juiz,
que te examinará e julgará até o mínimo pensamento e movimento de tuas
potências.
(*)
A Mística Cidade de Deus é um livro escrito no século XVII pela freira
franciscana Venerável Maria de Jesus de Ágreda. De acordo com Maria de Ágreda,
o livro foi, em grande medida, ditado pela bem-aventurada Virgem Maria e
centrado na vida da Virgem Maria e o plano divino para a criação e a salvação
das almas.
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