Não se deve confundir esta Santa Lucrécia de
Mérida com a mais conhecida Santa Lucrécia, o Leocricia, de Córdoba, de que
fala Santo Eulógio a propósito da perseguição muçulmana; entre uma e outra
mediam pelo menos quatro séculos.
Da santa que veneramos hoje apenas existem notícias de que existiu em Mérida um
templo dedicado a ela, porém foi antes da invasão muçulmana na Espanha, e dele
não restou senão rastros.
Notícias tomadas da História da Cidade de Mérida, de D. Bernabé Moreno de
Vargas (1576-1648), pág. 113-114, Madrid, 1633, e do Suplemento à última edição
do ano cristão do Padre Juan Croiset, tomo II, pág. 338 ss., por D. Juan Julián
Caparrós, Madrid, 1743, conjecturam que esse templo pode ter estado onde, em
seu tempo, estava a ermida de Nossa Senhora de Loreto, lamentavelmente desaparecida
também, e cujo local de construção, próximo ao Matadouro Regional, também é
objeto de conjecturas.
A imagem reproduzida em vários santorais de internet possivelmente não seja de
Santa Lucrécia de Mérida, mas a de Santa Lucrécia de Córdoba, muito mais
difundida.
Lucrécia aparece mencionada no Martirológio Jeronimiano e em outros
martirológios antigos, como tendo vivido na época de Diocleciano, e embora não
se possa considerar seguro este dado, parece que ela foi martirizada sob a
presidência de Daciano.
Conhecemos este perseguidor porque em sua viagem pela Península, nos primeiros
anos do século IV, seu caminho foi semeado de mártires cristãos, porém não se
sabe com certeza o ano em que esteve em Mérida. Os autores antigos dão datas entre
305 e 308, porém parece que a maior probabilidade seja o ano de 306 ou depois.
Uma “passio” não autêntica é conservada, mas que expressa bem o tipo das vidas
de mártires dos primeiros séculos. Nela há um diálogo que resume, se não as
frases pronunciadas por um e outro naquele momento, a fortaleza das mártires
cristãs, débeis em sua figura, mas cheias de uma fortaleza sobrenatural.
De fato, vendo Daciano que todas as suas admoestações eram inúteis, disse: “...
elege por último um destes dois extremos: ou como néscia padecer diferentes
penas entre os sentenciados a morte, ou sacrificar aos deuses como sabia e
nobre pessoa”. A isto respondeu Lucrécia: “Sacrifica tu aos demônios, que eu só
ofereço sacrifício ao verdadeiro Deus e a Jesus Cristo, seu único Filho”.
Postado
neste blog em 23 de novembro de 2015
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