A
vida de Santa Odília é conhecida graças a um texto anônimo escrito pouco antes
do ano 950.
No século VII a Alsácia fazia parte da
Alemanha. Na época de Childerico II, havia na Alsácia um duque franco chamado
Adalrico, primeiro Duque da Alsácia, casado com Beresinda, sobrinha de São
Leodegário, Bispo de Autun. Eles viviam em Obernheim, nas montanhas do Vosges,
cerca de 40 km ao sul de Strasburg, no sopé do Monte Hohenburg.
O duque havia sido batizado a pouco e não
era um cristão muito fervoroso, mas aprovava as obras de caridade feitas por
sua esposa, uma cristã fervorosa. Eles esperavam um filho que assegurasse a sua
descendência, mas, por volta do ano 660 nasceu-lhes uma filha... e cega! O pai
encolerizado considerou tal nascimento uma desgraça e desonra para a família. A
mãe tentou apaziguá-lo dizendo que era a vontade de Deus, que Ele devia ter
seus desígnios, tudo em vão: o pai chegou a desejar que matassem a menina.
Beresinda conseguiu finalmente dissuadi-lo desse crime, mas ele a fez prometer
que levaria a criança para longe sem dizer a que família pertencia. Beresinda
cumpriu a primeira parte da promessa, mas não a segunda, pois confiou a menina
aos cuidados de uma ama que estivera a seu serviço e lhe disse que era sua
filha. Beresinda providenciou a ida de toda a família da ama para o local que
hoje é conhecido como Baume-le-Dames, próximo de Besançon, onde havia um
convento em que a menina poderia educar-se mais tarde.
Ali viveu ela até os doze anos sem ter sido batizada. Foi então que um anjo
revelou a Santo Heraldo, Bispo de Regensburg, abade do mosteiro recém-fundado
de Eberheim-Münster, que ele devia ir ao convento de Baume, aonde encontraria
uma jovem cega de nascença. Ele devia batizá-la e dar-lhe o nome de Odília.
Santo Heraldo foi consultar São Hidulfo em Moyenmoutier e, juntos, se dirigiram
a Baume, onde fizeram o que tinha sido indicado na revelação. Depois de ungir a
cabeça de Odília, Santo Heraldo passou o óleo do Crisma em seus olhos e ela
recobrou a visão. No momento do batismo, o bispo Heraldo disse: "Que os
teus olhos do corpo se abram, como foram abertos os teus olhos da alma".
Odília deste momento em diante passou a enxergar e recebeu o dom da profecia. Tornando-se
uma das maiores místicas católicas, com previsões que impressionam ainda hoje.
Odília permaneceu no convento servindo a Deus. Entrementes, Santo Heraldo havia
comunicado a Adalrico a cura de sua filha. O pai não se abrandou diante de tal
milagre e proibiu o filho, Hugo, de ajudar a irmã. O milagre que Odília
recebera e os progressos que fazia em seus estudos provocaram a inveja de
algumas das religiosas que tornaram sua vida difícil. Odília, sabendo da
existência de seu irmão, resolveu então escrever para ele e pedir-lhe ajuda. Hugo
desobedeceu ao pai e mandou vir a irmã.
Um dia em que Hugo e Adalrico estavam em uma colina dos arredores, Odília se
apresentou em uma charrete, seguida por uma multidão. Quando Adalrico soube de
quem se tratava, descarregou sua pesada espada sobre a cabeça de Hugo e o matou
de um golpe. Os remorsos finalmente mudaram seu coração e começou a amar sua
filha tanto quanto a havia odiado antes.
Odília se fixou em Obernheim com algumas companheiras que se dedicavam como ela
aos atos de piedade e às obras de caridade entre os pobres.
Adalrico, convertido graças às orações da filha, deu a ela o castelo que
possuía no Monte Hohenburg. Odília transformou-o em mosteiro e foi sua primeira
abadessa.
O Monte Hohenburg tem mais de 2.000 m de altura e fica próximo do vale do Reno.
Como a montanha era muito escarpada e dificultava o acesso dos peregrinos,
Santa Odília fundou outro convento, Niedermünster, um pouco mais abaixo, a 703
m, e edificou um hospital junto a ele para acolher pobres e leprosos. São João
Batista lhe apareceu e indicou o local e as dimensões da capela que devia
construir ali em sua honra.
A regra adotada por Santa Odília foi a beneditina, o que sugere a influência de
seu tio-avô, São Leodegário, grande apóstolo do monasticismo beneditino na
região. Em apenas dez anos o mosteiro já abrigava 130 religiosas, entre as
quais três filhas de Adelardo, outro irmão de Santa Odília. Estas sobrinhas
foram: Santa Eugênia, sucessora de Santa Odília, Santa Atala, abadessa do
mosteiro de Santo Estevão de Strasburg, e Santa Gundelinda.
Odília governou os dois conventos e tornou-se popularíssima na Alsácia, na
Lorena e na região de Baden. Conta-se que após a morte do pai Santa Odília
soube, durante uma visão, que ele fora livre do Purgatório graças às suas orações
e penitências.
Uma Fonte de Santa Odília existe ainda hoje. Ela fica fora do mosteiro, e,
segundo a tradição, Santa Odília a fez surgir tocando a rocha com o cordão de
seu hábito. Ela voltava da costumeira visita aos doentes, quando encontrou um
homem cego que lhe pediu água. Como ela não tivesse água à mão, fez o milagre.
E o homem ficou curado da cegueira. Muitas outras visões da Santa são narradas
e numerosos milagres lhe são atribuídos.
Depois de governar o mosteiro durante muitos anos, Santa Odília morreu no dia
13 de dezembro de 720, deitada sobre uma pele de urso. Como Santa Odília não
pudera receber o Santo Viático, as prementes orações de suas irmãs de hábito
alcançaram a graça dela recobrar a vida. Após descrever as belezas do Céu para
elas e receber o Viático, a Santa morreu novamente e foi sepultada na Igreja do
mosteiro.
As suas fundações são mencionadas pela primeira vez em 783, numa doação feita
para a abadessa da época. Carlos Magno garantiu imunidade às fundações de Santa
Odília, o que foi confirmado em 9 de março de 837 por Luís, o Pio
(Böhmer-Mühlbacher, "Regesta Imperii", I, 866, 933).
A Igreja de São João Batista e o túmulo da Santa foram mencionados pela
primeira vez pelo Papa Leão IX em 17 de dezembro de 1050. O Imperador Frederico
I mandou restaurar a igreja e o mosteiro. A Abadessa Relinde estabeleceu ali
uma escola para as filhas da nobreza. Uma outra abadessa, Herrade de Landsberg
(1167-1195) tornou-se a famosa autora de um importante trabalho teológico
chamado Hortus Deliciarum (Paradiesgarten). Em 1546, Niedermünster foi
destruído num incêndio, e as religiosas não mais retornaram.
Algumas relíquias da Santa foram transferidas para outros locais. O Imperador
Carlos IV, por exemplo, recebeu o braço direito em 4 de maio de 1353, relíquia
que hoje se encontra em Praga. Outras relíquias, que ficaram no mosteiro
primitivo foram salvas da Revolução Francesa - inclusive o sarcófago, que
recebeu posteriormente um revestimento de mármore - e foram colocadas sob o
altar em 1842. As relíquias que foram levadas para Einsiedeln no século XVII
foram destruídas pela Revolução.
Seu túmulo é venerado e ainda hoje milhares de peregrinos a procuram e lhe
prestam culto. O Monte Santa Odília é o local da Alsácia mais frequentado pelos
católicos. Todos os imperadores alemães, desde Carlos Magno, a homenagearam.
Até o Papa Leão IX e o Rei Ricardo I da Inglaterra foram visitar seu túmulo.
Santa Odília foi designada patrona da
Alsácia em 1807 pelo Papa Pio VII. Ela é também patrona de Strasburg e é
invocada e muito venerada como protetora dos doentes da visão, dos cegos e dos
médicos oftalmologistas. É venerada também na diocese de Mônaco, Meissen e nas
abadias beneditinas femininas da Áustria.
Os mosteiros e os hospitais fundados por
ela foram entregues aos monges beneditinos, que mantiveram a finalidade inicial
dada por Santa Otília: a assistência aos pobres e doentes incuráveis.
Santa Odília é festejada no dia de sua morte, 13 de dezembro. No Monte Santa
Odília ela é celebrada no dia do aniversário da transladação de suas relíquias,
ocorrida em 7 de julho de 1842.
Desde o século XV, a Baviera e a Alsácia adotaram a versão Otília de seu nome.
Etimologia:
O nome Odília significa “rica”, “proprietária”, “poderosa”. É o
mesmo que Odália e Odélia, que vêm do germânico Odelia, derivado a partir da
raiz od, ot, elementos que dão ideia de bens, posses, riquezas. Com outros
nomes vindos da mesma raiz, Odília tem o mesmo significado de Otília e Odete.
Postado
neste blog em 12 de dezembro de 2011
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