sábado, 11 de outubro de 2014

Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil

     A oração que segue foi composta há 42 anos, por ocasião do 150º aniversário da independência do Brasil, mas é tão bela que vale a pena lê-la e refletir sobre o que nossa Nação foi, é e há de ser sempre: Terra de Santa Cruz.
     Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, rogai por nós! 
 
Prece no sesquicentenário

Ó Senhora Aparecida.
     Ao aproximar-se a data em que completamos um século e meio de existência independente, nossas almas se elevam até Vós, Rainha e Mãe do Brasil.
     Cento e cinquenta anos de vida são, para um povo, o mesmo que quinze para uma pessoa: isto é, a transição da adolescência, com sua vitalidade, suas incertezas e suas esperanças, para a juventude, com seu idealismo, seu arrojo e sua capacidade de realizar.
     Neste limiar entre duas eras históricas, vamos transpondo também outro marco. Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância, determinam o rumo dos acontecimentos presentes, e têm em suas mãos os fios com que se tece o futuro dos povos. 

Agradecimento
     Neste momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus onipotente.
     Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que nele pusestes.
     Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão bem se fundiu neste grande caudal étnico de origem lusa — e cujo ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.
     Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o momento bendito da Primeira Missa.
     Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de cultura, de preces e de trabalho, do que desavenças e de guerras.
     Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da vitória.
     Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de realizações e de esperanças de grandeza.
     Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas, e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima, o mesmo caminho de ascensão e de êxito.
     Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o de todos.
     Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam problemas, terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais conseguirão apagar.
Prece
     Nossa oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal, lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.
     Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se fazem notar que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e vigilantes.
     Por tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão. E, além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem os fracos conseguem vencer suas fraquezas, nem os bons alcançam conter a violência e as tramas dos maus.
     Com o perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção. Quanto confiamos nela!
     Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja honesto e fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e meritórias, suas venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.
     Quanto é rica destes, e de todos os outros dons imagináveis, a Vossa bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a Mãe Virginal do Homem-Deus!
     Sim, ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças, e mais do que todas, concedei-nos a graça das graças. Ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso Brasil. Amai-o mais e mais.
     Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos outorgastes. Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos concedestes.
     Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas, sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.
     Fazei-nos sempre mais amantes da paz, e sempre mais fortes na luta pelo Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho Vosso e Senhor nosso.
     De sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis, em nós se cumpra a promessa divina, do cêntuplo nesta terra e da bem-aventurança eterna.
* * *
     Ó Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica? Onde encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a qualquer louvor humano?
     De Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito, palavras que amorosamente aqui repetimos: — “Tu gloria Jerusalem, tu laeticia Israel, tu honorificentia populi nostro”. Sois Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama.
* * *
     A perspectiva do sesquicentenário sugeriu esta prece a meu coração de brasileiro. Resolvi não adiar sua publicação. Espero retomar na próxima semana o assunto que começara a desenvolver no domingo passado.
 
Plinio Corrêa de Oliveira                  Folha de S. Paulo, 16 de janeiro de 1972.

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