O Hospital Beaulieu foi fundado em 1238
por Gerbert de Thémines e sua esposa Aigline de Castelnau, entre Thémines e
Grammat, no caminho de Conques à Rocamadour, na direção de São Tiago de
Compostela.
O local era ao mesmo tempo um mosteiro, um
hospital e um local onde os pobres, os doentes eram cuidados. Em 1259, os
fundadores o doaram para a ordem religiosa, militar e hospitalar de São João de
Jerusalém, chamada atualmente Ordem de Malta. As irmãs eram admitidas após
comprovação de nobreza.
Santa Flor de Issendolus ou Santa Flor ou
Flora, nasceu em Maurs em 1309, no Auvergne, na nobre família de Corbie, essencialmente
religiosa, que contava com três filhos e sete filhas. Quatro delas foram
religiosas como Flor. Seu pai chamava-se Pons de Corbie e sua mãe Melhors de
Merle.
Desde muito pequena se fez notar por uma
maturidade precoce e uma grande piedade. Com quatorze anos, confessando sua
vocação religiosa, pediu para entrar no convento. Ela ingressou no Hospital
Beaulieu da Ordem de São João de Jerusalém.
Logo de sua entrada no mosteiro Flora se
deu totalmente à uma vida de oração, de penitência e de caridade. Ela escolheu
uma vida de serviço para aliviar o sofrimento e a miséria dos pobres e dos
doentes de seu tempo. Sua atividade transbordante era acompanhada de orações e
de contemplação.
A Guerra dos 100 anos tinha iniciado. As
tropas inglesas invadiram a região de Quercy em 1342. Sabe-se que Santa Flora
saia constantemente do convento para ir cuidar dos doentes, principalmente em
Grammat, e visitava seus pais em Maurs. Os caminhos pelos planaltos calcários
lhe permitiam passar sem se chocar com as tropas que se acantonavam nos
vilarejos.
Ela assistia a Missa todos os dias. A
oração fervorosa lhe permitia passar noites sem dormir. Suas virtudes e sua
humildade profunda a tornaram modelo para suas companheiras.
Durante toda sua vida no Hospital Beaulieu
Flor teve numerosas visões. Nessas visões, em seus êxtases, ela se aproximava
desse mundo invisível ao comum dos mortais. Ela se dessedentava na fonte
verdadeira, como Cristo havia indicado à Samaritana, fortificada com a descoberta
do Paraiso. A Eucaristia a fazia cair numa extrema alegria.
Santa Flor guardava segredo de suas visões
e somente seu confessor podia fazê-las conhecidas. No começo suas companheiras
zombavam de sua atitude, mas pouco a pouco, como suas visões se repetiam com
frequência e idênticas, as monjas compreenderam que Santa Flora era uma
privilegiada de Deus.
Parece que foi então que ela recebeu o dom
de curar, pois paralíticos, epilépticos recuperaram a saúde.
Quanto mais sua alma se elevava para Deus,
mais seu corpo se degradava. Esgotada devido a seus êxtases, ela se alimentava
mal. Esgotada pela doença e pelo trabalho, Santa Flora faleceu em 1347,
provavelmente no dia 5 de outubro, na idade de 38 anos.
Após sua partida deste mundo, curas
milagrosas ocorreram junto a seu túmulo. Os milagres se multiplicaram, seu
sepulcro tornou-se o centro de uma piedosa peregrinação. Treze anos após sua
morte seu corpo foi exumado e exposto à veneração dos fieis por ordem do Bispo
de Cahors, Bertrand de Cardaillac.
As relíquias foram levadas para a capela
do Hospital Beaulieu. Em 1793, os revolucionários incendiaram o hospital. As
relíquias da Santa foram profanadas e queimadas. Duas almas misericordiosas
salvaram o crânio e uma tíbia da Santa. Em 1866, o Bispo de Cahors mandou
depô-los na igreja de Issendolus.
Proclamada Santa pelo povo antes de o ser
oficialmente pela Igreja, Santa Flora realizou numerosos milagres: 109 foram
reconhecidos. Eles foram descritos desde o século XVII, mas ainda hoje eles
acontecem. Numerosas narrativas autenticam a intervenção de Santa Flora.
As intercessões de Santa Flor acontecem
dentro da tradição da Ordem religiosa e militar a favor dos pobres, dos
doentes, dos peregrinos e dos soldados. A relação dos milagres de Santa Flora,
por vezes narrativas reduzidas a algumas linhas, traz informações sobre a vida
da província durante a Guerra dos 100 anos e as devoções populares.
Santa Flor ficou conhecida graças ao
seu confessor que escreveu sua vida. O texto original em latim desapareceu, mas
uma tradução gasconha do século XV se conservou sob o nome de: Vida e miracles de S. Flor. O texto foi
publicado por Clovis Brunel em 1946.
Etimologia: Flora, do latim Flora, deusa das flores, entre os romanos. Deriva-se de flos, floris: “flor”.
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