quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Santa Pelágia, a Penitente - 8 de outubro

    
Miniatura medieval representando Sta. Pelágia cortejada e S. Nono rezando por ela
 
     São João Crisóstomo (354-407) narra as vicissitudes de uma célebre atriz, belíssima tanto quanto dissoluta, que depois da conversão levou vida austera de penitência. Mas não diz seu nome. Assim, um autor desconhecido, que se nomeia Tiago, julgou bom dar-lhe o nome de Pelágia e escrever um longo relato sobre sua história.

     Pelágia, a penitente (artisticamente conhecida como Margarida de Antioquia) era uma belíssima bailarina que encantava os homens com sua dança e os ornamentos luxuosos que usava, que ostentava sua riqueza e sua vida promíscua.
     Numa ocasião, o patriarca de Antioquia convocou o Sínodo dos Bispos ante a Basílica de São Juliano, o mártir, onde costumava a pregar o honorável Bispo de Edessa, São Nono. Naquela ocasião Pelágia passou pelo pórtico cavalgando um cavalo branco, rodeada de admiradores, com os braços e ombros descobertos, como se vestiam as cortesãs daquela época.
     São Nono interrompeu sua pregação, enquanto os outros bispos baixaram discretamente seus olhos, e fixou seu olhar em Pelágia até que desaparecesse de sua vista. Perguntou, em seguida, aos outros bispos: “Não vos parece muito bela esta mulher?” Os bispos, sem saber o que dizer, permaneceram calados. Nono acrescentou: “A mim, me pareceu muito bela, e creio que é uma lição de Deus para nós. Esta mulher faz o impossível para manter sua beleza e aperfeiçoar-se na dança. Quanto a nós, não realizamos por nossas dioceses e por nossas almas, sequer a metade do que ela faz”.
     Naquela mesma noite São Nono se viu, em sonho, celebrando a Liturgia, enquanto um grande e estranho pássaro, sujo e agressivo, tentava impedi-lo. Quando o diácono despediu os catecúmenos, a criatura partiu com eles, mas pouco tempo depois retornou e São Nono conseguiu então apanhá-lo e mergulhá-lo na fonte do átrio. A ave saiu da água branca como a neve, desaparecendo entre as nuvens.
     No dia seguinte, um domingo, todos os bispos que assistiram a Divina Liturgia celebrada por São Nono, pediram a ele que pregasse. Pelágia, que sequer era catecúmena, sentiu-se impelida a ir à igreja naquele dia e ouvindo a pregação sentiu suas palavras caírem fundo em seu coração. Tempos depois, escreveu uma carta a São Nono rogando-lhe que permitisse falar com ele. São Nono concordou em lhe conceder uma audiência na condição de que isto acontecesse na presença de outros bispos.
     Ao aproximar-se de São Nono Pelágia caiu de joelhos diante dele e chorando muito disse: “Eu sou Pelágia, um oceano de iniquidade repleto das ondas dos pecados. Sou o abismo da perdição, a voragem e a armadilha das almas. Enganei a muitos, e agora tenho muito medo de tudo”. (*) Então pediu o batismo e suplicou que ele se interpusesse entre ela e seus pecados para que o espírito do mal não tivesse mais domínio sobre sua alma. São Nono batizou-a, confirmando-a na fé e lhe dando a comunhão.
     Oito dias depois de seu batismo, Pelágia, que já havia renunciado a todos os seus bens em favor dos pobres, despojou-se da túnica branca dos batizados e à noite, vestida como um homem, abandonou Antioquia e seguiu solitária, a pé, para Jerusalém onde se instalou numa gruta no Monte das Oliveiras.
     Logo ficou conhecida como “Pelágio, o monge sem barba”. Três ou quatro anos depois, Jacob, um diácono de São Nono, foi visitá-la acreditando tratar-se de um monge. Durante sua permanência em Jerusalém Pelágia entregou sua alma a Deus. O diácono voltou à sua cela e encontrando-a morta foi anunciar o ocorrido ao bispo que congregou o clero para celebrar as exéquias de tão santo varão. Ao prepará-la para o sepultamento descobriram que se tratava de uma mulher. Muito admirados, deram graças a Deus e sepultaram o santo corpo com todas as honras.
     Santa Pelágia faleceu por volta do ano do Senhor de 290.
 
Etimologia: Pelágia, do latim Pelagius: “do mar, marinho, marítimo, marinheiro”. Do grego pélagos: “mar, pélago”. 
(*) Legenda Áurea de Tiago de Voragine. Fontes: http://ecclesia.com.br; www.paulinas.org.br

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