domingo, 19 de outubro de 2014

Santa Iria de Tomar, Virgem e mártir - 20 de outubro

    
      Conta a legenda que Iria – ou Irene – nasceu em Nabância, uma villae romana próxima de Sellium, a atual cidade de Tomar. Oriunda de uma família abastada, seus pais Ermígio e Eugênia, eram pessoas de sangue ilustre. Iria recebeu educação esmerada num mosteiro de monjas beneditinas governado pelo seu tio, o Abade Célio. Vendo este a vivacidade e a boa disposição da sobrinha, encarregou o monge Remígio, homem douto e religioso, de instruí-la nas letras e bons costumes.

     Devido à sua beleza e inteligência, Iria cedo congregou a afeição das religiosas e das pessoas da terra. A menina vivia retirada do mundo em companhia de Casta e Júlia, irmãs de seu pai. Uma só vez por ano, no dia de São Pedro, elas costumavam visitar a igreja dedicada a este Apóstolo, que se erguia junto ao palácio de Castinaldo, governador daquelas terras.
     Castinaldo tinha um único filho, Britaldo, que tinha por hábito compor trovas junto da igreja de São Pedro. Um dia, Britaldo viu Iria e ficou enamorado dela. Ficou doente e, em estado febril e desesperado, reclamava a presença da jovem. Iria decidiu ir visitá-lo para dizer que a doença não era mortal e que Deus lhe restituiria a saúde se ele afastasse o mau afeto a que os olhos o tinham inclinado. Alentado pelas exortações da Santa o doente tranquilizou-se. Iria prometeu que não se casaria com outro. Britaldo em breve se restabeleceu e seus pais ficaram a ter maior devoção ao mosteiro aonde Iria estava recolhida, dando-lhe muitas esmolas e privilégios.
     Algum tempo depois, o monge Remígio, ao qual a beleza da donzela também não passara despercebida, inspirado pelo demônio, concebeu um amor impuro pela discípula. Como a Santa recusasse as suas solicitações e o repreendesse, o monge ministrou-lhe uma tisana que deu ao seu corpo opulência própria da gravidez. Por causa disso Iria foi expulsa do convento, recolhendo-se junto do Rio Nabão, que passava próximo ao convento, para orar.
     Aí, no dia 20 de outubro de 653, foi assassinada à traição por um servo de Britaldo, ou pelo próprio, a quem tinham chegado os rumores destes eventos e julgava que ela faltara à promessa.
     Atirado ao Rio Nabão, cujas águas correm para o Rio Zêzere, o corpo da mártir chegou a este rio e a partir deste ficou depositado nas areias do Rio Tejo, aí permanecendo, incorruptível. Para conservar a sua memória e milagre, a povoação de Scallabis construiu-lhe um sepulcro de mármore. Séculos depois, as águas do Tejo se abriram para revelar o túmulo à rainha Da. Isabel, que mandou colocar o padrão que ainda hoje se encontra.
     O seu culto foi tão popular durante a dominação visigótica, que a velha Scallabis romana passou a ser chamada de Santa Iria e daí derivou a moderna Santarém, através de Sancta Irene. O culto foi perpetuado através do rito moçárabe, mantendo-se ainda hoje como padroeira de algumas igrejas portuguesas, muito embora não seja considerada uma santa canônica pela Igreja Católica.
     Concluindo a sua biografia, a edição portuguesa das Vidas dos Santos, 1955, apresenta esta nota: “Retocamos a lenda apresentada pelo Autor, de harmonia com as lições ‘próprias’ de Lisboa. O caso é atribuído ao ano de 653 e anda contado de modo diverso num conhecido romance popular”. Nabância, diz o Ano Cristão, vol. X, p. 270, é o nome antigo de Tomar.
     Santa Iria é representada habitualmente segurando a palma do martírio.
     Em homenagem à Padroeira, realiza-se em outubro a Feira de Santa Iria, que integra a Feira das Passas, com o seu dia mais importante a 20 de outubro, data que se celebra Iria. Esta Feira foi criada por Carta Real de Filipe II de 3 de outubro de 1626. Nela comparecem inúmeros artesãos e comerciantes, tradição que ainda hoje se mantém. 
 
Fontes: Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J.
 
Etimologia: Iria, forma portuguesa popular de Irene. Irene, do grego Eiréne: “paz, deusa da paz; a pacífica”.

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