sábado, 4 de fevereiro de 2017

Beata Isabel Canori Mora, esposa, mãe – 5 de fevereiro

Vítima expiatória pelo Papado
    
   Isabel Canori era filha de Tomás Canori, grande proprietário de terras romano, e de Teresa Primoli, aristocrática dama da Cidade dos Papas.
     Após receber esmerada educação familiar, desposou um jovem advogado, Cristóforo Mora, filho de um rico médico da mesma Roma, em 10 de janeiro de 1796. Do casal nasceram quatro filhas, duas das quais morreram com pouca idade. 
     Tudo augurava ao novo matrimônio um brilhante futuro. Mas a tragédia veio logo. O marido arruinou a família e abandonou o lar, seduzido por uma mulher de má vida. Foi preso pela polícia pontifícia, primeiro num cárcere, depois num convento. Jurou mudar de vida, mas após retornar ao seu lar, tentou repetidas vezes assassinar sua esposa Isabel. Ela foi de uma fidelidade heroica, oferecendo pelo marido enormes sacrifícios. E profetizou que ele acabaria morrendo sacerdote.
     Assim foi. Após o falecimento da Bem-aventurada, em 5 de fevereiro de 1825, Cristóforo caiu em si e fez-se religioso, levando exemplar vida de penitência. Foi ordenado sacerdote e morreu rodeado de grande consideração.
     Quando abandonada pelo esposo, incompreendida pelos familiares, Isabel teria caído na miséria se benfeitores não a tivessem auxiliado. Entre eles encontravam-se Prelados romanos que narraram ao Papa Pio VII os seus méritos. O Pontífice, beneficiado pelas orações e sacrifícios dela, concedeu privilégios pouco comuns à capela privada da sua humilde casa.
     Sua causa de beatificação foi introduzida em 1874, durante o pontificado do Beata Pio IX. Pio XI aprovou o decreto de heroicidade de virtudes em 1928, tendo sido Isabel Canori Mora beatificada em 24 de abril de 1994 por João Paulo II.
Deus desvenda a gravidade do pecado
     No Natal de 1813, ela foi arrebatada a um local inundado de luz, onde inúmeros santos rodeavam um humilde presépio. Nele, o Menino Jesus chamava-a docemente. A própria Isabel descreveu, sem preocupações literárias, a surpresa que teve: Em 25 de dezembro de 1813 (...) vi três mensageiros celestes que me convidaram a ir com eles. Uma luz diante de nós nos conduziu até o Presépio. (...) Eu vi um lindo e gracioso Menino que jazia num pobre berço junto de sua Santíssima Mãe. (...) Porém, oh que coisa tão estranha eu vou contar! Ela me causou sumo estupor! Só de pensar sinto horror. Aproximei-me, então, do sagrado presépio e o vi todo cheio de sangue.
Manuscrito da Beata
     A partir desta primeira visão, Deus foi-lhe revelando o lamentável agir de certos setores eclesiásticos que atraíam a cólera divina, acumpliciados com a Revolução que derrubava tronos e seculares costumes cristãos na ordem temporal.
     Três décadas antes de La Salette e um século antes das revelações na Cova da Iria, as revelações falavam do mal que já se infiltrara na Igreja e na sociedade civil. Vê-se bem que em Fátima Nossa Senhora fez uma advertência final para esse mal, que progredia apesar de todos os avisos em sentido contrário.
     Os anjos conduziram espiritualmente a Beata Elizabeth a antros secretos onde se tramava essa conjuração. De cada vez, novas aberrações lhe eram desvendadas.
     Em 24 de fevereiro de 1814 foram-lhe exibidas cenas que lembram a crise dos dias em que vivemos: “Via — narra ela — muitos ministros do Senhor que se despojavam uns aos outros; raivosamente arrancavam-se os paramentos sagrados; via serem derrubados os altares sagrados pelos próprios ministros de Deus”.
     Em 22 de maio de 1814, enquanto rezava pelo Santo Padre, “vi-o viajando rodeado de lobos que faziam complôs para atraiçoá-lo”. A visão repetiu-se nos dias 2 e 5 de junho. Nesta última, narra a vidente: “Vi o sinédrio de lobos que circundavam [o Papa Pio VII, então reinante] e dois anjos que choravam. Uma santa ousadia me inspirava a lhes perguntar a razão da sua tristeza e do pranto. Eles, contemplando a cidade de Roma com olhos cheios de compaixão, disseram o seguinte: `Cidade miserável, povo ingrato, a Justiça de Deus castigar-te-á'”.
A Beata frustra a manobra para erradicar o Papado de Roma.
     Tendo passado 17 dias desde o início de minha enfermidade, chegaram a Roma as tropas austríacas [para enfrentar] a revolução dos napolitanos. A terrível seita dos carbonários queria invadir a cidade de Roma para promulgar sua perversa Constituição. Não faltavam partidários em nossa cidade de Roma e em grande número.
     Todos eles conspiravam para expulsar o Santo Padre Papa Pio VII, com o malicioso pretexto de guardá-lo em lugar seguro, de medo a uma insurreição popular. (...) Eles tinham tentado todas as fórmulas para expulsar o Santo Padre de Roma. Tinham lhe incutido muito temor e, com fortíssimos argumentos, o haviam persuadido a partir.
     De fato, uma noite tinham atrelado uma carruagem para conduzi-lo a Civitavecchia. Nos dias anteriores haviam preparado toda a equipagem para sua partida, dizendo que de momento o transfeririam a essa cidade. Mas, se os assuntos de governo andavam mal, posteriormente tê-lo-iam levado a outros lugares. Tudo isto era uma manobra dos próprios sectários que queriam derrubar o Santo Padre.
     Junto com sua partida, teriam saído muitos Cardeais, senhores e prelados. Todos já estavam em preparativos para abandonar Roma. Com este malicioso ardil pretendiam tomar as rédeas do governo de Roma e escravizá-lo à bárbara Constituição. Castigo bem merecido para esta população, por causa de sua grande insubordinação em relação ao governo eclesiástico. (...)
Altar com as relíquias da Beata
     Por meio de divinas ilustrações, eu percebia muito claramente todas essas tramas. (...) Eu disse a meu confessor que visse como dizer ao Santo Padre para não se deixar enganar pelos argumentos dos que o aconselhavam e lhe solicitavam a partida, mas que ficasse em Roma. (...)
     Meu pai espiritual respondeu prudentemente que não se podia transmitir essa advertência ao Santo Padre. O sentimento comum dos políticos era pôr em bom resguardo o Santo Padre, fazendo-o partir de Roma. Portanto, não se teria obtido o desejado. Eu fiquei persuadida desta justa razão.
     Ele me disse, porém, que elevasse fervorosas orações ao Senhor, a fim de que iluminasse o Santo Padre sobre o engano, desprezasse os conselhos humanos e decidisse não sair de Roma. Ouvindo o sábio conselho de meu diretor, pus-me a rezar com todo empenho. (...) Eis que subitamente Deus concedeu tanta sutileza a minha alma, que ela pôde num instante penetrar no Palácio do Quirinal.
     Meu espírito pôde falar livremente, por via da inteligência, e manifestar ao Santo Padre meus sentimentos ditados pelo espírito do Senhor. E assim lhe fornecer todos os dados que eu acreditava necessários para sua permanência em Roma.
     De fato, ele pôs em prática, ponto por ponto, quanto o meu pobre espírito lhe tinha manifestado, não obstante todos os conselhos e grandes argumentos, e a carruagem que já estava atrelada para fazê-lo partir. Ele abandonou o parecer de todos seus conselheiros e disse-lhes que, em lugar de partir, queria repousar. Que não pretendia partir de modo algum.
     Esta deliberação repentina e inesperada do Santo Padre frustrou com um golpe todos os planos já feitos e acertados pelos malignos sectários. Nasceu neles uma grande confusão. Isto foi um trabalho da graça do Senhor, que os confundiu de tal maneira que as tropas napolitanas, em lugar de avançar contra Roma, como já tinham decidido, ficaram presas do medo. Precipitadamente abandonaram as próprias fortalezas sem disparar sequer um canhão. Deram-se precipitadamente à fuga.
     Percebendo este fato, as tropas austríacas avançaram e, sem disparar um tiro de canhão, sem combater, se apoderaram das fortalezas e marcharam sem obstáculos até Nápoles. (...) Assim a pobre cidade de Roma ficou livre dessa terrível invasão [págs. 653-659 dos manuscritos da Beata].
     “Lucina (uma das duas filhas da Beata) narra que uma noite a mãe a chamou próxima de si, junto com Annuccia (a outra filha) e lhes disse:  — Agora vos narrarei muitas belas coisas, porque o Senhor me tem diante dos olhos o livro da divina sabedoria, assim que estou lendo o que falo, mas quando se fechar este livro eu não poderei mais vos dizer nada”. 
     “E anunciou acontecimentos grandiosos a propósito do que deveria acontecer no mundo e às nações que terão reconhecido a Igreja de Jesus Cristo, falou de Roma e de uma gloriosa reforma da qual conhecia as circunstâncias mais mínimas. Porém, foi como se as filhas tivessem tido um sonho do qual procurassem em vão reagrupar os fios rompidos”.
     “Deus não permitiu que dele se recordassem e Isabel não deixou memória deles ‘porque – assegura ela – o Senhor não quer, por Seus justos juízos, que se manifestem as suas divinas determinações’”.
     “Ela, porém, como viu o infernal trabalho de ocultas seitas para abater o Catolicismo, conheceu – a distância de um século, a formação daquele apostolado leigo chamado a levar em meio à sociedade corrompida as pequenas sementes da palavra de Cristo”.
     “Viu a falsa filosofia, o materialismo e o egoísmo desembocar naquelas fatais guerras pelas quais – como ela preanunciava – deviam fazer cair em ruína cidade e inteiras províncias, arrasadas ao chão igrejas, trucidados sacerdotes inocentes, alterado e ameaçado o mundo inteiro”.
     “Viu também, na desorganização geral, entre ondas de revoluções e de anarquia, permanecer imune de tantos flagelos uma pequena zona, centro espiritual do universo, e lá recolher-se o rebanho fiel a Cristo”.
     “Presentes – sem dúvida – os novos triunfos de Roma, da sua Roma pela qual se tinha oferecida como vítima. Mas, sobretudo voltou seus olhos para o clero secular e regular, e foi sua a nossa atual oração: ‘Enviai, oh Senhor, sacerdotes santos para vossa Igreja, operários dedicados pela vossa messe!’”

A Beata aos 22 anos
Fontes: La mia vita nel Cuore della Trinità — Diario della Beata Elisabetta Canori Mora, sposa e madre, Libreria Editrice Vaticana, 1996, 765 pp. Imprimatur do Vicariato de Roma, Pe. Luigi Moretti, secretário-geral, 31-8-1995.

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