quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Santa Austreberta, Abadessa de Pavilly – 10 de fevereiro

Martirológio Romano: No território de Rouen na Neustria, hoje na França, Santa Austreberta, virgem e abadessa, que viveu santamente no mosteiro de Pavilly que fora recentemente fundado por Santo Audoeno, bispo

     Austreberta (Austreberthe ou Eustreberta) nasceu por volta de 630 em Marconne, perto de Hesdin, na diocese de Thérouanne, na antiga região de Artois, hoje departamento de Pas-de-Calais. Seus pais eram ilustres: Badefrido, era um dos primeiros oficiais da casa do Rei Dagoberto I; Frameilde ou Framechidis, da família dos reis alemães, foi honrada como santa.
     Desde pequena a Santa mostrava um fervor incrível na oração e no exercício da meditação. Um dia, quando contemplava sua imagem refletida na água, viu um véu sobre sua cabeça; aquela estranha experiência lhe produziu uma impressão permanente.
     Aos 12 anos, ao saber que a família a destinava a um matrimônio, fugiu acompanhada de seu irmão mais novo e foi ter com Santo Omer (595-670) bispo de Thérouane e abade de Abbeville, que lhe imporia o véu de virgem consagrada a pedido dela, mas este, ao saber quem ela era, e pensando o quão preocupados estariam seus pais, a persuadiu a voltar para casa. Naqueles anos o Santo, cujo nome latino era Audoaro, era bispo de Thérouanne, depois de ter vivido por 20 no convento beneditino de Luxeuil.
     Voltando para a família, Austreberta conseguiu convencer os pais da beleza da via que escolhera. Decidiu assim viver a própria vocação entrando no convento de Abbeville, dito Port-sur-Somme. Ali recebeu o véu das mãos de Santo Audoaro.
     Logo ganhou todos os corações com sua piedade e humildade. Ela mesma estava feliz naquela comunidade tão devota e observante.
     Conta-se que um dia, quando Austreberta assava o pão para a comunidade, as chamas iam se extinguindo no forno quente. Os pães estavam prontos e só faltava tirar as brasas. A Santa enfiou a vassoura que pegou fogo e encheu o forno de chamas. Temendo que os pães queimassem, ela primeiro fechou a porta da cozinha e depois, inclinando-se entre as chamas, que não lhe fizeram nenhum mal, limpou o interior do forno com suas mãos e tirou os pães. À jovem que assistiu perplexa a cena, Austreberta pediu que não dissesse nada a ninguém, e continuou tranquilamente seu trabalho, sem nenhuma queimadura nem em si nem nas roupas. A Santa relatou o fato ao seu confessor, que a aconselhou a não mais repetir o fato.
     Após 14 anos, São Felisberto, o fundador da Abadia de Jumièges, procurou-a para que fosse governar o mosteiro feminino fundado em Pavilly, Caux, perto de Rouen. O local e os fundos necessários para a fundação tinham sido doados por Amalberto, senhor do local, cuja filha, Aurea, também receberia o véu no novo mosteiro.
     Santo Audoaro continuou a assistir Austreberta com seus conselhos e abençoou a igreja da nova abadia, sem dúvida com a autorização de Santo Audoeno, bispo do local.
     Austreberta governou o mosteiro aliando a doçura à firmeza. Dura consigo mesma, era cheia de bondade com as religiosas. Ela não exigia nada que ela mesma não era a primeira a fazer. Uma noite em que as monjas tinham voltado a dormir após a recitação de Matinas, Austreberta foi ao dormitório para examinar se tudo estava em ordem. O ruído que ela fez despertou a priora. Esta, que acreditava tratar-se de uma simples religiosa, repreendeu-a por faltar com a regra e ordenou que por penitência ela fosse rezar diante da cruz no centro do claustro. A Santa obedeceu sem replicar e passou o resto da noite aos pés do crucifixo. A priora só percebeu seu engano na manhã quando foi à igreja com as outras religiosas. Ela se aproximou da abadessa e pediu-lhe perdão, que foi prontamente concedido.
     Durante 40 anos Austreberta dirigiu a nova fundação. Uma febre anunciou que sua morte estava próxima. Ela pediu para ser levada ao local onde a comunidade se reunia e falou com grande unção sobre as principais virtudes. Nos dias seguintes ela se tornou mais introspectiva. Após receber o viático, faleceu tranquilamente: era o dia 10 de fevereiro, provavelmente no ano de 704. As suas relíquias foram transferidas para Montreuil-sur-Mer por ocasião das invasões normandas e hoje ela é patrona de Barentin, perto de Rouen, cujo rio tomou o nome de Austreberthe.
     A Santa fez construir três igrejas dedicadas à Virgem Santíssima em Saint Martin e em Saint Pierre. Ela tornou-se famosa por suas visões e pelos milagres que operou. Há uma cidade com o nome de Sainte-Austreberthe em veneração a ela. 
     O mosteiro de Pavilly foi destruído pelos normandos no século IX. Fugindo das invasões normandas, as religiosas de Pavilly encontraram refúgio em Montreuil (Pas-de-Calais) e fundaram a Abadia Santa Austreberta. Em 1090 o Abade Gautier I da Abadia da Trindade du Mont restaurou um priorado no local onde ele existiu. Abandonado em 1717, a capela foi resgatada e voltou a ser utilizada em 1860.
     Em 1803 as religiosas doaram o tesouro de arte sacra de Pavilly à Montreuil e à comuna. Este ainda hoje se conserva na Abacial Saint-Saulve em Montreuil. Entre as peças do tesouro, a cruz de Santa Austreberta.
 
A legenda: Austreberta e o lobo
     Santa Austreberta e suas religiosas lavavam as roupas brancas da Abadia de Jumièges, distante algumas léguas de Pavilly. Um burro transportava sozinho as roupas de um mosteiro ao outro, tão habituado estava a fazer este trabalho. Um dia, o burro ficou face a face com um lobo que o devorou.
     Segundo a tradição, Austreberta saiu para buscar um burro desaparecido. Seguindo um rastro de sangue, chegou até um lobo. A santa o repreendeu e o perdoou, porém o condenou a realizar o serviço do burro com humildade e submissão. O lobo cumpriu esta tarefa o resto de sua vida.
     No local onde o burro morreu uma capela foi erigida no século VII e quando o monumento ruiu, uma simples cruz de pedra o substituiu. Por sua vez ela foi substituída por um carvalho chamado carvalho do burro.
     Isto deu lugar à uma festa popular: a festa do lobo verde. Cada ano um jovem, vestido com uma pele de lobo verde e carregando roupas, ia das margens do Canche até a Abadia de Jumièges. Era a festa do “Verde”. A festa do “Verde” foi transferida para 24 de junho, dia de São João Batista. Nesta data a roupa verde é atribuída a um outro homem por um ano.
     Santa Austreberta é patrona das lavadeiras e das lavanderias.

Fontes:
Alban Butler : Vie des Pères, Martyrs et autres principaux Saints… – Traduction : Jean-François Godescard.


                                                                                                                    



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