Madalena
nasceu entre 1611 e 1612, em uma aldeia próxima de Nagasaki, no Japão.
Desde cedo ela recebeu esmerada educação. Os antigos manuscritos relatam que
ela era uma jovem graciosa, delicada e bela. Seus pais eram católicos de nobre
linhagem.
Sua infância coincidiu com um período de cruéis perseguições contra os
católicos. O ditador Tokugawa Yematsu, budista, decretou uma terrível
perseguição contra os católicos em 1614. Com seus sucessores, Hidetada e
Yemitsu, essa perseguição tornou-se ainda mais virulenta e cruel, a ponto de em
poucos anos quase exterminar a cristandade do Japão.
Os pais e irmãos de Madalena foram martirizados quando ela era ainda pequena.
Ela certamente foi também testemunha da morte de muitos outros católicos. É
provável que tivesse lido o livro “Exortação ao martírio”, que circulava
clandestinamente entre os católicos. Neste livro davam-se conselhos para
resistir à ira dos tiranos e eram lembrados os exemplos de crianças frágeis,
além de jovens, homens e mulheres, que sofreram com paciência os mais terríveis
suplícios por causa da sua fé em Jesus Cristo, recebendo assim a glória do
martírio.
A oração, a leitura dos livros sagrados e o exemplo de tantos mártires,
compatriotas seus, foram fortalecendo o ânimo de Madalena.
Por volta de 1624, chegaram a Nagasaki dois zelosos missionários agostinianos:
Frei Francisco de Jesus e Frei Vicente de Santo Antônio. Ambos criaram a Ordem
Terceira Agostiniana Recoleta para auxiliá-los no apostolado. Formada por
leigos, a Ordem Terceira, hoje denominada Fraternidade Secular, ficava
encarregada da catequese.
Atraída pela profunda espiritualidade dos dois missionários, Madalena se
consagrou a Deus como Terceira Agostiniana Recoleta, sendo uma das primeiras a
entrar para aquela Ordem. Começou o seu apostolado com tanto carinho e
abnegação, que foram incontáveis os pagãos que se converteram ao Cristianismo.
Ela consolava os aflitos, animava os fracos, fortalecia os que fraquejavam por
causa das perseguições, apoiava os corajosos e esforçados, dava catecismo para
as crianças, e arrecadava esmolas para os pobres entre os comerciantes
portugueses. Fez várias amigas entre as filhas dos ocidentais que moravam em
Nagasaki, as quais muito se edificavam com as suas virtudes, tendo algumas
delas relatado suas impressões e lembranças para os primeiros biógrafos da
Santa.
Em
1628 a perseguição ficou mais violenta. Como quase todos os católicos de
Nagasaki, Madalena se viu obrigada a refugiar-se nas montanhas. Homens e
mulheres virtuosos viviam nas grutas e se alimentavam de ervas silvestres. Ali
vivia ela na companhia dos demais, amada e querida de todos, mesmo dos pagãos.
Os santos religiosos, Frei Francisco e Frei Vicente, também viviam nas
montanhas zelando pelas almas e oferecendo-lhes o conforto dos Sacramentos.
Entretanto, ambos foram detidos e passaram vários dias na prisão antes de serem
queimados vivos no dia 3 de setembro de 1632.
No dia seguinte, chegaram ao Japão outros dois missionários agostinianos
recoletos, Frei Melquior de Santo Agostinho e Frei Martinho de São Nicolau.
Estes também foram presos no dia 1° de novembro de 1632 e no dia 11 de dezembro
foram queimados vivos a fogo lento, tal como havia acontecido com os
Bem-aventurados Francisco e Vicente.
Após a morte desses religiosos, Madalena permaneceu nas montanhas cerca de dois
anos dedicando-se ao apostolado, batizando, aconselhando, consolando e
fortalecendo os que a procuravam. Numerosos foram os católicos que preferiram
morrer a renegar a fé. Infelizmente, muitos também foram os que fraquejaram e
apostataram diante do horror dos suplícios.
Desolada e triste pela apostasia destes irmãos e desejosa de sofrer o martírio,
Madalena acreditou ter chegado o momento de apresentar-se aos juízes e
torturadores para dar exemplo vivo aos católicos.
Vestindo o seu hábito de Terceira e portando um pequeno alforje cheio de livros
de santos para meditar e pregar no cárcere, ela se apresentou aos carcereiros e
guardas dizendo-se católica e religiosa.
Num primeiro momento os guardas mandaram-na embora, dizendo que sendo ela tão
jovem e frágil não poderia suportar os horríveis tormentos a que eram
submetidos os religiosos. Contudo, no dia seguinte ela foi presa.
Admirados com sua beleza e comovidos pela sua tenra idade, vendo-a estimada e
admirada pelos católicos e também por ser de família nobre e ilustre, os juízes
tentaram convencê-la a abandonar a fé através de atenções especiais e promessas
as mais diversas, mas tudo foi em vão.
Depois de sofrer vários tipos de torturas
sem perder a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, Madalena foi tirada da prisão no
início de outubro de 1634, e com outros dez católicos foi levada ao lugar do
martírio. Todos foram condenados ao tsuruchi,
tormento especialmente criado para torturar os cristãos e que consistia numa
forca na qual o condenado é amarrado de cabeça para baixo, sendo da cabeça para
baixo preso dentro de um poço cheio de imundícies. Um corte era feito atrás da
orelha, para que o sangue não chegasse à cabeça e assim a morte fosse lenta.
Levada antes em desfile num cavalo, não
demonstrava terror, mas júbilo. E aos que acompanhavam, ela pedia: “Vós que
ficais, em boa hora, recomendai-me a Deus”. Levada até Nishizaka, foi amarrada
e presa no tsuruchi. Os soldados às vezes ouviam-na bradar: “Tenho sede”, e
perguntavam se gostaria de beber água. Ela retrucava dizendo que queria não
dessa água, mas da Água Viva. Foram extraordinários treze dias e meio
aguentando a tortura, sem comida ou bebida, entoando hinos cristãos em japonês.
Os soldados não acreditavam no que estava
acontecendo. “Não se surpreendam se eu não morrer nessa provação, pois o Senhor
que adoro me preserva e sustenta. Sinto uma mão suave que me segura o rosto e
alivia o corpo”, dizia ela.
Suspensa pelos pés, com a cabeça e o peito imersos num poço, durante o suplício
a corajosa jovem invocava os nomes de Jesus e Maria, e resistiu ao tormento por
treze dias. Na noite do 13° dia, o poço foi inundado por uma tempestade e
Madalena morreu afogada. Tinha então 22 ou 24 anos de idade.
Depois de morta seu corpo foi queimado, e as cinzas foram espalhadas nas águas
do mar, a fim de que suas relíquias não caíssem nas mãos dos fiéis. Seu
martírio deu-se em meados de outubro de 1634.
No Processo de Macau, feito em 1638, houve
o relato de 41 testemunhas oculares, e outras informações nos chegaram por
relações dos padres que a conheceram.
Beatificada em 1981, foi declarada Santa por João Paulo II em 18 de outubro de
1987, coincidindo com o Dia Mundial de Oração pelas Missões.
Igreja em Nagasaki em honra aos mártires |
Fontes de informação para as notas
biográficas sobre os santos agostinianos e Bem-aventurados os livros Seduction
of God (Pubblicazioni Agostiniane, Roma 2001), de autoria do Padre Fernando
Rojo Martínez, OSA, e Santos e Beatos da família agostiniana. Conceda
agostiniano litúrgica Missal, publicado pela Federação Agostiniana Espanhola
(FAE, Madrid 2008).
https://www.povonovo.org/santa-madalena-de-nagasaki
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