quarta-feira, 31 de outubro de 2018

VÉSPERAS DE TODOS OS SANTOS E HALLOWEEN

Reproduzimos a seguir um artigo sobre o Halloween que traz luzes interessantes sobre o assunto 

(continuação)

A CURIOSIDADE PELO OCULTO
     O pe. Gary Thomas, exorcista norte-americano cujo livro sobre a própria preparação em Roma serviu como base para o filme “The Rite” [O Rito], de 2011, gosta de citar o Papa Emérito Bento XVI e dizer que “quando a fé diminui, aumenta a superstição”.
     De fato, entre os fatores culturais que têm levado ao crescente interesse e prática do satanismo e de outras atividades ocultas, o mais óbvio é o declínio da fé cristã no Ocidente. Os ocidentais, no geral, são pessoas impacientes: mesmo entre os que se declaram católicos, há muitos que vão atrás de curandeiros e de alternativas a Deus, no afã de “soluções instantâneas”. A confusa mistura entre o declínio da fé, a sociedade supostamente laica e as “brincadeiras” e “provocações” ocultistas parece indicar uma relação. Segundo o mesmo pe. Gary, o número de pessoas que estão se metendo com o ocultismo, seja através do satanismo, do paganismo, da idolatria ou de alguma outra modalidade, “a sério” ou “por brincadeira”, tem sofrido um aumento acentuado nos últimos 30 anos.
     Em “The Occult Roars Back: Its Modern Resurgence” [O Ressurgimento Moderno do Ocultismo], Richard Kyle, professor de História e Estudos Religiosos da Universidade Tabor, no Estado do Kansas, EUA, cita vários especialistas acadêmicos que escreveram sobre as causas do grande aumento do interesse pelo ocultismo. Jeffrey Russell, por exemplo, observou que, historicamente, “o interesse pelo oculto cresce significativamente nos períodos de rápido colapso social, quando os padrões estabelecidos deixam de dar respostas prontamente aceitáveis e as pessoas se voltam para outras referências em busca de garantias”.
     Mas, acrescenta Kyle, também há uma base de fatores para o aumento do interesse pelo oculto, conforme proposto por Catherine Albanese, que “ressalta que muita gente foi preparada pela cultura norte-americana para se voltar a si mesma e ao universo em busca de certezas religiosas. A tradição protestante tendeu a apoiar a importância do conhecimento ou da crença na religião. Depois, a ala liberal do protestantismo modificou esta abordagem, enfatizando a presença de Deus em todos os lugares e destacando o otimismo americano em relação à bondade inata da natureza humana. O caráter difusivo do liberalismo e a sua falta de limites nítidos ajudou as pessoas a se ajustarem à ideia de viver confortavelmente sem diretrizes religiosas rígidas”.
     Albanese também observa que “a organização urbana e corporativa da sociedade” fragmentou todo o senso de vida comunitária. Em seu lugar, “a astrologia deu às pessoas um senso de identidade” e “as ajudou a estabelecer relações seguras com os outros. A autoajuda fez as pessoas adotarem certas medidas para conseguir a prosperidade, a saúde e a felicidade em meio às suas situações cotidianas. Videntes ofereceram cura física e orientação espiritual para lidar com os problemas do dia-a-dia”.
     Ted Baehr, fundador e editor do Movieguide e autor de quase uma dúzia de livros, falou no II Congresso Mundial das Famílias sobre “Proteger as Crianças da Violência da Mídia”. Ele cita o estudioso Harold Bloom, da Universidade de Yale, que analisou “o surgimento da América pós-cristã em seu livro ‘A Religião Americana’, e que diz que o deus a quem adoramos somos nós mesmos. Ele afirma que a verdadeira religião da América do Norte é o gnosticismo, uma heresia elitista que combina filosofias místicas gregas e orientais e declara a necessidade do acesso a ‘conhecimentos especiais’ para se chegar ao mais alto dos céus”. A palestra de Baehr incluiu definições coerentes das crenças que atualmente competem com o cristianismo para conseguir seguidores nos Estados Unidos e em grande parte do mundo: o humanismo secular, o panteísmo, o materialismo, o niilismo, o romantismo, o existencialismo, o nominalismo, o idealismo, a New Age e o ocultismo.
O QUE É E ONDE ESTÁ O OCULTISMO
     Richard Kyle fornece uma definição simples e moderna do ocultismo:
     “Primeiro, o ocultismo é misterioso, vai além do alcance do conhecimento comum. Segundo, é secreto e comunicado apenas para os iniciados. Terceiro, o oculto se refere ao mágico, à astrologia e a outras supostas ciências que alegam o conhecimento do secreto, do misterioso ou do sobrenatural”.
     Até que ponto a crença no oculto é difundida? O Instituto Gallup fez em 2005 uma pesquisa cujos resultados provavelmente continuam válidos quase quinze anos depois: o levantamento revelou que 3 em cada 4 norte-americanos acreditam em forças ocultas.
     Num contexto de sincretismo entre crenças sobrenaturais de diversos tipos, Ted Baehr traz à tona o fato óbvio de que muitas crianças não estão sendo criadas numa relação de intimidade com Deus, mas em meio a influências como “Assassinos por Natureza”, “Halloween” e “Pânico”. Será um exagero? Muito provavelmente não.
     Considere algumas séries de televisão de sucesso em anos recentes: “Vampire Diaries” [“Diários de um Vampiro”], “True Blood” [“Sangue Fresco”], “Buffy the Vampire Slayer” [“Buffy, a Caça-Vampiros”], “Charmed” [“As Feiticeiras”], “Sabrina the Teenage Witch” [“Sabrina, a Bruxa Adolescente”], apenas para citar algumas. Ou filmes de grande sucesso, como “O Exorcista”, “O Bebê de Rosemary”, “The Craft” [“Jovens Bruxas”] e a franquia “The Conjuring“ [“Invocação do Mal”], que se estende ao recém-lançado “A Freira“. Isto sem falar da saga “Crepúsculo”, cujo faturamento bruto mundial superou com folga os 3 bilhões de dólares, ou dos filmes de Harry Potter, que arrecadaram quase 8 bilhões de dólares. Não é demais recordar ainda os RPGs de fantasia ocultista, como “Dungeons & Dragons” [“Caverna do Dragão”], de 1974, e seus muitos “herdeiros”, todos ligados ao mundo da feitiçaria.
     Estudos psicológicos indicam que 60% dos adolescentes com dependência química apontam a música “death metal” como seu gênero musical favorito. As letras glorificam o satanismo e o ocultismo, a anarquia, a violência, o abuso de mulheres e crianças, o assassinato, as drogas, o suicídio, o incesto, o estupro e a necrofilia. Richard Ramirez, famigerado assassino em série conhecido como Night Stalker, era obcecado com a banda de heavy metal (ou “death metal”) AC/DC (embora haja controvérsias técnicas quanto à precisão de catalogar esta banda como de death metal). Sabe-se que é prática habitual de grupos de satanistas adultos a de “recrutar” novos membros em shows desse tipo de música e em convenções de jogadores de videogame.
     O Dr. Baehr observa, sensatamente, que a maioria das crianças expostas ao satanismo e ao ocultismo por meio da mídia de entretenimento não adere de forma automática a esses grupos – mas muitas delas, talvez até a maioria, se tornam insensíveis aos males ali representados e uma minoria significativa acaba ficando assustada e paranoica. Ele acrescenta que “pode haver consequências de longo prazo ao se assistir a material antissocial”, posto que, “lamentavelmente, de 7% a 11% dos adultos e até 31% dos adolescentes dizem querer copiar aquilo que veem”.
     Existe ainda outra forma de a nossa cultura promover a opressão demoníaca. Como explica o pe. Thomas, as pessoas atacadas por demônios têm muitas vezes feridas na alma, por terem sofrido abusos físicos ou sexuais na infância, o que muda a sua percepção da vida e de si mesmas e a sua capacidade de se relacionar com os outros. “Os demônios”, diz ele, “estão sempre à procura de seres humanos com relações fragmentadas”. Os demônios podem possuir ou oprimir uma pessoa através dos seus sentidos; eles precisam de uma abertura que torne a vítima vulnerável. As “aberturas” mais comuns, de acordo com o pe. Thomas, incluem o vício em pornografia na internet e o uso de cocaína, metanfetamina e outras drogas que causam alucinações.
     A obra “O Reino do Oculto”, de Walter Martin e outros autores, traça o perfil de adolescentes do sexo masculino atraídos para o satanismo e para ocultismo por serem pessoas psicologicamente machucadas, rebeldes, hedonistas e niilistas, usuárias de drogas, solitárias e mal-sucedidas. Eles se sentem “impotentes, isolados e vítimas”, e o satanismo lhes dá uma sensação de controle, de status e de pertencimento a um grupo. Já os adultos são mais frequentemente atraídos para os cultos satânicos pelo seu elitismo, secretismo, hedonismo, pornografia, prostituição e desejo de adquirir poderes mágicos.
     A “normalização” e “popularização” de festividades como o Halloween, em que se celebra o grotesco, o oculto, o monstruoso, não fica de fora da lista de “possíveis canais” para que pessoas com pouco conhecimento e alta influenciabilidade se deixem atrair para experiências obscuras disfarçadas de “diversão” e “curiosidade”.
O HALLOWEEN ESTÁ TOTALMENTE DISSOCIADO DAS SUAS ORIGENS CRISTÃS 
    Por mais que tenha tido relação inicial com algumas manifestações populares (um tanto heterodoxas, ademais) de piedade católica, o fato é que o Halloween que se divulga hoje não mantém a menor conexão com a fé cristã, seja qual for o ponto de vista a que se recorra para tentar justificá-lo como “compatível” com ela. Simplesmente não há compatibilidade.
     O padre Aldo Buonaiuto, de quem falamos acima, observa a propósito da relação entre as datas de Halloween, Todos os Santos e Finados:
     “As crianças de hoje nem sabem que existe a festa de Todos os Santos, mas sabem, porque isso é incutido até nas escolas, que existe o Dia das Bruxas – ou Halloween. O Halloween exalta o espiritismo, o mundo invisível ligado às forças demoníacas. O Dia de Finados está ligado à fé na vida eterna, na ressurreição do corpo. As religiões têm respeito pelos mortos. O Halloween não tem. Ele ultraja os mortos. Não se pode banalizar este fenômeno. Para muita gente, é só um momento de diversão, mas, para os satanistas, a participação indireta também conta: quem se fantasia está de certa forma exaltando o reino do mal. Que pai quer ver seu filho de rosto desfigurado, sem os olhos, gotejando sangue? Qual é a diversão nisso? O que se esconde de verdade por trás desse fenômeno que leva a considerar esse tipo de coisa como normal? A nossa sociedade não precisa de Halloween, de monstruosidade, de imagens agressivas e violentas do macabro e do horror. Esta sociedade não precisa das trevas. Nossos filhos precisam da luz. Por que não oferecemos a eles a festa dos santos? Esta é que é uma beleza! É um grande desafio numa sociedade que se devota às coisas ruins para torná-las normais”.
     Daí o seu convite e o apelo aos sacerdotes, professores e catequistas:
     “Tenham a coragem de testemunhar a fé desses grandes heróis, os santos e beatos, que têm muito a transmitir para esta sociedade. Abram as portas das paróquias não para abóboras vazias, mas para festas belas! O Dia de Todos os Santos é uma grande oportunidade para sermos quem somos: filhos da luz!”

PARTE 3: A alternativa realmente católica ao Halloween
     Considerando o panorama aqui exposto, várias dioceses, paróquias e comunidades católicas de várias partes do mundo têm fomentado nos últimos anos o resgate do dia 31 de outubro como Véspera de Todos os Santos em sentido literal. Foi assim que nasceu a celebração chamada Holywins (“O que é santo vence”), para comemorar com as crianças o dom da vocação universal à santidade.
     Na Polônia, por exemplo, a comunidade Emmanuel organiza nas ruas de Varsóvia a “Procissão de Todos os Santos”, com adoração Eucarística e bênção do Santíssimo. “Queremos mostrar o aspecto alegre da celebração com todos os santos. É também uma alternativa para o dia das bruxas. Por isso convidamos todos, toda a família, a se vestir como os seus santos preferidos e a participar conosco desse desfile animado e colorido”.
     A diocese de Alcalá de Henares, na Espanha, realiza o Holywins desde 2009 com dinâmicas especialmente voltadas às crianças na Plaza de los Niños Santos. Fazem parte da festa a celebração eucarística na Catedral Magistral, a adoração e a evangelização pelas ruas, além de material de catequese para as crianças aprenderem a viver mais intensamente a “Noite de Todos os Santos”.
     No Brasil, apenas para citar um exemplo dentre dezenas, iniciativas da arquidiocese de Porto Alegre já chegaram a convidar os fiéis a se reunirem para um grande concerto com músicos católicos, num teatro em que também foi proporcionado espaço para a confissão sacramental.
     Na Áustria, a paróquia de Hurm oferece uma programação de Holywins para crianças, adolescentes e adultos, incluindo, além das brincadeiras, também catequese e vigília.
     A diocese de Zárate-Campana, da Argentina, propõe um Holywins de três dias: 31 de outubro a 2 de novembro. No dia 31 acontece a “Noite das Estrelas”, na co-catedral da Natividade de Nosso Senhor, a partir das 19 horas.
     O Holywins também chegou às redes sociais. Em 2016, conseguiu-se aumentar consideravelmente a difusão da sua proposta ao se convidarem os internautas a trocar a sua foto de perfil pela imagem de um santo. O convite foi divulgado com a seguinte mensagem:
     “Todo santo é uma verdadeira estrela do Senhor, que forma a sua coroa de amor sobre todos nós. Neste dia de graça, não celebramos apenas os santos conhecidos por todos, mas também os que viveram junto conosco e já estão na morada definitiva: o Céu”.
      
 

Fonte: https:pt.aleteia.org/


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