quarta-feira, 13 de maio de 2020

Beata Joana de Aveiro, Princesa e Dominicana - 12 de maio

     Esta princesa faleceu quando as cortes europeias eram grandes responsáveis pela expansão dos costumes renascentistas, enquanto dando prestígios aos intelectuais que lançavam as ideias da Renascença, aos juristas que plasmavam o Estado absolutista, e levando uma vida esplêndida, luxuosa, no meio das delícias, esquecidos do fim último de sua vocação de ser exemplo para as classes inferiores.
     Durante muito tempo esta princesa praticou a virtude da mortificação na própria corte, a ponto de tomar como emblema a coroa de espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sua atitude entrava em choque com todas as tendências da época e repercutiu, nesse período já adiantado da Renascença, como uma espécie de reminiscência da Idade Média.
     Também dentro do convento o modo como ela praticava as virtudes religiosas era um agir contra, pois as religiosas viviam de um modo muito relaxado naquele tempo. Era uma época de grande decadência das ordens religiosas.
     Décadas depois, a grande Santa Teresa de Jesus contava como viviam as carmelitas no tempo dela: recebiam visitas o dia inteiro; tinham guitarras, alaúdes e cantavam no claustro canções muitas das quais eram cantigas profanas; por qualquer motivo eram autorizadas a passar temporadas enormes na casa da família etc. Os conventos eram verdadeiros receptáculos de mundanismo.
     Esta Santa admirável é exemplo para todos os tempos de como devemos combater: de frente, com vigor e sem respeito humano.
* * *
     Após súplicas e orações prementes, pois ainda não havia herdeiro para o trono, nasceu Joana, a filha primogênita do rei D. Afonso V, décimo segundo rei de Portugal, e de sua esposa, Da. Isabel, no dia 6 de fevereiro de 1452, e foi jurada princesa herdeira do trono. Trocou esse título pelo de Infanta depois do nascimento de seu irmão, que foi o rei D. João II. A augusta menina cresceu como flores de altar, educada com grande esmero pela Princesa Dona Beatriz de Meneses.
     Sua mãe faleceu quando a princesa tinha 14 anos. Seu pai, D. Afonso, conhecendo o grande talento da filha, ordenou que nada se alterasse no governo da casa real, ficando a princesa substituindo sua falecida mãe. A beata soube aproveitar a nova situação para se entregar com mais liberdade à prática da penitência. Usava por debaixo das vestes reais uma túnica de tecido áspero juntamente com um cilício. Jejuava muitos dias a pão e água, particularmente às sextas-feiras, empregando vários meios para dissimular sua abstinência.
     De personalidade marcante, chegou a exercer temporariamente a regência do Reino. Enquanto viveu na corte, praticou as mais altas virtudes cristãs. Profundamente compassiva, procurava o quanto podia amenizar as misérias de seu próximo. Encarregara uma pessoa virtuosa de distribuir suas esmolas. Anotara num livro os nomes dos necessitados, o grau de pobreza de cada um e o dia em que a esmola lhes devia ser dada. Na Quinta-feira Santa, lavava os pés de doze mulheres pobres; despedia-as depois de lhes dar roupas novas e dinheiro.
A Beata antes de se tornar
religiosa
     Era tão formosa que, segundo afirma Frei Luís de Sousa, vieram pintores de outras nações para retratá-la. Joana recusou várias propostas de casamento, inclusive de Carlos VIII da França. Em 1485 recebeu também uma proposta de casamento do recém-viúvo Ricardo III, da Inglaterra, que era apenas oito meses mais novo que ela. Esta boda deveria ser parte de uma aliança que supunha ao mesmo tempo o da sobrinha daquele rei, Isabel de Iorque, com seu primo, o futuro D. Manuel I. No entanto, a morte de Ricardo em combate, do qual Joana teve um sonho profético, suspendeu esses planos.
     Joana aspirava ardentemente entrar para uma ordem religiosa, mas as dificuldades eram muitas. Teve que lutar contra as resistências de seu pai e de seu irmão, que preferiam que ela fizesse um casamento vantajoso.
     Em 1471, D. Afonso V tomou Arzila e ocupou Tanger, abandonada pelos mouros. A princesa Joana exerceu a regência enquanto seu pai ia à frente de uma esquadra conquistar aquelas cidades na África.
     Quando de seu retorno ao Reino, Joana, aproveitando o clima de euforia, disse-lhe que os monarcas da antiguidade costumavam oferecer sacrifícios aos deuses quando alcançavam qualquer vitória, que ele oferecesse também a Deus o sacrifício de sua única filha. D. Afonso não pode negar o que ela lhe pedia, consentindo que entrasse para um convento, apesar de os príncipes e as damas da corte acharem isto inconveniente.
     Depois de estar algum tempo no mosteiro de Oldivelas, partiu para o convento dominicano, em Aveiro, em 1475. Encerrou-se no Mosteiro de Jesus, da Ordem de São Domingos, em Aveiro, onde recebeu o hábito de noviça. Sua humildade e obediência foram tão grandes, que ninguém podia dizer que ali estava uma filha de rei.  Levou sua humildade até o ponto de lavar roupa, amassar pão, varrer o convento. Aprendeu a fiar e a tecer. Do linho preparado por ela se faziam os corporais para a igreja.
     Caindo gravemente enferma, o rei mandou que tirasse o hábito. Consultado o vigário geral dos Dominicanos em Portugal e vários teólogos, estes foram de parecer que ela não devia professar, por causa de seus poucos anos. Estando reunida a comunidade, a beata declarou à Priora que, por obediência, desistia da profissão. Tirou o hábito e o colocou sobre o altar. Algumas horas depois tornou a vesti-lo, dizendo que, dali para a frente, o traria por devoção. E que, embora não estivesse obrigada à Regra, cumpri-la-ia com todo o esmero.
     Em 1479, a peste assolou o país. Joana, obedecendo ao pai, rumou para o Alentejo, aonde a peste não chegara. Passados onze meses Joana voltou a Aveiro.
     Em 1481, faleceu D. Afonso, seu querido pai, a quem sucedeu seu irmão D. João II. Todos esses infortúnios a aproximavam cada vez mais de Deus; não havendo nada neste mundo que a prendesse, suspirava pelo céu.
     Trabalhou ainda esta princesa denodadamente pela conversão das almas, pois a preocupava muito a sorte dos pecadores. A sua obra predileta foi a redenção dos cativos da África. Sua breve vida foi um holocausto de amor e de sacrifício.
     Sua saúde começou a declinar em 1489, e em princípios de maio de 1490 reconheceu que sua morte estava próxima. Na madrugada do dia 12 de maio, a comunidade reuniu-se em torno de seu leito e rezou o Ofício da Agonia. À invocação Omnes Sancti Innocentes, orate pro ea, Joana abriu os olhos e ergueu-os para o Céu por um breve espaço de tempo; depois, expirou suavemente. Sua alma voou em companhia dos santos inocentes.
     Em seu túmulo ocorreram inúmeros milagres obtidos por sua intercessão; a memória de Joana foi sempre guardada em Aveiro.
     O Papa Inocêncio XII a beatificou, confirmando o seu culto, em 1693. D. Pedro II mandou construir um túmulo luxuoso depois da beatificação, para onde foram trasladados os seus santos despojos e onde ainda hoje se conservam.
     A 5 de janeiro de 1963, Paulo VI a declarou especial protetora da cidade de Aveiro. 

Postado neste blog 12 de maio de 2011


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