quinta-feira, 28 de maio de 2020

Santa Mariana de Jesus Paredes, o Lírio de Quito – 26 de maio

     
     Como resultado do zelo apostólico dos primeiros colonizadores de nosso continente, a Divina Providência suscitou em várias regiões almas ardentes que consagraram suas vidas à salvação das almas entre os indígenas que deixaram as trevas do paganismo e da barbárie para entrar nas hostes benditas da Santa Igreja, ou nos ambientes sociais que iam sendo criados nas colônias da Espanha e de Portugal.
     O apostolado na incipiente sociedade dos primeiros séculos não foi menos árduo do que aquele levado a efeito entre os nativos. Nesse apostolado brilhou a alma extraordinária de Santa Mariana de Jesus Paredes y Flores.
     Muitos brasileiros conhecem Santa Rosa de Lima, a Padroeira da América Latina, santa peruana que também viveu na época da colonização espanhola, mas Santa Mariana de Jesus é quase desconhecida entre nossos compatriotas.
     Que as ações virtuosas praticadas por esta Santa sirvam de estímulo e exemplo a ser imitado, de acordo com as sábias adaptações que cada qual deve fazer, seguindo sempre a Santa Vontade de Deus.
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     Nasceu em Quito, Equador, em 31 de outubro de 1618; morreu em Quito, em 26 de maio de 1645. Ela pertencia a uma ilustre linhagem de antepassados: era filha do capitão espanhol Jerônimo de Paredes y Flores e da nobre Mariana Jaramillo.
     Seu nascimento foi acompanhado por fenômenos mais incomuns nos céus, claramente ligados à criança e juridicamente atestados no momento do processo de beatificação. Quase desde a infância ela deu sinais de uma atração extraordinária pela oração e mortificação, ao amor de Deus e à devoção à Virgem Santíssima; e além de ter manifestações notáveis de favor divino, foi inúmeras vezes milagrosamente preservada da morte.
     Antes dos sete anos ficou órfã e uma de suas sete irmãs, Jerônima, esposa do capitão Cosme de Miranda, passou a encarregar-se de sua educação.
     Aprendeu o catecismo tão bem, que aos oito anos de idade foi admitida a Primeira Comunhão (o que era uma exceção naquela época). O sacerdote que fez o exame de religião ficou admirado com a compreensão das verdades do catecismo que ela demonstrava ter.
     Ao ouvir um sermão sobre a grande quantidade de gente que ainda não recebera a mensagem da religião de Nosso Senhor Jesus Cristo, se dispôs a ir com um grupo de companheirinhas evangelizar os pagãos. No caminho, encontraram pessoas que as levaram de volta para casa; as crianças não tinham se dado conta dos perigos que poderiam enfrentar.
     Em outra ocasião resolveu ir com outras meninas a uma montanha para viver como anacoretas dedicadas ao jejum e a oração. Felizmente um touro muito bravo as fez voltar correndo para a cidade. Mariana convidava suas sobrinhas, que eram quase da mesma idade, para rezar o Rosário e fazer a Via Sacra.
     Seu cunhado então se deu conta dos grandes desejos de santidade e oração desta menina e procurou que uma comunidade religiosa a recebesse. Porém, as duas vezes que tentou entrar em convento contrariedades imprevistas a impediram de fazê-lo. Ela então se deu conta de que Deus a queria santificar permanecendo no mundo.
     Sob a direção do jesuíta Juan Camacho fez voto de virgindade perpétua. E sem ingressar em nenhuma Ordem religiosa se consagrou à oração e à penitência na sua própria casa. Ela se propôs cumprir aquele mandato de Jesus: "Quem deseja seguir-me, que negue a si mesmo".
     Em 6 de novembro de 1639 ingressou na Ordem Terceira de Penitência de São Francisco de Assis, a que mais se adequava ao seu espírito de renúncia.
     O jejum que ela mantinha era tão rigoroso, que ela comia um pedaço de pão seco a cada oito ou dez dias. A comida que milagrosamente sustentava sua vida, como no caso de Santa Catarina e de Santa Rosa de Lima, era, de acordo com o testemunho sob juramento de muitos depoentes, o Pão Eucarístico que ela recebia todas as manhãs na Santa Comunhão.
     Mariana recebeu de Deus o dom do conselho e os conselhos que ela dava às pessoas lhes faziam um bem imenso. Ela também anunciava acontecimentos futuros, inclusive a data de sua morte. Era possuidora de um dom especial para paziguar contendores e para conseguir que as pessoas deixassem de pecar.
     Ela possuía um dom extático de oração, previu o futuro, via eventos distantes como se estivessem passando diante dela, lia os segredos dos corações, curou doenças com o sinal da Cruz, ou aspergindo o sofredor com água benta, e pelo menos uma vez ela ressuscitou uma pessoa morta.
     Ela é chamada de “o Lírio de Quito” porque durante uma enfermidade lhe fizeram uma sangria e a jovem de serviço jogou o sangue que tinham tirado de Mariana em um vaso e nele nasceu um lírio.
    Em 1645, um grande terremoto abalou a cidade de Quito e causou muitas mortes por uma epidemia terrível que se lhe seguiu. Um padre jesuíta num sermão disse: "Deus meu, eu Vos ofereço minha vida para que acabem os terremotos". Porem Mariana exclamou: "Não, Senhor, a vida deste sacerdote é necessária para salvar muitas almas. Eu, entretanto, não sou necessária. Eu Vos ofereço minha vida para que cessem esses terremotos".
     Naquela manhã mesmo ela começou a sentir-se mal e morreu no dia 26 de maio. Deus aceitou o seu oferecimento: os terremotos cessaram e as pessoas não mais morreram. Por isso, em 1946 o Congresso do Equador deu a ela o título de "Heroína da Pátria".
     Os primeiros passos preliminares para a beatificação foram dados pelo Monsenhor Alfonso della Pegna, que instituiu o processo de investigação e coleta de provas para a santidade de sua vida, suas virtudes e seus milagres; mas a cópia autenticada do exame das testemunhas não foi encaminhada para Roma até 1754.
     A Congregação Sagrada dos Ritos, tendo discutido e aprovado esse processo, decidiu a favor da introdução formal da causa, e Bento XIV assinou a comissão para a introdução da causa em 17 de dezembro de 1757.
     O processo apostólico relativo às virtudes da Venerável Mariaana de Paredes foi elaborado e examinado da forma devida pelas duas Congregações Preparatórias e pela Congregação Geral dos Ritos, e as ordens foram dadas por Pio VI para a publicação do decreto atestando o caráter heroico de suas virtudes.
     O processo relativo aos dois milagres feitos pela intercessão da Serva de Deus foi posteriormente preparado e, a pedido do próprio Reverendo João Roothaan, Geral da Sociedade de Jesus, foi examinado e aceito pelas três congregações, e foi formalmente aprovado em 11 de janeiro de 1817, por Pio IX.
     Santa Mariana de Jesus foi beatificada pelo Beato Pio IX em 20 de novembro de 1853 e canonizada por Pio XII em 4 de junho de 1950.
     Muitos milagres foram a recompensa daqueles que invocaram sua intercessão, especialmente na América, da qual ela parece ter o prazer de mostrar a si mesma a padroeira especial.


BOERO, Beata Maria Ana de Jesus; O Breviário Romano.
J. H. Fisher (Encylopedia Católica)

Postado neste blog em 25 de maio de 2011
     

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