Margarida da Lorena, Duquesa de Alençon,
nascida em 1463, filha de Ferri de Vaudimont e de Iolanda d’Anjou, foi educada
na corte do seu piedoso avô, rei Renato d’Anjou.
Os seus principais textos de estudo, a Legenda
Áurea e as Vidas dos Santos, produziram nela tal impacto, que aos 10 anos de
idade já sonhava em ser eremita, como demostra um episódio curioso: durante um
passeio coletivo, Margarida e mais algumas companheiras separaram-se do grupo.
Julgando-se que se teriam perdido na mata, organizou-se uma operação de busca.
Quando à tardinha a encontraram, confessou que se tinha escondido de propósito
para experimentar como seria a vida eremítica.
Entretanto morreu-lhe o avô, o que a fez regressar
à Lorena, onde a cunhada assumiu o encargo de continuar a sua educação na mesma
linha de piedade. No ano seguinte casou-se com o Duque de Alençon. Mas a vida
do casal não foi fácil, pois os desastres da guerra dos cem anos fizeram-se
sentir no pequeno ducado. A situação da esposa tornou-se ainda pior quando lhe
morreu o marido, deixando-a viúva aos 32 anos de idade, com três filhos de
tenra idade para criar.
A partir de então, como mulher forte,
dedicou-se à educação dos órfãos, cuja tutela os parentes pretendiam assumir.
Opondo-se a essa pretensão, Margarida esmerou-se na educação dos filhos,
conseguindo que eles se tornassem jovens admiráveis que conseguiram ótimos
casamentos.
Margarida governou com sabedoria o Ducado de Alençon. Durante os 20 anos
de regência do Ducado de Alençon arruinado pela Guerra dos Cem Anos, Margarida
revelou que a gestão dos assuntos temporais não é incompatível com o ideal do
Evangelho: ela sanou as finanças do Ducado, reformou os costumes, humanizou a
vida social prestando assistência aos "pobres envergonhados" (aqueles
que não se atreviam a pedir), refez a unidade da diocese de Séez dividida entre
dois bispos, reformou as abadias de Almenèches e St. Martin de Séez e fundou
mosteiros de Clarissas em Alençon, Mortagne, Château-Gontier, Mayenne e
Argentan.
Ela também restaurou e embelezou muitos monumentos civis e religiosos,
incluindo igrejas de Mortagne, Argentan e Alençon. Assim, em 1505 concluiu a
construção da Igreja de São Leonardo de Alençon.
Finalmente, quando seu filho mais velho, Carlos, atingiu a maioridade,
ela transferiu para ele o poder; Carlos se casaria com Margarida de Navarra,
irmã do rei Francisco 1º.
Viúva abastada, ela se consagrou plenamente a servir os doentes e os
pobres, que ela chamava de "seus
senhores". Visão sagrada da pobreza que tem suas raízes no Evangelho e
na tradição franciscana. Livre do cuidado dos filhos e do ducado, dividiu seus
bens em três partes: uma destinada aos pobres, outra a Igreja e a terceira ao
seu próprio sustento; depois se retirou no Castelo de Essai, que se transformou
num verdadeiro mosteiro, e permaneceu em estreito contado com as Clarissas de
Alençon.
O bispo da diocese chegou mesmo a
recomendar à duquesa que moderasse as suas práticas ascéticas bastante
exageradas, como passar noites inteiras em claro em oração, usar cilícios,
fazer grandes temporadas de jejum, e flagelar-se com violência para “saborear um pouquinho da Paixão de Jesus”,
como ela mesma costumava dizer.
Antes de se tornar Clarissa em Argentan,
Margarida enriqueceu igrejas e mosteiros com bordados de mérito incalculável,
feitos por ela com todo o carinho: o famoso “ponto de Alençon”, uma arte das
mais sutis, e que lhe dão direito a ser considerada legítima ascendente das
nossas modernas rendeiras.
O apadrinhamento histórico desta famosa
renda cabe à Beata Margarida. Esta antepassada de Henrique IV, nora do “Gentil
Duque”, que foi o companheiro de armas de Santa Joana d'Arc, não se limitou a
administrar o ducado com tal sensatez e condescendência que lhe deram o nome de
“mãe de toda a caridade”: ela
praticou e incentivou esta arte que perdura até nossos dias, e da qual também
foi uma engenhosa empreendedora a mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus, a
Beata Zélia Guerin.
Por fim, Margarida ingressou no mosteiro
das Clarissas de Argentan para partilhar a vida duríssima das filhas de Santa
Clara. Foi, porém, uma experiência de pouca duração, pois ao fim de dois anos
adoeceu gravemente, e preparou-se para a morte, que ocorreu no dia 2 de
novembro de 1521, tendo ela 58 anos de idade. Só então se descobriu que ela
trazia ao peito uma cruz de ferro com três pontas aguçadas que se lhe cravavam
na carne.
A memória de Margarida da Lorena foi
preservada no Martirológio Franciscano e no Martirológio Gálico. Após um
convite feito pelo Bispo de Séez, Jacques Camus de Pontcarri, Luís XIII
rogou ao Papa Urbano VIII que ordenasse um processo canônico sobre as virtudes
e os milagres da piedosa Duquesa d’Alençon. Seu culto entretanto somente foi
aprovado por Bento XV no dia 20 de março de 1921.
Ela é comemorada no dia 3 de novembro. A
Igreja reconhece nela um "modelo para os que governam os povos".
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