Domingos Jorge
nasceu em Vermoim da Maia, perto do Porto (Portugal). Muito jovem, partiu para
a Índia, onde combateu pela fé e pela Pátria. Aventureiro por natureza, empreendeu
viagem para o Japão, onde nesse tempo reinava perseguição furiosa. Todos os
missionários eram mortos, e mortos também todos aqueles que os acolhessem em
suas casas.
Apesar de todos os
riscos, não quiseram os missionários estrangeiros abandonar aqueles fervorosos
católicos. Disfarçados de comerciantes andavam de terra em terra para os
instruir, animar e lhes administrar os sacramentos.
Domingos Jorge,
membro da Companhia do Rosário, casou com uma jovem japonesa, à qual o
missionário português, Padre Pedro Gomes, oito dias após o nascimento, deu o
nome de Isabel Fernandes. Vivia este casal modelo no amor de Deus, na paz e na
felicidade, perto da cidade de Nagasaki.
Por bondade e
piedade, receberam em sua casa dois missionários jesuítas, o Padre Carlos Spínola,
italiano, e o Irmão Ambrósio Fernandes, natural da povoação do Xisto, na
Diocese do Porto.
Às 11 horas da
noite do dia 13 de dezembro de 1618, festa de Santa Luzia, o governador de
Nagasaki ordenou que fossem presos os dois missionários juntamente com Domingos
Jorge. Após um ano de prisão, foram condenados à várias Ordens, condenados a morrer a
fogo lento; os outros 32 eram constituídos por 14 mulheres e 18 homens (a
maioria deste segundo grupo recebeu como condenação serem decapitados).
Isabel Fernandes,
antes de ser degolada juntamente com seu filhinho Inácio, exclamou: “De todo
o coração ofereço a Deus as duas coisas mais preciosas que possuo no mundo: a
minha vida e a do meu filhinho”. Voltando-se
para a criança, disse: “Olha, Inácio, para quem te fez filho de Deus (o
Padre Carlos Spínola) e te deu uma vida muito melhor do que esta, que vai
agora acabar. Recomenda-te a ele para que te abençoe e reze por ti”. O
anjinho ajoelhou-se, juntou as mãos e pediu a bênção ao Padre que o tinha
batizado e já estava envolto em chamas.
O carrasco aproximou-se de Isabel, que
levanta ao alto a mão e agita o lenço morte. Domingos Jorge, após escutar a sentença, pronunciou estas palavras: “Mais aprecio eu esta sentença do que me fizessem Senhor de todo o Japão”.
Era o ano de 1619. Domingos Jorge fez a pé o percurso até o “Monte Santo” de Nagasaki, onde tantos cristãos deram a vida por Deus. Ao oferecerem ser levado de carro, nosso destemido Domingos respondeu “que a pé e descalço havia de ir, para imitar a Jesus Cristo Nosso Senhor que a pé descalço fora ao monte Calvário a morrer por nós”. Ali, foi amarrado a um poste e juntamente com outros mártires rezou com voz timbrada a oração do Credo até as palavras “nasceu da Virgem Maria”,quando o fumo e o fogo tolheram-lhe a fala, e em veneração do Mistério da Encarnação baixou a cabeça para depois erguer os olhos ao céu e continuar a oração até expirar. Domingos Jorge foi queimado vivo.
Passados três anos, na manhã de 10 de novembro de 1622, o “Monte Santo” de Nagasaki, regado com o sangue de tantas centenas de cristãos, apresentava um aspecto solene e comovedor. Ali se apinhavam mais de 30.000 pessoas para assistirem ao Grande Martírio, isto é, à morte de 56 filhos da Santa Igreja Católica. Entre eles, encontravam-se Isabel Fernandes, de uns 25 anos de idade, viúva do Beato Domingos Jorge, e seu filhinho Inácio, de quatro anos.
Os mártires foram divididos em dois grupos: 24 religiosos de num adeus de despedida. Cai de joelhos,
ergue as mãos, recolhe-se em oração e o alfanje assassino corta-lhe a cabeça. A
cabeça desta heroica mártir rola pelo chão e vai cair mesmo junto do filhinho,
que não se assusta. Sem mostrar medo, ajoelha-se. Afasta a gola da camisa,
cruza as mãos sobre o peito e estende a cabeça ao ferro cruel do algoz, e a
cabecinha do pequeno mártir rola também pelo chão.
Esta cena impressionante comoveu o mundo,
até o próprio Papa Pio IX, que no Breve de Beatificação, ocorrida em julho de
1867, assim expressou os seus sentimentos acerca desta família santa:
“Domingos Jorge, com a esposa Isabel
Fernandes e o filho, menino de quatro anos, foi levado ao local do martírio
pelos algozes. Dele se lê nas Atas algo que parece prodigioso, pois imóvel, sem
dar um ai, ao ver a cabeça da mãe rolar, como desejasse associar-se à confissão
da fé de sua mãe, com a mesma alegria, mostrada por ela, perante a admiração da
multidão que presenciava, oferece ao algoz o pequeno pescoço para ser
decapitado”.
Fonte: Santos de cada dia, Pe.
José Leite, S.J.
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