Joana
veio ao mundo no ano 1301, numa das primeiras famílias de Florença. Nem bem sua
razão começou a desabrochar e já o seu maior prazer consistia em ouvir a
narrativa dos mistérios da fé cristã, e em conversar sobre eles. Uma terna
piedade lhe abrasava o coração. A Santa Virgem merecia-lhe particular devoção,
honrou-a desde os mais ternos anos: todos os dias entoava-lhe louvores e
dirigia-lhe fervorosas preces.
Tendo Joana chegado ao conhecimento, de
maneira sobrenatural, de que a sua governanta, chamada Felícia Tonia, morreria
dentro de pouco tempo, preveniu a moça, e esta, submetendo-se resignadamente à
vontade de Deus, se ocupou em procurar uma pessoa prudente capaz de
substituí-la junto à aluna. Nessa intenção indicou a ilustre Juliana Falconieri,
canonizada posteriormente.
Muito repugnava aos pais de Joana a ideia
de fazê-la ingressar num estabelecimento religioso, pois era a única filha do
casal, e já cogitavam dá-la em casamento a um jovem florentino de classe
igualmente elevada. Porém, quando a menina lhes contou que já escolhera Jesus
Cristo para esposo, não ousaram opor-se ao desejo por ela manifestado. Apenas
com doze anos de idade, a jovem serva de Deus colocou-se sob a disciplina de
Santa Juliana e prazerosamente envergou o hábito religioso.
Como Juliana Falconieri, Joana foi atraída
pela vida penitente e evangélica dos Sete Santos Servos de Maria, que haviam
deixado tudo retirando-se inicialmente na periferia de Florença, e em seguida
instalando-se no Monte Senario para viver a serviço da Virgem Santíssima.
Sob a direção de tão hábil mestra, não
tardou em realizar grandes progressos nos caminhos da perfeição. Não satisfeita
por haver renunciado ao mundo e a todas as vantagens temporais que nele poderia
encontrar, desejou ligar-se a Deus por laços indissolúveis e pronunciou, diante
do altar de Nossa Senhora da Anunciação, seu voto de castidade perpétua. Porém,
persuadida de que essa virtude evangélica só através da mortificação e da prece
perdura na alma, castigou o corpo durante a vida inteira com o jejum, as
vigílias, o cilício, a disciplina e várias outras austeridades. Possuía tão
grande humildade que encontrava prazer em executar as tarefas mais grosseiras
da casa e em prestar às suas irmãs os serviços mais abjetos. Sua doçura, sua
bondade, a alegria simples e natural que acompanhava seus atos de caridade,
mereceram-lhe e conquistaram-lhe a afeição de todas suas companheiras.
O demônio, invejoso de tão alta pureza e
virtude, envidou os maiores esforços para triunfar da serva de Deus. Esta
porém, cheia de confiança no auxílio do céu, resistiu tenazmente às mais
difíceis e penosas tentações, suportou com paciência as mais mortificantes
provações, e afinal saiu vitoriosa da luta que sustentara contra o inimigo.
Para premiar a sua virtude, sem dúvida, o Senhor favoreceu-o com o dom da
profecia. Joana fez várias predições cuja veracidade foi comprovada pelos
acontecimentos.
Como sua mestra, Joana era profundamente
devota da Eucaristia, nutrindo-se diariamente do Pão dos Anjos e permanecendo
muitas horas do dia e da noite diante de Jesus Sacramentado.
Tendo chegado o tempo em que a sua
bem-aventurada diretora, Santa Juliana Falconieri, deixaria a terra para
reunir-se ao celeste esposo, Joana prodigalizou-lhe os mais assíduos e os
caridosos cuidados; recebeu, em 1340, o seu último suspiro e foi a primeira a
ver a imagem do Salvador miraculosamente impressa, como um sinete, no peito
daquela ilustre virgem. Comunicou o prodígio às irmãs, que não se fartaram de
admirá-lo. De tal modo a impressionou aquele favor celestial que redobrou de
fervor e empenhou-se, durante os vinte e seis anos que ainda viveu, em imitar todas
as virtudes de que a Santa Juliana lhe dera tão belos exemplos.
Enfim, rica de merecimento e gasta pelas
mais rigorosas penitências, entregou pacificamente a alma ao Criador, no dia 1º
de setembro de 1367, alimentada pela Divina Eucaristia. Seu corpo foi
transportado para a Igreja da Anunciação de Florença, assistida pelos servitas,
e bem depressa se tornou objeto de veneração pública.
Em virtude da insistente solicitação do Conde
Lourenço Soderini, patrício romano que pertencia à mesma família da santa
religiosa, o Papa Leão XII aprovou, no dia primeiro de outubro de 1828, o culto
imemorial da bem-aventurada Joana.
(Vida
dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XV, p. 363 a 365)
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