sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Santa Anastácia, mártir – 22 de dezembro

     
     Esta mártir desfruta da distinção, única na liturgia romana, de ter uma comemoração especial na segunda missa no dia de Natal. Esta Missa era originalmente celebrada não em honra do nascimento de Cristo, mas em comemoração à esta mártir, e no final do quinto século seu nome também foi inserido no cânon da Missa.
     No entanto, ela não é uma santa romana, pois sofreu o martírio em Sirmium, e não foi venerada em Roma senão a partir do final do quinto século. É verdade que uma lenda posterior, não antes do século VI, torna Anastásia uma romana, embora, mesmo nessa lenda, ela não tenha sofrido o martírio em Roma. A mesma lenda liga o seu nome com o de São Crisógono, também não um mártir romano, mas morto em Aquileia, embora tenha uma igreja em sua honra em Roma.
     De acordo com esta "Passio", Anastácia era filha de Pretextato, um romano vir illustris, e tinha Crisógono como professor. No início da perseguição de Diocleciano, o imperador convocou Crisógono a Aquileia, onde sofreu o martírio.
     Anastácia, tendo ido de Aquileia a Sirmium para visitar os fiéis daquele lugar, foi decapitada na ilha de Palmaria, em 25 de dezembro, e seu corpo foi enterrado na casa de Apolônia, convertida em basílica.
     O relato é puramente lendário e não se baseia em informações históricas. Tudo o que é certo é que uma mártir chamada Anastácia deu sua vida pela fé em Sirmium, e que sua memória foi mantida sagrada naquela igreja.
     O chamado "Martyrologium Sieronymianum" (ed. De Rossi e Duchesne, Acta SS., 2 de novembro) registra seu nome em 25 de dezembro, não apenas para Sirmium, mas também para Constantinopla, uma circunstância baseada em uma história separada.
     De acordo com Theodorus Lector (Hist. Eccles., II, 65), durante o patriarcado de Gennadius (458-471) o corpo da mártir foi transferido para Constantinopla e enterrado em uma igreja que até então era conhecida como “Anastasis” (Gr. Anastasis, ressurreição); daí em diante a igreja adotou o nome de Anastácia. Da mesma forma, o culto de Santa Anastácia foi introduzido em Sirmium por meio de uma igreja já existente. Como esta igreja já era bastante famosa, trouxe a festa da santa em destaque especial.
     Existia em Roma desde o quarto século, aos pés do Palatino e acima do Circo Máximo, uma igreja adornada pelo papa Dâmaso (366-384) com um grande mosaico. Era conhecida como “titulus Anastasix”, e é mencionada como tal nos Atos do Concílio Romano de 499.
     Há alguma incerteza quanto à origem deste nome: ou a igreja deve sua fundação e recebeu o nome de uma matrona romana Anastácia, como no caso de várias outras igrejas titulares de Roma (Duchesne), ou era originalmente uma igreja "Anastasis" (dedicada à ressurreição de Cristo), como já existia em Ravenna e Constantinopla. Da palavra "Anastasis" veio eventualmente o nome "titulus Anastasix" (Grisar). Seja como for, a igreja foi especialmente proeminente do quarto ao sexto século, sendo a única igreja titular no centro da Roma antiga, e rodeada pelos monumentos do passado pagão da cidade.
     Dentro de sua jurisdição estava o Palatino, onde ficava a corte imperial. Desde que a veneração da mártir de Sirmium, Anastácia, recebeu um novo ímpeto em Constantinopla durante a segunda metade do quinto século, podemos facilmente inferir que as íntimas relações contemporâneas entre a Velha e a Nova Roma trouxeram um aumento na devoção a Santa Anastácia os pés do Palatino. Em todo caso, a inserção de seu nome no Cânon Romano da Missa, no final do século V, mostra que ela ocupava uma posição única entre os santos publicamente venerados em Roma.
     Daí em diante a igreja no Palatino é conhecida como “titulus sanctx Anastasix”, e a mártir de Sirmium tornou-se a santa titular da antiga basílica do século IV. Evidentemente por causa de sua posição como igreja titular do distrito incluindo as moradas imperiais no Palatino, esta igreja manteve por muito tempo um posto eminente entre as igrejas de Roma; apenas duas igrejas a precederam em honra: São João de Latrão, a igreja mãe de Roma e Santa Maria Maior. Este antigo santuário está hoje bastante isolado entre as ruínas de Roma. A comemoração de Santa Anastácia na segunda missa no dia de Natal é o último resquício da antiga proeminência desfrutada por esta santa e sua igreja na vida da Roma cristã.

Fonte: J.P. KIRSCH (Catholic Encyclopedia)




    A vida de santa Anastácia, transmitida de geração a geração, desde os primórdios do cristianismo, traz os episódios históricos verídicos mesclados a fatos lendários e às tradições orais. Vejamos como chegou à cristandade no terceiro milênio.
     Diocleciano foi imperador romano entre os anos 284 e 305. Na época, Anastácia, filha de Protestato e Fausta, ambos romanos e pagãos, era uma jovem belíssima. Junto com sua mãe, foi convertida à fé cristã por seu professor Crisógono, futuro santo mártir. As duas se dedicavam a ajudar os pobres e à conversão de pagãos.
     Com a morte da mãe, o pai lhe impôs o casamento com Públio, um rico pagão da nobreza romana. Mesmo contra a vontade, Anastácia se casou. Logo o marido a proibiu de envolver-se com qualquer tipo de atividade, como era de costume entre as damas da sociedade. Mas ela continuou ajudando os pobres às escondidas e, quando o marido foi informado, puniu-a com crueldade. Foi proibida de sair de casa. Naquele momento, o consolo veio por meio dos conselhos do professor Crisógono, que já era perseguido e acabou sendo preso.
     Na ocasião, o imperador Diocleciano nomeou Públio embaixador na Pérsia. Ele partiu deixando Anastácia sob a guarda de Codizo, homem cruel que tinha ordem de deixá-la morrer lentamente. Logo chegou a notícia da súbita morte de Públio. Anastácia foi libertada e soube que seu conselheiro, Crisógono, seria transferido para o julgamento na Corte imperial de Aquiléia. A discípula o acompanhou na viagem e assistiu o interrogatório e, depois, a sua decapitação.
     Cada vez mais firme na fé, voltou a prestar caridade aos pobres e a pregar o evangelho de Cristo. Suspeita de ser cristã, foi levada à presença do prefeito de Roma, que tentou fazê-la renunciar à sua religião. Também o próprio imperador Diocleciano tentou convencê-la, mas tudo inútil. Anastácia voltou para a prisão.
     Em seguida, Diocleciano partiu para a Macedônia, levando consigo os prisioneiros cristãos, inclusive ela. Da Macedônia foram para Esmirna, na Dalmácia, atual Turquia. Lá, outros cristãos denunciados foram presos. Entre eles estavam a matrona Teodora e seus três filhos, depois também santos da Igreja. A eles Anastácia dispensava especial atenção.
     Os carcereiros informaram o imperador, que mandou prender Anastácia durante um mês no pior dos regimes carcerários. No fim do período, ela estava mais bela do que antes, e ainda mais firme na sua fé. Inconformado, o imperador a entregou para ser morta junto com os outros presos cristãos. Anastácia morreu queimada viva, no dia 25 de dezembro de 304, em Esmirna.
     Primeiro, o corpo de Anastácia foi enterrado na diocese de Zara; depois, em 460, foi levado para Constantinopla. Seu culto, um dos mais antigos da Igreja, se espalhou por toda a cristandade do Oriente e do Ocidente. Em quase todos os países, existem igrejas dedicadas a ela, e muitas guardam, para devoção dos fiéis, um fragmento de suas relíquias. Sua celebração ocorre tanto no Oriente como no Ocidente, no dia de sua morte, sempre recordada na missa do período da tarde, em razão da festa do Natal de Jesus Cristo.

Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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