Em
sua Constituição Apostólica Ineffabilis
Deus (8 de dezembro de 1854), que definiu oficialmente a Imaculada
Conceição como dogma, o Papa Pio IX recorreu principalmente para a afirmação de
Gênesis 3:15, onde Deus disse: "Eu porei inimizades entre ti e a
mulher, entre sua descendência e a dela", assim, segundo esta profecia,
seria necessário uma mulher sem pecado para dar à luz o Cristo, que reconciliaria
o homem com Deus.
O verso "Tu és toda formosa, não há
mancha em ti" (na Vulgata: "Tota pulchra es, amica mea, et macula non
est in te"), no Cântico dos Cânticos (4,7) é usado para defender a Imaculada
Conceição.
Outros versos incluem:
"Também farão uma arca de madeira incorruptível;
o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e
meio, e de um côvado e meio a sua altura". (Êxodo 25:10-11)
"Pode o puro [Jesus] vir dum ser
impuro? Jamais!"(Jó 14:4)
"Assim, fiz uma arca de madeira incorruptível,
e alisei duas tábuas de pedra, como as primeiras; e subi ao monte com as duas
tábuas na minha mão". (Deuteronômio 10:3)
Outras traduções para a palavras incorruptível ("setim"
em hebraico) incluem "acácia", "indestrutível" e
"duro" para descrever a madeira utilizada. Noé usou essa madeira
porque era considerada muito durável e "incorruptível". Maria é
considerada a Arca da Nova da Aliança (Apocalipse 11:19) e, portanto, a
Nova Arca seria igualmente "incorruptível" ou "imaculada".
História
Desde o Cristianismo primitivo diversos
Padres da Igreja defenderam a Imaculada Conceição da Virgem Maria, tanto
no Oriente como no Ocidente. No século IV, Santo Efrém da Síria (306-373),
diácono, teólogo e compositor de hinos, propunha que só Jesus Cristo
e Maria são limpos e puros de toda a mancha do pecado.
Já no século VIII se celebrava a
festa litúrgica da Conceição de Maria aos 8 de dezembro ou nove meses
antes da festa de sua natividade, comemorada no dia 8 de setembro. No século X,
a Grã-Bretanha celebrava a Imaculada Conceição de Maria.
A festa da Imaculada Conceição de 8 de
dezembro foi definida em 28 de fevereiro de 1476 pelo Papa Sisto
IV. A existência da festa é um forte indício da crença da Igreja sobre a
Imaculada Conceição mesmo antes da sua definição do século XIX como um
dogma.
Em 1497, a Universidade de Paris decretou
que ninguém poderia ser admitido na instituição se não defendesse a Imaculada
Concepção de Maria, exemplo que foi seguido por outras universidades como a de
Coimbra e de Évora.
Em 1617, o Papa Paulo V proibiu que
se afirmasse que Maria tivesse nascido com o pecado original, e em 1622
Gregório V impôs silêncio absoluto aos que se opunham à doutrina. Foi em 8
de dezembro de 1661 que Alexandre VII promulgou a Constituição
apostólica Sollicitudo omnium
Ecclesiarum em que definia o sentido da palavra conceptio, proibindo qualquer discussão sobre o assunto.
Na Itália do século XV, o franciscano
Bernardino de Bustis escreveu o Ofício da Imaculada Conceição, com
aprovação oficial do texto pelo Papa Inocêncio XI em 1678. Foi enriquecido
pelo Papa Pio IX em 31 de março de 1876, após a definição do dogma, com
300 dias de indulgência cada vez que recitado.
Visão de Santo Tomás de Aquino
Teólogos e Doutores da Igreja, como Santo
Anselmo, São Bernardo e São Boaventura, chegaram a negar a Imaculada
Conceição.
Sobre Santo Tomás de Aquino criou-se um
consenso de que ele teria, durante toda a sua vida, negado e repudiado
completamente o dogma da Imaculada Conceição. Tal consenso é falso, porque,
inicialmente, este doutor da Igreja declarou abertamente que a Virgem foi pela
graça imunizada contra o pecado original, defendendo claramente o dogma do
privilégio mariano, que seria declarado e definido séculos mais tarde. No livro
primeiro dos comentários dos livros das Sentenças (Sent.), escrito
provavelmente em 1252 e quando Santo Tomás contava apenas 27 anos de
idade, ainda no início de sua atividade acadêmica em Paris, ele escreveu o
seguinte:
"Ao terceiro, respondo dizendo que se
consegue a pureza pelo afastamento do contrário: por isso, pode haver alguma
criatura que, entre as realidades criadas, nenhum seja mais pura do que ela, se
não houver nela nenhum contágio do pecado; e tal foi a pureza da Virgem Santa,
que foi imune do pecado original e do atual". (I Sent., d. 44, q. 1, a. 3)
Depois, Santo Tomás adotou uma postura
confusa sobre o dogma da Imaculada Conceição, presente em trechos do Compêndio
de Teologia e da Suma Teológica.
Mas, no final da sua vida, Santo Tomás
retornou à sua tese original favorável ao dogma mariano. A sua defesa
encontra-se no texto Expositio super
Salutatione angelicae, sermão de um período em que ele já contava 48 anos
de idade, provavelmente do ano de 1273: Ipsa
enim purissima fuit et quantum ad culpam, quia ipsa virgo nec originale, nec
mortale nec veniale peccatum incurrit. ["Ela é, pois, puríssima também
quanto à culpa, pois nunca incorreu em nenhum pecado, nem original, nem mortal
ou venial".]
Este retorno à tese original encontra-se
também em várias obras da época final de São Tomás, como, por exemplo, na Postiila Super Psalmos de 1273,
onde se lê, no comentário do Salmo 16, 2: "Em Cristo a Bem-Aventurada
Virgem Maria não incorreu absolutamente em nenhuma mancha” ou no Salmo 18,
6: “Que não teve nenhuma obscuridade de pecado".
Lourdes
Em 1858, Santa Bernadete Soubirou foi
agraciada com uma aparição que se autodenominou "Imaculada Conceição"
na localidade de Lourdes, na Diocese de Tarbes, na França. O caso foi
submetido às autoridades civis locais e eclesiásticas, após o que o bispo de
Tarbes deu por confirmadas as aparições como sendo da Virgem Maria. As
autoridades civis francesas se viram impotentes para impedir a devoção de
milhares de peregrinos na época. Atualmente, Lourdes se transformou num
lugar de peregrinação internacional de milhões de católicos devotos da Virgem
Maria.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Imaculada_Concei%C3%A7%C3%A3o (excertos)
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