Nossa Senhora do Ó é uma devoção mariana surgida em Toledo, na
Espanha, instituída no século VI pelo décimo Concílio de Toledo, ilustre
na História da Igreja pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de
Potâmio, Bispo bracarense, pela leitura do testamento de São Martinho de Dume e
pela presença simultânea de três santos de origem espanhola: Santo Eugênio III
Bispo de Toledo, São Frutuoso de Braga e o então abade Santo Ildefonso.
Santo Eugênio foi sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, que
determinou que essa festa se celebrasse no dia 18 de dezembro com o título de Expectação
do Parto da Beatíssima Virgem Maria.
Os dois nomes têm o mesmo significado e
objetivo: os anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. Anelos
de milhares e milhares de gerações que suspiraram pela vinda do Salvador do
mundo, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria,
como no mais puro e limpo dos espelhos.
A Expectação (expectativa) do parto não é
simplesmente a ansiedade, natural na mãe jovem que espera o seu primogênito, é
o desejo inspirado e sobrenatural da "bendita entre as mulheres", que
foi escolhida para Mãe Virgem do Redentor dos homens, para co-redentora da
humanidade. Ao esperar o seu Filho, Nossa Senhora ultrapassa os ímpetos
afetivos de uma mãe comum e eleva-se ao plano universal da Economia Divina da
Salvação do mundo.
As antífonas maiores que põe a Igreja nos
lábios dos seus sacerdotes desde o dia 18 de dezembro até a Véspera do Natal e começam
sempre pela interjeição exclamativa Ó ("Ó Sabedoria... vinde
ensinar-nos o caminho da salvação"; "Ó rebento da Raiz de Jessé...
vinde libertar-nos, não tardeis mais"; "Ó Emanuel..., vinde
salvar-nos, Senhor nosso Deus"), como expoente altíssimo do fervor e
ardentes desejos da Igreja, que suspira pela vinda de Jesus, inspiraram ao povo
espanhol a formosa invocação de "Nossa Senhora do Ó".
Em Portugal
Em Portugal, o culto à Expectação do Parto,
ou a Nossa Senhora do Ó, teria se iniciado em Torres Novas (Santa Maria,
Frei Agostinho de - Santuário Mariano), onde uma antiga imagem da Senhora era
venerada na Capela-mor da Igreja Matriz de Santa Maria do Castelo. Esta imagem
era conhecida à época de D. Afonso Henriques por Nossa Senhora de Almonda
(devido ao Rio Almonda, que banha aquela povoação), à época de D. Sancho I por Nossa
Senhora da Alcáçova (c. 1187) ou, a partir de 1212, quando se lhe edificou
(ou reedificou) a igreja, por Nossa Senhora do Ó. Esta imagem é descrita
pelo mesmo autor como:
É esta
santa imagem de pedra mas de singular perfeição. Tem de comprimento seis
palmos. No avultado do ventre sagrado se reconhecem as esperanças do parto. Está
com a mão esquerda sobre o peito e a direita tem-na estendida. Está cingida com
uma correia preta lavrada na mesma pedra e na forma de que usam os filhos de
meu padre Santo Agostinho.
Nossa Senhora do Ó é a padroeira
de dezoito freguesias portuguesas, situadas na sua maioria nas dioceses mais
setentrionais do país
No Brasil
No Brasil, o culto iniciou-se à
época do início da colonização, com o Capitão donatário Duarte Coelho, na
Capitania de Pernambuco. Tendo fundado a vila de Olinda, nessa povoação
erigiu-se uma Igreja sob a invocação de São João Batista, administrada por
militares, onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora da Expectação
ou do Ó. De acordo com Frei Vicente Mariano, também se tratava de uma imagem
pequena com cerca de dois palmos de altura, entalhada em madeira e estofada, de
autoria e origem desconhecida. A tradição reputa esta imagem como milagrosa,
tendo vertido lágrimas em 28 de julho de 1719.
A partir dessa primitiva imagem
em Olinda, a devoção se espalhou em terras brasileiras graças a cópias na Ilha
de Itamaracá, em Goiana, em Ipojuca e em São Paulo , nesta última em casa da família de
Amador Bueno e na do bandeirante Manuel Preto que fundou a igreja e o bairro
bem conhecidos até hoje. Os bandeirantes, por sua vez levaram a devoção para
Minas Gerais, onde, em Sabará, se erige a magnífica Capela de Nossa Senhora do
Ó, em estilo indo-europeu, atualmente tombada pelo Iphan. É venerada também em
Icó onde fazem uma grande festa anual
Iconografia
A imagem de Nossa Senhora do Ó
sempre apresenta a mão esquerda espalmada sobre o ventre. A mão direita pode
também aparecer em simetria à outra ou levantada. Encontram-se imagens com esta
mão segurando um livro aberto ou também uma fonte, ambos significando a
fonte da vida. Em Portugal essas imagens costumavam ser de pedra e, no
Brasil, de madeira ou argila.
No século XIX, muitas imagens
foram trocadas pela da Nossa Senhora do Bom Parto, com o ventre disfarçado pela
roupa. Somente no fim do século XX se voltou a falar e pesquisar o assunto,
tendo-se encontrado imagens antigas enterradas sob o altar das igrejas.
* * *
As Antífonas do Ó foram compostas entre o
século VII e o século VIII, sendo um compêndio de cristologia da antiga Igreja,
um resumo expressivo do desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo
Testamento, como da Igreja no Novo Testamento. São orações curtas, dirigidas a
Cristo, que resumem o espírito do Advento e do Natal. Expressam a admiração da Igreja
diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais
profunda de seu mistério e a súplica final urgente: «Vem, não tardes mais!». Todas as sete antífonas são súplicas a
Cristo, em cada dia, invocado com um título diferente, um título messiânico
tomado do Antigo Testamento (Antífonas do
Ó: O antigo e o novo na oração litúrgica do advento. - São Paulo: Paulinas,
1997).
De acordo com D. Guéranger (Abade de
Solesmes, França, +1875), ‘as Antífonas do Ó contêm todo
o núcleo do período litúrgico’. São consideradas, ainda, ‘as
pérolas que exprimem o tesouro escondido no campo deste Tempo, configurando a
coroa do Rei dos reis!’.
Texto das Antífonas do Ó
18 de dezembro
O Sapientia
"Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo
e atingis até os confins de
todo universo
e com força e suavidade
governais o mundo inteiro:
ó, vinde ensinar-nos o
caminho da prudência!"
19 de dezembro
O Adonai
"Ó Adonai, guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moises na
sarça ardente
e lhe destes a Vossa
lei no Sinai:
vinde salvar-nos com o braço
poderoso!”
20 de dezembro
O Radix Jesse
“Ó Raiz de Jessé, ó estandarte
levantado em sinal para as
nações!
Ante Vós se calarão os reis
da terra,
e as nações implorarão
misericórdia;
Vinde salvar-nos!
Libertai-nos sem demora!”
21 de dezembro
O Clavis David
Ó Chave de Davi, cetro da
casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
vinde logo e libertai o homem
prisioneiro,
que nas trevas e na sombra da
morte está sentado!”
22 de dezembro
O Oriens
“Ó Sol nascente justiceiro,
resplendor da Luz eterna!
Vinde e iluminai os que jazem
nas trevas,
e que estão sentados à sombra
da morte e do pecado”.
23 de dezembro
O Rex gentium
“Ó Rei das nações,
desejado dos povos!
Ó pedra angular que opostos
unis!
Ó vinde e salvai o homem tão
frágil
que um dia criastes do barro
da terra!”
24 de dezembro
O Emmanuel
“Ó Emanuel, Deus conosco,
nosso Rei e Legislador,
esperança das nações e dos
povos Salvador!
Vinde enfim para salvar-nos,
ó Senhor e nosso Deus!”
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