Na ocasião, o Papa Leão III ali esteve
para venerar aquela relíquia da Paixão, reconhecendo a cidade de Mântua como
sede de bispado. Desde então houve um desenvolvimento religioso, cultural e
civil naquela cidade.
Para acolher o Preciosíssimo Sangue de
Nosso Senhor Jesus Cristo foram construídas sucessivamente três igrejas, sendo
a última a Basílica de Santo André, meta de inúmeros peregrinos ilustres e
anônimos, movidos pela intenção de venerar este símbolo do mistério da Redenção
e do dom da Eucaristia.
A devoção ao Preciosíssimo Sangue de
Jesus remonta a Igreja nascente, sobretudo em reverência ao sangue de
Jesus derramado na cruz e também em alusão ao sangue de Cristo na
Eucaristia.
Foi, porém, no XIX, que São Gaspar Del
Búfalo empreendeu grande campanha na propagação dessa devoção, cujo
reconhecimento pela Sé Apostólica permitiu a composição da Missa e Ofício
próprio por ordem do Papa Bento XIV. Por isso, até hoje São Gaspar é
reconhecido pela Igreja Católica como o "Apóstolo do Preciosíssimo
Sangue".
Graças ao Papa Pio IX, a devoção foi
estendida à toda Igreja e foi estabelecido o dia 1º de julho como o seu
dia. Isso porque em 1848 ele foi expulso de Roma por forças
revolucionárias e no ano seguinte, em 1849, invocando e dando graças pelo
"sangue derramado por Jesus por amor
aos homens de todos os tempos", os exércitos franceses permitiram-lhe
voltar após um ataque que durou de 28 de junho a 1º de julho. Assim o Sumo
Pontífice seguinte, São Pio X, criou esta festa, situando-a no dia em que ao
seu antecessor foi possível voltar a Roma.
Reflexão:
Quando
pensamos no Sangue infinitamente Precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, esse
Sangue gerado no seio de Nossa Senhora, esse Sangue que sai desse Corpo, de
onde nunca deveria ter saído, esse Sangue que, como tudo no Corpo de Cristo,
está em união hipostática com Ele e que sai do Seu organismo sagrado como que
simbolizando toda a dignidade desse organismo — mais ou menos como o vinho que
sai da uva e que representa todo o suco da uva, aquilo que a uva tem de melhor
—, esse Sangue, que é o sangue de Davi, que é o sangue de Maria, que é o Sangue
do Homem-Deus e que, por uma série de atos de violência deicida inomináveis,
pela flagelação, pela coroação de espinhos, pela cruz carregada, pelos
tormentos de toda espécie, pior do que isso, pelo tormento da alma quando Nosso
Senhor, na agonia, começou a sofrer e que o sangue transudava de todo o seu
Corpo, esse Sangue que se derrama pelo chão e que fica atestando de modo
clamoroso a injúria feita ao Homem-Deus, esse sangue assim é uma tal
manifestação de onde pode ir a maldade humana, é uma tal manifestação do
mistério da iniquidade, é uma tal manifestação de quanto Deus tolera, que é um
memorial para nós, para compreendermos que a natureza humana decaída -
sobretudo quando dirigida pelo pecado e dirigida pelo demônio - é capaz de ir
até o fim e não recua diante de nada.
Portanto, diante do mal, todas as desconfianças são de rigor. Isto está
exatamente no preceito: “Vigiai e orai”. É preciso ter desconfiança, porque o
mal é capaz de tudo, é capaz das piores infâmias e tudo se pode esperar dele e,
contra ele, se podem empregar todas as violências preventivas que se possam
empregar segundo a Lei de Deus e dos homens. Tudo quanto é dormir a respeito
dele, tudo quanto é otimismo bobo, tudo quanto é deixar para depois em seu combate,
tudo isso é um verdadeiro crime, porque até lá o mal foi capaz de ir e,
portanto, ele foi capaz de tudo. O mal quer toda espécie de mal e é capaz de
chegar até o fundo na ordem do mal. [...]
Não é possível falar desse assunto sem tocar em outro. Em 1º lugar,
qualquer consideração sobre o Sangue de Cristo nos faz lembrar as lágrimas de
Maria, vertidas junto com o Sangue de Cristo. Depois, uma consideração sobre a
Eucaristia. Nosso Senhor não quis que Nossa Senhora vertesse uma gota de Seu
sangue. E tendo permitido que se fizesse tudo contra Ele, não permitiu que as
potências do mal tocassem sequer com a ponta do dedo em Sua Mãe Imaculada.
[...]
Nossa Senhora verteu uma forma de sangue: foram Suas lágrimas. Pode-se
dizer que as lágrimas são o sangue da alma e que Ela sofreu nela toda a dor da
morte dEle, e que é impossível pensarmos no Sangue de Cristo quando não
pensamos, ao mesmo tempo, nas lágrimas de Maria que se juntaram a esse Sangue e
que foi o primeiro tributo da Cristandade para completar aquilo que Deus quis
que fosse completado em Sua Paixão, pelo sofrimento dos fiéis, para que as
almas se salvassem em quantidade.
Por fim, é preciso pensar na Sagrada Eucaristia. Esse sangue de Cristo
foi vertido pelas ruas, pelas praças, no Pretório de Pilatos, no alto do
Calvário, e esse Sangue de Cristo está inteiro na Sagrada Eucaristia. E quantos
de nós talvez tenhamos recebido ontem, hoje, amanhã, depois não sei quantos
dias, o Sangue de Cristo dentro de nós.
Então, quando recebermos o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo,
devemos nos lembrar disso. Esse Precioso Sangue, derramado por nós, é por nós
recebido. Ele, dentro de nós, está como o sangue de Abel, mas não para clamar
castigo contra nós, mas para clamar misericórdia por nós. Então, recebermos a
Eucaristia com muita confiança, com muita alegria, porque recebemos o Sangue de
Cristo que sobe ao céu e brada pedindo por nós.
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