Nasceu
em Camerino a 9 de abril de 1458. Filha de Júlio César Varani, típica figura de
um homem do renascimento, Duque de Camerino, e de uma certa dama, Francisca de
Mestro Giacomo de Malignis, antes das núpcias de seu pai com Joana Malatesta,
de Rímini (conhecida como beata Joana ou Jane Malatesta).
Bem cedo Camila foi levada ao Palácio dos
Varani, família ilustre que desde a metade do século XIII dominava a cidade e o
ducado de Camerino. Foi reconhecida como filha de Júlio César, e como tal,
amada de modo particular. Também Joana acolhe-a com maternal afeto: o
relacionamento que as duas mantêm é uma das realidades mais belas da infância e
da juventude de Camila. Entre os 8 e 9 anos foi imensamente atraída por uma
pregação do franciscano Domenico de Leonessa (observante) sobre a Paixão de
Jesus. Fez voto de meditar todas sextas-feiras os sofrimentos do Senhor e de
verter ao menos uma “lagrimazinha”.
Depois de 1476, em contato com Frei
Francisco de Urbino, começou a maturar sua vocação para a vida religiosa,
diante da qual relutou muito. Depois de ter-se decidido, passou por sérias
dificuldades e contrariedades vindas da parte dos parentes, de modo especial de
seu pai. Desejam para ela um casamento que favoreça a política do ducado. Em
1481, ingressou finalmente no Mosteiro de Clarissas Urbanistas da cidade de
Urbino. Estava então com vinte e três anos. Ao receber o hábito religioso,
recebeu também o nome de Batista, tão corrente na época. Em 1482, fez sua
profissão religiosa em circunstâncias para ela demais difíceis, tanto que ao
escrever sua autobiografia, chama de “amarga profissão”.
Em 1483, redige “As Recordações de Jesus”,
opúsculo com instruções e admoestações recebidas de Jesus enquanto ainda estava
em Camerino no palácio paterno. O pai, Júlio César, e seus filhos, não
suportando que Camila estivesse longe, constroem em Camerino um mosteiro. A 4
de janeiro de 1484, Camila retorna a Camerino com oito irmãs para fundar uma
comunidade clariana, não mais de Urbanistas, mas com a Regra própria de Santa
Clara. No correr dos anos é eleita várias vezes abadessa.
Humilde, serviçal, atenta às necessidades
de suas irmãs, datam desses anos fortes experiências místicas, visões de Jesus,
da Virgem e de Santa Clara. Em 1488, Camila escreve “As dores mentais de Jesus
na sua Paixão”. Em 1491, numa prolongada inspiração, redige “A vida
Espiritual”, sua autobiografia, endereçada ao Beato Domenico de Leonessa, seu
confessor. Seguem outras obras, entre as quais “Instruções ao Discípulo”,
dirigidas ao padre João de Fano, franciscano. Desde o ano de 1488 até 1490,
passa por uma dolorosa crise espiritual. Sua autobiografia, redigida em
fevereiro-março de 1491 data do final deste período. Em 1501, inicia-se uma
nova crise: a familiar, que a envolve profundamente.
O Papa Alexandre VI excomunga o pai de
Camila unicamente por motivos políticos. O exército de Valentino aprisiona seu
pai e seus irmãos Aníbal, Venâncio e Pirro, que posteriormente são
assassinados. Camila, para não ser envolvida nas turbulências militares, foge
com outra clarissa, parenta dos Varani, para Fermo. Em seguida, a pé, segue
para Atri, onde as acolhe em seu castelo a duquesa Isabela Picolimini
Tedeschini. Do massacre ocorrido no ano de 1501, restou somente o irmão mais
novo de Camila, João Maria e o sobrinho Sigismundo, filho de Venâncio, por
terem fugido com antecedência.
Após a morte do Papa Alexandre VI (que
como cardeal levara uma vida devassa, tendo vários filhos com algumas damas
romanas, sendo eleito papa por tramas políticas), o duque João Maria é
reintegrado no Senhorio de Camerino pelo Papa Júlio II (1503). Então Camila e a
companheira retornam também a Camerino. Daí seria obrigada a sair novamente para
fundar um mosteiro de Clarissas em Fermo (1505), por ordem do Papa. Em 1511,
morre-lhe a mãe adotiva, Joana Malatesta, que lhe assinalou profundamente a
existência.
Em 1521, empreende uma viagem a São
Severino, nas Marcas, em busca de fundos para seu mosteiro. As fundações de
Camerino e de Fermo, realizadas com empenho da observância radical da Regra de
Santa Clara, lhe deram também a fama de ter sido excelente reformadora da Ordem
de Santa Clara.
Camila morreu na festa de Corpus Christi a
31 de maio de 1524, com grande dor de seu irmão João Maria e de toda a corte
ducal, e foi enterrada no coro de seu mosteiro. Trinta anos mais tarde, seu
corpo foi exumado e foi encontrado em um estado de perfeita preservação. Foi
enterrado novamente para ser exumado em 1593. A carne foi então reduzida a pó,
mas a língua ainda permaneceu muito fresco e vermelho.
A Santa deixou uma preciosa herança de
manuscritos, alguns em latim e na maioria em dialeto umbro. Suas obras
tornaram-se famosas na literatura mística.
No seu conjunto, os escritos de Batista são
notáveis pela originalidade do pensamento, pela espiritualidade marcante e pela
linguagem vividamente pictórica. Tanto São Filipe Neri quanto Santo Afonso
registraram sua admiração por esta talentosa mulher que escreveu com igual
facilidade em latim e italiano, e que foi considerada uma das mais brilhantes e
consumadas eruditas de seu tempo.
O culto imemorial de Camila foi aprovado
por Gregório XVI em 1843, e foi canonizada pelo Papa Bento XVI a 17 de outubro
de 2010 em Roma. Sua festa ocorre no dia 31 de maio e é mantida na Ordem
Franciscana em 2 de junho.
“Serve-o
por puro amor, porque Ele é o Senhor que só merece ser servido, amado, louvado
por cada criatura”, disse Camilla em um dos seus escritos.
Fonte:
http://www.franciscanos.org.br
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