Fundadora do Instituto das Irmãs da Sagrada Família de
Urgell
“Tu, Senhor, me darás a graça para ser
uma esposa fiel, que te ama muito e te serve na pessoa dos doentes, dos
deficientes”, dizia a Serva de Deus.
No dia 11 de janeiro de 1885, em Talarn, histórica vila situada junto à cidade
de Tremp, Ana Maria Janer Anglarill, pouco antes de entregar sua alma a Deus,
expressou seu último desejo: morrer sobre o solo nu como penitente por amor a
Cristo "que por mim expirou cravado
na cruz", disse a Beata. Terminava assim uma trajetória de provada
santidade, de correspondência fiel ao amor de Deus.
Ana Maria nasceu no dia 18 de dezembro de 1800 em Cervera (Lérida, Espanha).
Entrou como Irmã de Caridade no hospital de Cervera, onde se entregou ao
cuidado dos doentes e à educação de meninas, em momentos especialmente
difíceis, marcados pelas chamadas guerras civis que ensanguentaram a história
da Espanha no século XIX.
Em 1833, quando eclodiu a primeira guerra carlista e o hospital de Castelltort
se tornou hospital militar, “a situação em que se encontrou Madre Janer no
campo de batalha não foi fácil, e embora não tivesse os meios suficientes,
soube organizar e infundir serenidade naquelas pessoas, dar-lhes alívio,
consolá-las”, conforme depoimento de Irmã Cecília. Os feridos de guerra
chamavam-na “a mãe” porque “fazia de tudo para cuidar de seus ferimentos e os
ajudava a morrer pacificados com Deus e consigo mesmos”, disse aquela Irmã.
Mas, em 1836 a junta do hospital expulsou as Irmãs. Naquele ano o governo
liberal decretou a supressão das ordens religiosas, o confisco dos bens
eclesiásticos e a expulsão das comunidades religiosas das obras sociais e
educativas que até então sustentavam. A História é rica em atropelos deste
gênero.
Terminada a guerra, Ana Maria conheceu o exílio na França até 1844. Em 1849,
Ana Maria se ofereceu como voluntária para trabalhar como Irmã na Casa de
Misericórdia de Cervera. Durante dez anos atendeu amorosamente os órfãos
daquela casa, as crianças de famílias muito pobres, os jovens sem capacitação e
os anciãos. Em sua entrega tornava realidade a presença constante da Igreja de
Jesus Cristo na vida dos mais pobres.
A partir de 1850, a junta do hospital de
La Seu d'Urgell queria estabelecer uma comunidade de irmãs de caridade, mas
várias circunstâncias haviam impedido a formação de uma comunidade estável. Em
1853, o Bispo José Caixal tomou posse da diocese e um de seus propósitos era
revitalizar o serviço oferecido pelo hospital aos doentes e aos pobres. Assim,
em 1858 os administradores deste centro iniciaram os contatos para que Ana Maria
Janer assumisse o estabelecimento como superiora.
No
final de junho de 1859, obtido o consentimento dos administradores do hospital
Castelltort e da Casa de Misericórdia e a autorização do vigário geral de
Solsona e do bispo de Urgell, Madre Janer viaja para Seu acompanhada de duas postulantes,
Concepcion Descárrega e Josefa Selva. Em 1º de julho, conforme registrado em uma
ata do Hospital de la Seu, Ana Maria Janer compareceu perante a diretoria para
expressar sua profunda motivação para aceitar a tarefa:
“Que ela tinha vindo aqui com o propósito
de encarregar-se da direção interna do estabelecimento por espírito de
caridade, e não de interesse, contentando-se que se mantenham a ela e às outras
irmãs saudáveis e doentes com a decência correspondente à sua classe e que
para sapatos e roupas seja dada a cada uma das irmãs a quantidade de cento e
sessenta reais anuais e ao mesmo tempo que à sua morte lhe seja feito funeral
segundo a vontade da junta, dando a favor dela tudo que ganhar com o seu
trabalho".
A
partir dali sabemos bem o que aconteceu: apresentação e aprovação da regra de
vida do Instituto chamado então "Irmãs da Caridade" e também sob o patrocínio
da Virgem Imaculada, de São Vicente de Paulo e de São Luís Gonzaga. Suas duas
finalidades ficaram bem definidas: assistência aos pobres e doentes, e educação
das meninas. A primeira comunidade do hospital de Urgell formada pela Madre
Janer, e as duas postulantes que a acompanharam, e Maria Viladomat, crescerá de
tal maneira, que em breve o hospital ficará pequeno e o convento de Santo
Domingo deverá ser solicitado para o noviciado da congregação nascente.
Desnecessário dizer, o Instituto recebeu
durante os primeiros anos o impulso das mãos da Madre Janer que, incansável,
apesar de sua idade, não vai deixar de fundar aqui e ali escolas, instituições
de caridade e hospitais: Cervera, Tremp, Oliana, Bellver, Sant Andreu, Organia,
Castellciutat, Llívia, Les Avellanes. De acordo com as crônicas mais antigas
das fundações, nestes foi ela pessoalmente para estabelecer as comunidades. No
caso das escolas, a tática era sempre a mesma: conseguir que as irmãs
obtivessem os cargos oficiais de professoras.
O período revolucionário compreendido entre 1868 e 1875 representou um duro
golpe para as obras da Madre Janer. Entre 1874 e 1880 ela enfrentou também
outros tipos de lutas e provas em que manifestou seu grande sentir com a Igreja,
seu silêncio e obediência.
Em 1879, Mons. Casañas, novo Bispo de Urgell, posteriormente nomeado Cardeal,
reorganizou a vida do Instituto e Madre Janer, aos oitenta anos, como merecido
reconhecimento foi nomeada primeira superiora geral. Passou seus últimos anos
na casa de Talarn sendo exemplo de luminosa caridade.
Madre Janer tinha um amor especial pela cruz. Contemplar Cristo Crucificado se
tornou para ela a base que lhe permitia ser sinal e testemunha clara dAquele
que nos amou primeiro, dAquele que nos ama até dar a própria vida.
Atualmente o Instituto das Irmãs da Sagrada Família de Urgell está presente na
Espanha, Andorra, Itália, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Colômbia,
México, Peru e Guiné Equatorial.
Madre Janer foi beatificada no dia 8 de outubro de 2011, durante o pontificado
de Bento XVI. A primeira mulher a ser beatificada na Catalunha durante
séculos.
Fontes:
Publicado
pela 1ª vez em 10 de janeiro de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário