segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Venerável Ana de Guigné - 14 de janeiro

Uma tão grande alma para uma tão pequena menina

     Em 1915, um ano após o início da primeira guerra mundial, enquanto os combates se atolam nas trincheiras, todas as famílias de França sabiam que uma visita de oficiais do estado civil num lar significava o anúncio de uma morte na frente de batalha. Assim, quando em 29 de julho de 1915, a Senhora de Guigné vê o presidente da câmara de Annecy-le-Vieux chegar à porta da sua residência, ela percebeu que o seu marido, ferido já em três ocasiões, não regressaria mais.
     “Ana, se me queres consolar, tens de ser boazinha”, diz a mãe à sua filha de tão-somente quatro anos de idade. A partir daquele momento, a criança até aí voluntariosamente desobediente, orgulhosa e invejosa, iria realizar, com tenacidade e continuidade, um combate de cada instante a fim de se tornar boa, o combate da sua transformação interior que ela vencerá graças à sua vontade, obviamente, mas sobretudo – e é ela a dizê-lo – através da oração e de sacrifícios que ela se impõe. Veem-na ficar vermelha, serrando os seus pequenos punhos para controlar o seu forte caráter perante as contrariedades que enfrenta; depois, pouco a pouco, as crises diminuíram até ao ponto dos seus familiares e conhecidos ficarem com a impressão que tudo se lhe tornou agradável. O amor pela sua mãe que ela quer consolar vai assim tornar-se o seu caminho para Deus.
     Quando a Irmã, que cuidava dela durante sua doença, perguntou como se tornar uma santa, ela disse “simplesmente querendo". A Ana de Guigné era uma criança com uma vontade de ferro e desde o momento de sua conversão ela quis apenas uma coisa: ser uma santa. "Tornar-se um santo é persistir", dizia ela. Embora ela tenha vivido por um curto período de tempo, ela se destacou em superar suas inclinações naturais, generosa e heroicamente aceitou os sofrimentos que Deus lhe enviou.
 
Ana com sua mãe e irmãos
   
Ana de Guigné, a mais velha de quatro filhos, nasceu em 25 de abril de 1911, filha do Conde Jacques de Guigné e de Antoinette de Charette. O conde era um segundo tenente no 13o batalhão, Chambéry de Chasseurs Alpins. A avó materna de Ana, Françoise Eulalie Marie Madeleine de Bourbon-Busset era descendente direta do sexto filho do rei São Luís IX da França. A mãe de Ana era a sobrinha-neta do general François de Charette, um dos líderes de La Vendée.
     Quando Jacques (Jojo) nasceu 15 meses depois de Ana, ela ficou muito ciumenta, jogando sujeira nos olhos do bebê e uma vez até o chutou. Felizmente isto não durou muito e ela estava muito feliz por ser a mais velha. Ana era arrogante, difícil de lidar e seus primeiros quatro anos foram os piores. Este comportamento estava prestes a mudar e, com isso, uma menina santa emergiu.
     Madeleine Bassett (Demoise, como as crianças a chamavam), a governanta que chegou em janeiro de 1916, ficou surpresa ao saber como Ana tinha sido difícil nos últimos 4 anos e meio. Ana, atenciosa com Demoise, fazia com que se sentisse em casa, até apontando para as flores no jardim, dizendo a Demoise que poderia mandar um buquê para sua família em Cannes. Uma coisa que a governanta notou foi que Ana parecia mais sábia para sua idade. “Eu estava realmente encantada com a graça de suas maneiras. Não se podia deixar de amá-la, mesmo inspirando respeito. Ela também era muito sensata e tinha um coraçãozinho tão gentil”.
     Este caminho encontra-se balizado pelas numerosas reflexões de Ana que nos revelam a intensidade da sua vida espiritual e pelos numerosos testemunhos dos seus próximos que recordam os esforços contínuos que ela fazia para progredir na sua conversão. Para Ana de Guigné, o farol que ilumina o seu caminho de conversão é a sua primeira comunhão à qual aspira com todo o seu ser e toda a sua alma e que ela prepara com alegria. Chegado o momento, a sua tenra idade necessitando uma licença especial, o bispo impõe-lhe um exame que ela ultrapassará com uma facilidade desconcertante. “Desejo que estejamos sempre ao nível de instrução religiosa desta criança”, dirá o seu examinador.
     A continuação da sua curta vida traduz a paz de uma grande felicidade íntima alimentada pelo amor a Deus que se aplica, à medida que cresce, a um círculo de pessoa cada vez mais vasto: seus parentes e familiares, pessoas com quem vai contatando, os doentes, os pobres, os não crentes.
     Ela vivia, rezava, sofria pelos outros. Atingida precocemente pelo reumatismo, ela soube o que é o sofrimento e corresponde-lhe com uma oferta: “Jesus, eu vo-lo ofereço”, ou ainda “Ó, eu não sofro; aprendo a sofrer!”
     Mas em dezembro de 1921, ela é afetada por uma doença cerebral – sem dúvida uma meningite – que a força a permanecer acamada. Ela repetia incessantemente: “Meu Deus, eu quero tudo o que quiserdes”, e acrescentava sistematicamente às orações que são feitas pelas suas melhoras: “e curai também todos os outros doentes”.
Chateau de La Cour o castelo da família
     Ana de Guigné morreu na madrugada de 14 de janeiro de 1922 após este último diálogo com a religiosa que velava por ela: “Irmã, posso ir com os anjos?” - “Sim, minha bela pequena menina”. “Obrigada, Irmã! Ó, obrigada!”.
     Esta menina é uma “santa”, tal é então o veredito geral. Os testemunhos abundam, artigos são publicados e o Bispo de Annecy inicia em 1932 o processo de beatificação. Mas então a Igreja não tinha tido ainda a necessidade de ajuizar sobre a santidade de uma criança que não fosse mártir. Os estudos conduzidos em Roma sobre a possibilidade da heroicidade das virtudes da infância foram concluídos positivamente em 1981 e a 3 de março de 1990 o decreto reconhecendo a heroicidade das virtudes de Ana de Guigné e declarando-a “venerável” era assinado pelo papa João Paulo II. 
Ana, com cerca de 9 anos. “Eu perguntei a ela ‘Você ama a Deus?’ Ela me respondeu com tal intensidade em seus olhos e em todo o seu corpo: ’Padre, eu O amo com todo meu coração e alma!’. Jamais esqueci o ardor do amor que ela irradiava”, Padre Jacquemont.

Notas escritas e bilhetes
“Meu pequeno Jesus, eu vos amo e para vos agradar tomo a resolução de obedecer sempre.” (Bilhete deixado sobre o altar aquando da sua primeira comunhão)
“O pequeno Jesus, parece-me que me respondeu no meu coração. Eu dizia-Lhe que queria ser muito obediente e pareceu-me ouvir: sim, sê-o.” (bilhete à mãe 1917)
“Eu quero que o meu coração seja puro como um lírio”.
“Quero que Jesus viva e cresça em mim. Que meios tomar para isso?” (Notas de retiro 1920)
“Bem podemos sofrer por Jesus pois Jesus sofreu por nós”.
     Numa imagem do Calvário que ela tinha feito, Ana escreveu: “De pé diante da Cruz sobre a qual o seu Filho estava suspenso, a Mãe das dores chorava com resignação. Dai-me a graça de chorar convosco”. Ela acrescentava: “Porque Jesus não é suficientemente amado”.

Emprestai-mO, Oh, Maria minha boa Mãe
Emprestai-me o vosso filho, apenas um segundo,
Colocai-o nos meus humildes braços.
Permiti-me, Maria
beijar os pés do vosso querido Filho
que me deu tantas graças.
Como eu desejo, ó Maria,
receber nos meus braços o vosso Filho,
Dai-mO, dai-mO!
Que feliz eu sou agora
pois tenho-O comigo!
(Canto composto por Ana para a comunhão)

     À sua mãe que lhe perguntou por que razão deixou de usar o seu missal, ela respondeu: “Porque sei de cor as suas orações e distraio-me facilmente ao lê-lo. Pelo contrário, quando falo ao pequeno Jesus nunca me distraio. É como quando falamos com alguém, Mãezinha, sabemos muito bem o que dizemos”. (dezembro de 1919)

Fontes:
http://www.annedeguigne.fr/pt/biografia/uma-grande-alma.html
http://www.nobility.org/2015/01/12/anne-de-guigne/

Postado pela 1ª vez em 14 de janeiro de 2015

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