Uma
erupção vulcânica se aproximava do local. Os moradores correram para uma igreja
e algo extraordinário aconteceu
Estamos
em abril de 1902. A bela cidade de St. Pierre, a capital de Martinica, é uma
das cidades mais importantes dessa parte do mundo. Com pouco mais de 250 anos
de história, ela é chamada de “a Paris do Caribe”. Exageros à parte, além da
importância política e econômica, a cidade é um polo cultural. Seu pomposo
teatro, recém reconstruído depois da destruição causada por um grande furacão
no século anterior, atrai companhias de ópera da França e da Itália. Os quase
30 mil habitantes levam uma vida europeia, mas com clima caribenho.
Mas tudo
está para mudar. A cidade, um movimentado porto, está localizada nos pés da
montanha Pelée, que na verdade é um vulcão meio dorminhoco. A bela e tranquila
paisagem é retratada em muitos quadros e até nas recentes “photographias".
Piqueniques são organizados nas encostas das montanhas, enquanto turistas mais
intrépidos sobem até o alto da montanha, onde está o “Étang Sec”, ou lago seco,
a grande cavidade que um dia já havia sido uma caldeira de vulcão.
Mas
agora, outra coisa atrai a curiosidade de moradores e turistas. Fumarolas
aparecem em vários pontos da montanha. Não é um fenômeno raro, mas a quantidade
delas, sim. No dia 23 de abril, cinzas do vulcão chegam até a cidade. Isso sim
era estranho para a maioria das pessoas. Os mais velhos se apressam a dizer:
“Foi assim em 1851!”. Alguns poucos até se lembram que, na época, seus avós se
lembraram de fenômeno similar, em 1792. “Dura umas semanas e depois passa...”
Ninguém parecia se importar que os índios Caribs, que viviam em Martinica há
muito mais tempo, conheciam a montanha como “A Montanha de Fogo”.
As
pessoas começam a ficar mais preocupadas dois dias depois, quando uma grande
nuvem se ergue sobre a montanha e com a nova chuva de cinzas no dia seguinte.
No dia 27, valentes excursionistas chegam ao topo da montanha e voltam com uma
notícia alarmante: o tal lago seco agora estava cheio. Pior, uma estranha
“torre de pedra” tinha se erguido na ponta do lago e, de lá, vertia uma
cachoeira incessante de água fervente, a fonte de água do lago. De um buraco na
tal torre, podia-se ouvir um forte barulho de água borbulhando, como se
houvesse um enorme caldeirão abaixo da terra.
No dia
7, os barulhos vindos do vulcão aumentaram. Pior, uma densa nuvem negra começou
a sair do alto da montanha. Ficava ainda mais aterrorizante pelas dezenas de
descargas elétricas no seu interior, que lhe davam uma coloração alaranjada
quando os raios a iluminavam. Mas os jornais traziam duas boas notícias: um
vulcão na vizinha ilha de Saint Vincent entrara em erupção, certamente
aliviando a pressão na crosta terrestre em toda a região; e o governador geral
da Martinica estava chegando à cidade, junto com a sua esposa, para mostrar que
ela era realmente segura.
Mas nem
todos estavam convencidos disso. No porto, o Capitão Marina Leboff zarpa com
seu barco ainda carregado pela metade, apesar das ameaças da empresa e dos
oficiais portuários: Iriam caçar o seu registro! Quem tentava sair por terra
era ameaçado de prisão, por tentativa de disseminar o pânico.
No dia 8
de maio, milhões de toneladas de rochas, cinzas, água e gases aquecidos a mais
de 1.000 graus centígrados desciam em corrida desvairada em direção à Paris do
Caribe. Com uma velocidade de quase 600 km/h, essa massa fervente demorou menos
de um minuto para cobrir os 6 km de distância até St. Pierre.
Em
segundos, 30 mil pessoas morreram. Entre elas, o governador e sua esposa, os
oficiais do porto e os policiais da prisão. Uma testemunha que viu tudo de alto
mar relatou: “A cidade simplesmente sumiu na frente dos nossos olhos”. Num
mundo sem internet ou twitter, as notícias eram desencontradas. Ninguém parecia
acreditar no tamanho da tragédia...
Na atual
igreja da cidade, um vitral mostra o vulcão em erupção, as pessoas em
desespero, algumas se agarrando num padre que segura um crucifixo.
* * *
No dia 8 de maio de 1902, uma grande
erupção vulcânica vinda do Monte Pelée, na ilha de Martinica (Caribe) dizimou
um pequeno vilarejo próximo de Saint-Pierre, capital da Martinica, e seguiu
para o vilarejo de Morne Rouge.
Era a festa da Ascensão e os paroquianos
locais reuniram-se na igreja católica, assustados com a erupção. A população,
então, foi consagrada ao Sagrado Coração de Jesus e o pároco expôs a Eucaristia
para adoração no altar.
Todos queriam fazer o que eles acreditavam
ser a última confissão. Enquanto rezavam fervorosamente por suas vidas, olharam
para cima e notaram uma aparição do Sagrado Coração.
O Sagrado Coração de Jesus estava coroado
de espinhos e alguns viram seu precioso sangue pingando do coração. A aparição
durou várias horas, e um grande número de pessoas testemunhou o acontecimento
milagroso.
Naquele dia, o vilarejo foi poupado da
erupção vulcânica e todos tiveram a chance de se reconciliar com Deus no
sacramento da confissão.
No entanto, alguns meses depois, em 30 de
agosto, ocorreu outra erupção vulcânica e muitos foram mortos na cidade de
Morne Rouge. A população acredita que Deus os poupou em 8 de maio para que eles
pudessem ter tempo extra para fazer as pazes com Deus antes que Ele os chamasse
de volta para casa. Em vez de ver isso como um sinal da ira do Senhor, eles
acreditavam que era um ato de misericórdia e permanecem comprometidos com o
Sagrado Coração mesmo após um acontecimento tão trágico.
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