A
venerável Madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico encontra-se em processo de
beatificação e canonização. Em abril de 2014, a fundadora da Congregação das
Pequenas Missionárias de Maria Imaculada teve suas virtudes heroicas
reconhecidas pelo Papa Francisco. Atualmente, um milagre atribuído à Madre está
em análise no Vaticano. O próximo passo é a beatificação. Madre Maria
Teresa de Jesus Eucarístico faleceu em 8 de janeiro de 1972, mas continua viva
no coração das Irmãs Pequenas Missionárias, sendo a grande inspiração e a força
que as move.
Quem foi Madre Teresa?
Madre Maria Teresa nasceu na cidade de São
Paulo, e seu nome de batismo era Dulce. Era filha de Helena Herold, filha de
imigrantes alemães de Postdan, Alemanha, e de Brasílio Rodrigues dos Santos,
advogado e professor Catedrático da Faculdade de Direito do Largo São
Francisco, político de formação abolicionista e republicana, tendo sido
deputado federal e senador, nascido em São Paulo. Casaram-se em 1888 e tiveram
sete filhos, sendo Dulce a caçula. Dulce nasceu a 20 de janeiro de 1901, e
sessenta dias depois ficaria órfã de pai. Dona Helena ficou viúva aos 37 anos,
foi forte e não teve medo de lançar-se ao trabalho, conseguindo formar todos os
filhos: quatro professoras, um médico e um engenheiro.
A pequena Dulce desde os 8 anos estudando
no Externato São José, das Irmãs de São José de Chambery, manifestou os raros
dons de inteligência com que fora agraciada. No externato fez a sua primeira
comunhão: no dia 1 de setembro de 1912, com 11 anos de idade, Dulce,
compenetrada e muito feliz, recebeu o seu Jesus pelas mãos do Pe. Leninhani na
Capela do Externato São José.
Desde essa época, impressionava-se
vivamente com a vida religiosa, mostrando desejo de segui-la. Foi muito
marcante na sua formação esse contato com aquelas religiosas, fazendo despertar
cedo em seu coração o gosto pela oração, o amor à Nossa Senhora e o culto à Eucaristia.
Desde cedo aprendeu a amar a Maria com devoção filial. Aos 16 anos escreveu uma
pequena oração que rezava após a comunhão: “Ó Jesus, tirai-me a faculdade de
buscar fora de vós o afeto de que minha alma sente a sede ardente... Tomai-me
toda para Vós e nada deixai de mim para as criaturas... Consumi-me inteiramente
ao fogo de vosso amor...”
Desde os 16 anos desejava fazer-se
carmelita, mas sua mãe não o permitia. Formou-se professora aos 18 anos. Aos 21
anos teve que afastar-se das salas de aula, tendo adoecido de tuberculose
pulmonar. Naquele tempo a medicina ainda não havia encontrado a cura para esse
mal, o que comprometia os sonhos e projetos de Dulce. Com sua mãe deixou São
Paulo por recomendação médica e foi para São José dos Campos, chamada, entre as
décadas de 20 e 50, de “cidade da esperança”. Inúmeros sanatórios e pensões
sanatoriais se instalaram na cidade devido ao seu clima favorável.
Dr. Nelson Silveira d’Ávila se destacava
como fisiólogo e Dulce passou a tratar-se com ele. Não obtendo melhoras,
mudou-se para Campos do Jordão e sua mãe voltou para São Paulo. Após grandes
provações, já mais recuperada, voltou para São José dos Campos. Entrementes,
sua mãe adoeceu e teve que ser operada. Dulce a acompanhou com carinho até sua
morte em 1926, e nisso manifestou-se claramente sua vocação de enfermeira.
Dulce e sua mãe |
Enfim Dulce recebeu a resposta tão
esperada: o Carmelo aceitou a sua entrada. A tristeza caiu sobre o pensionato,
que já ocupava uma casa maior na mesma rua. Mas Dulce ouviu o conselho de Pe.
Henrique de Barros: “Seu lugar é aqui, junto das moças tuberculosas!” Era o
recado do céu e Dulce o compreendeu. Decidiu-se: ficaria no Pensionato Maria
Imaculada.
Na Pensão de Da. Dulce, como era
conhecida, faziam-se festinhas, criavam-se representações, buscando despertar a
fé e a esperança em todos. Dulce se preocupava também com os doentes pobres que
não podiam pagar pensão e moravam em casebres. Com as companheiras, entre elas
a Santinha (Maria Conceição Portugal e Souza), visitava-os, levava-lhes
auxílios, mas seu desejo era o de alugar uma casa para abrigá-los. Em 1931
realizou o seu intento: inaugurou-se o Asilo Santa Teresinha, com 5 moças
pobres.
Foi nessa necessidade de atender os
doentes, que muitas vezes ela precisou recorrer ao Pe. Ascânio Brandão. Foi ele
que, certa vez, levou ao conhecimento de D. Epaminondas Nunes d’Ávila e Silva,
1º Bispo de Taubaté, diocese a que então pertencia São José dos Campos, o trabalho
silencioso e oculto dessa jovem, à qual já se havia unido outras moças,
atraídas pelo mesmo ideal e reunidas em um pequeno pensionato.
Em Taubaté, Dom Epaminondas preocupava-se
com o abandono espiritual em que viviam os doentes. Sonhava com uma associação
religiosa que o auxiliasse nesse trabalho, quando soube daquela jovem que, com
algumas companheiras, realizava um trabalho tão precioso. Quis conhecê-la. Em
companhia de Da. Elza Silveira d’Ávila, esposa de Dr. Nelson e a quem no
pensionato chamavam de madrinha, foram ao velho palácio de Taubaté.
Era julho de 1931. Uma nova perspectiva se
abria no coração de Dulce. O encontro terminou com um pedido do Bispo para que
Dulce colocasse por escrito o seu pensamento, o seu trabalho. Dom Epaminondas
fez daquela obra uma associação religiosa em agosto de 1932, passando à
congregação dois anos depois, e assim receberam autorização para usarem hábito
e o nome religioso. Ele as batizou de Pequenas Missionárias de Maria Imaculada,
e Dulce recebeu o nome de Maria Teresa de Jesus Eucarístico. As constituições
foram aprovadas e fez-se a ereção canônica da congregação em novembro de 1936.
Sanatório Maria Imaculada, de São José dos Campos
Fundado em 1935 por Madre Maria Teresa de
Jesus Eucarístico, o Sanatório Maria Imaculada recebe mensalmente a visita de
milhares de pessoas. A maioria delas busca conforto espiritual ou apoio social.
Em meio ao barulho dos carros, o movimento
dos pedestres na rua, escondido atrás de prédios, existe um oásis de
tranquilidade e espiritualidade em São José dos Campos. É o Sanatório Maria
Imaculada, patrimônio histórico, cultural e religioso do município que completa
84 anos no dia 6 de outubro. A instituição pertence ao Instituto das Pequenas
Missionárias de Maria Imaculada.
“O período sanatorial foi marcado por
muito sofrimento. Foi a necessidade de ajudar e apoiar as mulheres tuberculosas
que motivou Madre Teresa a construir o Sanatório. A partir desse trabalho, a
obra se expandiu. Felizmente, muitas pessoas receberam ajuda e ainda continuam
recebendo. Permaneceram a vida, a fé e a religiosidade no local”, explica a
Irmã Sandra Maciel Notolini, superiora geral da Congregação das Pequenas Missionárias
de Maria Imaculada.
O Sanatório Maria Imaculada foi idealizado
por Madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico. Preocupada com o ambiente
inadequado oferecido em várias pensões da cidade, Dulce intensificou o trabalho
de assistência a mulheres tuberculosas.
Junto com outras jovens, cuidou de muitas
doentes mantendo casas e pensões na região central da cidade. “A Pensão da Dona
Dulce” se tornou conhecida pelo trabalho caridoso junto às tuberculosas e por
ser um dos melhores e mais sadios locais para o tratamento da doença.
Preocupada com o aumento do número de
doentes na cidade, Dulce, com poucos recursos financeiros, comprou uma chácara
na Rua Major Antônio Domingues com a finalidade de construir um Sanatório. A
pedra fundamental foi lançada em 25/3/1933.
No dia 2/8/1935, Dulce transferiu cerca de
35 jovens doentes que atendia em uma pensão na Praça Afonso Pena para o então
Sanatório Maria Imaculada. A inauguração aconteceu oficialmente no dia
6/10/1935.
Com a ajuda de Dom Epaminondas, Madre
Maria Teresa soube descobrir cada vez mais a vontade de Deus que a chamava a
doar toda a sua vida ao serviço de Deus presente nos mais necessitados e
sofredores.
A vida de Madre Teresa foi uma busca
constante da intimidade com Deus, principalmente na Adoração da Eucaristia,
fonte de força para sua ação apostólica. Seu amor para com Nossa Senhora, Maria
Imaculada, torna-a uma propagadora incansável da devoção à Mãe de Jesus e nossa
Mãe.
A espiritualidade de Madre Teresa,
centrada no mistério Eucarístico, leva-a a ter um amor todo especial pelos
sacerdotes, herança bem presente no coração de cada Pequena Missionária.
A maior parte de sua vida transcorreu em
São José dos Campos, onde deixou sementes de bondade e de amor, sendo a Mãe dos
pobres, dos doentes e de todos os que recorriam à sua ajuda [1]. Cansada no
corpo, cheia de entusiasmo no espírito, tendo dedicado toda sua vida à Igreja,
à sua Congregação e ao anúncio do Evangelho, percorrendo a Pequena Via de Santa
Teresinha, morreu no dia 8 de janeiro de 1972. Hoje uma legião de quase 400
irmãs busca viver esse mesmo ideal de amor a Deus e ao próximo.
Processo de Beatificação
O processo de beatificação e canonização
de Madre Teresa foi aberto na Diocese de São José dos Campos há 17 anos e
entregue à Congregação para as Causas dos Santos, em Roma, em 2001. Em 2010, o
Frei Cristóforo Bove, relator da causa de Madre Teresa, junto com duas Irmãs
Pequenas Missionárias, entregaram à Congregação o Positio, documento que reúne
evidências sobre a vida, virtudes e fama de santidade da Serva de Deus. Em
2013, durante o Congresso Peculiar da Causa dos Santos, os 9 consultores
teólogos que estudaram o Positio votaram a favor da vivência das virtudes
heroicas e reconheceram a fama de santidade Madre Teresa.
Aposentos
É possível conhecer um pouco sobre a vida
e a obra de Madre Maria Teresa de Jesus Eucarístico e ainda pedir graças à
religiosa visitando o Memorial e os aposentos de Madre Maria Teresa de Jesus
Eucarístico, no Sanatório Maria Imaculada (Rua Major Antonio Domingues, 244 –
Centro). Conservados intactos pelas Irmãs Pequenas Missionárias, os visitantes
encontram expostos vários objetos pessoais e de escritório, como a escrivaninha
onde a religiosa escrevia conferências com mensagens para as religiosas,
vestes, sua cama, objetos curiosos como um revólver de brinquedo que a Madre
usou para espantar um ladrão, além de objetos de enfermagem utilizados
durante o período que ela esteve doente até sua morte em 1972.
[1] Entre outras
obras, Madre Teresa e suas irmãs assumiram o sanatório para crianças carentes
criado em 1941 pela família do menino Antoninho da Rocha Marmo (B.136),
falecido em odor de santidade. Antoninho recebeu de presente de Dom Epaminondas
um pequeno altar portátil e paramentos, onde ele ‘celebrava’ a missa e
‘pregava’ à gurizada que o acompanhava, seu passatempo predileto.
NOTA:
Madre Maria Teresa é prima de Da. Lucília Rodrigues dos Santos Corrêa de
Oliveira.
Fontes:
Frei Patrício Sciadini, ocd, www.ipmmi.org.br/
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