“Que
fortaleza adquire a alma na oração! Em meio à tormenta, quão doce é a calma que
a oração encontra no Coração de Jesus! Porém... Qual o consolo que têm aqueles
que não rezam?” (Sta. Teodora Guérin)
Muitos dos pioneiros enfrentaram as
dificuldades deste país (Estados Unidos), onde guerras, fome e doenças eram a
norma. Deixando tudo para trás, as almas heroicas vieram não apenas para salvar
as almas das nações indígenas, mas também para assistir a essas famílias de pioneiros.
Uma dessas almas foi Santa Madre Teodora Guérin, que se tornou a oitava santa
americana e a primeira santa do Estado de Indiana em 15 de outubro de 2006.
Ana Teresa Guérin nasceu no dia 2 de outubro de 1798 na aldeia de Étables-sur-Mer,
França, que ainda sofria os horrores da Revolução Francesa, filha mais velha de
Laurent Guérin, um oficial da Marinha francesa sob Napoleão Bonaparte, e
Isabelle Lefèvre Guérin, ambos descendentes de antigas e distintas famílias da
França. Os Lefèvres eram devotados monarquistas, enquanto os Guérin eram
napoleonistas. A Revolução havia tirado suas propriedades e fortunas; Isabelle
manteve escondido em seu baú um pequeno gorro que apenas os da nobreza usavam. "Mas
vamos colocá-lo de volta no baú", dizia sua mãe, "e mantê-lo lá como
lembrança, em vez de mostrar como um fato".
Os Guérins tiveram quatro filhos: dois
meninos e duas meninas, mas os dois meninos morreram quando jovens. Colocada
sob a proteção especial de Nossa Senhora desde o batismo, a devoção de Ana Teresa
Guérin a Nossa Senhora aumentava a cada ano que passava. “Eu sempre tive horror
ao pecado”, disse ela no final de sua vida, “e desde que comecei a entender que
coisas como faltar às aulas, provocar meus companheiros e me impor, estava
errado, eu tinha pouca atração por aquelas coisas pelas quais eu fui castigada
anteriormente”.
Sua devoção a Deus e à Igreja Católica se
manifestou quando ainda muito pequena. Foi-lhe permitido receber a Primeira
Comunhão com apenas dez anos de idade (fato incomum na época) e nessa ocasião
expressou ao pároco sua intenção de algum dia tomar o hábito de religiosa. "Acalente
esse desejo, minha filha", ele disse a ela, "e um dia você pertencerá
a Deus".
A pequena Ana Teresa com frequência procurava a solidão das costas rochosas
próximas de sua casa, onde dedicava muitas horas à meditação, à reflexão e à
oração. Foi educada por sua mãe que centralizou seu ensino na religião e nas
Escrituras. O pai de Ana Teresa prestava serviços na Armada de Napoleão e
permanecia fora do lar por longos períodos.
Quando Ana Teresa tinha 15 anos seu pai foi assassinado por bandidos quando
voltava para casa para visitar sua família. A perda do esposo tornou Isabelle
muito doente; durante muitos anos a responsabilidade de cuidar da mãe e da
pequena irmã recaiu sobre Ana Teresa que, além disto, cuidava da casa e da
horta da família.
Ao longo desses anos de penúrias e
sacrifícios - na realidade, durante toda sua vida -, a fé em Deus nunca
vacilou, jamais titubeou. No mais profundo de sua alma sabia que Deus estava
com ela, que sempre estaria com ela, como uma companhia constante.
Nunca durante esse período o desejo de se
tornar freira a deixou, e mesmo quando sua mãe tentou por quatro anos fazê-la
mudar de ideia, Ana Teresa permaneceu firme em sua vocação. Finalmente, aos 24
anos, sua mãe mudou de ideia e, em 18 de agosto de 1823, Ana Teresa ingressou
nas Irmãs da Providência em Ruillé-sur-Loir, na França, recebendo o nome
religioso de Irmã Santa Teodora.
Irmã Santa Teodora foi enviada inicialmente
para lecionar em Preuilly-sur-Claise, no centro da França, e serviu como
superiora de escolas em Rennes e Soulaines, onde também atendia doentes e
pobres. Lá ela ficou doente, provavelmente com varíola, e quase morreu. A
doença danificou seu sistema digestivo e pelo resto da vida ela só pôde comer
uma dieta simples e sem graça.
Madre Teodora e companheiras deixam a França |
Em 1839, o vigário geral da Sé de
Vincennes (Indiana), Bispo Celestine de la Hailandière, chegou ao convento em
Ruillé-sur-Loir pedindo às freiras que enviassem várias irmãs para estabelecer
uma casa-mãe e uma escola em Vincennes. Madre Maria disse à Irmã Santa Teodora
que desejava que ela fosse, mas “se você sente que não pode ir, não podemos
abrir a missão”. Irmã Santa Teodora, que tinha 41 anos, escreveu ao Bispo
de Le Mans, para aconselhamento. “Vamos considerar-nos nada, mas vamos estar
prontos para qualquer coisa. Desde que você foi escolhida, não pense em nada
além de se preparar da melhor maneira possível; dê a isto boa vontade e conte
constantemente com a ajuda do Alto”, escreveu o bispo.
Irmã Santa Teodora encabeçou então um pequeno grupo missionário de Irmãs da
Providência nos Estados Unidos. O projeto incluía o estabelecimento de um
convento, a fundação de escolas e compartilhar o amor a Deus com os pioneiros
da Diocese de Vincennes, no Estado de Indiana.
Resignando-se à vontade de Deus, ela se
preparou para sua jornada a Indiana. Em 27 de julho de 1840, Irmã Teodora e
outras quatro irmãs partiram para os Estados Unidos a bordo do Cincinnati.
Uma vez a bordo, as Irmãs, que haviam trazido consigo vários presentes de
despedida, abriram o presente de sua generosa benfeitora, a Condessa de
Marescot. Estava marcado como “confecções” e elas pensaram que deveriam verificar
antes de doá-lo e encontraram camadas de folhas cobrindo doces, e entre os
doces havia pedaços de ouro, três mil francos ao todo. Uma vez a bordo do Cincinnati,
a Irmã Teodora manteve um diário de sua viagem aos EUA, as dificuldades que
encontraram em sua jornada para Indiana e muito mais. Com o nome de Diário e
cartas de Madre Teodora Guèrin: fundadora das irmãs da Providência de Saint
Mary-of-the-Woods, Indiana, vale a pena ser lido.
Madre Teodora e as outras Irmãs da Providência chegaram à sede de sua missão na
tarde do dia 22 de outubro de 1840. Imediatamente se dirigiram à pequena cabana
de troncos que fazia as vezes de capela. Ali, as Irmãs se prostraram em oração
diante do Santíssimo Sacramento para agradecer a Deus terem chegado sãs e
salvas, e para pedir a Ele a bênção para a nova missão.
A pequena cabana |
Durante anos de provações e anos de paz, Madre Teodora confiou sempre na
Providência Divina, procurando obter conselho e direção, urgindo as Irmãs da
Providência a “entregar-se por inteiro nas mãos da Providência”. Em suas
cartas à França dizia: “Porém nossa esperança reside na Providência de Deus,
que nos tem protegido até o presente e que, de uma ou outra maneira, proverá
para nossas necessidades futuras”.
No outono de 1840, a missão de Saint Mary-of-the-Woods consistia apenas de uma
capela - uma diminuta cabana de troncos que também servia de alojamento para um
sacerdote - e uma fazenda de pequena estrutura onde residiam Madre Teodora, as
Irmãs francesas e várias postulantes. Ao chegar o primeiro inverno, fortes ventos
do norte sopraram sacudindo a pequena fazenda. As Irmãs sentiam frio
constantemente e passavam fome. Logo converteram a galeria em uma capela; nesse
humilde convento encontravam conforto na presença do Santíssimo Sacramento.
Madre Teodora sempre dizia: “Com Jesus, o que podemos temer?”
Durante seus primeiros anos em Saint Mary-of-the-Woods Madre Teodora enfrentou
numerosos problemas: o preconceito contra os católicos, especialmente contra as
religiosas; traições, mal-entendidos; a ruptura das Congregações de Indiana e
de Ruillé; um incêndio devastador que destruiu uma colheita deixando as Irmãs
desprovidas e famintas; frequentes doenças mortais.
Em cartas Madre Teodora relatava suas tribulações: “Se alguma vez esta pobre
e pequena comunidade conseguir assentar-se definitivamente, o fará sobre a
Cruz; isto me infunde confiança e me brinda esperança, mesmo diante do
desamparo”.
Menos de um ano depois de sua chegada a Saint Mary-of-the-Woods, Madre Teodora
fundou a primeira Academia da Congregação
Madre Teodora admirava a honestidade e a
retidão dos americanos. Ao estabelecer a nova academia, ela combinou ideias
americanas com ideias francesas. Ela trouxe uma tradição de Ruillé, onde as
religiosas saudavam o Anjo da Guarda de quem elas encontrassem. Era uma
devoção, ela dizia, excelente para os professores religiosos, porque seus
deveres para com as crianças eram de muitas maneiras como os dos Anjos da
Guarda. Ela teve uma grande devoção à Nossa Senhora e fundou a Confraria dos
Filhos de Maria, que nunca fora visto em Indiana.
Em 26 de abril de 1843, Madre Teodora e
Ir. Maria Cecília fizeram uma viagem à França na esperança de obter
contribuições para a Missão Americana. A França foi muito generosa em suas
doações para essa causa digna. Tendo garantido ajuda financeira a Saint
Mary-of-the-Woods, Madre Teodora voltou aos EUA em novembro, mas não antes de
conhecer a rainha Maria Amélia da França, esposa de Luís Felipe e sobrinha de
Maria Antonieta. Por sugestão de uma amiga, Madre Teodora escreveu uma carta
solicitando uma audiência com a rainha, que foi aceita. A rainha, apesar da
corte, vivia uma vida devota, ouvindo a missa diária e patrocinando
generosamente a Igreja e institutos religiosos e de caridade.
O mais antigo colégio para meninas nos EUA |
De 1840 a janeiro de 1849, Madre Teodora
abriu escolas paroquiais em Jasper, São Pedro, Vincennes, Madison, Fort Wayne e
Terre Haute, todas em Indiana, e em St. Francisville, em Illinois. Em 1853, ela
abriu estabelecimentos em Evansville e North Madison; em 1854, em Lanesville; e
em 1855 em Columbus, ao sul de Indianapolis. Além disso, com o Bispo Saint-Palais
(que sucedeu ao Bispo Bazin), Madre Teodora estabeleceu dois orfanatos em
Vincennes.
Na época de sua morte, em 1856, Madre Teodora
já tinha aberto escolas em várias cidades de toda Indiana e a Congregação das
Irmãs da Providência era uma instituição sólida, viável e respeitada. A Congregação
das Irmãs da Providência havia crescido de seis irmãs e quatro postulantes para
67 professas, nove noviças e sete postulantes. Madre Teodora sempre atribuiu o
crescimento e o êxito das Irmãs a Deus e a Maria, Mãe de Jesus, a quem dedicou
os seus trabalhos em Saint Mary-of-the-Woods.
Madre Teodora tinha a rara habilidade de fazer florescer as melhores virtudes
nas pessoas para permitir-lhes ir além do que aparentemente era possível. O
amor de Madre Teodora foi uma de suas grandes virtudes. Amava a Deus, ao povo
de Deus, as Irmãs, a Igreja Católica e as pessoas a quem servia. Jamais excluiu
alguém de suas obras e orações, pois dedicou sua vida a ajudar a todos a
conhecer a Deus e a viver uma vida melhor.
Ela faleceu dezesseis anos após sua chegada a Saint Mary-of-the-Woods, no dia
14 de maio de 1856. Durante esses anos, influenciou inúmeras vidas, o que ainda
hoje continua fazendo. O legado que entregou às gerações que a sucederam é sua
vida: um modelo de bondade, virtude, amor e fé.
Foi canonizada em 15 de outubro de 2006 por S.S. Bento XVI.
“A
caridade consiste em amar sinceramente pessoas cujas inclinações são mais
opostas às nossas. A caridade não consiste em amar uma ou duas pessoas e ser
indiferente a todo o resto”. (Santa Teodora Guérin)
Fonte: http://www.nobility.org/2013/10/03/mother-guerin/
Postado
neste blog em 13 de maio de 2013
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