quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Serva de Deus Benigna Cardoso da Silva ("Menina Benigna"), virgem e mártir da pureza - 24 de outubro

          


     Benigna Cardoso da Silva, nascida no Sítio Oiti - Santana do Cariri, no Ceará, no dia 15 de outubro de 1928, filha de José Cardoso da Silva e Thereza Maria da Silva, ficou órfã de pai e mãe muito cedo, sendo adotada juntamente com seus irmãos mais velhos pela família Sisnando Leite, proprietária do Oiti dos Cirineus, no distrito de Inhumas.
     Sua infância foi cercada pela alegria das inocentes brincadeiras com cantigas de roda, bonecas, casinha, piqueniques, passeios etc., ao lado de suas irmãs de criação Tetê e Irani, que ainda vivem.
     Era uma jovem muito simples e cheia de humildade. De estatura média, Benigna era magra, de cabelos e olhos castanhos, morena clara, rosto arredondado e queixo afinado. Tinha um leve estrabismo em um dos olhos.
     Modesta por natureza, tímida, reservada e meditativa, não usava vestidos sem mangas, curtos nem com decotes. Sua generosidade, carisma e simpatia a fazia querida e cativada por familiares, amigos e conhecidos, tornando-se um modelo de juventude para a época.
     Em casa, desenvolvia bem todas as tarefas domésticas, com intuito de ajudar sua família adotiva. Era boa filha, sempre obediente e prestativa.
     Extremamente religiosa e temente a Deus, nutria um grande desejo de fazer a Primeira Comunhão e depois desse sonho realizado seguia à risca os mandamentos divinos. Não perdia as missas e fazia penitência nas primeiras sextas-feiras em devoção ao Sagrado Coração de Jesus, sempre na companhia de sua “madrinha Ozinha” e da “Tia Bezinha”.
     Aos 12 anos de idade, já lendo e escrevendo, Benigna começou a ser assediada por um rapaz chamado Raul Alves, rejeitadas de forma categórica por ela. Procurou imediatamente o Pe. Cristiano Coelho Rodrigues, vigário da época, para pedir conselhos sobre o assunto da perseguição de Raul, e este lhe aconselhou a vir estudar em Santana do Cariri, e a presenteou com uma Bíblia, que se tornou seu livro de cabeceira, guardado com esmero e carinho. Encantava-se com as gravuras e as histórias do Antigo e do Novo Testamento. Neste Livro Sagrado ela encontrou apoio para resistir às tentações de Raul e fortalecer cada vez mais sua fé.
     Na sala de aula, era uma aluna exemplar; por demais estudiosa, cuidadosa, pontual e colaboradora. Sempre gostava de ajudar seus colegas para não vê-los punidos com a palmatória ou de joelhos nos caroços de milho, fato que a deixava demasiadamente triste, e às vezes até chorava com os castigos aplicados aos outros.
     Depois de várias tentativas sem sucesso, numa tarde fatídica de sexta-feira, dia 24 de outubro de 1941, sabendo que Benigna ia pegar água numa cacimba próxima à sua casa, ficou Raul à espreita atrás do mato, observando-a com o pote na cabeça, com seus recém completados 13 anos. Ao aproximar-se, abordou-a, ela recusou, ele insistiu tentando violentá-la. Ela disse “não” com veemência e lutou heroicamente para se defender do ato pecaminoso, que no seu entender cristão ofenderia seu corpo.
     Raul, ao perceber que Benigna nada aceitaria, foi tomado por um ódio feroz, sacou de um facão e a golpeou cortando-lhe os dedos da mão. Ela relutou de forma sobre-humana contra seu algoz, preferindo morrer a pecar contra a castidade. Depois disso, foi atingida na testa, nas costas e por fim no pescoço, cujo golpe deixou-lhe a cabeça quase decepada.
     Ao vê-la morta, com o corpo estendido sobre as pedras e o sangue inocente se esvaindo pelo chão, Raul fugiu, sendo o corpo da vítima encontrado logo em seguida já sem vida.
     Seu corpo foi sepultado na manhã do sábado no Cemitério Público São Miguel, em Santana do Cariri, acompanhado de comoção geral. Os requintes de crueldade do bárbaro crime abalaram todo o Município. Desde essa data, começaram as visitas ao túmulo e ao local do martírio até o tempo presente. As rogativas feitas à “Santa de Inhumas”, assim como as promessas são geradoras de graças alcançadas por intercessão dessa memorável jovem, que é tida por todos como “santa” e “Heroína da Castidade”.
     O assassino foi preso, pagou pelo seu crime e, arrependido, voltou ao local 50 anos depois para chorar, elevar preces e pedir perdão a Benigna. Neste retorno, relatou sua mudança de vida, sua conversão ao cristianismo. Fez penitências para salvar sua alma, e pedindo a intercessão de Benigna, alcançou graças sempre recorrendo à sua inocente vítima, a quem sempre rogava nas horas de aflição. Segundo ele, seu ato foi de loucura e “ela se mostrou virtuosa, quando resistiu para não pecar e não apenas para ver se escaparia”.
     Sobre Benigna o Pe. Cristiano deixou escrito, na época, ao lado do seu batistério: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sítio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha”.
     A devoção a Benigna foi crescendo ao longo dos anos. A Romaria da Menina Benigna, que acontece desde 2004 entre os dias 15 e 24 de outubro, passou neste ano a fazer parte do calendário oficial do Estado do Ceará.
Processo de beatificação
     A Diocese de Crato iniciou em 2011, setenta anos após a morte de Benigna, as pesquisas para abertura do seu processo de beatificação, tendo como postulador o Monsenhor Vitaliano Mattioli. Em 26 de maio de 2012, os restos mortais de Benigna foram transladados para a Igreja Matriz de Santana do Cariri.
     Em fevereiro de 2013, O bispo de Crato, Dom Fernando Panico, recebeu correspondência do Cardeal Angelo Amato, presidente da Congregação para a Causa dos Santos, comunicando a concessão do “Nihil Obstat”, ou seja, o “Nada Impede” para a abertura do processo de beatificação, o qual foi aberto oficialmente em 16 de março seguinte. A partir de então, Benigna recebeu o título de Serva de Deus. Dom Fernando então nomeou uma comissão que começou a recolher declarações de pessoas que conheceram Benigna em vida, além de relatos de milagres alcançados por intercessão dela. Esta foi a fase diocesana do processo, a qual foi concluída em 21 de setembro de 2013.
     Toda a documentação produzida pela comissão foi levada para Roma e protocolada junto à Congregação para a Causa dos Santos. Em 2016, o Vaticano chegou a buscar depoimentos de pessoas que viveram entre 1940 e 1980 para fortalecer a tese do martírio da jovem Benigna. Em outubro de 2018, a causa foi aprovada pela Comissão dos Teólogos da dita Congregação. O martírio de Benigna foi reconhecido e o processo para sua beatificação, assim como de outros quatro Servos de Deus, foi iniciado em 3 de outubro de 2019.
     O Pe. Paulo Lemos, pároco de Santana do Cariri, resumiu para a imprensa cearense o que a beatificação de Benigna confirma: “Aqui viveu uma santa de Deus e ela poderá ser elevada à honra dos altares”.


Fontes:

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