Santa Bincema viveu no século III e é
nomeada entre os santos Mártires da Sardenha no Santuário da Catedral de
Cagliari.
Sobre os Mártires da Sardenha existe vasta
bibliografia desde o início do século XVII, sendo ainda matéria de estudo. A
quantidade de estudos é de algum modo proporcional à dificuldade de estabelecer
informações concretas sobre estes mártires.
Em termos gerais, podemos classificar estes Mártires da Sardenha como
sendo um conjunto de fiéis da Igreja primitiva, em número indefinido, na
esmagadora maioria sem identidade conhecida, sendo que nem todos são
reconhecidos pela Igreja de Roma, pese embora as devoções locais serem muito
arraigadas.
Para perceber este fenômeno devocional na Sardenha é necessário ter em
conta um pouco da história desta ilha, uma região relativamente pobre, dita
pelos romanos como nefasta, e que serviu essencialmente como local de
deportação de “criminosos”.
As raízes do cristianismo na Sardenha remontam ao século I, no reinado
de Tibério, no ano 37, ou mais provavelmente no reinado de Nero (54-68), quando
se ordenou o exílio de cerca de quatro mil judeus, dentre os quais se contava
já alguns cristãos, como São Príamo e São Crescentino.
Nos séculos II e III muitos outros cristãos foram deportados para esta
ilha, entre os quais São Calisto (papa de 217 a 222) e São Ponciano (papa de
230 a 235). Entre os mártires sardenhos mais conhecidos encontra-se o bispo São
Bonifácio, Bispo de Cagliari, que viveu num período anterior a Constantino e
cujo túmulo foi redescoberto em 1617 na catedral desta cidade.
No início do século XVII foram encontrados outros mártires em catacumbas
ao redor das ruínas de antigos templos ou das catedrais das principais cidades da
Sardenha, bem como “mártires” da tradição bizantina ou cuja devoção é
eminentemente popular e não aprovada por Roma.
Do século IV avultam os nomes de Santo Efísio, militar grego que se
converteu ao cristianismo de forma semelhante a São Paulo e que foi martirizado
a 15 de janeiro de 303 na cidade de Nora. Também como Mártires da Sardenha são
conhecidos São Gavino, São Proto e São Januário, decapitados cerca do ano de 303,
no tempo de Diocleciano, e cujas relíquias se encontram na catedral de Turris
após terem sido redescobertas no século XII.
Um dos motivos que gerou uma maior efervescência ao culto dos santos
mártires na Idade Moderna prende-se não só ao espírito e as políticas da
contrarreforma empreendidas pela Santa Sé, mas também pela ação política de
Filipe III de Espanha (Rei da Sardenha) que dirimiu uma acesa questão religiosa
entre Pisa e Cagliari, sendo que uma das formas de solução do problema assentou
na “Invenção” ou descoberta das catacumbas dos protomártires cristãos em
diversas cidades sardenhas, e em especial da cidade de Cagliari, legitimando a
supremacia desta diocese pela sua antiguidade e história religiosa.
Há, aliás, nessa época, uma espécie de interesse arqueológico e
histórico que permitia à Igreja reviver uma parte considerável da Fé, assente
nestes testemunhos físicos dos mártires, correspondendo a uma fase de transação
massiva de relíquias na Cristandade que perpassa os séculos XVII e XVIII.
Fontes: www.santiebeati/it e www.matriznet.dgpc.pt
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