Martirológio
Romano: Em Mântua, Lombardia, Itália, Beata Paula Montaldi, virgem, abadessa da
Ordem das Clarissas, que se distinguiu por sua devoção à Paixão do Senhor e por
sua constante oração e austeridade (1514).
Nas
colinas à esquerda do Mincio, indo em direção à planície e lagos de Mântua, a aldeia
de Volta Mantovana está em posição dominante; centro agrícola de origem
medieval, hoje também é conhecida por suas pedreiras de cal. A igreja paroquial
de Volta Mantovana tem algumas belas pinturas atribuídas a Guercino, e acima de
tudo preserva o corpo da Beata Paula Montaldi, nascida perto de Volta
Mantovana, no castelo dos nobres locais. Naquela igreja, o corpo da Beata foi
preservado desde 1872. Antes, por mais de dois séculos e meio, ele permaneceu
na igreja do Mosteiro de Santa Lúcia, em Mântua, isto é, no lugar que por 56
anos uma freira de clausura tinha feito de sua vida espiritual um trabalho precioso,
delicado, um perfeito bordado invisível.
Às vezes ficamos desapontados com a falta
de notícias precisas e exaustivas da vida de personagens, homens e mulheres,
que chegaram às honras dos altares, tendo passado toda a sua vida dentro dos
muros de um claustro. Pelo contrário, devemos surpreender-nos com a forma como
o eco da santidade conseguiu superar a tripla barreira do silêncio, da clausura
e da modéstia. Maravilha-nos como foi possível dar um nome e um rosto a certas
flores espirituais secretas, que todas as circunstâncias externas parecem dedicar
ao silêncio, para não dizer ao esquecimento.
Portanto, também para Paula Montaldi só será
possível relatar os poucos dados de sua biografia e as parcas notícias sobre
sua santidade. O que se sabe, mesmo tendo sido relatado em um processo canônico
oficial, é apenas uma pequena parte do todo que só Deus pode saber.
Nascida em Volta Mantovana, no Castelo de
Montaldi, Paula tinha quinze anos de idade quando, em 1458, se afastou de sua
família para encerrar sua juventude em um mosteiro de clausura. Naquela época,
havia três comunidades em Mântua. A mais antiga foi fundada por Santa Inês,
irmã de Santa Clara. A segunda, com o nome de Santa Lúcia, tinha a regra
atenuada pelo Papa Urbano IV. A terceira tinha sido fundada recentemente, à conselho
de São Bernardino da Siena, pelo Marquês Gonzaga e sua esposa.
A Beata Paula Montaldi era Clarissa no Mosteiro
de Santa Lúcia, onde viveu por 56 anos. Eleita três vezes abadessa, ela
permaneceu admirável pela modéstia, humildade, caridade silenciosa. Mas entrar
no segredo dessas virtudes óbvias seria um pouco como querer quebrar o claustro
e sigilo do qual ela voluntariamente se rodeava.
Mas sabemos que a Paixão de Jesus era para
ela o assunto mais frequente das conversas, bem como das meditações e
contemplações. Foi também singularmente devota da Eucaristia. Levava uma vida
austera, com cilícios, flagelações e jejuns, e sentia-se feliz nas humilhações,
fadigas e trabalhos.
No relacionamento com as irmãs mostrava-se
cheia de caridade e sempre pronta a ajudá-las em qualquer necessidade. Sob a
sua direção o mosteiro de Santa Lúcia ganhou fama pelas numerosas vocações e
pela vida seráfica das religiosas.
Em agradecimento ao Senhor pelos favores
por Ele concedidos, ela costumava repetir esta oração: “Meu Deus, eu Vos amo
de todo o coração, com um amor sem medida, e nunca deixarei de cantar os vossos
louvores”. Nos 56 anos de vida religiosa, nunca causou qualquer desgosto às
irmãs. Como superiora, procurou não apenas o bem espiritual das religiosas, mas
também o bem material da comunidade, convencida de que não pode haver perfeita
observância da regra se falta o indispensável para a vida. No jardim mandou
abrir um poço, que veio a chamar-se o “Poço da Beata Paula”, a cuja água se tem
atribuído propriedades curativas.
Era grande a sua confiança em Deus. Amiúde
repetia a expressão de São Paulo: “Sei em quem confio!”. Era às vezes
arrebatada em êxtase, e outras vezes ouviram-se coros angélicos a cantarem
junto ao sacrário. Escreveu vários opúsculos, em especial sobre o nome de Jesus,
que lamentavelmente se perderam.
Um dia, estando a rezar em êxtase diante de
um crucifixo situado no cimo de uma escada, foi atacada pelo demônio, que a
lançou por terra. Socorrida pelas irmãs, foi reclinada num enxergão. Eram os
seus últimos dias e as suas últimas palavras. Exausta pelas prolongadas
vigílias, pelos rigorosos jejuns e outras ásperas penitências, assistida pelo
seu confessor e pelas irmãs, apertando contra o coração o crucifixo repetia
mais uma vez a sua jaculatória predileta “Paixão de Cristo, Sangue de
Cristo, misericórdia de mim!”, expirou serenamente no dia 18 de agosto de
1514. Tinha 71 anos, 56 dos quais passados no mosteiro.
Aprovou seu culto Pio IX no dia 6 de setembro
de 1876.
Fontes:
“Santos
Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Disponível
em Franciscanos.org.br
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