segunda-feira, 17 de abril de 2017

Beata Clara de Pisa, Viúva, Monja Dominicana – 17 de abril

     
     

     A Beata Clara era filha de Pedro Gambacorta, que chegou a ser praticamente o senhor da República de Pisa. Clara nasceu em 1362; seu irmão, o Beato Pedro de Pisa (17 de junho), era sete anos mais velho. Pensando no futuro de sua filha, que em família era chamada de Dora, apócope de Teodora, seu pai a prometeu em casamento a Simão de Massa, rico herdeiro, embora a menina tivesse apenas 7 anos. Apesar da tenra idade, Dora costumava tirar o anel de noivado durante a missa e murmurava: “Senhor, Tu sabes que o único amor que eu quero é o Teu”.
     Quando os pais a enviaram para a casa de seu esposo, aos doze anos de idade, ela já havia começado sua vida de mortificação. Sua sogra mostrou-se amável com ela, mas quando percebeu que era demasiado generosa com os pobres, proibiu sua entrada na despensa da casa. Desejosa de praticar de algum modo a caridade, Dora se uniu a um grupo de senhoras que assistiam aos enfermos e tomou a seu encargo uma pobre mulher cancerosa.
     A vida matrimonial de Dora durou muito pouco tempo: tanto ela como seu esposo foram vítimas de uma epidemia na qual seu marido perdeu a vida. Como Dora era muito jovem, seus parentes pensaram em casá-la de novo, mas ela se opôs com toda a energia de seus 15 anos.     
     Santa Catarina de Siena exerceu uma profunda influência sobre a Beata Clara. Em 1375, por pedido de Pedro Gambacorta, Catarina foi a Pisa para colaborar nos entendimentos da região. Quando Dora conheceu Catarina era uma jovenzinha casada.     Pisa foi importante para Catarina: ali recebera os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ainda se conserva cartas de Santa Catarina a Dora. Na primeira, a Beata Clara ainda era casada. A segunda carta foi escrita em 1377, quando Dora já era viúva, para aconselhá-la a ingressar na vida religiosa. Quando em 1380 Santa Catarina faleceu, Clara tinha 18 anos e era monja dominicana.
     A carta de Catarina animou Dora: ela cortou os cabelos e distribuiu aos pobres os seus ricos vestidos, o que causou indignação de sua sogra e de suas cunhadas. Depois, com a ajuda de uma de suas criadas planejou sua entrada secreta na Ordem das Clarissas Pobres. Quando tudo estava pronto, fugiu de casa para o convento, onde recebeu imediatamente o hábito e mudou seu nome para Clara.
     No dia seguinte seus irmãos se apresentaram no convento para buscá-la; as religiosas, muito assustadas, colocaram-na pelo muro nos braços de seus irmãos, que a levaram para casa. Ali Clara ficou como prisioneira durante seis meses, porém nem fome nem ameaças conseguiram fazê-la mudar de resolução. Então seu pai mudou de atitude convencido pelo bispo, Afonso de Valdaterra, íntimo amigo da família Gambacorta e que havia sido o último diretor espiritual de Santa Brígida da Suécia.
     Pedro não só permitiu que sua filha ingressasse no convento dominicano da Santa Cruz, como também construiu o novo convento de São Domingos. (Na 2ª. Guerra Mundial o convento foi seriamente danificado e as monjas se transladaram para o Palácio Serafini, onde construíram uma nova igreja e o adaptaram como convento. Ali estão as relíquias da Beata Clara.)
     No convento Clara conheceu Maria Mancini, que também era viúva e ia alcançar um dia a honra dos altares. Os escritos de Santa Catarina de Siena exerceram profunda influência nas duas religiosas que no novo convento, fundado por Pedro Gambacorta em 1382, conseguiram estabelecer a regra com todo o fervor da primitiva observância.
     A Beata Clara foi primeiro sub-priora e em seguida priora do convento, do qual partiram muitas das santas religiosas destinadas a difundir o movimento de reforma em outras cidades da Itália. Até hoje na Itália as religiosas de clausura de São Domingos são chamadas “as irmãs de Pisa”. No convento da beata reinava a oração, o trabalho manual e o estudo. O diretor espiritual de Clara costumava repetir às religiosas: “Não se esqueçam nunca de que em nossa ordem há poucos santos que não tenham sido também sábios”.
     Durante toda sua vida Clara teve que enfrentar dificuldades econômicas, pois o convento exigia constantemente alterações e novos edifícios. Apesar disto, em uma ocasião em que chegou às suas mãos uma grande soma que podia empregar no convento, preferiu dá-la para a fundação de um hospital. Mas, as virtudes em que ela mais se distinguiu foram, sem dúvida, o senso do dever e o espírito de perdão, que praticou em grau heroico.
     Tiago Appiano, a quem Gambacorta havia ajudado sempre e em quem colocara toda sua confiança, o assassinou a traição quando este se esforçava por manter a paz na cidade. Dois de seus filhos morreram também nas mãos dos partidários o traidor. Outro dos irmãos de Clara, que conseguiu escapar, chegou a pedir refúgio no convento da beata, seguido de perto pelos inimigos. Mas Clara, consciente de que seu primeiro dever consistia em proteger suas filhas contra a turba, negou-se a introduzi-lo na clausura. Seu irmão morreu assassinado diante da porta do convento, e a impressão fez Clara adoecer gravemente. Entretanto, a beata perdoou Appiano de todo coração, pedindo-lhe que enviasse um prato de sua mesa para selar o perdão compartilhando sua comida. Anos mais tarde, quando a viúva e as filhas de Appiano se encontravam na miséria, Clara as recebeu no convento.
     A beata sofreu muito até o fim da vida. Recostada em seu leito de morte, com os braços estendidos, murmurava: “Meu Jesus, eis-me aqui na cruz”. Pouco antes de morrer, um radiante sorriso iluminou seu rosto e a beata abençoou suas filhas presentes e ausentes. Tinha, ao morrer, 57 anos. Seu culto foi confirmado em 1830.
     Uma religiosa, contemporânea da beata, escreveu sua biografia em italiano; na Acta Sanctorum, abril, vol. II, se encontra traduzida para o latim. Algumas cartas de Santa Catarina de Siena também foram publicadas. Ver M. C. Ganay, Les Bienheureuses Dominicaines (1913), pp. 193- 238; e Procter, Lives of the Dominican Saints, pp. 96-100. A biografia mais completa é a de Taurisano, Catalogus hagiographicus O.P., p. 34.

Martirológio Romano: Em Pisa, na Toscana, Beata Clara Gambacorta que, ao perder seu esposo muito jovem, aconselhada por Santa Catarina de Siena fundou o mosteiro de São Domingos sob uma regra austera e dirigiu com prudência e caridade as Irmãs, distinguindo-se por haver perdoado o assassino de seu pai e de seus irmãos.

 Fonte: dominicasorihuela.org  


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