Sobre
os pais de Maria Santíssima não nos dizem nada os Evangelhos canônicos. Sobre
tal questão, diz muito sutilmente o Padre Luís Francisco de Argentan,
capuchinho do século XVII:
Se as grandezas de Maria tiveram o pai
e a mãe como fontes, era necessário que aparecessem como primeiros, a fim de
que espalhassem os raios da própria glória sobre ela, como o sol comunica a Luz
aos astros que o rodeiam; todavia esta ordem é invertida, porque a Santa Virgem
recebeu toda a glória de Jesus Cristo, seu Filho e, pois, São Joaquim e Santa
Ana receberam muito maior glória da filha, pela qual levam esta incomparável
vantagem sobre o resto dos santos, de ser os mais próximos parentes, segundo a
carne, do Salvador do mundo, uma vez que são verdadeiramente pai e mãe da
Virgem Maria.
Se os quatro inspirados evangelistas não
se referiram à Santa Ana e a São Joaquim, não ficaram os pais de Maria,
entretanto, totalmente apagados: três evangelhos apócrifos falam dos dois
bem-aventurados Santos: o Protoevangelho de Tiago, o Evangelho do pseudo-Mateus
e o Evangelho da Infância. O Protoevangelho de Tiago, por exemplo, é uma obra
citada em diversos estudos dos padres da Igreja Oriental, como Epifânio e São
Gregório de Nissa.
Ana, cujo nome em hebraico significa
graça, pertencia à família do sacerdote Aarão e seu marido, Joaquim, pertencia
à família real de Davi. Joaquim e Ana eram de piedosos e ricos israelitas da
tribo de Judá, possuidores de grandes rebanhos. Não tinham filhos, e isto para
os judeus era motivo de ignomínia.
Pelo texto Caverna dos Tesouros, atribuído
a Santo Efrem da Síria, Ana (Hannâ) era filha de Pâkôdh e seu marido se chamava
Yônâkhîr. [1]. Yônâkhîr
e Jacó eram filhos de Matã e Sabhrath. [1]
Jacó foi o pai de São José, desta forma, José e Maria eram primos. [1] São João Damasceno, ao escrever sobre o Natal,
deixa claro que Santana e São Joaquim são os pais de Nossa Senhora.
Joaquim, homem pio, fora censurado pelo
sacerdote Rubén por não ter filhos. Mas Ana já era idosa e estéril. Confiando
no poder divino, ele retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência. Durante
cinco meses ninguém, nem mesmo a esposa, ouviu falar de Joaquim. Desaparecera,
e dele notícia alguma chegava ao lugar em que vivia. A dor de Ana foi imensa.
Dir-se-ia que enviuvara. Mas, um dia, quando como de costume fazia suas preces,
um anjo apareceu-lhe para enchê-la de alegria: Joaquim, muito breve, tornaria,
e ambos, novamente juntos, haveriam de ter o que tanto desejavam – um filho.
Quanto a Joaquim, um anjo do Senhor lhe
apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado ao lar, os
dois esposos encontram-se na Porta Dourada de Jerusalém, [2] e algum tempo depois Ana ficou grávida.
A paciência e a resignação com que sofriam a esterilidade alcançaram o prêmio
de ter por filha aquela que havia de ser a Mãe de Jesus.
Os autores medievais vêm no seu beijo
casto no Encontro na Porta Dourada o momento da Imaculada Concepção de Maria.
Segundo outras versões, preferidas pelos dominicanos e outros maculistas, não
há nenhuma sugestão de que Maria tenha sido concebida de outra forma que não a
biológica normal após a reencontro dos seus pais.
O casal residia em Jerusalém, ao lado da
piscina de Betesda, onde hoje se ergue a Basílica de Santana, e aí, num sábado,
8 de setembro de um ano incerto, nasceu a filha que recebeu o nome de Miriam,
que em hebraico significa “Senhora da Luz”. Este nome passou para o latim como
Maria.
Devoção
A devoção aos pais de Maria Santíssima é
muito antiga no Oriente, onde foram cultuados desde os primeiros séculos de
nossa era, atingindo sua plenitude no século VI. Já no Ocidente, o culto de
Santana remonta ao século VIII, quando, no ano de 710, suas relíquias foram
levadas da Terra Santa para Constantinopla, donde foram distribuídas para
muitas igrejas do Ocidente, estando a maior delas na igreja de Sant’Ana, em Düren,
Renânia, Alemanha. Durante os séculos XII e XIII, Cruzados e peregrinos trouxeram
do Oriente outras relíquias de Santa Ana para várias igrejas. [2]
Seu culto foi tornando-se muito popular na
Idade Média, especialmente na Alemanha. Em 1378, o Papa Urbano IV oficializou
seu culto. Em 1584, o Papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant’Ana em
26 de julho, e o Papa Leão XIII a estendeu para toda a Igreja, em 1879. Em
França, o culto da Mãe de Maria Santíssima teve um impulso extraordinário
depois das aparições da santa em Auray, em 1623.
Tendo sido São Joaquim comemorado
inicialmente em dia diverso ao de Sant’Ana, o Papa Paulo VI associou num único
dia, 26 de julho, a celebração dos pais de Maria, a Mãe de Jesus.
Relíquia na
igreja de Santana em
Quebec, Canadá
|
As relíquias de Santa Ana foram
tradicionalmente preservadas e veneradas nas muitas catedrais e mosteiros
dedicados a seu nome, por exemplo, na Áustria, Canadá, Alemanha, Itália, e
Grécia no Monte Sagrado e na cidade de Katerini. A artesania medieval e barroca
é evidenciada na impressionante obra metalúrgica dos relicários de tamanho
natural que contém os ossos do antebraço, por exemplo. Exemplos empregando
técnicas de arte popular também são conhecidos. Düren foi o principal lugar de
peregrinação para Anne desde 1506, quando o Papa Júlio II decretou que suas
relíquias deveriam ser mantidas lá.
Padroeira
dos moedeiros
No Brasil, os empregados que trabalham na
produção de cédulas, moedas e outros produtos fabricados na Casa da Moeda do
Brasil têm em Sant´Anna sua padroeira.
A devoção a Sant'Ana obedece a uma
tradição vinda de Portugal, onde os moedeiros de Lisboa administravam a
Confraria de Sant'Ana da Sé. Era comum, naquela época, cada corporação
administrar a Confraria de seu padroeiro.
Os moedeiros e oficiais da Casa da Moeda
desde os primeiros tempos da sua existência colocaram-se sob a proteção de
Sant'Ana, celebrando anualmente, até os dias de hoje, o seu dia. [3]
Reflexão
A glória maior de Sant’Ana reside no fato
de ter sido mãe da Imaculada. Foi esposa modelo, humilde, casta, submissa a Deus
em tudo, e ao marido. Devotadíssima à filha, colaborou com a obra do Espírito
Santo, para fazer frutificar os dons maravilhosos daquela alma.
Avó de Jesus! Eis uma nova, imensa glória porquê
de Sant’Ana veio o ser humano de Maria, e de Maria todo o ser humano de Jesus.
E não foi no seio de Sant’Ana que se cumpriu o mistério da Imaculada Conceição,
que se deu o prelúdio da Encarnação e da Redenção? Maria, por uma aplicação
antecipada do sacrifício de Jesus, não foi a primeira alma resgatada, e, assim,
a primeira vitória de seu Filho? Tudo se cumpriu no seio de Sant’Ana. E “tudo o
que podia ficar profanado, maculado na herança carnal dos reis de Judá,
escreveu Osbert de Clare, beneditino inglês, foi inteiramente purificado na
carne santa da gloriosa e bem-aventurada Ana.
Existe mais um aspecto, a ressaltar: Santa
Ana e São Joaquim podem ser tomados como modelo também pela sua santidade
vivida até a idade avançada. Em conformidade com uma antiga tradição, eles já
eram idosos quando lhes foi confiada a tarefa de dar ao mundo, conservar e
educar a Santa Mãe de Deus.
Na Sagrada Escritura, a velhice é
circundada de veneração (cf. 2 Mac 6, 23). O justo não pede para ser privado da
velhice e do seu peso; ao contrário, ele reza assim: “Vós sois a minha
esperança, a minha confiança, Senhor, desde a minha juventude… Agora, na
velhice e na decrepitude, não me abandoneis, ó Deus, para que eu narre às
gerações a força do vosso braço, o vosso poder a todos os que hão-de vir” (Sl
71 [70], 5-18).
Com a sua própria presença, a pessoa idosa
recorda a todos, e de maneira especial aos jovens, que a vida na terra tem um
início e um fim: para experimentar a sua plenitude, ela exige a referência a
valores não efêmeros nem superficiais, mas sólidos e profundos.
Finalizando, rezemos a oração que os avós
deveriam recitar diariamente:
Ó São Joaquim e Santa Ana protegei as
nossas famílias desde o início promissor até à idade madura repleta dos
sofrimentos da vida e amparai-as na fidelidade às promessas solenes. Acompanhai
os idosos que se aproximam do encontro com Deus. Suavizai a passagem suplicando
para aquela hora a presença materna da vossa Filha ditosa, a Virgem Maria, e do
seu Filho divino, Jesus! Amém.
1. Sherry L. Reames, Legends of St. Anne, Mother of the Virgin Mary: Introduction [1] Efrem da Siria, Caverna dos Tesouros, Os quinhentos anos desde o segundo ano de Ciro até o nascimento de Cristo, As genealogias dos israelitas mais tardios "em linha". www.sacred-texts.com
2. Sherry, L. Reames (2003). «Legends of St. Anne, Mother of the Virgin Mary: Introduction». Lib.rochester.edu. Consultado em 15 de agosto de 2013
3. «Cópia arquivada». Consultado em 29 de julho de 2013. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2014
Fontes:
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ana,_mãe_de_Mariahttps://www.templariodemaria.com.br/santo-do-dia-26-de-julho-sao-joaquim-e-santa-ana/
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