A peculiar história da fé cristã na Coreia
Hoje estamos tristemente acostumados com a
existência de duas Coreias, mas nem sempre foi assim. O país já foi um só. E,
na sua história religiosa, a Coreia constitui uma interessantíssima
peculiaridade quanto à “modalidade” de evangelização que recebeu: os primeiros
missionários do país não eram membros do clero, mas sim leigos!
Enquanto a maior parte do Oriente começou
a ser evangelizada por sacerdotes e religiosos enviados em missão pelas suas
respectivas ordens, a Coreia viveu um processo diferente. No século XVII,
membros da nobreza coreana entraram em contato com o catolicismo durante
viagens à China e ao Japão. A fé já tinha criado raízes em ambos aqueles
países. Com base no que tinham observado e aprendido sobre o catolicismo em
livros escritos em chinês, aqueles nobres coreanos tentaram praticar essa mesma
fé recém-descoberta ao retornarem à Coreia. Um deles, Yi Seung-hun, foi
batizado em Pequim e voltou para casa em 1784 para fundar uma comunidade
cristã. Este é o evento que marca o estabelecimento
da Igreja católica na Coreia.
Mas o catolicismo não teve um começo fácil
no país. O governo, influenciado pela ideologia do neoconfucionismo, se opôs à
fé cristã. A crença católica de que todos os seres humanos possuem dignidade
igual era vista como uma ameaça para o sistema hierárquico social. Além disso,
era considerado crime ter contato com estrangeiros. Esta lei significava,
portanto, que as comunicações entre os católicos coreanos e o vigário
apostólico de Pequim eram nada menos que “criminosas”.
As consequências dessa hostilidade a
Cristo são fáceis de imaginar – afinal, esse quadro se repete na história desde
o próprio Cristo… Estima-se que cerca de 10.000 católicos foram
martirizados na Coreia só durante aquela perseguição, que durou mais
de 100 anos. Demorou até 1895 para que o país finalmente reconhecesse a
liberdade de religião – e ela voltaria a ser suprimida brutalmente na atual Coreia
do Norte assim que o regime comunista foi imposto ao sofrido povo
daquela nação, persistindo essa realidade até hoje (e com um número de católicos
assassinados que ainda não é possível conhecer ao certo).
https://pt.aleteia.org/
* * *
Em 2 de julho de 2018, este blog postou um material
sobre a Beata Colomba Kang Wan-suk, Catequista e Mártir Coreana, que é
comemorada neste dia, 2 de julho.
Nesta mesma data outras mártires coreanas
são festejadas, as quais foram catequisadas pela Beata Colomba, as Beatas Ágata
Han Sin-ae, Bibiana Mun Yeong-in e Juliana Kim Yeon-i, e com ela foram
martirizadas.
Beata
Ágata Han Sin-ae
Nasceu de uma união ilegítima, em Boryeong,
na região de Chungcheong (atual Coreia do Sul), no seio de uma família nobre.
Casou-se como segunda esposa com Jo Rye-san em Seul.
Em 1795 e 1796, graças à atuação da Beata
Colomba, conheceu a doutrina católica. Junto com a filha da primeira esposa de
seu marido e com uma serva, assistia assiduamente às aulas de catecismo
ministradas por Colomba e ajudava a viúva Beata Cândida Jeong Bok-hye nas
atividades eclesiais.
No verão de 1800 Ágata foi batizada pelo
missionário chinês, o Beato Santiago Zhou Wen-mo.
Catequisou mulheres de outras famílias e
suas servas, e quis que dois catequistas ensinassem seus servos, porém não
obteve êxito por culpa de seu filho. Junto com outras mulheres, inclusive a
Beata Juliana Kim Yeon-I, formou uma comunidade feminina cuja diretora era a
Beata Colomba Kang.
Quando em 1801 a perseguição Shinyu teve
início, Cândida Jeong recolheu todos os livros e artigos religiosos e os levou
para Ágata, que os escondeu em seu estabelecimento comercial. Tendo sido
delatada aos perseguidores, foi aprisionada com outros fiéis. Conduzida diante
do Ministério de Justiça de Seul, foi interrogada, mas não revelou o nome de nenhum
dos cristãos. Foi condenada à morte com outros sete católicos, entre os quais
estava Colomba Kang e Juliana Kim, com esta sentença: “Han Sin-ae está
profundamente pervertida pela religião católica e a está praticando há muitos
anos. Está com Kang Wan-suk (Colomba) e foi batizada por Zhou Wen-mo, recebendo
um nome cristão. Além disso, convidou homens e mulheres para sua casa, escondeu
livros e artigos religiosos em seu negócio”.
Quando foi detida, ela disse: “Não me
arrependerei jamais do que tenho feito, ainda que tivesse que morrer dez mil
vezes”.
Junto com as companheiras e três homens
cristãos, foi conduzida à Pequena Porta Ocidental de Seul, onde foi decapitada.
Beata
Bibiana Mun Yeong-in (1776 - 1801)
Nasceu
em Seul no seio de uma família de status social mediano. Seu pai era oficial de
baixa graduação e vivia com Bibiana e suas irmãs pequenas, mantendo suas filhas
mais velhas em outro local por medo de que fossem levadas para serem damas da
Corte. Porém, em 1783, os oficiais da Corte se deram conta da inteligência e da
beleza de nossa beata e a elegeram: tinha apenas 7 anos.
Depois que aprendeu a escrever, foi
encarregada da redação de informações. Em 1797, com 21 anos, teve que deixar a
Corte devido a uma grave doença. Naquela ocasião conheceu a religião católica
por meio de uma anciã e dela aprendeu o Catecismo. Um ano depois entrou em
contato com a Beata Colomba e foi batizada pelo Beato Santiago Zhou Wen-mo. Era
assídua na casa de Colomba, onde se reunia com outros cristãos para aprofundar
a doutrina e assistir à Missa.
Após se restabelecer da doença, teve que
voltar para a Corte. Embora não pudesse cumprir plenamente com seus deveres
religiosos, fazia o possível para manter-se fiel na oração. Quando descobriram
que era católica foi expulsa da Corte. Livre de seus deveres da Corte, pode
dedicar-se inteiramente à sua Fé. Lia as vidas dos santos e se empenhava em
viver como eles. Algumas vezes manifestou seu desejo de morrer mártir. Sua
família a repudiou por causa de sua Fé. Bibiana teve que mudar-se e alugou uma
casa em Cheongseok-don próximo a Seul, onde hospedou o catequista Beato
Agostinho Jeong Yak-jong.
Em 1801 foi presa e a levaram ao quartel
geral da polícia onde a torturaram com violência. Em meio aos sofrimentos,
apostatou, mas em seguida de seu conta de tudo e disse: “Ainda que possa
morrer, não mudarei de ideia sobre minha fé em Deus”.
Foi transladada para o Ministério da
Justiça, onde recebeu mais sevicias, mas não cedeu. Tentou explicar a doutrina
cristã e se reafirmou em sua fé total em Cristo apesar daqueles momentos de
debilidade. Os juízes, vendo que não a podiam fazer ceder, pronunciaram a
sentença de morte: “Está totalmente agarrada pela religião católica e jamais renunciará
a ela. Portanto, merece morrer dez mil vezes”.
Junto com seus companheiros foi decapitada
na Pequena Porta Ocidental de Seul. Tinha 25 anos.
Beata
Juliana Kim Yeon-i.
Nasceu
no seio de uma família humilde. Em Seul conheceu a doutrina católica por
intermédio da Beata Ágata Han Sin-ae e foi batizada pelo Beato Santiago Zhou
Wen-mo, na casa da catequista Beata Colomba Kang Wan-suk.
Como toda aquela primeira comunidade
coreana, aprofundou sua fé estudando o Catecismo, dedicando-se à oração e
recebendo o Sacramento da Eucaristia; era muito conhecida entre os fiéis. Sua
missão evangelizadora a levou a Yangjegung ou Pyegung, o lugar onde se estabeleciam
os membros da família real e as damas da Corte quando deixavam seus deveres no
palácio. Fez amizade com as proprietárias de Yangjegung, Maria Song (aparentada
com a realeza), sua nora Maria Sin e com a dama a Beata Susana Kang Gyeong-bok
e com frequência as convidava para a Missa celebrada pelo Padre Santiago. Este
relacionamento possibilitou que sua filha fosse dama da Corte.
Quando a perseguição contra os cristãos
teve início, em dezembro de 1800, a pedido de Colomba escondeu em sua casa o
Beato Simão Kim Gye-wan, que ajudava o Padre Santiago na Missa. No ano seguinte,
o Beato Alejo Hwang Sa-yeong esteve escondido em sua casa. Tudo isto a colocaram
em perigo. Foi detida, levada ao quartel geral da polícia e depois ao
Ministério de Justiça. Em ambos os lugares foi torturada repetidamente, porém
não delatou nenhum irmão na Fé. Seu corpo se debilitava cada vez mais, porém
sua fé a fortalecia mais e dizia: “Não lamento ter crido no Catolicismo e fosse
preciso morreria dez mil vezes”.
Junto com seus sete companheiros foi decapitada
fora dos muros de Seul. Tinha 39 anos.
Em 16 de agosto de 2014 foram declaradas
beatas e mártires (junto com três catequistas) por Francisco I em sua viagem à
Coreia do Sul.
http://hagiopedia.blogspot.com/2015_07_02_archive.html
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