segunda-feira, 17 de junho de 2024

Santa Isabel de Schönau, Religiosa e mística - 18 de junho

     
Isabel nasceu, com grande probabilidade, em Bonn, na Renânia, em 1129. Tinha apenas 12 anos quando os pais (dos quais se conhece apenas o nome do pai, Hartwig), a entregaram às monjas da abadia beneditina de Schönau, no Reno, próximo de Sankt Goarshausen, onde ela fez a profissão religiosa em 1147.
     Dez anos mais tarde foi eleita Superiora das monjas, que não tinham abadessa, pois dependiam do abade, que era então Egberto (+ 1184), irmão de Isabel. Este sempre exerceu grande influência sobre Isabel e foi seu conselheiro espiritual e seu primeiro biógrafo. Isabel tinha ainda outro irmão, Rogério, premostratense, que foi preboste em Pòhlde (Saxônia), e um sobrinho, Simão, que também se tornou abade de Schönau.
     Recuperada de uma grave doença em 1152, Isabel começou a ter visões e êxtases, durante os quais falava com Nosso Senhor, Nossa Senhora e com os santos do dia. Às vezes seus êxtases duravam semanas, e aos poucos debilitaram de tal forma o seu físico, que ela faleceu com apenas 35 anos em Schönau no dia 18 de junho de 1164 ou 1165.
     Em 1155, seu irmão Egberto, conhecido pelo seu engajamento contra os cátaros, transcreveu as suas visões em latim. Egberto incitou Isabel a pedir ao Anjo que lhe aparecia algumas explicações sobre certas questões litigiosas. Eis a razão de Isabel ter várias visões que atestam a realidade da transubstanciação, ponto sensível na luta contra os cátaros.
     Entre os livros que escreveu estão Visões (três volumes), Liber viarum Dei e Revelações do martírio de Santa Úrsula e suas companheiras.
     Os três livros das visões tiveram larga difusão durante a Idade Média. O Liber viarum Dei compilado à imitação da Scivias de Santa Hildegarda, se concentra quase inteiramente na necessidade da penitência e de uma reforma moral da Igreja. As visões De resurrectione beatae Mariae Virginis tratam da Assunção de Maria Santíssima, ou seja, a gloriosa trasladação da Mãe de Deus em corpo e alma da terra ao céu. O Liber revelationum de sacro exercitu virginum Coloniensium, escrito entre outubro de 1156 e outubro de 1157, trata em termos legendários de Santa Úrsula e suas companheiras. O primeiro livro é de uma linguagem simples que Isabel pode ter usado, mas os outros empregam uma linguagem mais sofisticada que provavelmente é de Egberto.
     Em certa ocasião de medos religiosos, Isabel escreveu sobre uma experiência que teve durante a missa dominical quando se comemorava a Virgem Maria. Viu no céu “uma imagem de uma mulher real, permanecendo no alto, vestida de branco e envolta em um manto púrpura”. A dama então se aproximou de Isabel e a abençoou com o sinal da cruz e assegurou que ela não seria amaldiçoada pelas coisas que temia. Depois de receber a comunhão na missa, ela teve um êxtase místico e outra visão, declarando que “vi a Nossa Senhora em pé junto ao altar, vestida com uma como que casula de padre e tinha uma coroa gloriosa”. Em seu terceiro texto, Isabel apresenta Maria atuando como intercessora para conter a ira de seu Filho para que não castigasse o mundo por seus pecados.
     Isabel contribuiu com a propagação da devoção a Maria Santíssima junto com outras místicas como Santa Hildegard de Bingen, Santa Matilde de Magdeburg e Santa Gertrudes de Helfta.
     As opiniões divergem quanto às visões e revelações de Isabel. A Igreja nunca se pronunciou a este respeito e nunca mesmo as examinou. A própria Isabel estava convencida do carácter sobrenatural destas, como ela o diz numa carta endereçada a Santa Hildegarda, da qual era muito amiga e que a vinha visitar. Quinze cartas suas autênticas, das quais uma a Santa Hildegarda, chegou até os nossos dias. Ela aí fala dos êxtases com que Deus a agracia.
     As suas obras eram, no seu tempo, mais conhecidas do que as de Santa Hildegarda de Bingen, da qual apenas alguns manuscritos chegaram até nós. Entretanto, numa leitura atenta das obras é possível distinguir nelas a influência do irmão, Egberto.
Relicário  
     As cartas de Isabel de Schönau, de conteúdos variados, são dirigidas a bispos, abades, monjas, escritas de 1154 até o ano de sua morte, nas quais ela usa uma linguagem dura para estigmatizar os vícios da época, linguagem que contrasta com a simplicidade de seu caráter infantil, mostrando-se menos original que sua grande amiga Santa Hildegarda de Bingen, a "profetisa da Alemanha".
     Objeto de veneração particular já em vida e mais ainda depois da morte, em 1584, no tempo de Gregório XIII, o nome de Isabel de Schönau foi inscrito no Martirológio Romano sob a data de 18 de junho «Schonaugiae, in Germania, sanctae Elisabeth virginis, ob monasticae vitae observantiam Celebris» (Comm. Martyr. Rom., p. 244, n. 8). Depois o seu ofício litúrgico foi inscrito na Diocese de Limburgo, que celebra a festa da santa no dia indicado. Das relíquias da santa, profanadas pelos suecos em 1632, foi possível salvar a cabeça, que é venerada atualmente na igreja paroquial de Schönau.
     Santa Isabel de Schönau é invocada contra as tentações. 
 
Fontes:
https://alchetron.com/Elisabeth-of-Sch%C3%B6nau#elisabeth-of-schnau-906d7aeb-d809-4ec0-97d3-44275b30c28-resize-750.jpg
es.catholic.net/op/articulos/36138/isabel-de-schnau-santa.html
https://www.mujeresenlahistoria.com/2013/08/la-santa-visionaria-santa-isabel-de.html
Isabel de Schönau - Wikipedia, la enciclopedia libre
 

sábado, 15 de junho de 2024

O dom profético da Beata Nhá Chica e a Serva de Deus Zélia Pedreira

     
     Certa vez, a Beata Nhá Chica recebeu em sua pequenina casa o nobre conselheiro do Império, João Pedreira do Couto Ferraz. Era o ano de 1873. Ele, casado com Elisa Amália de Bulhões Pedreira, fazia-se acompanhar, entre outras pessoas, de sua filha primogênita que na ocasião contava 15 anos de idade e alimentava o desejo de consagrar-se ao Senhor. Era a jovem Zélia, nascida a 5 de abril de 1857.
     A família encontrava-se no vizinho povoado de Caxambu para desfrutar das suas ricas águas minerais. A boa fama de sábia conselheira da beata Nhá Chica, que naquele tempo já trespassara os limites da pequena vila Baependi, atraia muitos à sua procura. Aquela ditosa família acorreu ao encontro da piedosa serva de Deus para recomendar às suas orações a jovem menina desejosa de Deus.
     Nhá Chica recebeu-os em sua modesta casa e logo depois de “um dedo de prosa” já conhecia as aflições daquela família. Recolheu-se então ao seu quartinho e à intimidade da oração à sua “Sinhá”, modo carinhoso como se referia à pequenina imagem da Senhora da Conceição que herdara de sua mãe. Os hóspedes esperavam na sala. Pouco tempo depois, voltou a velha senhora e, sem transparecer sombra alguma de dúvida, pronunciou o oráculo profético:
     - Ela vai se casar! Terá muitos filhos e no fim da sua vida será toda de Nosso Senhor.
Regressaram a Caxambu, mas não se esqueceram das palavras proféticas de Nhá Chica.
     Zélia recebera primorosa educação literária, artística e científica e revelava especial pendor para o estudo dos idiomas. Falava e escrevia corretamente o francês, o inglês, o espanhol e o italiano. Conhecia ainda o alemão, o latim e o grego.
“Ela vai se casar!”
     
O ingresso na vida religiosa feminina não era algo fácil, visto que naquela altura não eram muitas as casas religiosas femininas no Brasil e o noviciado era normalmente feito na Europa. Por esses ou outros motivos, o certo é que Zélia não ingressou então na vida religiosa, mas pelo contrário, cerca de três anos depois, em 27 de julho de 1876 casou-se com o Dr. Jerônimo de Castro Abreu Magalhães, engenheiro civil e homem de particular espírito religioso.
     Após uma temporada em Petrópolis, o casal fixou-se na Fazenda Santa Fé, na Vila do Carmo de Cantagalo, Província do Rio de Janeiro. Lá se constituía em um autêntico lar cristão. Na fazenda havia uma capela, na qual inúmeras vezes ao dia Zélia era encontrada rezando. Os escravos da fazenda sempre iniciavam o trabalho do dia com uma oração guiada por ela e seu esposo no pátio da fazenda onde havia um coreto. Zélia muito se preocupava com a vida espiritual deles, por isso, sempre participavam da missa, se confessavam e recebiam sólida catequese, oferecida por Zélia e Jerônimo. Ela mesma os catequizava: adultos e crianças.
     Eles nunca tratavam seus escravos como propriedade. Na fazenda dos servos de Deus eles viviam em liberdade e recebiam salário. Quando foi assinada a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, que abolia a escravidão no Brasil, eles permaneceram na Fazenda Santa Fé, pois sempre viveram e foram tratados como pessoas livres. Na fazenda, o piedoso casal construiu uma enfermaria para tratar dos doentes e periodicamente vinha um médico, e Zélia mesma com seus filhos iam visitá-los e inclusive tratar deles.
“Terá muitos filhos”
Os filhos do casal
     
Desse feliz matrimônio nasceram treze filhos, dos quais quatro faleceram em tenra idade. Os demais, três homens e seis mulheres abraçaram a vida religiosa em diferentes Ordens e Congregações: um lazarista, um jesuíta e um franciscano; quatro doroteias e duas irmãs do Bom Pastor.
     Sabe-se que também o casal sempre desejou consagrar-se ao Senhor, mas Jerônimo não pode, morreu em 1909, deixando viúva sua amada esposa que, quatro anos mais tarde em 1913, depois de cuidar do seu pai até a morte, entrou com uma permissão especial, para o Convento das Servas do Santíssimo Sacramento, estabelecido em 1912 no Largo do Machado, no Rio de Janeiro.
     Contudo, uma de suas filhas gravemente enferma e seu jovem filho, Fernando, jesuíta, não tendo ainda os votos perpétuos, fizeram com que Zélia esperasse ainda mais um pouco para concretizar sua plena consagração a Cristo.
     Somente em 1918, após vender todos os seus bens e doá-los aos pobres e à Igreja, cumprindo assim a ordem do Evangelho (Mt 19,21) de vender tudo e dar aos pobres para depois seguir a Jesus Cristo mais de perto, Zélia pode concretizar a sua consagração há tantos anos predita profeticamente por Nhá Chica: “... no fim da sua vida, ela será toda de Nosso Senhor”.
     Zélia, não achando suficiente ter renovado nove vezes o sacrifício de entregar seus filhos a Deus, entregou a si mesma, como sua maior prova de amor. Passou então a chamar-se Irmã Maria do Santíssimo Sacramento, ao tomar o hábito religioso em 22 de janeiro 1918.
     Ela terminou sua edificante e modelar existência, a 8 de setembro de 1919, em justa fama de santidade. Foi sepultada em um simples jazigo no Cemitério São João Batista, no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro.
     Em 1937 por causa do grande número de fiéis que frequentemente iam rezar no seu túmulo, resolveram transladar os seus restos mortais para a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana.
A família da Serva de Deus
     
A transladação seria muito discreta e constaria somente de uma Missa na Paróquia, celebrada pelos seus três filhos. Quando, porém, souberam da transladação, uma multidão acorreu ao Cemitério e o número de fiéis era tão grande que parecia uma procissão, o trânsito parou e no dia seguinte todos os jornais noticiaram o que havia ocorrido. A igreja não comportou todo o povo e por isso uma grande multidão se acomodou nas ruas laterais da Paróquia.
     Um dos seus filhos, o franciscano, Frei João José Pedreira de Castro, visitou em 7 de janeiro de 1953 a Igreja da Conceição, onde se encontram os restos mortais da Beata Francisca Paula de Jesus – Nhá Chica e registrou o seguinte depoimento:
     “Tive hoje mais uma vez a oportunidade de visitar o túmulo de Nhá Chica. É sempre com profunda emoção que me achego deste túmulo que encerram os despojos venerandos de quem em vida só teve uma preocupação: a piedade e a caridade. Alma simples do povo, Nhá Chica avantajou-se prodigiosamente. Acentuo esse advérbio, quer em vista dos muitos prodígios (profecias, graças, quiçá milagres), que dão atestados terem sidos recebidos por sua intercessão durante a sua vida e após a sua morte, quer relativamente à sua personalidade. (…) Permita a Providência Divina que a Autoridade Eclesiástica tenha por bem aprovar sempre mais e promover a devoção de Nhá Chica, esse maravilhoso exemplo de uma cristã que soube objetivar em si plenamente o evangelho”.
     Já no céu, Frei João vê elevada às honras dos altares a Beata Nhá Chica e com certeza, aguarda o mesmo para sua piedosa mãe.
     Inúmeras são as graças alcançadas pela intercessão da Serva de Deus Zélia, esta grande mãe de família, viúva, filha fiel e toda de Deus. Mas, não só! Também são incontáveis as graças alcançadas pela intercessão de seu piedoso esposo, Jerônimo.
Processo de Beatificação
     No dia 20 de janeiro de 2014, o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta inaugurou oficialmente o processo de beatificação do casal Jerônimo e Zélia que poderá ser o primeiro casal brasileiro a receber o título de beatos da Igreja.
     As relíquias de ambos foram transladadas para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Gávea, onde estão expostas para veneração pública.
 

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Beata Albertina Berkenbrock, Virgem e mártir - 15 de junho

 
   
A virtude da pureza, hoje tão vilipendiada e até ridicularizada, é uma das virtudes mais queridas e valorizadas por Nosso Senhor e Nossa Senhora. A Igreja não poderia agir diferentemente deles. Desde o início, nos primeiros séculos do Cristianismo, a virgindade consagrada ao Senhor teve sempre lugar de destaque. 
     Jesus mesmo, em uma das "bem-aventuranças" disse: "bem-aventurados os puros, pois, verão a Deus". Deus é a infinita pureza, a infinita santidade.
     A Igreja considera como verdadeiro martírio pela fé quem, na defesa de sua pureza, virgindade e/ou castidade, deu a própria vida, testemunhando, assim, a firmeza de seus propósitos e a esperança que tem de um dia possuir os bens eternos, que não terão fim jamais. 
     Lembramos hoje do martírio de Albertina Berkenbrock.
*
     Albertina Berkenbrock nasceu a 11 de abril de 1919, em São Luís, Imaruí (Brasil), numa família de origem alemã, simples e profundamente cristã. Era filha do casal de agricultores, Henrique e Josefina Berkenbrock, e teve mais oito irmãos e irmãs. A família Berkenbrock rastreia as suas origens ao dorf de Schoppingen, arrabalde de Münster.  Albertina foi batizada no dia 25 de maio de 1919, crismou-se a 9 de março de 1925 e fez a primeira comunhão no dia 16 de agosto de 1928.
     Há uma singular concordância entre os testemunhos dados nos vários processos canônicos por parte das testemunhas que a tinham conhecido e convivido com ela, ao descrevê-la como uma menina bondosa no mais amplo sentido do termo. A natural mansidão e bondade de Albertina conjugavam-se bem com uma vida cristã compreendida e vivida completamente. Da prática cristã derivava a sua inclinação à bondade, às práticas religiosas e às virtudes, na medida em que uma criança da sua idade podia entendê-las e vivê-las.
Familiares da Beata Albertina
     Ajudava os pais no trabalho dos campos e especialmente em casa. Sempre dócil, obediente, incansável, com espírito de sacrifício, paciente, até quando os irmãos a mortificavam ou lhe batiam ela sofria em silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus, que amava sinceramente.
     Confessava-se com frequência, ia regularmente à missa, preparou-se com muita diligência para a primeira comunhão e comungava com fervor. Falava muitas vezes da Eucaristia e dizia que o dia de sua primeira comunhão fora o mais belo de sua vida.
     A frequência aos sacramentos e a profunda compenetração que mostrava ter na participação da mesa eucarística é um índice de maturidade espiritual que a menina tinha alcançado; distinguia-se pela piedade e recolhimento.
     Albertina foi também muito devota de Nossa Senhora, venerava-a com carinho, tanto na capela da comunidade como em casa. Junto com os familiares recitava o terço e recomendava a Maria sua alma e sua salvação eterna. Tinha especial devoção a São Luis Gonzaga, titular da capela e modelo de pureza.
     O cenário no qual foi consumado o delito é terrivelmente simples, quanto atroz e violenta foi a morte de Albertina. No dia 15 de junho de 1931, estava ela apascentando os animais de propriedade da família quando o pai lhe disse para ir procurar um bovino que se tinha distanciado. Ela obedeceu. Num campo vizinho encontrou Indalício e perguntou-lhe se tinha visto o animal passar por ali.
     Indalício Cipriano Martins, conhecido com o nome de Manuel Martins da Silva, era chamado pelo apelido de Maneco. Tinha 33 anos, vivia com a mulher próximo da casa de Albertina e trabalhava para um tio dela. Embora já tivesse matado uma pessoa, era considerado por todos um homem reto e um trabalhador honesto. Albertina muitas vezes levava-lhe comida e brincava com os seus filhos; portanto, era uma pessoa do seu conhecimento.
     Quando Albertina lhe perguntou se tinha visto o boi, Maneco responde que sim, acrescentando que o tinha visto ir para o bosque próximo dali e ofereceu-se para acompanhá-la e ajudar na busca. Mas, ao chegarem perto do bosque, fez-lhe proposta libidinosa, e a seguira com intenção de lhe fazer mal. Albertina não consentiu e Maneco então a pegou pelos cabelos, jogou-a ao chão e, visto que não conseguia obter o que queria porque ela reagia, pegou um canivete e cortou o seu pescoço. A jovem morreu imediatamente. Dos testemunhos dos companheiros de prisão de Maneco foi revelado que a menina não aceitou o convite dizendo que aquele ato era pecado. A intenção de Maneco era clara, a posição de Albertina também: não queria pecar.
     O assassino despistou o crime, dizendo que encontrou o corpo de Albertina e colocando a culpa de tudo em João Candinho: "Foi esse homem que matou Albertina!" O rapaz foi preso, protestou, jurou inocência aos prantos, mas foi tudo inútil. Os colonos, que testemunharam tudo, começaram a duvidar: "Acaso não seria Maneco o assassino?"
     Durante o velório, Maneco controlava a situação fingindo velar a vítima e ficando por perto da casa. Porém, algumas pessoas notaram um fenômeno: todas as vezes que ele se aproximava do cadáver de Albertina a grande ferida do pescoço começava a sangrar.
     
Dois dias depois chegou o prefeito de Imaruí, que acalmou a população e mandou soltar João Candinho. Foi à capela, tomou um crucifixo e, acompanhado por Candinho e outras pessoas, foi à casa do pai de Albertina e o colocou sobre o peito da menina morta. Mandou também que João Candinho colocasse as mãos sobre o crucifixo e jurasse que era inocente, e ao fazer isto, segundo os presentes, a ferida parou de sangrar.
     Entretanto, Maneco acabava de fugir. Preso em Aratingaúba, confessou este e outros crimes e teria revelado que matou Albertina porque ela recusara ceder à sua intenção de manter relações sexuais com ela.
     Maneco Palhoça foi levado para Laguna. Correu o processo, e ele foi condenado. Levado para a penitenciária, se comportou bem enquanto esteve na prisão e depois de alguns anos faleceu.
     No funeral de Albertina participou um elevado número de pessoas e todos diziam já que era uma "pequena mártir", pois dado o seu temperamento, a sua piedade e delicadeza, estavam convencidos de que tinha preferido a morte ao pecado. Albertina sacrificou a vida somente pela virtude.
     Em 1952, na mesma capela onde Albertina recebeu a Primeira Comunhão, reuniu-se o Tribunal Eclesiástico da arquidiocese de Florianópolis para dar início ao processo de sua beatificação. Devido a várias circunstâncias, de 1959 em diante, o processo de Albertina foi interrompido, sendo retomado no ano de 2000.
     Com o decreto de beatificação assinado por Bento XVI, no dia 16 de dezembro de 2006, Albertina Berkenbrock foi beatificada em uma solene celebração, no dia 20 de outubro de 2007, na Catedral Diocesana de Tubarão; o Cardeal Saraiva presidiu a beatificação de Albertina Berkenbrock.
 
Capela no local do martírio


Fontes:
https:/www.vatican.va/

terça-feira, 11 de junho de 2024

Beata Mercedes Maria de Jesus, Fundadora - 12 de junho


Patrona dos missionários equatorianos “ad gentes”
 
     O povo católico do Equador e a Igreja universal podem venerar com alegria duas “flores” nascidas naquele país: a «Açucena de Quito», Santa Mariana de Jesus, e a “Rosa de Guayas”, como carinhosamente é conhecida a Beata Mercedes de Jesus. O perfume de santidade dessas duas flores, de poderosa intercessão celestial, é exemplo e estímulo para uma autêntica vida católica.
     Mercedes se destaca não só por seus dotes espirituais e religiosos, mas também por suas qualidades de grande dama, transmitidos por meio de uma vida ativa e profundamente contemplativa, institucionalizados pelo cumprimento de sua missão de fundadora de uma família religiosa na Igreja do Equador, as Irmãs Marianitas, e por seu legado: “ser amor misericordioso aonde há dor humana”.
      Mercedes Molina de Ayala nasceu no dia 20 de fevereiro de 1828, em Baba, então Departamento de Guayaquil. Era a quarta filha do casal Dom Miguel Molina y Arbeláez e da Sra. Rosa de Ayala y Olvera, família abastada, proprietária de grandes extensões de terra, com plantações de cacau e frutos tropicais. Recebeu as águas batismais na cidade de Pueblo Viejo, em 5 de março do mesmo ano, e sua Primeira Comunhão, bem como sua Confirmação, recebeu das mãos de Mons. Francisco Javier de Garaicoa, em 19 de maio de 1839.
     Sua respeitável mãe ficou viúva quando Mercedes tinha somente dois anos de vida. Ela se consagrou totalmente ao cuidado de seus filhos, lhes ensinando firmeza nos bons propósitos, a justiça, a solidariedade, e que em seus lábios sempre habitasse a verdade.
     “Mercedita, menina de beleza nada comum, nascida em um lar respaldado por uma fortuna apreciável, era modelo de virtudes singulares”.
     No ano de 1841, era uma bela jovenzinha que atraía pretendentes, quando também morre Dona Rosa. A perda de sua mãe foi uma dor indizível. Mercedes ficava órfã de pai e mãe, em companhia de seus irmãos, Maria e Miguel Molina de Ayala.
     Após uma grave queda de cavalo, Mercedes passou por uma conversão, resolvendo levar uma vida de piedade e penitência. Em 1849, quando acabava de cumprir vinte e um anos, renunciou a um brilhante matrimônio, e resolveu se dedicar à ação social e apostólica em um asilo de órfãos. Repartiu todos os bens que havia herdado de seus pais, que tinham provido seus filhos não apenas de dinheiro, mas de uma esmerada educação intelectual e artística.
     Ela se dedicou então aos órfãos em Guayaquil, depois em Cuenca. Foi justamente por essa época que ela conheceu Santa Narcisa de Jesús Martillo Morán, com quem compartilhou sua casa por muito tempo para se ajudarem mutuamente no caminho da cruz, e praticarem juntas a virtude, a oração e a penitência.
     Mercedes viveu inicialmente consagrada a Deus no mundo, sob a direção de sacerdotes insignes. Desta maneira buscava identificar–se com Cristo crucificado, a quem havia elegido acima de qualquer outro amor humano, pela oração e pela penitência.
     Em 1862, começou a levitar quando rezava, perdia os sentidos e tinha êxtases depois de comungar. No ano seguinte, sua fama de beata se estendeu por toda cidade ocasionando os mais variados comentários.
     Grande devota de Santa Mariana de Jesus, se propôs seguir seu exemplo de santidade e à chegada do Padre Garcia, designado Superior da Comunidade Jesuíta de Guayaquil em 1863, fez votos de pobreza, obediência e castidade.
     Naqueles dias, duas damas tinham reunido numerosas crianças pobres do bairro às quais ensinavam, vestiam e davam de comer em uma casa chamada orfanato "A Beneficência".
     Na noite do dia 1º de fevereiro de 1867, aos 39 anos de idade, Mercedes de Jesus tomou a resolução mais importante de sua vida. Furtivamente escapou da casa de sua única irmã, onde vivia, e passou a madrugada no interior da Igreja de São José, absorta em oração. Ao amanhecer, ouviu Missa, comungou, e com algumas poucas peças de roupa no braço, foi para o orfanato, aonde a receberam com imenso júbilo. Sua irmã Maria se encolerizou tanto, que levou muitos anos para perdoá–la e voltar a falar com ela.
     No orfanato passou alguns meses se adestrando no serviço de seus semelhantes, até que o Padre Garcia, que estava em Gualaquiza fundando uma missão, a mandou chamar para que ela o ajudasse em sua obra. Grande foi a surpresa de Mercedes de Jesus ao receber a carta, porém cumpriu a ordem imediatamente e viajou para aquela região dos índios jibaris em 1870, perdendo peso em dez meses de trabalhos rudes e cansativos.
     Em maio de 1871, voltou para Cuenca, fundou o Beatério de Santa Mariana e deu aulas a numerosas meninas. Anos depois, quando seu processo de beatificação foi instaurado, várias velhinhas se apresentaram declarando que haviam sido suas alunas, e que conservavam gratas recordações dela por ser carinhosa com todas.
     Em janeiro de 1873 Mercedes transferiu–se para Riobamba, fundou outro Colégio e caiu gravemente doente. O médico que a assistiu pensou que ela morreria e assim o disse, mas a Beata, com toda calma lhe disse: "Não é verdade, porque tive uma visão. Vi um roseiral muito frondoso e florido que representa a Congregação e esta ainda não cresce, por isso eu viverei o suficiente e muitos anos mais". E sarou em seguida. É por este motivo que ela ficou conhecida como “a Rosa de Guayas”.
     Todos esses trabalhos providencialmente iam acrisolando sua vocação de fundadora.
     Finalmente, na segunda-feira de Páscoa, dia 14 de abril de 1873, recebeu a aprovação do Bispo de Riobamba. Nasceu então, oficialmente, a Congregação das Religiosas de Santa Mariana de Jesus, as Marianitas, nome de sua escolha por ter assumido desde sua juventude a espiritualidade da Santa equatoriana.
     A Beata Mercedes Maria de Jesus Molina é a Fundadora do primeiro Instituto Religioso na Igreja do Equador. O Instituto tinha como meta o atendimento aos órfãos, dar asilo às convertidas e às jovens em perigo, a assistência às prisões. O Instituto tinha e tem uma espiritualidade missionária.
     A Beata Mercedes é pioneira na educação da mulher equatoriana, pois no início do século XIX as escolas destinadas à educação feminina eram quase desconhecidas. É a mulher genial que abre caminho em um lugar geográfico e em um momento histórico em que ninguém então pensava neles. É a criadora de sua própria pedagogia baseada no método direto, prático e integral. Tem metas claras, concretas e precisas; sua preocupação constante não foi elaborar metas teóricas, mas práticas, caracterizadas por uma ação direta, persistente e maternal; sempre equânime e serena, amável e acessível, firme e segura, respeitosa.
     Por três anos a Beata exerceu “o ofício de mãe terna, servindo–os nas enfermidades, cheia de caridade e bondade com todos”, enquanto trabalhava no asilo de órfãos. E assim continuou levando uma vida exemplar, de amor ao próximo e de sacrifício até o heroísmo. Devido aos jejuns e às penitências, seu corpo foi se debilitando pouco a pouco, até que a morte a surpreendeu, em odor de santidade, no dia 12 de junho de 1883, no seu Instituto de Riobamba, aos 55 anos de idade.
      Seus restos foram venerados por horas e ao ser sepultado se constatou que a mão esquerda, que sustentava um crucifixo, estava endurecida e por mais esforços que se fizesse, não a puderam dobrar, impedindo fechar a tampa do ataúde; porém o resto do corpo estava flexível.
     A Madre Superiora então se dirigiu a ela, dizendo: "Mercedes, você que foi tão obediente em vida, obedeça morta e abaixe o braço". Imediatamente o braço abaixou deixando perplexos os presentes, a ponto de o Padre Redentorista que oficiava a Missa pedir para abençoar a multidão com o mesmo braço da defunta, o que foi feito em seguida.
     Seus restos descansam na cidade de Riobamba, na mesma casa onde fundou a Congregação das Marianitas.
     Três anos depois de sua morte foi iniciado o primeiro processo para a sua beatificação, que se interrompeu por um longo tempo por causas políticas e por obra de pessoas contrárias ao seu Instituto.
     O processo foi retomado em 1929; a causa foi introduzida pelo Papa Pio XII em 8 de fevereiro de 1946. O decreto de suas virtudes foi expedido em 27 de novembro de 1981; um milagre atribuído a sua intercessão foi reconhecido em 9 de junho de 1984. No dia 1º de fevereiro de 1985, “a Rosa de Guayas” foi beatificada durante a visita pastoral de João Paulo II ao Equador.
     Em 1948, nas bodas de diamante da Congregação fundada pela Beata, a Santa Sé aprovou os estatutos redigidos por ela em Gualaquiza, embora com algumas reformas.
     Essa educadora e missionária, católica exemplar, a primeira fundadora de uma congregação equatoriana, merece toda nossa veneração. Essa “Rosa” plantou um imenso roseiral, segundo seu sonho e sua inspiração, que se estendeu às diversas nações, espalhando seu perfume apostólico na Igreja da América Latina.
 
Sólo para padecer
pido a Dios que me dé vida
hasta que toda sumida
en penas me pueda ver.
No tengo, no, otro querer
y anhela mi razón
amar la tribulación,
la pena y el desconsuelo
con amor, con fe, con celo
y humildad de corazón
Así lo desea y quiere:
Mercedes de mi Jesús.
Guayaquil, Mayo 12 de 1866
 

domingo, 9 de junho de 2024

Beata Ana Maria Taïgi, Esposa, Mãe e Mística - Padroeira das mães de família - 9 de junho

     
     Ana Maria Antônia Gesualda nasceu na bela cidade toscana de Siena, na Itália, em 29 de maio 1769. Era filha única de um conceituado farmacêutico de Siena. Quando os negócios pioraram, a família foi obrigada a emigrar para Roma em busca de melhores condições de vida. Os pais de Ana trabalharam no serviço doméstico em casas particulares, enquanto a menina era internada em uma instituição que se encarregava da educação de crianças sem recursos.
     Durante dois anos ela permaneceu nas Mestras Pias Filipinas, mas apenas conseguiu rudimentos de leitura e escritura. Na idade de treze anos, Ana começou a ganhar o pão com seu trabalho. Durante algum tempo esteve empregada em uma fábrica de tecidos de seda e depois trabalhou no palácio dos Chigi, onde já estavam empregados seus pais.
     Mas a vida mundana de luxo fácil que a cidade eterna proporcionava chegou a tentar esta jovem. Conseguiu passar ilesa porque se casou, aos vinte e um anos, no dia 7 de janeiro de 1790, com Domingos Taïgi, servidor do palácio Chigi. Ele era um homem piedoso, mas de caráter difícil e grosseiro, que nunca compreendeu os dons especiais da esposa.
     Vivendo no ambiente da corte, o casal acabou buscando a felicidade fútil das festas, vaidades, diversões e fortuna. Depois de três anos ela viu o vazio de sua vida familiar e o quanto estava necessitada de Jesus. Foi a uma igreja e fez uma confissão profunda com um sacerdote que se tornou seu diretor espiritual. Foi então que ocorreu sua conversão.
     "Cerca de um ano depois de nosso casamento", diz Domenico em seu depoimento oficial, "a Serva de Deus, ainda na flor de sua juventude, desistiu pelo amor de Deus, de todas as joias que costumava usar - anéis, brincos, colares e assim por diante, e passou a usar a roupa mais simples possível. Ela pediu minha permissão para isso, e eu dei a ela de todo o coração, pois vi que ela estava inteiramente entregue ao amor de Deus".
     Ana Maria iniciou uma nova vida dedicada aos deveres cristãos e a procura da santificação. Ela quis se entregar a duras penitências, mas o padre a fez compreender que seu sacrifício consistia no amor e fidelidade ao sacramento do casamento e no papel de mãe.
     Por 49 anos ela, finíssima no trato, teve a oportunidade de exercitar continuamente a paciência e a caridade. Conhecendo todo o valor do casamento e considerando-o como uma altíssima missão recebida do céu, a Beata transformou a sua casa em um verdadeiro santuário onde Deus tinha o primeiro lugar. Dócil ao marido, fazia com que nada faltasse à família e o pouco que tinha era sempre dividido com os pobres e doentes que nunca deixou de ajudar.
     A sua família foi crescendo com a chegada de sete filhos, três dos quais morreram ainda pequenos, e dos seus velhos pais. Mas ela encontrava tempo para ajudar nas despesas da casa costurando sob encomenda. Mais tarde, quando a filha Sofia ficou viúva com seis filhos, foi Ana Maria que os acolheu e criou dando-lhes uma formação reta.
     Ana Maria era devotíssima da Ssma. Trindade, de Jesus Sacramentado e da Paixão de Nosso Senhor; tinha uma terníssima devoção por Nossa Senhora. Em 26 de dezembro de 1808, ingressou na Ordem Secular Trinitária e tornou-se fervorosa serva e adoradora da SSma. Trindade.
     Favorecida com dons especiais da profecia, tornou-se conhecida por seus conselhos no meio do clero. Ana Maria se tornou muito respeitada durante todos os quarenta e sete anos em que "um sol luminoso aparecia diante dos olhos, onde via os acontecimentos do mundo, os pensamentos e as almas das pessoas", como ela mesma descrevia.
     Foi conselheira espiritual de vários sacerdotes, hoje todos Santos, como Vicente Pallotti, Gaspar Del Búfalo, Vicente Maria Strambi, de nobres e outras personalidades eclesiásticas ilustres.
     Na sua declaração juramentada, e que pode ser consultada no processo de beatificação de Ana Maria, o Cardeal Pedicini se refere aos portentos que ele presenciou nessa mulher extraordinária. Diz o citado Cardeal que Ana Maria Taïgi via os pensamentos mais secretos das pessoas presentes ou ausentes; os acontecimentos dos séculos passados, e a vida que levavam as mais importantes personagens. Este dom era o conhecimento de todas as coisas em Deus, na medida em que a inteligência humana é capaz de conhecê-lo nesta vida. E acrescenta o Cardeal: "Me sinto impotente para descobrir as maravilhas de quem fui confidente durante 30 anos".
     A Beata Ana Maria faleceu em 9 de junho de 1837. O Papa Bento XV a beatificou em 1920, designou sua celebração para o dia de sua morte e a declarou padroeira das mães de família. O decreto de beatificação a aponta como: "prodígio único nos fastos da santidade". O corpo da Beata Ana Maria Taïgi, que prodigiosamente se conservou incorrupto, está guardado na Igreja de São Crisógono, em Roma, numa Capela a ela dedicada.

Revelações de Deus à Beata Ana Maria Taïgi
     Deus enviará ao mundo duas espécies de castigos. Primeiro virão vários castigos terrenos: vão ser muito maus, mas serão mitigados e encurtados pelas orações e penitências das almas santas.  Haverá grandes guerras nas quais morrerão pelo ferro milhões de pessoas (as duas Grandes Guerras do séc. XX?). Mas depois destes castigos terrenos virá o celeste que será dirigido aos impenitentes. Este castigo será muito mais horroroso e terrível, não será mitigado por coisa alguma, atuará em todo seu rigor e será universal. Contudo, em que este castigo consistirá Deus não o revelou a ninguém, nem mesmo aos Seus mais íntimos amigos.
     Trevas excessivamente espessas se espalharão pelo mundo inteiro e envolverão a terra durante três dias e três noites. Durante essas trevas será absolutamente impossível distinguir-se qualquer coisa. O ar ficará empestado pelos demônios que aparecerão sob todas as formas, as mais odiosas. Essa pestilência atingirá não exclusivamente, mas bem principalmente, os inimigos da religião, ocultos ou conhecidos, com exceção de alguns poucos que Deus converterá logo depois.
     Enquanto durarem as trevas será impossível a luz natural. Aquele que por curiosidade abrir as janelas, olhar para fora, ou sair pela porta, cairá morto instantaneamente. Durante esses dias devemos ficar em casa rezando o Rosário e invocando a misericórdia de Deus. As velas bentas preservarão da morte, assim como a invocação a Maria e aos Anjos.
     A religião será perseguida e os padres massacrados. As igrejas estarão fechadas, mas apenas por um curto período de tempo. O Santo Padre será forçado a deixar Roma.
     A França cairá numa terrível anarquia. Os franceses terão uma guerra civil durante a qual até os mais velhos pegarão em armas. Os partidos políticos, tendo esgotado o seu sangue e a sua raiva sem terem conseguido chegar a qualquer solução satisfatória, concordarão, como último recurso, em apelar à Santa Sé. Então o Papa enviará um legado especial à França... Seguindo as informações recebidas, o próprio Papa nomeará um Rei muito cristão para governar a França.
     Depois dos três dias de trevas, São Pedro e São Paulo... designarão um novo papa... Então o Cristianismo se espalhará pelo mundo.
     Ele é o Santo Pontífice escolhido por Deus para resistir à tempestade. Em última análise, ele terá o dom dos milagres e o seu nome será louvado em toda a terra.
     Nações inteiras retornarão à Igreja e a face da terra será renovada. Rússia, Inglaterra e China entrarão na Igreja.
                                                           (das Atas de Beatificação de Ana Maria Taïgi)
 
     Em outra ocasião Nosso Senhor comunicou a Beata o grande e próximo triunfo de Sua Igreja. Nosso Senhor disse-lhe: “Primeiro cinco grandes árvores têm de ser cortadas, a fim de que o triunfo possa vir. Essas cinco grandes árvores são cinco grandes heresias”. A Serva de Deus disse então: “Duzentos anos apenas serão suficientes para que tudo isto aconteça?” Nosso Senhor respondeu: “Não levará tanto tempo quanto tu julgas”.
 
 
https://en.wikisource.org/
Místicos da Igreja: Beata Anna Maria Taigi -Esposa Mãe & Mística (mysticsofthechurch.com)
 

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Beata Maria Teresa Soubiran La Louvière, Fundadora - 7 de junho

     
A família Soubiran pertencia à antiga nobreza. Suas origens datam pelo menos do século XIII, e entre seus antecessores indiretos se contam São Luís de França, São Eleazar de Sabran e sua esposa a Beata Delfina, Santa Roselina de Villeneuve, Santa Isabel da Hungria e boa parte das famílias reais da Europa.
     No século XIX, o chefe da família Soubiran era José de Soubiran La Louvière, que vivia em Castelnaudary (em occitano, Castèlnòu d'Arri) perto de Carcassone, sul da França. José se casou com Noemi de Gélis de l´Isle d´Albi.
     Sofia Teresa Agostinha Maria, segunda filha deste matrimônio, nasceu em 16 de maio de 1834 em Castelnaudary. Criada numa família profundamente católica, dirigida por seu tio, o Cônego Luis de Soubiran, Sofia logo se sentiu chamada à vida religiosa. Ela se sentia inclinada à austeridade e à vida reclusa do Carmelo.
     Aos 20 anos, ela fez uma tentativa de vida religiosa numa comunidade católica: após um período de vacilações e tendo solicitado conselhos, decidiu finalmente atender aos desejos de seu tio. Assim, se trasladou para Gand, Bélgica, para estudar o gênero de vida das "beguinas". Esta experiência durou somente um ano, ela voltou à França onde iria implantar essa comunidade e foi nomeada superiora da comunidade de Castelnaudary, que seu tio inaugurara. Estes acontecimentos se passaram entre 1854 e 1855.
     Nos anos seguintes, a nova fundação prosperou, mas de uma forma bastante diferente a dos "beguinatos" belgas, pois Sofia e suas companheiras renunciaram às suas propriedades, estabeleceram um orfanato e praticaram, por regra, a adoração noturna ao Santíssimo Sacramento. Apesar dos progressos, aquela foi uma época muito difícil para a comunidade e sua superiora, e a casa em que moravam recebeu o nome de "o convento do sofrimento".
     Em 1863, Madre Maria Teresa, como ela passou a ser chamada, fez os Exercícios de Santo Inácio sob a direção do famoso jesuíta Pe. Pablo Ginhac. Deus lhe manifestou então claramente que ela devia levar adiante seu propósito de fundar uma congregação tal como tinha planejado.
     O "beguinato" não se dissolveu; simplesmente, em setembro de 1864, Madre Maria Teresa e algumas Irmãs se mudaram para o convento da Rue des Buchers, em Toulouse, que ia ser a residência da nova congregação. Madre Maria Teresa consagrou então a nova comunidade a Maria Santíssima, de quem todas as Irmãs adotariam o nome a partir daquele momento. A Sociedade de Maria Auxiliadora havia nascido. As Irmãs adotaram a espiritualidade inaciana, encontrando Deus tanto na oração quanto na ação apostólica.
     A partir do ano seguinte, os escritos da Beata nos permitem seguir de perto sua evolução interior até sua morte, ocorrida um quarto de século mais tarde.
     A Casa-Mãe de Toulouse logo deu origem a outras casas que se espalharam por toda a França, chegando até mesmo à Inglaterra após a guerra de 1870.
     Para melhor se colocar nas mãos de Deus, “para ser apenas um pano de fundo para Ele”, Madre Maria Teresa renunciou a todos os seus bens pessoais através de um voto radical de pobreza: Deus lhe deu uma tarefa a cumprir, e ela contava somente com Ele para realizá-la. “Aquele que coloca sua confiança em Deus é fortalecido com a mesma força de Deus”.
     As novas religiosas se dedicavam ao cuidado dos órfãos e à instrução das crianças pobres, e inauguraram em Toulouse a primeira casa de hospedagem para jovens trabalhadoras, a qual se deu o nome de Maison de famille, porque era um verdadeiro lar para as jovens que não o tinham, ou que viviam longe do seu. As Auxiliadoras praticavam diariamente a adoração noturna.
     “Apoiar moças de idades entre quatorze e vinte e cinco anos. Especialmente esta parte da juventude que, sem família, mora nas grandes cidades, frequenta o ateliê e as fábricas. Isto torna-se uma necessidade em nossas sociedades modernas, que centralizam tudo e substituem as famílias cristãs pelas ‘massas’ de indivíduos”.
     A Madre redigiu as Constituições de sua congregação inspirada nas da Companhia de Jesus. O Pe. Ginhac, que tomou parte muito ativa na nova fundação, se encarregou de revisá-las. Em 15 de outubro de 1867, o Bispo de Toulouse, Florian-Jules-Félix Desprez, aprovou as Irmãs de Maria Auxiliadoras e a Santa Sé publicou, em 19 de dezembro de 1868, um breve laudatório.
     Em 1869, foram inaugurados os conventos de Amiens e de Lyon. Durante a guerra franco-prussiana, as religiosas dos três conventos se refugiaram primeiro em Southwark e depois em Brompton, onde os padres oratorianos as ajudaram muito. Mais tarde estabeleceram uma "casa de família" em Kenington, que foi a primeira fundação inglesa das Auxiliadoras.
     Em 1868, ingressou na congregação uma noviça que três anos depois foi eleita, por voto quase unânime do capítulo, conselheira e assistente da Madre Geral. Tratava-se da Madre Maria Francisca, uma mulher muito hábil e inteligente, cinco anos mais velha que Madre Maria Teresa. Infelizmente, durante muito tempo a Beata não se deu conta de que esta era "dominadora, instável e ambiciosa".
     Em princípios de 1874, Madre Maria Francisca declarou que a situação econômica da congregação era desesperadora (atualmente se sabe que era um julgamento exagerado) e inicialmente declarou ser sua a culpa, mas depois passou a atacar Madre Maria Teresa. Em pouco tempo o rumor de que a má situação das coisas era causada pela fundadora correu por todos os conventos da congregação.
     Madre Maria Teresa lembrou-se então que pouco tempo antes Nosso Senhor lhe havia aparecido e lhe dizia: “Tua missão terminará dentro de pouco tempo, não haverá lugar para ti na tua congregação. Porém, meu poder e minha bondade estarão contigo”. Após consultar o Pe. Ginhac, este a aconselhou a renunciar. Sua conselheira foi nomeada superiora geral.
     A nova superiora não permitiu que a fundadora residisse em nenhum dos conventos da congregação. Não faltaram medidas desagradáveis tomadas por Madre Maria Francisca para evitar que a Beata reconquistasse sua antiga influência e autoridade, e culminou na expulsão da fundadora. Em fins de 1874, Madre Maria Teresa voltou a ser simplesmente Sofia de Soubiran La Louvière.
     Em 20 de setembro de 1874, Maria Teresa de Soubiran foi acolhida no mosteiro de Nossa Senhora da Caridade, em Paris. Admitida inicialmente como pensionista, em 20 de abril do ano seguinte ela tomou o hábito e recebeu um novo nome: Irmã Maria do Sagrado Coração. Ela foi admitida definitivamente em 29 de junho de 1877.
     Com muita humildade, fidelidade e amor, ela se adaptou a todos os usos e costumes de sua nova família religiosa, onde por 15 anos viveu sempre mais confiante no amor de Deus que a despojou de tudo e que se tornou sua força, sua alegria, sua oração, sua plenitude.
     Oito anos depois, a irmã da fundadora, Madre Maria Xavier, também foi despedida da congregação, porque sua presença recordava a Fundadora. Ela também ingressou no convento de Nossa Senhora da Caridade de Paris, e informou a irmã sobre o triste estado da congregação.
     A Beata Maria Teresa passou na enfermaria os últimos sete meses de sua vida. Morreu no dia 7 de junho de 1889, murmurando estas palavras: "Vem, Senhor Jesus". Tentou fazer o sinal da cruz, mas não chegou a completá-lo. Foi sepultada no cemitério de Montparnase, na cripta do convento de Nossa Senhora da Caridade. Atualmente, suas relíquias se encontram na Casa-Mãe das Auxiliadoras em Paris.
     Em fevereiro de 1890, Madre Maria Francisca demitiu-se deixando subitamente a congregação. Madre Maria Isabel de Luppé foi eleita Superiora Geral. Fiel companheira de Madre Maria Teresa de Soubiran, ela havia guardado bem vivo o seu espírito; a nova superiora reabilitou a memória da Fundadora junto às Irmãs.
     O Instituto tomou o nome de Sociedade de Maria Auxiliadora e suas Constituições foram aprovadas definitivamente pela Santa Sé em 6 de janeiro de 1924. Em 31 de dezembro de 2005 o Instituto contava 204 religiosas em 28 casas.
     Madre Maria Teresa de Soubiran La Louvière foi beatificada por Pio XII em 20 de outubro de 1946.
 
Fontes:
Beata Maria Teresa de Soubiran La Louvière (santiebeati.it)
http://alexandrina.balasar.free.fr/

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Santa Clotilde, Rainha dos Francos – 3 de junho


 "Às suas orações a França deve o dom da Fé" (oração litúrgica da festa da Santa) 
 
     O rei da Borgonha morreu e seus quatro filhos dividiram o pequeno reino. Dois deles, gananciosos e cruéis, uniram-se aos ferozes alamanos para invadir os reinos dos outros dois irmãos. Childerico teve a cabeça decepada, seus filhos foram mortos e a esposa atirada ao Ródano. As duas filhas de Childerico, ainda muito crianças, foram poupadas. Gundebaldo, um dos irmãos invasores, levou-as para sua corte. Apesar de ariano, permitiu que elas continuassem a professar a verdadeira religião.
     Fredegária, a mais velha, tornou-se religiosa num mosteiro, onde terminou seus dias em odor de santidade. Clotilde, a mais nova, por "sua doçura, piedade e amor pelos pobres, fazia-se bendizer por todos aqueles que viviam a seu redor".
Sua missão: converter um rei e um reino
     A fama de sua virtude e beleza chegou ao reino dos Francos (atual França). Clóvis I, vitorioso rei dos francos, provavelmente influenciado pelo Bispo São Remígio, que gozava da inteira confiança do monarca, pensou em desposar a virtuosa princesa, apesar de ser ela católica. As bodas realizaram-se no ano de 493, em Soissons, com toda a suntuosidade da época.
     Para agradar a esposa, o rei franco mandou instalar um oratório católico no palácio. Nele Clotilde assistia diariamente a Santa Missa com grande devoção.
     Clotilde deu à luz um herdeiro e obteve de Clóvis licença para batizá-lo. O pequeno inocente faleceu poucos dias depois. Clóvis alegou que se ele tivesse sido consagrado aos seus deuses não teria morrido. A rainha protestou com firmeza e doçura dizendo que em vez de entristecerem-se, eles deveriam alegrar-se por ter o pequenino ido para o Céu.
     No ano seguinte, Clotilde deu à luz outro menino. Apenas batizada, a criança correu perigo de morte. A rainha por suas súplicas e lágrimas, que visavam mais a conversão do marido do que evitar outro falecimento, obteve de Deus que ele se restabelecesse.
As bodas de Clotilde e Clovis
     Clóvis começou a admirar as qualidades da esposa e ouvia-a com gosto, mas a sua conversão haveria de custar muitas lágrimas à esposa. A piedosa rainha entregava-se em segredo a grandes austeridades, prolongadas orações e caridade para com os pobres, a fim de obter a conversão do marido e do reino. Ao mesmo tempo, procurava suavizar o temperamento belicoso do esposo com sua mansidão cristã.
     Clotilde tornou-se amiga de Santa Genoveva, que então resplandecia em Paris por suas virtudes e milagres; a ela e a São Remígio Clotilde recomendou também a conversão do marido. Enquanto isso, Clotilde catequizava suas damas, serviçais e mesmo alguns dos nobres francos que viviam no palácio.
     Na planície de Tolbiac, em 496, a hora da Providência chegou. Clóvis viu-se quase vencido pelos alamanos, mas obteve a reversão da batalha após formular a seguinte promessa: “Deus de Clotilde, se me dás a vitória, faço-me cristão". Após a vitória, sua conversão foi pronta e sincera. Não querendo esperar chegar a Soissons para conhecer "a Fé de Clotilde", mandou chamar um virtuoso eremita, São Vedasto, para que, marchando a seu lado, o instruísse na Fé católica.
     No dia de Natal do mesmo ano, Clóvis, com três mil de seus mais valentes guerreiros, suas duas irmãs e seu filho bastardo, Thierry, ingressaram pelo batismo "na Fé de Clotilde". Quando o rei dos francos entrou com o Bispo de Reims no batistério, este lhe disse as famosas palavras: "Curva a cabeça, altivo Sicambro; adora o que queimaste e queima o que adoraste".
     Quando São Remígio ia proceder à unção do rei com o óleo do Santo Crisma, uma pomba trazendo no bico uma ampola com azeite baixou da abóbada do templo. O Bispo ungiu com aquele azeite a cabeça de Clóvis. Esse azeite seria usado para a unção de praticamente todos os reis franceses, até a abominável Revolução Francesa, quando a ampola foi quebrada pelos revolucionários.
     Clóvis tornou-se muito devoto de São Martinho e foi muitas vezes a Tours visitar o túmulo daquele Santo. Iniciou a aliança entre a França e a Igreja enviando embaixadores ao Papa Anastácio, e fazendo colocar sua própria coroa diante do túmulo do Apóstolo São Pedro. Encorajado por Clotilde, o rei mandou destruir os templos dos ídolos em seu Estado e construiu igrejas dedicadas ao verdadeiro Deus. Clóvis conquistou também a inexpugnável Paris.
     A partir de então, um afeto muito mais forte e sobrenatural uniu os dois esposos, concedendo-lhes a Providência mais dois filhos e uma filha, que é também honrada como Santa.
     Clotilde incentivou seu esposo a empreender uma guerra contra Alarico, rei dos visigodos, que tentava disseminar a heresia ariana na região de Guyenne. Enquanto Clotilde, que o acompanhara nessa cruzada, rezava pelo êxito da batalha, Clóvis abatia o rei visigodo e desbaratava seu exército.
     Extenuado pelas fadigas e lides do governo, Clóvis viu-se atacado por mortal doença em Paris. Clotilde foi ao seu encontro. São Severino, Abade, ministrou-lhe os Sacramentos e ajudou-o preparar-se para a morte. O rei faleceu em 27 de novembro de 511 aos 45 anos de idade.
     Clotilde quis então viver só para Deus; dividiu o reino entre seus três filhos e o enteado. O filho natural de Clóvis, Thierry, reinou em Reims sobre a Austrásia, parte oriental da França, com várias províncias da Alemanha atual; Clodomiro reinou em Orleães; Childeberto em Paris e Clotário I em Soissons.
     Mais de 30 anos de sofrimentos ainda estavam reservados à rainha. Clotilde tinha dado sua filha, que recebera seu nome, como esposa a Amalrico, rei dos visigodos da Espanha, visando a conversão desse monarca. Todavia, a reação do soberano ariano foi de promover toda sorte de perseguições à esposa por sua fidelidade à verdadeira religião. Com permissão do rei, seus vassalos chegavam a atirar-lhe lama quando ela ia à igreja.
     Seus irmãos declararam guerra a Amalrico, que foi morto. Trouxeram então consigo a jovem Clotilde. A mãe não voltaria a ver a filha senão no Céu, pois, acabrunhada de dor, a jovem faleceu a caminho da terra natal.
     As contínuas discórdias e dissensões de seus filhos, e as crueldades cometidas por eles levaram-na a sair de Paris, que tinha sido elevada por Clóvis a capital. Mudou-se para junto do túmulo de São Martinho, em Tours, no mosteiro ali existente, onde, diz São Gregório de Tours, "viu-se uma filha de rei, sobrinha de um rei, esposa de um rei, e a mãe de vários reis, passar as noites em oração, servir os pobres e proteger as viúvas e os orfãozinhos". E ali viveu até a morte.
     Desde essa época viveu ela para a oração, as esmolas, as vigílias, jejuns e outras penitências. E operou vários milagres ainda em vida: curas, mudança de água em vinho, fez surgir uma fonte em campo árido...
     Sentindo aproximar-se a morte, mandou chamar seus dois filhos, exortando-os a servir a Deus e a guardar sua lei, a proteger os pobres, a viverem juntos em perfeita harmonia, e a tratar seus povos com bondade. Depois de fazer pública profissão de Fé Católica, recebeu os Sacramentos e entregou docemente sua alma ao Criador, no dia 3 de junho de 545.
 
Felizes os povos aos quais foi dada uma mãe, pela divina munificência.