Reproduzimos a seguir um artigo sobre o Halloween que traz luzes
interessantes sobre o assunto
(continuação)
A CURIOSIDADE PELO OCULTO
O pe. Gary Thomas, exorcista
norte-americano cujo livro sobre a própria preparação em Roma serviu como base
para o filme “The Rite” [O Rito], de 2011, gosta de citar o Papa
Emérito Bento XVI e dizer que “quando a fé diminui, aumenta a
superstição”.
De fato, entre os fatores culturais que
têm levado ao crescente interesse e prática do satanismo e de outras atividades
ocultas, o mais óbvio é o declínio da fé cristã no Ocidente. Os ocidentais, no
geral, são pessoas impacientes: mesmo entre os que se declaram católicos, há
muitos que vão atrás de curandeiros e de alternativas a Deus, no afã de
“soluções instantâneas”. A confusa mistura entre o declínio da fé, a sociedade
supostamente laica e as “brincadeiras” e “provocações” ocultistas parece
indicar uma relação. Segundo o mesmo pe. Gary, o número de pessoas que
estão se metendo com o ocultismo, seja através do satanismo, do paganismo, da
idolatria ou de alguma outra modalidade, “a sério” ou “por brincadeira”, tem
sofrido um aumento acentuado nos últimos 30 anos.
Em “The Occult Roars Back: Its Modern
Resurgence” [O Ressurgimento Moderno do Ocultismo], Richard Kyle,
professor de História e Estudos Religiosos da Universidade Tabor, no Estado do
Kansas, EUA, cita vários especialistas acadêmicos que escreveram sobre as
causas do grande aumento do interesse pelo ocultismo. Jeffrey Russell,
por exemplo, observou que, historicamente, “o interesse pelo oculto cresce
significativamente nos períodos de rápido colapso social, quando os padrões
estabelecidos deixam de dar respostas prontamente aceitáveis e as pessoas se
voltam para outras referências em busca de garantias”.
Mas, acrescenta Kyle, também há uma base
de fatores para o aumento do interesse pelo oculto, conforme proposto por Catherine
Albanese, que “ressalta que muita gente foi preparada pela cultura
norte-americana para se voltar a si mesma e ao universo em busca de certezas
religiosas. A tradição protestante tendeu a apoiar a importância do
conhecimento ou da crença na religião. Depois, a ala liberal do protestantismo
modificou esta abordagem, enfatizando a presença de Deus em todos os lugares e
destacando o otimismo americano em relação à bondade inata da natureza humana.
O caráter difusivo do liberalismo e a sua falta de limites nítidos ajudou as pessoas
a se ajustarem à ideia de viver confortavelmente sem diretrizes religiosas
rígidas”.
Albanese também observa que “a
organização urbana e corporativa da sociedade” fragmentou todo o senso de
vida comunitária. Em seu lugar, “a astrologia deu às pessoas um senso de
identidade” e “as ajudou a estabelecer relações seguras com os outros. A
autoajuda fez as pessoas adotarem certas medidas para conseguir a prosperidade,
a saúde e a felicidade em meio às suas situações cotidianas. Videntes
ofereceram cura física e orientação espiritual para lidar com os problemas do
dia-a-dia”.
Ted Baehr, fundador e editor do Movieguide
e autor de quase uma dúzia de livros, falou no II Congresso Mundial das
Famílias sobre “Proteger as Crianças da Violência da Mídia”. Ele cita o
estudioso Harold Bloom, da Universidade de Yale, que analisou “o
surgimento da América pós-cristã em seu livro ‘A Religião Americana’, e que diz
que o deus a quem adoramos somos nós mesmos. Ele afirma que a verdadeira
religião da América do Norte é o gnosticismo, uma heresia elitista que combina
filosofias místicas gregas e orientais e declara a necessidade do acesso a
‘conhecimentos especiais’ para se chegar ao mais alto dos céus”. A palestra
de Baehr incluiu definições coerentes das crenças que atualmente competem com o
cristianismo para conseguir seguidores nos Estados Unidos e em grande parte do
mundo: o humanismo secular, o panteísmo, o materialismo, o niilismo, o
romantismo, o existencialismo, o nominalismo, o idealismo, a New Age e o
ocultismo.
O QUE É E ONDE ESTÁ O OCULTISMO
Richard Kyle fornece uma definição simples
e moderna do ocultismo:
“Primeiro, o ocultismo é misterioso, vai
além do alcance do conhecimento comum. Segundo, é secreto e comunicado apenas
para os iniciados. Terceiro, o oculto se refere ao mágico, à astrologia e a
outras supostas ciências que alegam o conhecimento do secreto, do misterioso ou
do sobrenatural”.
Até que ponto a crença no oculto é
difundida? O Instituto Gallup fez em 2005 uma pesquisa cujos resultados
provavelmente continuam válidos quase quinze anos depois: o levantamento
revelou que 3 em cada 4 norte-americanos acreditam em forças ocultas.
Num contexto de sincretismo entre crenças
sobrenaturais de diversos tipos, Ted Baehr traz à tona o fato óbvio de que
muitas crianças não estão sendo criadas numa relação de intimidade com Deus,
mas em meio a influências como “Assassinos por Natureza”, “Halloween”
e “Pânico”. Será um exagero? Muito provavelmente não.
Considere algumas séries de televisão de
sucesso em anos recentes: “Vampire Diaries” [“Diários de um Vampiro”], “True
Blood” [“Sangue Fresco”], “Buffy the Vampire Slayer” [“Buffy, a
Caça-Vampiros”], “Charmed” [“As Feiticeiras”], “Sabrina the Teenage
Witch” [“Sabrina, a Bruxa Adolescente”], apenas para citar algumas. Ou
filmes de grande sucesso, como “O Exorcista”, “O Bebê de Rosemary”,
“The Craft” [“Jovens Bruxas”] e a franquia “The Conjuring“
[“Invocação do Mal”], que se estende ao recém-lançado “A Freira“. Isto
sem falar da saga “Crepúsculo”, cujo faturamento bruto mundial superou
com folga os 3 bilhões de dólares, ou dos filmes de Harry Potter, que
arrecadaram quase 8 bilhões de dólares. Não é demais recordar ainda os RPGs de
fantasia ocultista, como “Dungeons & Dragons” [“Caverna do Dragão”],
de 1974, e seus muitos “herdeiros”, todos ligados ao mundo da feitiçaria.
Estudos psicológicos indicam que 60% dos
adolescentes com dependência química apontam a música “death metal” como
seu gênero musical favorito. As letras glorificam o satanismo e o ocultismo, a
anarquia, a violência, o abuso de mulheres e crianças, o assassinato, as
drogas, o suicídio, o incesto, o estupro e a necrofilia. Richard Ramirez,
famigerado assassino em série conhecido como Night Stalker, era obcecado
com a banda de heavy metal (ou “death metal”) AC/DC (embora haja
controvérsias técnicas quanto à precisão de catalogar esta banda como de death
metal). Sabe-se que é prática habitual de grupos de satanistas adultos a de
“recrutar” novos membros em shows desse tipo de música e em convenções de
jogadores de videogame.
O Dr. Baehr observa, sensatamente, que a
maioria das crianças expostas ao satanismo e ao ocultismo por meio da
mídia de entretenimento não adere de forma automática a esses grupos – mas
muitas delas, talvez até a maioria, se tornam insensíveis aos males ali
representados e uma minoria significativa acaba ficando assustada e paranoica.
Ele acrescenta que “pode haver consequências de longo prazo ao se assistir a
material antissocial”, posto que, “lamentavelmente, de 7% a 11% dos
adultos e até 31% dos adolescentes dizem querer copiar aquilo que veem”.
Existe ainda outra forma de a nossa
cultura promover a opressão demoníaca. Como explica o pe. Thomas, as pessoas
atacadas por demônios têm muitas vezes feridas na alma, por terem
sofrido abusos físicos ou sexuais na infância, o que muda a sua percepção da
vida e de si mesmas e a sua capacidade de se relacionar com os outros. “Os
demônios”, diz ele, “estão sempre à procura de seres humanos com
relações fragmentadas”. Os demônios podem possuir ou oprimir uma pessoa
através dos seus sentidos; eles precisam de uma abertura que torne a vítima
vulnerável. As “aberturas” mais comuns, de acordo com o pe. Thomas, incluem o
vício em pornografia na internet e o uso de cocaína, metanfetamina e outras
drogas que causam alucinações.
A obra “O Reino do Oculto”, de Walter
Martin e outros autores, traça o perfil de adolescentes do sexo masculino
atraídos para o satanismo e para ocultismo por serem pessoas psicologicamente
machucadas, rebeldes, hedonistas e niilistas, usuárias de drogas, solitárias e
mal-sucedidas. Eles se sentem “impotentes, isolados e vítimas”, e o satanismo
lhes dá uma sensação de controle, de status e de pertencimento a um grupo. Já
os adultos são mais frequentemente atraídos para os cultos satânicos pelo seu
elitismo, secretismo, hedonismo, pornografia, prostituição e desejo de adquirir
poderes mágicos.
A “normalização” e “popularização” de
festividades como o Halloween, em que se celebra o grotesco, o oculto, o
monstruoso, não fica de fora da lista de “possíveis canais” para que pessoas
com pouco conhecimento e alta influenciabilidade se deixem atrair para
experiências obscuras disfarçadas de “diversão” e “curiosidade”.
O HALLOWEEN ESTÁ TOTALMENTE DISSOCIADO DAS SUAS
ORIGENS CRISTÃS
Por mais que tenha tido relação inicial
com algumas manifestações populares (um tanto heterodoxas, ademais) de piedade
católica, o fato é que o Halloween que se divulga hoje não mantém a menor
conexão com a fé cristã, seja qual for o ponto de vista a que se recorra
para tentar justificá-lo como “compatível” com ela. Simplesmente não há
compatibilidade.
O padre Aldo Buonaiuto, de quem falamos
acima, observa a propósito da relação entre as datas de Halloween, Todos os
Santos e Finados:
“As crianças de hoje nem sabem que existe
a festa de Todos os Santos, mas sabem, porque isso é incutido até nas escolas,
que existe o Dia das Bruxas – ou Halloween. O Halloween exalta o espiritismo, o
mundo invisível ligado às forças demoníacas. O Dia de Finados está ligado à fé
na vida eterna, na ressurreição do corpo. As religiões têm respeito pelos
mortos. O Halloween não tem. Ele ultraja os mortos. Não se pode banalizar este
fenômeno. Para muita gente, é só um momento de diversão, mas, para os
satanistas, a participação indireta também conta: quem se fantasia está de
certa forma exaltando o reino do mal. Que pai quer ver seu filho de rosto
desfigurado, sem os olhos, gotejando sangue? Qual é a diversão nisso? O que se
esconde de verdade por trás desse fenômeno que leva a considerar esse tipo de
coisa como normal? A nossa sociedade não precisa de Halloween, de
monstruosidade, de imagens agressivas e violentas do macabro e do horror. Esta
sociedade não precisa das trevas. Nossos filhos precisam da luz. Por que não
oferecemos a eles a festa dos santos? Esta é que é uma beleza! É um grande desafio
numa sociedade que se devota às coisas ruins para torná-las normais”.
Daí o seu convite e o apelo aos
sacerdotes, professores e catequistas:
“Tenham a coragem de testemunhar a fé
desses grandes heróis, os santos e beatos, que têm muito a transmitir para esta
sociedade. Abram as portas das paróquias não para abóboras vazias, mas para
festas belas! O Dia de Todos os Santos é uma grande oportunidade para sermos
quem somos: filhos da luz!”
PARTE 3: A alternativa realmente católica ao
Halloween
Considerando o panorama aqui exposto,
várias dioceses, paróquias e comunidades católicas de várias partes do mundo
têm fomentado nos últimos anos o resgate do dia 31 de outubro como Véspera de
Todos os Santos em sentido literal. Foi assim que nasceu a celebração chamada “Holywins”
(“O que é santo vence”), para comemorar com as crianças o dom da vocação
universal à santidade.
Na Polônia, por exemplo, a
comunidade Emmanuel organiza nas ruas de Varsóvia a “Procissão de Todos os
Santos”, com adoração Eucarística e bênção do Santíssimo. “Queremos mostrar
o aspecto alegre da celebração com todos os santos. É também uma alternativa
para o dia das bruxas. Por isso convidamos todos, toda a família, a se vestir
como os seus santos preferidos e a participar conosco desse desfile animado e
colorido”.
A diocese de Alcalá de Henares, na Espanha,
realiza o Holywins desde 2009 com dinâmicas especialmente voltadas às
crianças na Plaza de los Niños Santos. Fazem parte da festa a celebração
eucarística na Catedral Magistral, a adoração e a evangelização pelas ruas,
além de material de catequese para as crianças aprenderem a viver mais
intensamente a “Noite de Todos os Santos”.
No Brasil, apenas para citar um
exemplo dentre dezenas, iniciativas da arquidiocese de Porto Alegre já chegaram
a convidar os fiéis a se reunirem para um grande concerto com músicos
católicos, num teatro em que também foi proporcionado espaço para a confissão
sacramental.
Na Áustria, a paróquia de Hurm
oferece uma programação de Holywins para crianças, adolescentes e adultos,
incluindo, além das brincadeiras, também catequese e vigília.
A diocese de Zárate-Campana, da Argentina,
propõe um Holywins de três dias: 31 de outubro a 2 de novembro. No dia 31
acontece a “Noite das Estrelas”, na co-catedral da Natividade de Nosso Senhor,
a partir das 19 horas.
O Holywins também chegou às redes
sociais. Em 2016, conseguiu-se aumentar consideravelmente a difusão da sua
proposta ao se convidarem os internautas a trocar a sua foto de perfil pela
imagem de um santo. O convite foi divulgado com a seguinte mensagem:
“Todo santo é uma verdadeira estrela do
Senhor, que forma a sua coroa de amor sobre todos nós. Neste dia de graça, não
celebramos apenas os santos conhecidos por todos, mas também os que viveram
junto conosco e já estão na morada definitiva: o Céu”.
Fonte: https:pt.aleteia.org/