quarta-feira, 31 de julho de 2013

Beata Catarina de Louvain, Monja cartusiana - 31 de julho

    
Monja cartusiana na atualidade
     Ela nasceu no início do séc. XIII numa família judia e seu nome era Raquel. Tendo decidido abraçar a religião cristã, na qual ela fora educada em segredo, contra a vontade dos pais, uma noite ela deixou sua casa e refugiou-se no mosteiro Parcum Damarum em Louvain (Sainte Marie du Parc).
     Ali foi batizada publicamente, e foi dado a ela o nome de Catarina; ela tomou o hábito religioso da Ordem Cisterciense. O pai, tomando conhecimento disso, tentou de tudo para assegurar que sua filha lhe fosse devolvida, e parece que ele teria conseguido com dinheiro o apoio de pessoas de autoridade, incluindo o Bispo de Liège, mas encontrou a oposição feroz de outros, tais como a Abade de Viviers.
     Isso deu origem a uma amarga e longa lide, na qual também participou o Arcebispo de Colônia, Engelberto. Finalmente a justiça prevaleceu e Catarina pode viver em paz o resto de sua vida, durante a qual ela teve visões e êxtases, e operou milagres.

     Sua morte ocorreu na primeira metade do século XIII. A Ordem de São Bento a celebra no dia 31 de julho.

 
 
 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Santa Julita de Cesareia, viúva, mártir - 30 de julho

    

     Santa Julita (Júlia ou Julieta) de Cesareia viveu nos tempos de Diocleciano, falecendo em Cesaréia da Capadócia no ano de 305. Conhecemos o martírio de Santa Julita graças a uma homilia de São Basílio, Bispo de Cesareia. 
     Julita era uma rica viúva que um considerável homem da cidade, inescrupuloso, aos poucos foi empobrecendo, lesando-a fraudulentamente. Levado ao tribunal, o ursupador, caviloso, depois que a santa viúva expôs os fatos, provando a veracidade do que revelara, disse: — A parte contrária não está apta a sustentar ação de juízo, É incapaz, juridicamente, uma vez que fora do direito comum, porque se recusa adorar os deuses dos imperadores e renegar a crença de Jesus Cristo.
     Um edito recente, de 303 mesmo, excluía da comunidade, não podendo, pois, ter vida ativa dentro daquela comunidade, aqueles que não adorassem deuses da paganidade.
     O presidente do tribunal, imediatamente, mandou que trouxessem incenso e um altar portátil e, dirigindo-se à queixosa, convidou-a a agir de modo que pudesse intentar a ação. Bastaria um único grãozinho de incenso e recuperaria todo o patrimônio. Tudo dependia de um simples grão de incenso, da fumaça que dirigisse aos ídolos.
     Julita recusou-se por amor a Jesus. E, como não quisera queimar um só grãozinho, ela, então, foi condenada a ser queimada. Com grande coragem, a santa viúva enfrentou o martírio, a exortar, com voz pausada e firme, os amigos sinceros que assistiam à demanda, no tribunal: — Nós fomos, disse ela, criados da mesma matéria que o homem, à imagem de Deus, como ele. A virtude é acessível tanto às mulheres como aos homens, Carne da carne de Adão, ossos dos seus ossos, é necessário que ofereçamos ao Senhor constância, coragem e paciência viris.
     Ditas estas palavras, dirigiu-se para o fogo com denodo e altivez. 
     Na época de São Basílio, o corpo de Julita era venerado na igreja de Cesareia, e no local do seu suplício ainda corria uma fonte que muitas vezes curou enfermos.
 
(Padre Rohrbacher, Vida dos Santos, Volume XIII, p. 453-454)
 
     De acordo com outras fontes, Santa Julita, viúva, e seu filho, São Ciro, foram vítimas da perseguição romana contra os cristãos no século IV. Ciro, também chamado Siríaco, era ainda criança pequena quando ambos sofreram o martírio.
     Julita, que era uma viúva rica, vivia em Icônio, Turquia, com Ciro, havia nascido há três anos quando Domiciano começou a perseguir os cristãos executando os editos do Imperador Diocleciano.
     Acompanhada de seu filho e de duas criadas, Julita se refugiou em Tarso. Em Tarso, Julita foi reconhecida por oficiais romanos e presa por ordem do governador da Cilícia. No julgamento, ela se declarou cristã e foi torturada.
     No tribunal, o governador retirou-lhe o filho e Julita, sofrendo muito, reafirmava que era cristã. O governador arremessou a criança escada abaixo, causando sua morte instantânea.
     Julita, ao invés de chorar e lamentar-se, regozijou-se e agradeceu a Deus por ter concedido a coroa do martírio a seu filho. Em seguida, foi torturada e decapitada, conservando sua confiança serena no Senhor e sua constância na fé. O fato aconteceu em 15 de julho de 304.

sábado, 27 de julho de 2013

Beata Clara (Sancha de Maiorca), Rainha - 28 de julho

     
      Segundo a Crônica piniatense, Sancha era a segunda filha do Rei de Maiorca, Tiago II, e foi casada com o Rei de Nápoles, Roberto de Anjou.

     Em 17 de junho de 1304, em Rossiglione, Sancha desposou Roberto de Anjou, o filho mais velho de Carlos II de Anjou e de Maria Arpad da Hungria, herdeiro do trono de Nápoles. Roberto perdera, na idade de 27 anos (1302) a sua primeira esposa, Iolanda de Aragão, filha de Pedro III de Aragão e de Constância de Hohenstaufen.
     À morte de Carlos II, ocorrida em 5 de maio de 1309, Roberto sucedeu-o no trono e Sancha tornou-se assim rainha até a morte do marido. Sancha recebeu do marido o senhorio de Potenza, Venosa, Lanciano, Alessa e San Angelo no dia 2 de agosto de 1311.
     A piedosa rainha mandou construir em Nápoles o convento de Santa Clara com uma esplêndida igreja anexa. Nesta igreja seu esposo, falecido em 20 de janeiro de 1344, foi sepultado. Sucedeu Roberto a sobrinha, Joana de Aragão, enquanto Sancha, por expressa vontade do esposo, foi nomeada tutora da nova rainha, que tinha dezesseis anos.
     Sancha, pouco depois, obrigada a deixar a corte, se retirou no Mosteiro de Santa Maria da Cruz, em Nápoles, onde, em 1344, professou e tomou o nome de Irmã Clara.
     Sancha faleceu em odor de santidade em 28 de julho de 1345 e foi sepultada perto do altar mor da igreja do Mosteiro de Santa Maria da Cruz. Seus despojos foram transferidos posteriormente para a igreja de Santa Clara. Embora não tenha sido oficialmente beatificada, é venerada como beata pelos franciscanos e é celebrada no dia 28 de julho no Martirológio da Ordem.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Matilde de Canossa, a Grande Condessa - + 24 julho

     
     Na Idade Média, os soberanos e a alta nobreza concediam feudos aos vassalos mediante a entrega de símbolos. Se o domínio era seu, ofereciam um punhado de terra e um ramo do lugar. E passaram a fazer o mesmo nas propriedades eclesiásticas - muitas pessoas abonadas deixavam os bens à Igreja, trocando-os por missas que lhes facilitassem o acesso ao céu. Neste caso, os vassalos recebiam o báculo ou o anel. Com isso, a autoridade laica decidia quem seria sagrado bispo. A Igreja foi perdendo a autoridade sobre o clero e Roma quase se converteu em uma diocese a mais. Do ponto de vista eclesiástico, era preciso inverter a situação. O pontífice que mais se empenhou na virada foi Gregório VII (1020 ou 1025-1085), amigo de Matilde.

     Matilde de Canossa, chamada a Grande Condessa, foi a principal apoiadora italiana do Papa São Gregório VII durante a Controvérsia das Investiduras, e é uma das mulheres medievais a serem lembradas por suas realizações militares. Ela é chamada “de Canossa” devido ao castelo de Canossa de propriedade de sua ancestral família, mas ela também é conhecida como Matilde da Toscana.
     Seu pai era Bonifácio III, Conde de Reggio, Modena, Mântua, Brescia, Ferrara, e Marquês de Toscana. Como esta série de títulos implica, ele possuía uma grande propriedade em ambos os lados dos Apeninos, embora a maior parte estivesse na Lombardia e Emilia. Sua mãe era Beatriz da Lorena, filha de Frederico II, Duque da Lorena Superior, e de Matilde da Suábia.
     O lugar de nascimento de Matilde é desconhecido. Mântua, Modena, Cremona e Verona têm sido sugeridas. Seu pai foi assassinado em 1052; sua irmã mais velha e um irmão morreram logo depois, deixando Matilde, de oito anos de idade, como a grande herdeira sob a tutela de sua mãe. Dois anos depois, Beatriz casou-se novamente, com Godofredo o Barbudo, um primo que tinha sido Duque da Lorena Superior antes de se rebelar contra o imperador Henrique III.
     Em 1055, quando Henrique III entrou na Itália fez Beatriz e sua filha Matilde prisioneiras e as levou para a Alemanha. A jovem condessa recebeu uma excelente instrução; ela foi muito bem educada, sabia latim e gostava muito de livros sérios. Ela também era profundamente religiosa e desde a juventude acompanhou com interesse as grandes questões eclesiásticas que estavam então de destaque.
     Antes de sua morte, em 1056, Henrique III devolveu a esposa e a enteada a Godofredo da Lorena. Quando Matilde chegou à vida adulta, foi dada em casamento a seu meio-irmão Godofredo da Baixa Lorena, de quem, no entanto, se separou em 1071.
     A partir de 1071, Matilde passou a governar e a administrar suas extensas possessões na região média e superior da Itália.     Estes domínios foram da maior importância nas disputas políticas e eclesiásticas da época, pois a estrada que vinha da Alemanha pela região do norte da Itália a Roma passava por eles.
     Em 22 de abril de 1071, tornou-se papa Gregório VII, e a grande batalha pela independência da Igreja e a reforma da vida eclesiástica começou. Neste contesto, Matilde foi a aliada destemida, corajosa e firme de Gregório e seus sucessores.
     Imediatamente após a sua elevação ao papado, São Gregório VII iniciou estreitas relações com Matilde e sua mãe. As cartas para Matilde (Beatriz faleceu em 1076) expressam a alta estima e simpatia do papa pela princesa. Ele chamava-a e à sua mãe “suas irmãs e filhas de São Pedro" (Reg., II, ix), e queria realizar uma Cruzada com elas para libertar os cristãos na Terra Santa (Reg., I, xi). Matilde e sua mãe estavam presentes nos sínodos romanos das Quaresmas de 1074 e 1075, em que o papa publicou os importantes decretos sobre a reforma da vida eclesiástica.
     Em 7 de dezembro de 1074, Gregório VII escreveu para Henrique IV agradecendo a recepção amigável ao legado papal e sua intenção de cooperar no desenraizamento da simonia e do concubinato entre o clero. Mas, a disputa entre Gregório VII e Henrique IV logo começou.
     Em uma carta para Beatriz e Matilde (11 de setembro de 1075), o papa reclamou da inconstância e mutabilidade do rei, que, aparentemente, não tinha vontade de estar em paz com ele. No ano seguinte (1076), o esposo de Matilde foi assassinado na Antuérpia.
     Por conta da ação do Sínodo de Worms, Gregório VII foi obrigado a excomungar Henrique IV. Como a maioria dos príncipes do império tomaram partido contra o rei, Henrique queria reconciliar-se com o papa e, consequentemente, viajou para a Itália no meio de um inverno rigoroso, a fim de encontrar-se com ele antes que deixasse o solo italiano em sua viagem para a Alemanha. Gregório VII, que já tinha chegado à Lombardia quando soube da viagem do rei, aconselhado por Matilde, e para a segurança, dirigiu-se para a sua fortaleza nas montanhas de Canossa.
     O rei excomungado pediu à Condessa Matilde, à sua madrasta Adelaide e ao Abade Hugo de Cluny, para intercederem junto ao papa por ele. Estes atenderam ao pedido do rei, e depois de uma longa oposição, Gregório VII permitiu que Henrique comparecesse diante dele pessoalmente em Canossa, e expiasse sua culpa pela penitência pública.
     Após a partida do rei o papa foi para Mântua. Por razões de segurança, Matilde acompanhou-o com homens armados, mas ouvindo boatos de que o Arcebispo Wibert de Ravena, que era hostil a Gregório, estava preparando uma emboscada para ele, ela trouxe o papa de volta para Canossa. Ela elaborou então uma primeira escritura de doação, em que ela deixava seus domínios e propriedades de Ceperano a Radicofani à Igreja Católica. Mas, ela continuou a governá-las e a administrá-las livremente e de forma independente enquanto viveu.
     Pouco tempo depois Henrique reiniciou sua disputa com São Gregório VII; Matilde sempre apoiou o papa com soldados e dinheiro. Ela era confirmada nisto por seu confessor, Anselmo, Bispo de Lucca.
     No contesto para a liberdade da Igreja, ela apoiou de forma semelhante os sucessores do grande Papa. Por conselho do papa Urbano II, Matilde desposou em 1089 o jovem Duque Welf da Baviera, a fim de que a defensora mais fiel da sede papal pudesse assim obter um poderoso aliado.
     Em 1090, Henrique IV voltou para a Itália para atacar Matilde, a quem já tinha privado de suas propriedades na Lorena. Ele devastou muitos de seus bens, conquistou Mântua, seu principal reduto, por traição em 1091, bem como vários castelos. Embora os vassalos da condessa se apressassem em fazer as pazes com o imperador, Matilde novamente prometeu fidelidade à causa do papa, e continuou a guerra, que agora deu uma guinada em seu favor. O exército de Henrique foi derrotado diante de Canossa. O Duque Welf da Baviera, e seu filho de mesmo nome, marido de Matilde, aderiram a Henrique em 1095, mas a condessa permaneceu firme.
     Quando o novo rei alemão, Henrique V, entrou na Itália no outono de 1110, Matilde prestou-lhe homenagem pelos feudos imperiais. Em seu retorno, ele esteve três dias com Matilde na Toscana, mostrou a ela todos os sinais de respeito, e a fez sua imperial vice regente da Ligúria. Em 1112, ela confirmou a doação de seus bens à Igreja que tinha feito em 1077.
     Após sua morte, Henrique foi para a Itália em 1116, e tomou suas terras - não apenas os feudos imperiais, mas também os outros bens. A Igreja Católica apresentou a sua reivindicação legítima à herança. Uma longa disputa pela posse dos domínios de Matilde se iniciou, a qual levou ao termo de compromisso entre Inocêncio II e Lotário III em 1133.
     O imperador e o Duque Henrique da Saxônia tomaram as propriedades de Matilde como feudos do papa com uma renda anual de 100 quilos de prata. O duque fez o juramento feudal para o papa; depois de sua morte, os bens de Matilde foram inteiramente retornados à Igreja Católica. Novas disputas ocorreram sobre estas terras e outros acordos entre os papas e os imperadores do século XII foram relatados. Em 1213, o imperador Frederico II reconheceu o direito da Igreja Católica sobre as propriedades de Matilde.
     No século XVII, o corpo da Condessa Matilde foi removido para o Vaticano, onde agora se encontra na Basílica de São Pedro.
 
Fontes:  J.P. Kirsch (Catholic Encyclopedia);  Wikipedia.
Estátua de Matilde na Basílica do Vaticano
 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Santa Ana Wang, Virgem e mártir chinesa - 20 de julho

     Ana Wang nasceu no ano 1886 em Majiazhuang, na zona de Weixian, no sul da província de Hebei. Seus pais eram cristãos, mas enquanto sua mãe era muito piedosa, seu pai não frequentava os Sacramentos. Já em tenra idade seu caráter forte era visível.
     Quando sua mãe morreu, ela tinha então cinco anos, Ana perdeu um sustentáculo na fé. Mas, na escola, ela encontrou outro amparo: Irmã Lucia Wang, sua professora. Embora Ana fosse obrigada pela avó a trabalhar, era o exemplo da classe, não apenas nos resultados, mas também no comportamento. Algumas companheiras, pobres como ela, que a convidavam a roubar com elas as espigas dos campos, a pequena respondia que, no Pai Nosso, Deus assegurava o pão de cada dia.
     Na comunidade católica ela era muito apreciada, porque sabia entoar com doçura os cânticos religiosos, em particular a Ave Maria que sua mãe lhe havia ensinado. Devido sua piedade, foi admitida à Primeira Comunhão.
     Algum tempo depois seu pai tornou a se casar com uma senhora batizada, mas não praticante como ele. Como consequência, Ana não era muito estimada por ela. Ela, entretanto, amava e respeitava os pais, chegando a dar-lhes, bem como a avó, os pequenos prêmios que recebia na escola.
     Aos onze anos Ana ia ser dada em casamento, mas ela se opôs fortemente à ideia, pois queria ser religiosa como Irmã Lucia.
     Em 1900, explodiu com violência a revolta chinesa contra os ocidentais, promovida pela sociedade secreta dos Boxers. O Cristianismo e todos os chineses que o professavam eram vistos como perigosos e desestabilizadores da harmonia nacional e, portanto, deviam ser eliminados.
     Em julho de 1900, um grupo de Boxers atingiu Majiazhuang. A primeira obra do grupo foi por fogo à igreja católica. Em seguida, capturaram vários cristãos e advertiu-os: "O governo proibiu a prática das religiões ocidentais. Se vocês renunciarem à sua religião, vocês serão libertados. Se vocês se recusarem, vamos matá-los".
     O pai de Ana e muitos cristãos fugiram. Mas Ana procurou refúgio em um local que pensava ser seguro, a escola, mas não encontrou lá a Irmã Lucia, que fugira com os alunos. Um ancião, José Wang Yumei, que cuidava da casa dos missionários, naquele momento fazia a guarda da escola para defender algumas mulheres que ali haviam se refugiado. Acolhida calorosamente, Ana passou ali algum tempo, exortando a todos a rezarem com fervor, sobretudo quando na autora chegava um sacerdote para a celebração da Eucaristia.
     Os sequazes dos Boxers, porém, cada vez mais se aproximavam deles. Quando os soldados chegaram, José disse aos presentes, entre os quais havia algumas mães de família com seus filhinhos, para se refugiarem no subterrâneo da escola. Os disparos das armas dos soldados assustaram as crianças que ao chorarem denunciaram o seu esconderijo.
     Todos os presentes foram aprisionados e conduzidos ao vilarejo onde havia o quartel general dos Boxers. A madrasta de Ana decidiu renunciar à sua religião e rogou que Ana fizesse o mesmo. Mas Ana recusou-se a segui-la e disse em voz alta: "Eu acredito em Deus, eu sou cristã, eu não quero renunciar a Deus. Jesus, salvai-me!" Ana e vários companheiros rezaram durante a noite. De manhã, os Boxers levaram para o campo de execução os cristãos que se recusaram a negar sua fé.
     Ana assistiu ao interrogatório de José, o ancião, e de Lúcia Wang, mãe de André, de nove anos, e de uma menina ainda menor. O primeiro a morrer decapitado foi José Wang.
     Ana observou a cena terrível da execução do pequeno André Wang Tianqing, de 9 anos. Os infiéis estavam ansiosos para salvá-lo, mas sua mãe dissera: "Eu sou uma cristã, meu filho é um cristão. Vocês terão que matar a nós dois". Os líderes do grupo fizeram um sinal com suas cabeças. O pequeno André ajoelhou-se e inclinou-se. Ele olhou para sua mãe e sorriu. Em seguida, o machado do carrasco atingiu o pescoço do menino. Naquele dia, os Boxers mataram cinco mulheres com seus filhos, incluindo um bebê de dez meses de idade.
     Aproximava-se a vez da condenação de outros, entre os quais Ana. De joelhos ela rezava em voz alta e mantinha os olhos postos no céu. O chefe dos Boxers, de nome Song, diante daquela cena, refletiu por uns instantes, depois ordenou que a jovem deixasse sua religião. Imersa na oração, ela não o ouviu. O homem então a tocou na fronte e repetiu sua ordem. Recobrando-se, Ana deu um passo e gritou: “Não me toque!” Em seguida, acalmando-se, disse: “Sou católica. Jamais negarei meu Deus. Prefiro morrer!”
     Song cortou brutalmente seu braço direito e repetiu a pergunta: "Você nega a sua religião?" Ela não disse nada. Ele golpeou-a novamente. Ana disse: "A porta do céu está aberta", e sussurrou o nome de Jesus por três vezes, baixando a cabeça. O carrasco deu o golpe final cortando sua cabeça.
     Uma testemunha ocular declarou que depois da decapitação o corpo de Ana permaneceu de joelhos por algum tempo e não caiu até que um soldado lhe desse um empurrão. Outra testemunha, uma senhora idosa, que conhecia a jovem muito bem, afirmou ter visto sua alma, vestida de um hábito azul e verde, indo para o céu com uma coroa de flores na cabeça.
     Em 6 de novembro de 1901, procedeu-se a exumação dos cadáveres, para lhes conceder uma sepultura digna. O Padre Albert Wetterwald, que presidia a cerimônia, escreveu em seu relatório: “Enquanto os encarregados, trabalhando com precaução, no meio de um silêncio solene, retiravam a terra que recobria os cadáveres, todos os olhares ávidos viram aparecer confusos, mas intactos, os membros e a cabeça das vítimas, foi um único grito de admiração e de dor ao mesmo tempo. Os pagãos bradavam o milagre. Os cristãos choravam, mas mais de alegria do que de tristeza”.
     Após os solenes funerais, os compatriotas de Ana começaram a invocar a sua intercessão, que foi comprovada por numerosas graças singulares. No plano das curas espirituais, os primeiros beneficiados foram os próprios familiares de Ana, que apesar de tudo a haviam amado muito. A avó morreu santamente; a madrasta tornou-se católica praticante. O pai, de volta à fé, ficou cego, rezou para a filha que lhe desse a visão, mas não alcançou esta graça. Aceitando, porém, esta condição, usou-a para espiar suas culpas.
     A causa da canonização de Ana Wang foi inserida no grupo capitaneado pelo jesuíta Padre Leone Inácio Mangin e composto ao todo de cinquenta e seis mártires. O reconhecimento do martírio foi decretado em 22 de fevereiro de 1955. Em 17 de abril do mesmo ano, domingo in albis, transcorreu a beatificação. A canonização do grupo, inserido em um grupo mais amplo de 119 mártires chineses, ocorreu em 1º de outubro de 2000.
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Beata Constância de Aragão, Rainha - 17 de julho

    
    Filha de Manfredo, Rei da Sicília, e sobrinha do Imperador Frederico II, nasceu em 1247. Em 1262 casou-se com Pedro III, o Grande de Aragão, em Montpellier. Do casamento nasceram seis filhos, entre eles a futura Santa Isabel, Rainha de Portugal. Grande devota da Ordem Franciscana, em 1268, Constância construiu o Mosteiro de Santa Clara de Huesca e favoreceu amplamente outras fundações e convento.
     Coroada com o marido em Zaragoza em 1276, ela viveu as vicissitudes delicadas de conflitos nacionais e da contenda com o reino d’Anjou da Sicília com seu marido, em graves conflitos com o Papa Martinho IV, que apoiava Carlos de Anjou. Ela foi capaz de manter um distanciamento equilibrado entre a vida terrena e a dedicada à oração e às obras de caridade.
     Foi regente durante a expedição de Pedro à África e à Sicília (1282), tendo ele conquistado o reino da Sicília, ela mudou-se para aquela cidade com seus filhos e governou em nome do marido com justiça e prudência. Em 1285, por ocasião da morte de seu esposo, assumiu a regência ao lado de seu filho Tiago. Em 1294, ela fundou um mosteiro de Clarissas em Messina sob a regra de Santa Clara.
     Seu filho Federico (Fradique) foi proclamado Rei da Sicília, mas foi deposto pelo Papa Bonifácio VIII, que reconhecia os direitos dos Anjou. Constância obedeceu obsequiosa o mandato do Papa, que lhe ordenara deixar a Sicília, e, em 1296, ela mudou-se para Roma onde, no ano seguinte, por desejo de paz, ajustou o casamento de sua filha Yolanda (Violante) com Roberto, Duque da Calábria, filho de Carlos II de Anjou que, feito prisioneiro pelos aragoneses em 1284, tivera a vida salva por intercessão de Constância junto a seu esposo.
     Depois de uma curta estadia em Nápoles ao lado de sua filha, Constância retornou a Roma e, em 1299, foi para Barcelona, ​​onde legalizou seu testamento que, entre outras coisas, ordenava a construção de dois hospitais para os pobres, um em Barcelona e outro em Valência, sob o governo e a administração dos Frades Menores.
     Ela faleceu em Barcelona no dia 8 de abril de 1300, Sexta-feira Santa, e foi sepultada na igreja do convento de São Francisco. Alguns historiadores mencionam incorretamente a data da sua morte em 1301 ou em 1302, e o sepultamento na igreja de Santa Clara de Barcelona, ​​ou em Messina.
     Seus restos mortais eram venerados na igreja de São Francisco até 1835; foram transladados em 1852 para uma capela do claustro da Catedral. Ela é mencionada por Dante em sua obra, o qual a elogia no Purgatório (III, 143) como a "boa Constância". A Beata Constância é celebrada no dia 17 de julho.

sábado, 13 de julho de 2013

Santa Toscana, Viúva - 14 de julho

 
   
Apesar do nome, a santa viúva Toscana era na realidade vêneta, nascida em Zevio, nas proximidades de Verona, aonde viera à luz por volta do fim do século XIII.

     Em 1310, casou-se com o veronês Alberto Canoculi (isto é, “dos olhos de cão”), com o qual viveu castamente seu compromisso conjugal. Quatro anos depois, Toscana transferiu-se para Verona onde tomou residência perto do outeiro de São Zenon in Monte.
     Todos os dias, às três horas da tarde, ela ia para o Hospital do Santo Sepulcro, pertencente à Ordem de São João de Jerusalém, dedicada ao cuidado dos doentes, para se dedicar à assistência dos pobres e dos abandonados, que visitava e socorria com solicitude também nas suas humildas casas.
     Tendo ficado viúva em 1318, distribuiu todos os seus bens aos necessitados e ingressou na Ordem de São João de Jerusalém, pois ela se convenceu que uma jovem e bela viúva enfrentava dificuldades vivendo sozinha no mundo. Ela iniciou então uma vida ainda mais angélica de oração, penitência e obras de misericórdia.
     Ela ocupava uma pequena cela solitária nos jardins do convento do Santo Sepulcro, em Verona. Ela mendigava seu alimento e comia apenas pão e água. Nos domingos, ela fazia uma refeição de vegetais variados cozidos com um pouco de óleo. Ela visitava as igrejas e os locais sagrados de Verona em ocasiões solenes, a fim de ganhar indulgências.
     Um dia, quando ela se dirigia à igreja dos Santos Apóstolos, ela encontrou alguns ladrões que roubaram seu pobre manto. Eles desejavam dividir o seu furto, para tanto desembainharam suas espadas e suas mãos secaram imediatamente. Atordoados e assustados, eles correram à procura da santa, devolveram seu manto e imploraram seu perdão. Ela disse que rezaria por eles, fez o Sinal da Cruz sobre suas mãos castigadas por Deus, e eles se curaram. Mas, ela não os deixou ir sem antes fazer um pequeno sermão exortando-os a mudar de vida e a fazer penitência.
     Certa vez ela foi tomada por uma ferve muito alta, e um anjo veio avisá-la que o seu fim estava próximo. Ela experimentou tal alegria ao ouvir esta notícia, que se pôs a agradecê-lo efusivamente. Extenuada pelos trabalhos, mas feliz com o dever cumprido, faleceu em Verona no dia 14 de julho de 1343. Ao morrer ela disse: “Eu escolhi ser desprezada na casa de Deus, ao invés de viver sob as tendas dos pecadores". Santa Toscana pedira para ser enterrada perto do portão do hospital, na rua, sem honras. Mas ela foi sepultada na igreja do Santo Sepulcro.
     Em 1612, no dia 23 ou 24 de junho, algumas de suas relíquias foram transladadas para Zevio, e colocadas em uma capela construída para guardá-las. Na ocasião, outro milagre ocorreu: como faltara água para os pedreiros, eles a encontraram em uma mina que até então estivera seca. Mais tarde, a procissão que levava os despojos de Santa Toscana obteve chuva durante um terrível período de seca. Numerosas curas foram alcançadas pela intercessão da Santa, com especial atenção àqueles que têm febre, pois ela mesma sofreu muito com ela.
     Santa Toscana ainda hoje está sepultada na igreja do Santo Sepulcro, localizada perto da Porta Vescovo, em Verona, a qual é dedicada também a Santa Toscana, e ali os seus devotos invocam seu celeste auxílio junto ao seu túmulo. Ali também fica a delegação da Soberana Ordem de Malta.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Santa Olga de Kiev - 11 de julho

    
      O processo de cristianização dos diversos povos precisou de muito tempo para se concretizar. Assim foi com o Principado de Kiev, que nascera no século VII e era o centro de um império que ia do Mar Negro ao Báltico, chegando até o Rio Volga. Somente no século XVII, por meio do Tratado de Pereiaslav, a Ucrânia, nome atual do antigo principado, ficaria sob a influência do império russo.

     A fé cristã começou a penetrar na região graças aos missionários que vinham não só de Bizâncio, mas também dos territórios vizinhos dos eslavos do Ocidente - os quais celebravam a liturgia em língua eslava, segundo o rito instaurado pelos Santos Cirilo e Metódio - e das terras do Ocidente latino.
     Como atesta uma antiga Crônica, chamada Crônica de Nestor ("Povest' Vremennykh Let"), no ano de 944 já existia em Kiev uma igreja cristã dedicada ao Profeta Elias.
     Foi neste ambiente propício que Olga fez-se batizar, livre e publicamente, pelo ano de 955, permanecendo depois sempre fiel às promessas batismais. As cerimônias para a sua recepção formal em Constantinopla aparecem minuciosamente descritas pelo Imperador Constantino VII (Porfirogênito, "o Nascido na Púrpura", reinou de 913-959) na sua obra De Cerimonialis. Durante o seu Batismo, Olga adotou o nome Yelena (Helena), em honra da imperatriz reinante Helena Lecapena.
     Olga, a primeira Santa ucraniana - ou russa por causa da influência do império russo - inserida no calendário católico bizantino, é considerada o elo entre a época pagã e a cristã na história das populações eslavas. As fontes que a citam são numerosas e todas de relevância histórica.
     Olga nasceu em 890, na aldeia Vybut, próxima de Pskov e do rio Velika. Era uma belíssima jovem típica daquela região. Era filha do chefe dos Varegos, uma tribo normanda de origem escandinava que se dedicava à exploração do transporte e do comércio ao longo do Rio Volga, do Mar Negro e do Cáucaso.
     Em 903, quando o príncipe Igor de Kiev conheceu-a, quis se casar com ela apesar de sua pouca idade. O seu casamento foi um símbolo concreto da fusão do povo ucraniano com o eslavo, que ao final do século IX começava a viver sob a influência do Cristianismo.
     Em 945 o príncipe Igor foi assassinado, e Olga vingou-se com firmeza e crueldade dos assassinos. Mandou matar muitos chefes inimigos e impôs tributos e taxas de todos os tipos aos sobreviventes. Tornou-se regente, pois seu filho Svistoslav tinha treze anos de idade apenas, e governou Kiev com sabedoria política, conseguindo que a Província de Novgorod se tornasse tributária de Kiev.
     Olga era amada pelo povo, que reconhecia suas virtudes, pois era justa e misericordiosa, mas também severa e inflexível. Educou o filho retamente, mas não teve a felicidade de vê-lo se converter ao Cristianismo como ela tinha feito. Seu neto Vladimir é quem lhe daria esta alegria. Em 988, Vladimir oficializou o Cristianismo como religião do Principado de Kiev. Além de se tornar cristão, veio a ser canonizado pela Igreja.
     Olga tentou estreitar os laços com o sólido Império de Bizâncio por meio do casamento de seu filho com uma princesa bizantina. Em 957 viajou para Constantinopla para concretizar seu plano, porém não obteve bons resultados, para desilusão dos cristãos e satisfação dos pagãos.
     Em 961, a princesa Olga buscou então o apoio de Otão I, Imperador da Alemanha, e obteve que ele enviasse missionários e um bispo para "que lhes mostrasse o caminho da verdade". Mas, a conversão do povo foi muito difícil: eles eram pagãos, e ainda ofereciam sacrifícios humanos. Em 962, todos os missionários foram assassinados, com exceção de Santo Adalberto de Tréveris.
     Olga rezava dia e noite pela conversão do filho e dos súditos. Ao terminar a regência, segundo as leis da época, se retirou para suas atividades privadas, dando continuidade às obras de seu apostolado. Construiu algumas igrejas, inclusive uma dedicada à Santa Sofia, em Kiev.
     Viveu piamente e morreu com quase oitenta anos em 11 de julho de 969. Dela escreveu seu biógrafo: "Antes do Batismo, a sua vida foi manchada por fraquezas e pecados, crueldade e sensualidade; entretanto, tornou-se Santa não tanto pelo seu próprio mérito, mas por um plano especial de Deus para o povo russo".
     O seu neto, Vladimir, e os novos convertidos experimentaram a beleza da liturgia e da vida religiosa da Igreja de Constantinopla. Havia a Igreja do Oriente e a do Ocidente; cada uma delas se desenvolvera segundo tradições, disciplinas e litúrgicas próprias, mas subsistia a plena comunhão entre o Oriente e o Ocidente, entre Roma e Constantinopla, que mantinham relações recíprocas. E foi a Igreja indivisa do Oriente e do Ocidente que recebeu e ajudou a Igreja de Kiev.
     O príncipe Vladimir deu-se conta de que havia esta unidade da Igreja e da Europa, e por isso manteve relações não só com Constantinopla, mas também com o Ocidente e com Roma, cujo Bispo era reconhecido como aquele que presidia à comunhão de toda a Igreja.
     A veneração por Santa Olga começou durante o governo do seu neto Vladimir. Em 996, ele mandou transferir as relíquias da avó para a igreja que mandara construir especialmente para recebê-las. O seu culto foi confirmado pela Igreja, mantendo a festa litúrgica no mesmo dia que ocorreu seu falecimento.
     Em 17 de abril de 1075, numa carta dirigida ao rei Demétrio, e à rainha sua esposa, o Papa São Gregório VII declarou o reino da Ucrânia sob a proteção de São Pedro.
     Em 1240 os mongóis invadiram e destruíram Kiev completamente. Quatrocentos anos depois, o metropolita da cidade, Pedro Moghila, mandou restaurar as antigas igrejas destruídas, e as relíquias de Santa Olga foram encontradas. Mas, desde 1700 não se tem notícia sobre o paradeiro de seus despojos.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Beata Maria Rosa, Beneditina, mártir da Rev. Francesa - 9 de julho

    

     Nascida em Sérignan (Vaucluse), no dia 4 de fevereiro de 1741, Susana Ágata de Loye entrou na abadia beneditina de Caderousse, onde fez sua profissão em janeiro 1762, adotando o nome religioso de Maria Rosa. Irmã Maria Rosa passou 30 anos praticando todas as virtudes monásticas, vivendo na pobreza e na obediência, preparando-se todos os dias para morte e, sem saber, para o martírio.
     Em setembro de 1792, depois de seu mosteiro ter sido fechado pelos revolucionários, Irmã Maria Rosa voltou à casa da família em Sérignan, dedicando-se às obras de caridade e de apostolado.
     Presa em maio 1794, permaneceu na mesma prisão com mais 32 religiosas de várias ordens, todas amontoadas. Em 6 de julho seguinte, foi trazida diante da comissão popular de Orange. O tribunal acusou-a de querer destruir a república e intimou-a a fazer o juramento prescrito pela lei. Irmã Maria Rosa recusou, calmamente, mas com firmeza, afirmando que ela considerava este juramento como uma apostasia. Ela foi imediatamente condenada à morte; a execução foi realizada na mesma tarde, às seis horas, e ela subiu ao cadafalso com grande coragem.
     Sua execução abriu a série de massacres que deveriam continuar por três semanas. Beatificada em 10 de maio de 1925, sua festa é celebrada em 9 de julho.

domingo, 7 de julho de 2013

Santa Sunniva de Bergen, Virgem e Mártir - 8 de julho

(também conhecida como Sunnifa ou Synnöve da Noruega)
    
     A legenda de Santa Sunniva ainda é muito viva na Noruega, embora este país seja majoritariamente protestante. A Noruega tem dois Santos: Olavo e Halvard, sobrinho-neto do primeiro e patrono da capital, Oslo; e uma Santa, Sunniva, Santa guardiã da Noruega ocidental. A Gruta de Santa Sunniva, na Ilha de Selje, onde se acredita que ela morreu, é uma grande caverna onde há vestígios das paredes de uma igreja construída em honra de São Miguel Arcanjo.
     Alguns historiadores se referem à Santa Sunniva como uma religiosa irlandesa que sofreu um naufrágio na Noruega e fundou um convento com suas companheiras, por volta do ano 960. Não há informações sobre ela na Irlanda, mas, de acordo com a legenda (que é similar a de Santa Úrsula), ela era uma princesa ou uma religiosa, ou ambas as coisas, que fugiu da Irlanda com seu irmão Albano, suas irmãs Borni e Marita, e várias outras donzelas.
     Diz-se que eles estavam procurando um refúgio onde pudessem viver suas vidas consagradas em exílio, por amor de Jesus Cristo. Eles naufragaram na costa oeste da Noruega e chegaram à Ilha Selja. Ali eles iniciaram uma vida de devoção em comum, vivendo em grutas e tendo os peixes como subsistência. Há também quem diga que Sunniva fugiu da Irlanda para não se casar com um chefe Viking pagão.
     Sua história tem dois finais. Uns dizem que os habitantes da ilha os mataram. Outros relatam que Jarl Haakon, um chefe local, ouviu falar da chegada dos irlandeses e como os moradores da ilha se queixavam que eles roubavam seus animais, foi investigar. Levou consigo vários de seus homens e pretendia matá-los. Os membros da comunidade se refugiaram dentro das grutas. Santa Sunniva rezou rogando que nem ela nem seus companheiros fossem aprisionados pelo pagão. Então, uma grande quantidade de pedras desmoronou e bloqueou todas as entradas, matando os cristãos.
     Navegadores que passavam pela ilha viam uma curiosa luminosidade sobre Selja. Por volta de 995, alguns mercadores aportaram na ilha e acharam um crânio que brilhava muito e exalava forte aroma. Eles o levaram para Nidaros (a capital do tempo) e entregaram-no ao Rei Olaf Tryggvason, contando-lhe a descoberta. Ele falou-lhes de Nosso Senhor e os mercadores foram batizados. Olaf (Olavo) enviou pessoas a Selja a procura de Sunniva. Eles encontraram lá mais ossos brilhantes. Depois, sob uma enorme pilha de rochas, Sunniva foi encontrada. Ela parecia estar adormecida, tão bela como quando vivia. Eles compreenderam que ela devia ser santa e levaram-na para a igreja mais próxima. Ela foi posteriormente declarada Santa.
     A construção das igrejas na Ilha de Selje iniciou-se durante o reinado do Rei Olavo (995-1000). A pequena era feita de madeira e foi terminada rapidamente. A catedral era uma construção monumental de pedra e só foi terminada bem depois do reinado de Olavo. A igreja menor foi provavelmente construída para ser utilizada pelo bispo enquanto a maior era completada. O estilo da Catedral de Lund, na Suécia, deve ter influenciado na construção da catedral, já que artesãos de Lund trabalharam em muitas igrejas de Bergen entre 1130 e 1170.
     O Rei Magnus Erlingson foi coroado na catedral em 1163/64, o Rei Sverre em 1194 e o Rei Håkon Håkonsson em 1247. Em 1261, o Rei Magnus Lawmender e a Rainha Ingeborg também foram coroados em Selja, bem como o Rei Eirik Magnusson em 1280. Em 1281, a Rainha Margareta Alexandersdatter foi coroada após seu casamento com o Rei Eirik. A filha do casal, a jovem princesa Margareta, falecida com apenas 8 anos de idade, tornou-se um mito em Bergen. Há uma igreja construída em sua honra, a Igreja de Santa Margareta.
     As relíquias da padroeira de Bergen, Santa Sunniva, foram guardadas na catedral. Em 1170, as relíquias foram transladadas para Bergen. A igreja de Selje foi entregue aos beneditinos que a dedicaram ao Santo Albano (irmão de Sunniva). As ruínas de cinco igrejas ainda existem na ilha (Benedictines, Farmer, Montague).
 
Abadia da Ilha de Selje
     O Mosteiro de Selje, na Ilha de Selje, a quinze minutos de barco de Silda, foi fundado por volta de 1100 e dedicado a Santo Albano e a Santa Sunniva.
     Naquele tempo a abadia da Ilha de Selje era um importante centro católico. Era o local original do túmulo de Santa Sunniva, ali martirizada. Por esta razão era local de peregrinação e também a sede de um bispado e de uma igreja dedicada a São Miguel Arcanjo, estabelecida em 1070. O bispo fora responsável pelo estabelecimento de um mosteiro na ilha, e durante toda sua história houve uma forte conexão entre a abadia e o bispado. Entretanto, o bispo mudou-se para Bergen logo após a fundação do mosteiro; as relíquias da Santa não foram transladadas da ilha para Bergen até cerca de 1170. Após aquela data somente o mosteiro ficou na ilha.
     Nos dois primeiros séculos de sua existência, ela foi um centro próspero e importante, mas um incêndio desastroso, em 1305, causou danos dos quais ela nunca mais se recuperou.
     O local na ilha é espetacular. Por causa da pouca povoação, as ruínas - não só da abadia como do antigo santuário de Santa Sunniva e da catedral - estão ainda muito bem preservadas; uma torre continua intacta. Podemos ainda admirar as ruínas da primeira igreja paroquial, as ruínas da igreja de Santa Sunniva, construída por Santo Olavo em sua honra, uma das primeiras igrejas católicas no país, e as ruínas da abadia que ainda hoje são usadas para cerimônias, como missas e casamentos.