sábado, 29 de setembro de 2018

Serva de Deus Antônia de Astônaco e São Miguel Arcanjo – 29 de setembro

    
     Aparição a uma ilustre carmelita Serva de Deus, toda dedicada ao culto do glorioso São Miguel, Antônia de Astônaco, em Portugal, em 1750.
     Em Portugal se deu uma das mais célebres aparições de São Miguel. Esta aparição deu a volta ao mundo através da célebre Coroa Angélica em honra a São Miguel e dos 9 Coros dos Anjos, com promessas salutares para vida e para a morte. Esta devoção está propagada em várias línguas, aprovada pelos respectivos bispos diocesanos e de modo especial pelo Papa Pio IX, sábio e santo, que a enriqueceu de indulgências em 8 de agosto de 1851.
     Trata-se de uma revelação séria e admitida pelas autoridades eclesiásticas, sobretudo pelo Santo Padre Beato Pio IX, que não tinha por costume aprovar devoções baseadas em revelações particulares de ânimo leve.
     Num livro em espanhol, "Tiempo de Angeles", de Blas Piñar, lê-se a citação do autor que diz o que viu em folhetos com a aprovação do Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Antônio Mendes Belo, do Senhor Bispo do Porto, de bispos franceses e espanhóis, mas com uma nota importante que não encontrada em nenhuma parte e que transcrevemos: "No livro 2º, Capítulo 74, da vida da Serva de Deus Antônia de Astônaco, lê-se que numa aparição a esta ilustre Serva de Deus, o Arcanjo São Miguel pediu que se compusessem em sua honra nove saudações, correspondendo aos nove coros dos Anjos; saudações que consistem, cada uma, na recitação de um Pai Nosso e três Ave-Marias.
     O glorioso Arcanjo prometeu que quem o honrasse desta maneira antes da Sagrada Comunhão, seria acompanhado à Sagrada Mesa por um Anjo de cada um dos nove coros. Prometeu também, a quem rezasse todos os dias essas nove saudações, a sua assistência e a dos santos Anjos durante a sua vida, e que depois da morte o livrará do Purgatório a ele e aos seus parentes”.
     Por meio da recitação deste Terço obter-se-ão ainda muitas graças nas calamidades públicas, sobretudo nas da Igreja Católica (de que São Miguel Arcanjo é o padroeiro perpétuo), e as indulgências que lhe foram atribuídas pelo Papa Pio IX.

                                               A gravura ilustra o formato da coroinha.


Coroinha ou Terço de São Miguel Arcanjo

Modo de rezar
     Sobre a medalha, diz-se:

V: Deus, vinde em nosso auxílio.
R: Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.
Glória ao Pai...

     Depois, deixando para o fim as quatro contas que seguem a medalha, toma-se a primeira conta grande do Terço e reza-se a primeira saudação.
     Recita-se cada uma das seguintes invocações, separadamente, e depois de cada uma delas oferece-se um Pai Nosso e de três Ave-Marias (Pai Nosso na conta grande, as 3 Ave-Marias nas contas menores).

1ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste dos Serafins, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos conceda ardente amor à Santa Igreja, reflexo de Sua caridade infinita.
2ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste dos Querubins, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos conceda a graça de trilharmos a estrada da perfeição cristã.
3ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste dos Tronos, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos conceda o dom da sabedoria.
4ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste das Dominações, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos dê a graça de não aceitar o mundo moderno levantado contra Deus, e de vencer meu vício capital.
5ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste das Potestades, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos conceda a virtude da pureza, da humildade e da combatividade.
6ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste das Virtudes, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos conceda a graça de não sermos vencidos no combate perigoso das tentações.
7ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste dos Principados, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos dê o espírito da verdadeira e sincera obediência.
8ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste dos Arcanjos, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos conceda o dom da perseverança na fé e boas obras.
9ª invocação:
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste dos Anjos, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, o Senhor nos conceda que estes espíritos bem-aventurados nos guardem sempre, e principalmente na hora da nossa morte.
     Pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do Coro Celeste dos Anjos, e de Nossa Senhora, Rainha dos Anjos, que Nosso Senhor Jesus Cristo permita que se cumpram logo as promessas feitas por Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!”

Reza-se depois:
Um Pai Nosso à São Miguel Arcanjo
Um Pai Nosso à São Gabriel Arcanjo
Um Pai Nosso à São Rafael Arcanjo
Um Pai Nosso ao nosso Anjo da Guarda

Antífona
     Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável guia depois de Cristo, Vós cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a Vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção que adiantemos cada dia mais na fidelidade em servir a Deus.

V. Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Jesus Cristo.
R. Para que sejamos dignos de suas promessas. Amém

Oração:
     Deus todo poderoso e eterno que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens, escolhestes para príncipe de vossa Igreja o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós vô-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da vossa poderosa e augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém 

ORAÇÃO QUOTIDIANA do Papa Leão XIII
     São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso auxilio contra as maldades e ciladas do demónio.
     Ordene-lhe Deus, humildemente o pedimos. E Vós Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino Poder, precipitai no inferno a satanás, e a todos os espíritos malignos, que vagueiam pelo mundo para perder as almas. Amém.

AUGUSTA RAINHA (Indulgenciada pelo Papa São Pio X)

     Augusta Rainha do Céu e altíssima soberana dos Anjos, vós que desde os primórdios recebestes de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça de Satanás, humildemente vos rogamos, enviai vossas santas legiões de Anjos, a fim de que à Vossa Ordem e pelo vosso poder persigam os espíritos infernais e em toda a parte os combatam, confundindo-os em sua arrogância e arrojando-os para o abismo.
     Quem é como Deus?
     Santos Anjos e Arcanjos, defendei-nos e guardai-nos.
     Ó Maria, Rainha dos Anjos, mandai a São Miguel defender-nos em todas as ocasiões de perigo da alma e do corpo.


sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Beatificada neste mês a mais nova mártir da pureza sob o jugo do comunismo


Vítima de brutais covardias, Verônica Antal sacrificou a própria vida para se manter fiel a Cristo

     Foi beatificada neste último sábado, 22 de setembro, na Igreja da Assunção em Nisiporesti, Romênia, a jovem Verônica Antal, mártir da pureza num contexto de grandes sofrimentos e perseguições contra os cristãos da sua terra.
Sob o jugo do comunismo
     Em sua época, cidadãos eram presos não somente por se oporem ao regime comunista que subjugava a Romênia, mas também por testemunharem a sua fé em Jesus Cristo: a convicção religiosa, aliás, era considerada pelos perseguidores comunistas como a “maior culpa” a ser castigada.
     A vida da comunidade católica romena foi posta à prova com dureza pela doutrina leninista-marxista, que excluía Deus e os valores cristãos do horizonte de vida das pessoas.
A inspiração profética de outra santa mártir da pureza
     A Beata Verônica estava lendo a biografia de Santa Maria Goretti, a mártir da castidade, sem saber que dentro de poucos dias ela própria teria o mesmo fim da jovem italiana: seria morta pelas mãos de um homem que queria violentá-la.
     Comentando a leitura, Verônica tinha confidenciado a uma amiga que se fosse necessário, ela também se comportaria do mesmo jeito que Santa Maria Goretti. Numa folha de papel, chegou a escrever: “Eu sou de Jesus e Jesus é meu”.
     De fato, para permanecer fiel a Jesus, Verônica preferiu a morte.
O tesouro da família

     A jovem era filha de agricultores de Nisiporesti, norte da Romênia, nasceu no dia 7 de dezembro de 1935, foi batizada no dia seguinte, Festa da Imaculada Conceição, e cresceu sob a grande influência da avó, Zarafina, que lhe ensinou a rezar e a frequentar a Santa Missa – não só dominical, mas diária, e exigindo um percurso a pé de 8 quilômetros até a igreja. A avó também ensinou a menina a fiar e costurar, o que permitiu que ela fizesse roupas típicas do seu país.
     Verônica era uma menina alegre que não faltava às aulas, mesmo precisando ajudar nos árduos trabalhos agrícolas da família. Junto com a Eucaristia, o rosário também fazia parte da vida da família.
A consagração a Jesus
     Foi nesse contexto de humildade, trabalho, família e fé que aos 16 anos Verônica sentiu o chamado de Jesus e o desejo de entrar no convento das Irmãs Franciscanas Missionárias de Assis, do vizinho vilarejo de Hălăuceşti.
     Mas o governo comunista suprimiu as ordens religiosas em toda a Romênia, inclusive o convento de Hălăuceşti. Verônica precisou, por isso, viver a vida de clausura em casa, reservando um quarto para se recolher em oração e tornando-se fiel seguidora da Ordem Terceira Franciscana, bem como da Milícia da Imaculada (fundada por São Maximiliano Kolbe). Ela emitiu de forma privada o voto de castidade.
     A jovem se tornou conhecida pela caridade para com os pobres, doentes, idosos e mães em dificuldade, além de dar catequese na paróquia. Seu lema era: “Esta é a vontade de Deus: a sua santificação”.
O martírio
     Na noite de 23 de agosto de 1958, Verônica foi para Hălăuceşti, onde seriam realizadas Confirmações no dia seguinte. No dia 24 de agosto, depois da Missa, as amigas ajudaram-na a ordenar a sacristia. No final da tarde, as amigas foram para casa, mas ela lhes disse que a precedessem, ela as seguiria mais tarde. As jovens que saíram antes chegaram a contar que Verônica estava inquieta e pálida naquele dia, como se pressentisse o que estava para lhe acontecer.
     O martírio se consumou no trajeto de 8 quilômetros de campos desertos que separavam a igreja da sua casa. Lá estava Pavel Mocanu, o jovem que começou a assediá-la com propostas indignas. Há tempos ele premeditava fazer mal a qualquer “freira”, como com desprezo definia Verônica e suas amigas. Do assédio, ele não tardou a partir para a violência assassina: inconformado com as recusas de Verônica, ele a deixou sangrando até a morte num milharal, depois de lhe desferir brutais e covardes 42 facadas.
     Seu corpo, inviolado, foi achado na manhã seguinte. A coroa do rosário ainda estava apertada entre os seus dedos.

“Viveu como santa e morreu como santa”
     A fama de santidade da jovem impulsionou as visitas ao local do seu martírio como se fosse um santuário.
     Verônica, a mártir romena da castidade sob o jugo do comunismo, se une agora à alva fila dos santos que defenderam a pureza com o sacrifício da própria vida:

Santa Maria Goretti, na Itália;
Beata Albertina Berkenbrock, no Brasil;
Beata Anna Kolesárová, na Eslováquia;
Beata Teresa Bracco, também na Itália, que resistiu à tentativa de estupro por parte de um soldado nazista;
Beata Carolina Kózka, na Polônia, que resistiu à violência sexual de um soldado das tropas russas que ocupavam o país na Primeira Guerra Mundial.

https://pt.aleteia.org/

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Santa Eustóquia (Júlia), virgem – 28 de setembro

    
Sta. Eustóquia, junto a sua mãe,
ouve orientação de S. Jerônimo
Júlia Eustóquio ou Eustóquia (em latim: Iulia Eustochium/Eustochia) foi uma nobre romana do século IV, celebrada pela Igreja no dia 28 de setembro.
     Eustóquia nasceu em Roma em 368. Era filha de Paula (Santa Paula Romana) e Júlio Toxócio, ambos da alta aristocracia romana; era irmã mais nova de Bresila, sobrinha de Júlio Festo Himécio e Pretextata, tia de Paula e parente de Fúria. Após a morte de seu pai, em 379, adotou vida ascética como sua mãe, reunindo-se no cenáculo/palácio de Santa Marcela, em Roma.
     Em 382, quando São Jerônimo chegou a Roma vindo da Palestina, mãe e filha colocaram-se sob sua orientação espiritual. Foi discípula afetuosa, frequentando assiduamente as palestras sobre a Sagrada Escritura que o santo doutor dirigia ao grupo de senhoras romanas na casa de Santa Marcela. Seus tios tentaram persuadi-la a abandonar sua vida ascética e gozar dos prazeres da vida, mas suas tentativas foram infrutíferas.
     Por ocasião da festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo de 384, Eustóquia enviou-lhe uma nota e alguns presentes simbólicos: uma cesta de cerejas, braceletes e algumas pombas. São Jerônimo respondeu-lhe com uma carta muito espirituosa. Em 384, Júlia Eustóquia fez voto de virgindade perpétua e na ocasião São Jerônimo endereçou-lhe sua celebrada carta De custodia virginitatie.
     Em 385/386, quando Santa Paula decidiu fixar-se na Palestina para não ficar sem a direção de São Jerônimo, Eustóquia juntou-se a ela. No outono de 385, mãe e filha embarcaram em Óstia e desembarcaram em Selêucia, porto de Antioquia da Síria, capital da região, acolhidas pelo Bispo Paulino. São Jerônimo estava esperando pelas peregrinas. Elas fizeram primeiro uma piedosa e detalhada peregrinação pela Terra Santa, indo depois para o Egito a fim de edificar-se com as virtudes dos anacoretas e cenobitas que povoavam aquela região, principalmente São Macário, Santo Arsênio e São Serápio. Depois, cedendo a um desejo do coração, fixaram residência em Belém, como já o havia feito São Jerônimo.
As Santas embarcam em Óstia
     Entre 386-389, Santa Paula edificou junto à igreja da Natividade dois mosteiros: um feminino, do qual ficou superiora, e no qual entraram Eustóquia e várias das viúvas e virgens que as haviam acompanhado à Terra Santa; outro masculino, que ficou sob a direção de São Jerônimo. Todos os conventos possuíam apenas um oratório, onde as religiosas reuniam-se várias vezes ao dia para rezar e recitar os Salmos.
     A vida nos dois mosteiros era inspirada na dos grandes anacoretas do deserto. São Jerônimo diz que “as que em outro tempo gemiam sob o peso das joias e brocados andam agora miseravelmente vestidas, preparam os lampiões, acendem o fogo, varrem os pisos, limpam os legumes, colocam na panela fervente as ervas, preparam as mesas e correm daqui para lá dispondo de tudo”. (*) Santa Paula e Santa Eustóquia davam o exemplo em tudo, sendo as primeiras nos trabalhos mais vis.
     Estas Santas tiveram ampla participação nos trabalhos de São Jerônimo, como sábias secretárias e tradutoras. Não é exagerado dizer que Santa Paula foi a alma da grande empresa, a tradução da Bíblia Sagrada conhecida como Vulgata. São Jerônimo opunha sempre as repugnâncias de sua humildade. “Se bem que muito santa, Paula não deixava de ser mulher, e de um espírito fino e penetrante. Pois bem: pediu-lhe ao menos que escrevesse alguma coisa sobre a menor das epístolas de São Paulo, a dirigida a Filemon, ainda que não fosse mais que uma página de quarenta linhas. Jerônimo caiu no laço: fez o que lhe pedia, e o resto veio depois. O ‘resto’ são seus grandes comentários paulinos. ‘Para que vejas o que pode sobre mim tua vontade’”. (**)
     São Jerônimo também afirmou que Eustóquia falava latim e grego com a mesma facilidade que lia a Sagrada Escritura em hebreu. Muitos dos comentários bíblicos de São Jerônimo, segundo palavras suas, existem por influência dela e vários deles foram dedicados a ela, como a tradução do Livro dos Reis, os dezoito prefácios dos livros de Isaías e os quatorze prefácios de Ezequiel. Além disso, muitas foram suas epístolas para instruí-la em sua vida espiritual. Eustóquia era sua discípula favorita, porque era virgem.
     Quando em 402-403 Santa Paula adoeceu, Eustóquia cumpriu seu dever filial cuidando dela com amor. Com a morte de Santa Paula em 404, Eustóquia assumiu a direção dos conventos, percorrendo a trilha luminosa dos exemplos e ideais de seus pais. Sua tarefa foi dificultada devido ao empobrecimento dos mosteiros decorrente da ativa ação de caridade conduzida por Paula. São Jerônimo, por sua vez, foi um grande auxiliar seu através de seu encorajamento e conselhos prudentes. Por outro lado, ela continuou a estimular São Jerônimo nos seus trabalhos bíblicos, que ele havia empreendido pela insistência de sua mãe. São Jerônimo traduziu a regra de São Pacômio por volta de 404.
     Em 417, no entanto, uma multidão de rufiões atacou e pilhou os conventos, destruindo um pelo fogo e matando e maltratando alguns dos residentes. Pensa-se que esse ataque foi incitado pelo patriarca hierosolimita João II (r. 387–417) e os pelagianos contra quem São Jerônimo escreveu duras críticas. Ele e Eustóquia escreveram uma carta informando o Papa Inocêncio I (r. 401–417) do ocorrido, e o papa duramente reprovou o patriarca por ter permitido tamanho ultraje.
     Eustóquia morreu em 419 e foi sucedida na supervisão dos conventos por sua sobrinha, a jovem Paula, que em 404 uniu-se a Eustóquia em Belém, e em 420 fechou os olhos de São Jerônimo. Três cartas curtas de São Jerônimo relatam-nos sua desolação: "a morte repentina da virgem santa e venerável de Cristo me perturbou e mudou o meu tipo de vida".
     Eustáquio de Tours (r. 443–460) pode ter sido seu sobrinho, bem como é possível que Perpétuo (r. 460–490) e Volusiano (r. 491–498) foram seus parentes.
     Eustóquia não tinha culto na antiguidade: ela entrou nos martirológios bem recentemente. A Igreja celebra sua festa em 28 de setembro. Juntamente com sua santa mãe, Paula, ela é retratada como uma peregrina dos Lugares Santos.

Santa Paula e Santa Eustóquia
(*) Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, pp. 176.
(**) idem pp. 175-176

Fontes
www.santiebeati.it/dettaglio/72330;
Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1946, tomo I.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Beata Lúcia de Caltagirone – 26 de setembro


     Caltagirone é uma bela cidade na província de Catania, pitorescamente situada sobre três colinas e por isso é chamada “rainha dos montes”, conhecida sobretudo pela renomada cerâmica e porcelana.
     As informações sobre a Beata Lúcia seguem um costume comum dos Franciscanos dos primeiros séculos: as vidas de figuras veneráveis desta Ordem eram pouco documentadas. Um autor dos mais autorizados é o célebre irlandês Lucas Wadding, frade recoleto (1588-1657) que redigiu os Annales Minorum, onde incluiu uma Vita de Lúcia de Caltagirone.
    Lúcia nasceu no ano de 1360, nesta cidade da Sicília (Itália), filha de pais devotos e célebres. O céu a vigiava de um modo especial desde os primeiros anos. Quando tinha seis anos de idade, ela foi para o campo com sua mãe e lá subiu numa figueira para pegar figos. Como acontece com frequência na parte sul da Europa, uma tempestade surgiu de repente. Relâmpagos atingiram a árvore e a partiram. A criança caiu deitada no chão como se estivesse morta. Mas, de repente, um homem idoso apareceu ao lado dela, pegou-a e conduziu-a, como se nada tivesse acontecido, à casa para onde sua mãe havia fugido em busca de segurança. Na porta, Lúcia perguntou ao seu salvador quem ele era. Ele respondeu: “Eu sou São Nicolau, a quem seus pais honram de uma maneira especial; como recompensa, tomei você sob minha proteção especial”.
     Desde então, Lúcia passou a dedicar-se às obras de piedade. Sua maior alegria era tomar parte das cerimônias litúrgicas e ajudar os pobres.
     Lúcia tinha atingido a adolescência quando uma Terciária Franciscana de Salerno chegou à Caltagirone para visitar alguns parentes. Ela era motivo de edificação para todos. Lúcia se tornou companheira desta Terciária e depois se juntou à Ordem Terceira. Quando a jovem voltou para sua cidade natal, Lúcia foi com ela. A jovem recebeu Lúcia em sua própria casa como filha espiritual e, como resultado de sua orientação, Lúcia progrediu diariamente na perfeição. Ela levava uma vida de recolhimento e praticava rigorosa penitência. Ao mesmo tempo, ela era solidária e gentil com os pobres e doentes.
     Após a morte de sua amiga, que fora como uma mãe para ela, Lúcia entrou no convento das terciárias de Salerno. O convento franciscano que acolheu Lúcia muito provavelmente foi o de São Francisco próximo da igreja de São Nicolau, erigido em 1238 e supresso em 1809, após as leis napoleônicas.
     Como noviça Lúcia era um modelo de humildade e obediência. Ela se distinguia pela fiel prática de seus deveres e em especial pelo amor à penitência, com a qual se havia comprometido para expiar os pecados da humanidade, e sobretudo para uma participação mais íntima com as dores de Cristo. Dedicava muito tempo à oração, à meditação e à contemplação das coisas celestes. Flagelava seu corpo virginal com frequência; a terra lhe servia de leito; um pouco de pão e água eram seu sustento diário. Tinha especial devoção pelas Cinco Chagas de Nosso Senhor.
    Por algum tempo exerceu o ofício de mestra de noviças, função em que se empenhou na instrução das noviças.
     A fama de sua virtude se difundiu. Muitos recorriam a ela para pedir-lhe orações e conselhos. As pessoas vinham até ela das cidades vizinhas para pedir suas orações ou buscar conselhos. Ninguém em aflição a deixou sem ter sido consolado, e por conselho dela muitos pecadores se converteram e almas piedosas foram encorajadas a lutar por uma perfeição ainda maior.
     Deus confirmou sua santidade com prodígios. Havia chegado aos quarenta anos e já estava pronta para o céu. Sua vida austera, os prolongados e dolorosos sofrimentos minaram sua saúde. Depois de uma longa e dolorosa enfermidade, Lucia entrou nas alegrias do céu no dia 26 de setembro. Não é bem certo em que ano ela morreu, mas foi por volta do ano 1400. Seu corpo foi transladado para o Mosteiro beneditino de Santa Maria Madalena em Salerno, que também não mais existe.
     Os numerosos milagres que ocorreram em seu túmulo foram um amplo testemunho de sua santidade. Um grande número de olhos de prata foi deixado em seu túmulo, porque muitos que sofriam de doenças dos olhos, e até mesmo cegos, foram curados por sua intercessão.
     O culto e a veneração por ela foi se estendendo sempre em Salerno e nas regiões vizinhas. Inicialmente seu culto foi aprovado pelo Papa Calisto III, até que em 4 de junho de 1514 o Sumo Pontífice Leão X concedeu o Ofício e a Missa em sua honra, compostos tomando como exemplo os de Santa Clara.
     Lúcia precedeu de alguns séculos outras terciárias franciscanas célebres, como Santa Maria Francisca das Cinco Chagas (1715-1791) e a venerável Maria Crucifixa das Cinco Chagas (1782-1826) que como ela foram, em Nápoles, ponto de referência espiritual para gerações de fieis e de necessitados.

Caltagirone e sua cerâmica famosa
Fontes:
The Franciscan Book of Saints, Marion A. Habig, OFM
www.santiebeati.it/

Em 25/9/2015 este blog publicou pela 1ª. vez um post sobre esta Beata

domingo, 23 de setembro de 2018

Santa Ulpia Vitória, mártir venerada em Chiusi, Itália – 23 de setembro

    
     Desde 1634, foram encontradas em Chiusi as catacumbas de Santa Mustiola (século III); no ano de 1848, à estas catacumbas foram adicionadas as de Santa Catarina, localizadas sob uma colina, ao longo da Via Cassia. Destas catacumbas foram extraídos alguns "corpos santos", incluindo o de Ulpia. Seu túmulo foi localizado no canto da parede de fundo do cubículo, no ponto onde começa o corredor marcado com o número 10 no plano ligado a uma dissertação sobre o tema, realizada pelo arqueólogo Domenico Bartolini, em 10 de julho de 1852.
     Várias e discordantes foram as suposições feitas pelos diversos estudiosos sobre as origens, a época e as atividades realizadas em vida por esta suposta mártir. Em 4 de julho de 1852, um processo verbal foi escrito para a transladação das relíquias de Santa Ulpia, de São Quinto Velio Juliano, de São Luciano e S. Nerania das catacumbas de Catarina para a Catedral de Chiusi, enquanto o bispo, com seu decreto de 30 de junho de 1852, reconhecera a autenticidade das relíquias e tinha declarado pertencentes a estes mártires da fé cristã em Chiusi.
     O Papa Pio IX concedeu, com um Decreto da Congregação dos Ritos de 13 de junho 1853, a Missa solene a ser celebrada nos dias festivos destes santos mártires, deixando o bispo o poder de fixar a data. A festa foi inicialmente celebrada na quarta-feira de Pentecostes e só mais tarde foi marcada para o dia 23 de setembro. Durante o surto de cólera de 1855, Chiusi foi o único centro habitado da região que quase foi poupado da doença. Os habitantes atribuíram o fato à proteção de seus santos mártires e em particular de Santa Ulpia.

Aspectos da cidade de Chiusi

Etimologia: Ulpia, talvez derivado do nome masculino Ulpiano, do latim Ulpianus, derivado por sua vez de vulpis: “raposa”, alusão à astúcia.

Vitória, do latim Victoria: “deusa romana das vitórias”, mais tarde adquirindo um sentido cristão, alusão à vitória sobre o pecado. Também recebiam este nome as crianças nascidas na festa de Na. Sra. das Vitórias (lembrança da Batalha de Lepanto).

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Beata Maria Teresa de São José, fundadora das Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus – 20 de setembro

    
      Ana Maria Tauscher nasceu em Sandow, uma pequena cidade cerca de 100 km sudeste de Berlim (atualmente Polônia), no dia 19 de junho de 1855. O pai de Ana Maria, Herman Traugott Tauscher, um pastor protestante de alto cargo, exercia a profissão que era a mesma de seus antepassados desde a época de Martinho Lutero. Sua mãe, embora luterana, tinha um grande amor pela Santíssima Virgem, motivo pelo qual, em 24 de julho, quando sua filha foi batizada, colocou-lhe o nome de Ana Maria. O batismo foi administrado pelo avô, que também era luterano.
     Sua infância transcorreu de modo feliz e despreocupado. Em maio de 1862 seu pai foi nomeado superintendente em Arnswalde, e a família se mudou, tendo aumentado com o nascimento de outras meninas: Lisa e Madalena.
     Seu pai foi novamente transladado, desta vez para Berlim, em 1865. Ana Maria começou a sentir-se mal e devido sua saúde delicada e com vistas aos estudos, seus pais mandaram-na, com sua irmã Lisa, para um colégio para meninas situado no campo.
A pequena Ana Maria
     Durante a Páscoa de 1872 seu pai a fez voltar para casa para que recebesse a Confirmação. Foi uma grande prova para ela, porque se sentia cada vez mais distanciada do luteranismo.  Desde a idade de 15 anos, Ana Maria aspirava a uma verdade ainda mais profunda que aquela que lhe tinha sido transmitida através da sua educação luterana. 
     Aos 22 anos ela começou a ler quotidianamente a Sagrada Escritura e a Imitação de Cristo. Um dia, frente a alguns colegas de seu pai, ela defendeu mesmo a doutrina da infalibilidade pontifícia. Ela também acreditava na virgindade de Maria, sem nunca ter estado em contato com católicos, nem ter lido obras católicas.
     Sua mãe faleceu em 1874, com somente 45 anos de idade, e Ana Maria, abatida pela dor, teve que encarregar-se do cuidado da família. Cinco anos depois seu pai casou-se de novo e a eximiu dessa responsabilidade. Ela pode então realizar o desejo que cultivava há muito tempo: constituir uma associação de moças que se dedicassem a diversos trabalhos manuais para vende-las e assim ajudar as missões.
     Em fevereiro de 1886, estando em Berlim na casa de amigos, Ana Maria leu num jornal de Colônia um anúncio propondo um trabalho de enfermeira chefe num hospital psiquiátrico. No dia 6 de março de 1886, Ana Maria deixou Berlim para começar a trabalhar na clínica de Lindenburg.  
     Ela não tinha nenhuma experiência de enfermeira, mas sua entrega e seu amor quase maternal logo transformaram o asilo num autêntico Lar. À exceção do diretor, todas as pessoas da clínica de Lindenburg eram católicas. Um dos sacerdotes que visitava os doentes ofereceu-lhe um catecismo da Igreja Católica. E assim ela começou rapidamente a preparar, em segredo, a sua conversão.
     Quando Ana Maria fez a sua profissão de fé na Igreja Católica, em 30 de outubro de 1888, deixou para trás todo o seu passado. Desaprovada por seu pai, despedida do hospital de Lindenburg, Ana Maria colocou toda a sua confiança em Deus. Apesar de se ter proposto para vários empregos, ela não conseguia um outro trabalho, porque seu diretor tinha feito uma carta de recomendação pouco favorável. A partir de então, ela se viu sem trabalho e sem casa. Graças à ajuda de amigos católicos, Ana Maria foi recebida num convento, onde também eram cuidadas pessoas idosas. 
     Todas as tardes e todas as noites, Ana Maria vinha junto ao Senhor, frente ao altar do Santíssimo Sacramento, fortalecendo assim os laços que a uniam ao seu Divino Esposo. Continuava, no entanto, a sua séria procura de trabalho.
     Ana Maria desejava entrar numa ordem religiosa, mas tinha constantemente aquilo a que chamava “tentações do orgulho” de fundar a sua própria Congregação. Ela não podia partilhar com ninguém esta sua ideia. Esperava que entrando numa comunidade esta provação desaparecesse. Os seus confessores sabiam que Deus a chamava para o seu serviço, mas aconselharam-na a não entrar numa ordem já existente. Passados 10 meses, ela recebeu uma carta da Condessa de Savigny, uma católica fervorosa que vivia em Berlim, e que lhe propunha trabalho de dama de companhia. Apesar da sua tristeza à ideia de deixar Colônia, Ana Maria aceitou.
     Acompanhando a Condessa de Savigny nas suas viagens, Ana Maria começou a ler A Vida de Santa Teresa de Jesus, a grande santa reformadora do Carmelo no século XVI. A humildade de Teresa, o seu amor por Deus, o seu desejo ardente de salvar almas e o seu heroísmo correspondiam perfeitamente a Ana Maria. Desde então ela queria uma só coisa: entrar no Carmelo. Mas, uma vez mais o seu confessor a dissuadiu, e ela continuou a resistir à “sua tentação”. Quando o seu confessor partiu para as missões, Ana Maria procurou o conselho de um outro padre. As palavras dele foram libertadoras: “Pare de resistir à graça!” (A.p.98). 
Ana Maria jovem
   
Ana Maria começou desde logo a trabalhar naquilo para que se sentia chamada. Em Berlim, ela tinha presenciado o grande desespero das crianças sem casa. Colocou-se em contato com o Delegado Episcopal de Berlim e obteve autorização para abrir um Lar para crianças. Com 500 marcos que a Condessa lhe tinha dado em sinal de agradecimento, Ana Maria abriu o primeiro Lar São José, a 2 de agosto de 1891. Começou por instalar três crianças, uma educadora e uma empregada doméstica em alguns quartos de um prédio antigo, situado em “Pappelallee”. As crianças a chamavam “Mãe” e muito rapidamente passou a ser conhecida como “Mãe da Pappelallee”. Mas ainda faltava algo: a presença eucarística. Ana Maria não se cansava de rezar: “Senhor, se vierdes, eu venho também”. (A.p.111), e estava firmemente decidida a só se instalar no Lar São José quando o Santíssimo Sacramento aí estivesse presente.
     A Eucaristia se tinha tornado o centro da vida e do trabalho de Madre Maria Teresa de São José. “Deus inflamou o meu coração com tanta veemência de amor, que todo o sofrimento que a graça de Deus mais tarde me mandou, ou permitiu que caísse sobre mim, não me parecia mais que uma gota de água que cai em cima de um ferro incandescente”. (A.p.65)
     Com Jesus e por seu amor, ela estava pronta para tudo suportar, mas a sua ausência era para ela uma verdadeira tortura.
     Coração de Jesus, ninguém pode compreender como anseio por Vós. Ninguém é capaz de contar as lágrimas de desejo que chorei por Vós. Senhor, se vierdes, eu venho também!” (A.p.) Era esta a sua oração constante. Era a fonte que alimentava todas as suas atividades apostólicas.
     A 8 de dezembro de 1891, Cristo veio morar na “Pappelallee”. Para Ana Maria foi “o dia mais feliz da sua vida”.
     As nossas almas ganham vida nova na grande fonte de amor que é o SS. Sacramento e todos os dias se reacendem no fogo do Divino Amor que nunca descansa, mas que espalha ao redor de si as suas centelhas que são as obras de caridade em que Ele se consume”. (A.p.402)
     Em 1891, contemplando a beleza de um pôr-do-sol, ela compreendeu a razão de ser das suas fundações: “A consagração das Servas do Divino Coração de Jesus a: I – expiação dos pecados, II – Santificação pessoal, III – Salvação das almas” (A.p. 99).
     Ela conhecera o Carmelo através de Santa Teresa de Jesus e tinha encontrado no zelo e nas orações dos santos do Carmelo, que tinham oferecido suas vidas como vítimas de Amor pela salvação das almas e glória da Igreja, uma fonte de inspiração para a sua própria vocação. A sua Congregação deveria seguir a espiritualidade carmelita. Santa Teresa tinha aberto o caminho.
     A partir de novembro de 1896, Madre Maria Teresa e as jovens que a ela se uniram, cuidam das crianças e fazem missão nos domicílios, observando ao mesmo tempo a regra Primitiva da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
     Em 1897, mais de quarenta jovens já se tinham associado à obra de Madre Maria Teresa servindo nos Lares São José. Para além dos dois Lares de crianças em Berlim, havia ainda mais dois em Boêmia e um outro em Oldenburg. Em Berlim, ela abriu também um centro para os padres que trabalhavam ou estudavam nesta cidade. No entanto, Madre Maria Teresa não fundava os Lares São José para serem somente instituições sociais.
     Tal como a sua mãe espiritual, Santa Teresa de Jesus, a maior alegria da Madre Maria Teresa era a de ser filha da Igreja. A sua humildade era imensa ao se aperceber que Deus a tinha chamado a si, “uma filha do deserto”, para fundar uma comunidade religiosa, e para guiar outras mulheres já nascidas no seio da Igreja. Como uma verdadeira filha da Igreja, sempre se mostrou fiel e obedeceu aos bispos e aos ensinamentos da Igreja. A “voz do Bispo” representava para ela a “voz de Deus”, mesmo quando se tratava de encerrar um convento ou um Lar.
     Madre Maria Teresa viu a Igreja ser perseguida e devendo fazer face a inúmeros entraves. Em profunda união com o Sagrado Coração de Jesus, os sofrimentos e a glória do Corpo Místico de Cristo – a Igreja – tornam-se seus próprios sofrimentos e sua glória.
     Madre Maria Teresa esperava obter do Cardeal Kopp, Bispo de Breslau (de que Berlim dependia nessa altura), o reconhecimento da sua fundação como Congregação religiosa. Apesar de financiar o trabalho das Irmãs, o prelado continuou inflexível e recusou a aprovação canônica da Congregação.
     Madre Maria Teresa decidiu ir procurar ajuda em Roma. Lá, encontrou o Padre Geral da Ordem do Carmelo e expôs-lhe o seu desejo de reunir numa mesma espiritualidade os dois aspectos do espírito do Carmelo – oração contemplativa e zelo apostólico - para responder às necessidades da época. Esta iniciativa entusiasmou de tal maneira o Superior Geral que ele abençoou o seu escapulário e a ajudou a obter uma carta de recomendação do Cardeal Parocchi, protetor da Ordem do Carmelo.
     Contudo, devido a situação tensa vivida na Igreja da Alemanha, o Cardeal Kopp continuou a recusar considerar como religiosas as irmãs que trabalhavam nos Lares São José. Madre Maria Teresa começou a procura de um bispo que aceitasse receber as suas noviças e criar uma Casa Mãe em sua diocese. Durante seis anos viajou desde a Baviera até à Holanda, passando pela Inglaterra e pela Itália. Finalmente, em 1904, em Rocca di Papa, Itália, surge a Casa Mãe. Aí se manteve durante 18 anos, tendo sido transferida para Sittard depois da 1ª. Guerra Mundial.
     Em Berlim, muitos padres e outros católicos criticaram severamente Madre Maria Teresa no seu desejo de criar uma nova Congregação religiosa. As jovens que tinham intenção de entrar para a comunidade, ou ajudá-la, eram constantemente dissuadidas. A calúnia e a difamação dos opositores pareciam vir de todo o lado, onde quer que Madre Maria Teresa se instalasse. Mas nunca ela retorquiu dizendo mal deles. Durante todos esses anos, teve que enfrentar a solidão, o afastamento da sua família, a doença e a pobreza.
     O sofrimento tinha-se tornado para Madre Maria Teresa uma fonte de alegria profunda, pois era um meio que ela utilizava para unir sua alma a Deus, e para, com o Salvador, participar na redenção do mundo.
     Ao fundar as Carmelitas do Divino Coração de Jesus, Madre Maria Teresa entregou-se inteiramente a Deus como vítima do seu amor. Passou a sua vida servindo os pobres e rezando, trabalhando e sofrendo pela salvação das almas e pela liberdade da Igreja. Em 1930, o trabalho e o sacrifício de Madre Maria Teresa foram coroados pela aprovação de sua Congregação pelo Papa Pio XI.
     Madre Maria Teresa percorreu a Europa e os Estados Unidos para fundar os Lares para as crianças, e mais tarde os Lares para os idosos. Os últimos anos de sua vida passou-os em Sittard (Países Baixos), dirigindo a Congregação a partir da Casa Mãe, aí estabelecida desde 1922.
     Apesar de muito enfraquecida fisicamente e quase cega, passava largas horas em oração, de joelhos, frente ao Santíssimo Sacramento e continuou sempre meiga e atenciosa para com as suas Irmãs.
     Antes de morrer, a 20 de setembro de 1938, deixou às suas Irmãs, como sendo sua última vontade e testamento, uma linda declaração: “Tudo o que Deus faz é bem feito. Seja sempre louvado e exaltado o Senhor” (A.P. 445).
     Na noite em que morreu, Madre Maria Teresa pediu que lhe trouxessem o crucifixo que a tinha acompanhado durante todas as suas viagens. Desde esse momento e até seu último suspiro não mais o largou. Durante toda a noite, só teve uma oração: “Tenho de voltar à casa do pai! Deixem-me ir para a casa!” (A.p. 445).
     Madre Maria Teresa de São José foi beatificada a 13 de maio de 2006.