terça-feira, 28 de novembro de 2017

Nossa Senhora das Dores de Kibeho, África - 28 de novembro

As três videntes de Nossa Senhora: Afonsina, Maria Clara e Natalia.

     Nossa Senhora das Dores apareceu a três jovens, Afonsina Mumureke, Natália Mukamazimpaka e Maria Clara Mukangango entre 1981 e 1982, em Kibeho, Ruanda, centro da África. Foi a primeira aparição da Virgem Maria no continenteafricano reconhecida por autoridades da Igreja Católica.
     No final de 1981, Kibeho era apenas uma das pequenas aldeias pertencentes à diocese de Gikongoro. Nela havia um colégio fundado e dirigido por três Irmãs católicas, onde jovens ruandesas estudavam para serem secretárias ou professoras primárias. Como não se tratava de colégio para formação de religiosas, ali não se vivia um clima particular de devoção, pois sequer possuía uma capela. Podemos entender aí o fundamento das aparições de Maria Santíssima.
     No almoço do dia 28 de novembro deste ano, Afonsina, de dezesseis anos, estava servindo suas colegas no refeitório quando ouviu nitidamente uma voz que a chamava: “Minha filha, venha até aqui”. A voz procedia do corredor, no fundo da sala de refeições. Afonsina foi até lá e viu, pela primeira vez, a Senhora. Assustada, Afonsina, pediu à desconhecida que fosse embora. A Santíssima Virgem então se apresentou no dialeto ruandês: “Ndi Nyina Wa Jambo”, isto é, “Eu sou a Mãe do Verbo. O que você busca na religião?” Respondeu a estudante: “Eu amo a Deus e a sua Mãe, que nos deu seu Filho para nos salvar”. A Senhora respondeu: “É por isso que estou aqui. Vim para te consolar, porque ouvi as suas preces. Eu gostaria que suas amigas tivessem mais fé, pois elas não creem o suficiente”.
      A estudante contou todo o ocorrido às religiosas e às colegas, mas ninguém lhe deu crédito. Como as aparições continuaram, Afonsina acabou passando por histérica. Sofrendo com essa situação, numa das visões ela pediu à Mãe que aparecesse ao menos às suas amigas, Natália e Maria Clara.
     Assim no dia 12 de janeiro de 1982, a Virgem apareceu para Natália. Depois para a Maria Clara, esta com vinte e um anos e a mais descrente. Só então as mensagens foram aceitas. Elas pediam a verdadeira conversão dos cristãos, através de muita oração, penitência e jejum.
     Mas foi a descrição da última aparição, em 15 de agosto de 1982, que possibilitou verificar sua autenticidade, porque depois se confirmou como terrível realidade. Nesta, Nossa Senhora apareceu para as três videntes juntas e lhes mostrou cenas impressionantes que enchiam de dor seu Imaculado Coração. Era um verdadeiro mar de sangue, pessoas que se matavam entre si, cadáveres abandonados sem sepultura... As imagens eram a antecipação da guerra civil deflagrada entre abril e julho de 1994, quando Ruanda viveu seu próprio genocídio.
     Os povos tutsis e hutus, lutaram um contra o outro, causando a morte de oitocentas mil pessoas. Muitas foram decapitadas e atirados ao rio Kagera que se tingiu de sangue. Milhares de pessoas ficaram mutiladas.
     Maria Clara se casou em 22 agosto de 1987 e vivia em Kigali com o marido, mas não tiveram filhos. Em Byumba, durante o genocídio de 1994, Maria Clara foi assassinada junto a outras pessoas ao tentar defender seu marido.
     Afonsina entrou para a Ordem de Santa Clara em Abidjan, Costa do Marfim, onde mora atualmente. Natalia mora ainda em Kibeho e atende aos peregrinos com muita delicadeza e humildade.
     Depois de vários anos de estudos, por parte da comissão médica e teológica, no dia 29 de junho de 2001 as aparições foram reconhecidas oficialmente pela autoridade eclesiástica local. O anúncio foi feito durante a celebração de missa pelo arcebispo de Gikongoro, Monsenhor Augustín Misago, segundo documento divulgado pela Santa Sé. A Igreja ruandesa havia decidido, em 1998, a autorizar o culto à Virgem no “Santuário de Nossa Senhora das Dores”.
     No dia 31 de maio de 2003, às dez horas da manhã, estava o Prefeito da Congregação para a evangelização dos povos, enviado do Papa, formalizando a consagração do Santuário à Nossa Senhora das Dores de Kibeho, através da missa solene realizada com a presença de todos os Bispos ruandeses, quando diante de todos os fiéis se repetiu o fenômeno da dança do sol, como em Fátima, no dia 13 de outubro de 1917. Ele durou oito minutos e foi filmado e fotografado por repórteres profissionais e amadores.
     Informado e depois de ver todos os documentos, o Papa João Paulo II declarou: “Nossa
Senhora das Dores de Kibeho é a Fátima do coração da África”.

A Mensagem (algumas apenas, pois elas foram muitas)
     Nossa Senhora tinha incomparável beleza. Ela estava descalça, seu vestido era branco luminoso e tinha um véu azul na cabeça, as mãos estavam postas. Além de sinais no céu, no sol e curas milagrosas, as videntes ficavam em êxtase total. Enquanto as estudantes viam Nossa Senhora, as pessoas presentes tentavam balançá-las, chamá-las, mas não reagiam nem se incomodavam.
     Fortes flashes de luzes foram colocados nos olhos das videntes durante as aparições e suas pupilas não se moveram. Nenhum olho humano consegue olhar fixamente o céu ensolarado ou nublado durante muitos minutos. Várias aparições foram à tarde, enquanto as videntes olhavam para o céu no pátio durante mais de 1 hora de aparição, algo inexplicável diante de todos os presentes.
     Padres, religiosas, autoridades civis e milhares de romeiros testemunharam os milagres solares que aconteceram algumas vezes: o sol deslocava-se para os lados e também na vertical, listras vermelhas e brancas surgiam em sua superfície, ficava azulado e era possível fita-lo por longos minutos a olho nu. O céu por sobre o povoado ficava “pintado” por raios multicoloridos. Também à noite as estrelas se moviam rapidamente, como se dançassem, depois desapareciam e no lugar delas surgiam cruzes luminosas.
     Nossa Senhora deu muitas mensagens e mostrou muitas coisas como o Céu, Inferno, Purgatório, Paixão de Jesus, vida espiritual do mundo e futuro para as videntes.
     A mensagem de Santíssima Virgem em Kibeho tem como essência a penitência e a conversão, como preparação para a segunda vinda de seu filho Jesus Cristo. Como em outras aparições, em Kibeho Nossa Senhora pediu insistentemente que rezássemos o Rosário. No entanto, ela pediu também que rezemos o Terço das Sete Dores, meditando os seus sofrimentos, não somente na Quaresma, mas em todos os tempos litúrgicos da Igreja. Às pessoas que rezarem com fidelidade e devoção este Terço, a Virgem Maria prometeu milagres e graças especiais.

     Mensagem de 13/3/1982 a Natalia: “Meu desejo é que vocês orem sem cessar, com todo o seu coração, e que queiram chamar-me. Então, vocês realmente se tornarão meus filhos”.
     Mensagem de 27/3/1982 a Maria Clara: “Quem me procura, me encontra! Eu me revelo onde quero, quando quero e a quem quero. Eu não venho somente para a paróquia de Kibeho, ou para Ruanda, ou para toda a África, mas para o mundo inteiro”.
     Mensagem de 2/4/1982, a Maria Clara: “Arrependam-se, arrependam-se, arrependam-se! Quando falo isto, não peço apenas para você, mas para todos. Hoje as pessoas estão vazias e se preocupam com coisas sem sentido. Elas cometem faltas e não reconhecem que estão erradas. Rezem o Terço das Sete Dores para obterem a contrição de suas faltas”.
     Mensagem de 15/4/1982, Nossa Senhora disse chorando à Natalia: “O mundo vai mal. Se não fizerem nada para se arrepender e renunciar a seus pecados, ai de vocês! É exatamente isto que continua a me fazer mal, pois desejo salvá-los de um abismo, para que não caiam, mas vocês recusam. Por isso, redobrem o zelo pela oração em favor do mundo para que os pecados diminuam e sejam perdoados àqueles que desejarem. Como posso ficar contente quando vejo meus filhos brincarem a ponto de caírem num abismo e se perderem? Venho até vocês para lhes comunicar uma mensagem que os chama novamente àquilo que esqueceram, mas recusam a acolhê-la. Neste momento eu sofro muito, mas suporto tudo com paciência”.

          Mensagem de 25/6/1982: Nossa Senhora apareceu cheia de dor e lágrimas a Afonsina: “Se choro é porque as pessoas estão num estado tão crítico que eu não posso conter as lágrimas de compaixão por vocês. Eu abri a porta, mas as pessoas não têm vontade de entrar. Vi que o mundo estava quase moribundo, e quando venho em seu socorro, vocês recusam. Não se preocupe, minha filha! Eles desejarão sentir aquilo que te digo para dizer a eles quando for muito tarde e não terão nada para se salvar. E todos aqueles que não tratam de escutar a mensagem que eu transmito, o que ainda aguardam? O que aguardam? Não se dão conta que o tempo é breve?
     Mensagem de 1982: “Vim preparar o caminho do meu Filho para o bem de vocês, e não querem compreender. O tempo que resta é pouco, e vocês estão distraídos e ausentes. Vocês estão concentrados nas coisas mundanas que são passageiras. Vi muitos filhos se perderem e vim mostrar o caminho verdadeiro”.
     Mensagem de 19/8/1982: Nossa Senhora apareceu chorando e mostrou “um rio de sangue, pessoas que matavam umas às outras, cadáveres abandonados sem sepulturas, árvores em chamas, corpos sem cabeças”. E disse: “Virá um tempo em que desejarão rezar, se arrepender e obedecer sem a possibilidade de fazê-lo, a menos que comecem a fazê-lo agora neste momento, arrependendo-se e fazendo tudo aquilo que peço”. [...]
     Meus filhos, estou para lhes dizer adeus. Eu os amo, amo, amo muito! Mas ai de quem se mostra indiferente a este amor que agora lhes prometi e expressei. Vim por vocês! Porque vocês tinham necessidade disto. Adeus”.
Na. Sra. de Kibeho


sábado, 25 de novembro de 2017

Nossa Senhora da Medalha Milagrosa – 27 de novembro

     Com agrado escrevo aos meus caros leitores de Catolicismo algumas palavras sobre a Medalha Milagrosa.
     Sua história começa no início do século passado, em 1806, quando a Providência faz nascer na Borgonha (França) uma menina, que recebe o nome de Catarina Labouré, destinada a representar um grande papel em seu tempo e nos séculos futuros.  
    Aos nove anos Catarina perde sua mãe. Chorando muito, sobe ela então em um móvel, onde havia uma imagem de Nossa Senhora e declara abraçando a imagem: "Agora, vós sereis minha mãe". E Maria Santíssima, correspondendo a tanto afeto por Ela mesma inspirado, tornou-se de modo especial mãe de Catarina.
     Aos 23 anos, vitoriosa ante todas as tentativas paternas de afastá-la dos caminhos que Deus lhe traçara, Catarina obteve autorização para entrar como postulante na casa das Filhas da Caridade de Châtillon-sur-Seine.
     Três meses depois, no dia 21 de abril de 1830, transpôs pela primeira vez os umbrais do noviciado das Filhas da Caridade, na Rue du Bac, em Paris.
1ª. Aparição de Nossa Senhora
     Em julho do mesmo ano, Catarina vê pela primeira vez a Rainha do Céu e da Terra. Transcrevo a seguir as palavras dela, extraídas de seu manuscrito:
     "Enfim, às onze e meia da noite, ouvi que me chamavam pelo nome: `Minha irmã! Minha irmã!' Acordando, corro a cortina e vejo um menino de quatro a cinco anos vestido de branco que me diz: `Vinde à Capela; a Santíssima Virgem vos espera'. ...
     "Ali se passou o momento mais doce de minha vida. Ser-me-ia impossível exprimir tudo o que senti. Ela disse: ... `Minha filha, o bom Deus quer encarregar-vos de uma missão. Tereis muito que sofrer, mas superareis estes sofrimentos pensando que o fareis para a glória do bom Deus. ... Sereis contraditada, mas tereis a graça; não temais. ... Sereis inspirada em vossas orações".
2ª. Aparição de Nossa Senhora: a Medalha Milagrosa
     Quatro meses haviam transcorrido desde a primeira aparição de Nossa Senhora, que deixara em Santa Catarina profundas saudades e um imenso desejo de rever a Mãe de Deus. Eis como, em seus manuscritos, a própria noviça das Filhas da Caridade narra a segunda aparição:
     "No dia 27 de novembro de 1830 ... vi a Santíssima Virgem, de estatura média, estava de pé, trajando um vestido de seda branco-aurora feito à maneira que se chama à la Vierge, afogado, mangas lisas, com um véu branco que Lhe cobria a cabeça e descia de cada lado até embaixo. Sob o véu, vi os cabelos lisos repartidos ao meio e por cima uma renda de mais ou menos três centímetros de altura, sem franzido, isto é, apoiada ligeiramente sobre os cabelos. O rosto bastante descoberto, os pés apoiados sobre meia esfera, e tendo nas mãos uma esfera de ouro, que representava o Globo. Ela tinha as mãos elevadas à altura do estômago de uma maneira muito natural, e os olhos elevados para o Céu... Aqui seu rosto era magnificamente belo. Eu não saberia descrevê-lo... E depois, de repente, percebi nesses dedos anéis revestidos de pedras, umas mais belas que as outras, umas maiores e outras menores, que lançavam raios cada qual mais belo que os outros. Partiam das pedras maiores os mais belos raios, sempre alargando para baixo, o que enchia toda a parte de baixo. Eu não via mais os seus pés... Nesse momento em que estava a contemplá-La, a Santíssima Virgem baixou os olhos, fitando-me. Uma Voz se fez ouvir, dizendo-me estas palavras:
     - 'A esfera que vedes representa o mundo inteiro, particularmente a França... e cada pessoa em particular...`
     "Aqui eu não sei exprimir o que senti e o que vi, a beleza e o fulgor, os raios tão belos...
     - 'É o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que mas pedem', fazendo-me compreender quanto é agradável rezar à Santíssima Virgem e quanto Ela é generosa para com as pessoas que a Ela rezam, quantas graças concede às pessoas que Lhas rogam, que alegria Ela sente concedendo-as... Nesse momento formou-se um quadro em torno da Santíssima Virgem, um pouco oval, onde havia no alto estas palavras: `s Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós', escritas em letras de ouro. ... Então, uma voz se fez ouvir, que me disse: `Fazei, fazei cunhar uma medalha com este modelo. Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a usarem com confiança...'
     "Nesse instante, o quadro me pareceu se voltar, onde vi o reverso da medalha. Preocupada em saber o que era preciso pôr do lado reverso da medalha, após muitas orações, um dia, na meditação, pareceu-me ouvir uma voz que me dizia: `O M e os dois Corações dizem o suficiente'".
3ª. Aparição de Nossa Senhora
     Poucos dias depois, em dezembro de 1830, a Santíssima Virgem visita Catarina pela terceira e última vez. É com o mesmo vestido cor de aurora e com o mesmo véu que a Virgem Maria se faz ver, segurando novamente um globo de ouro encimado por uma pequena cruz. Dos mesmos anéis ornados de pedras preciosas jorra, com intensidades diversas, a mesma luz:
     "Dizer-vos o que senti e tudo quanto compreendi no momento em que a Santíssima Virgem oferecia o Globo a Nosso Senhor é impossível de exprimir.
     "Como estivesse ocupada em contemplar a Santíssima Virgem, uma voz se fez ouvir no fundo de meu coração: `Estes raios são símbolo das graças que a Santíssima Virgem obtém para as pessoas que Lhas pedem'. Essas linhas devem ser colocadas como legenda embaixo da Santíssima Virgem.
     "Estava eu cheia de bons sentimentos, quando tudo desapareceu como algo que se apaga; e eu fiquei repleta de alegria e consolação".
     Encerrava-se assim o ciclo das aparições da Santíssima Virgem a Santa Catarina, que recebe, no entanto, uma consoladora mensagem: "Minha filha, doravante não mais me vereis, porém ouvireis minha voz durante vossas orações".
     Mas o confessor de Santa Catarina, Pe. Aladel, a quem ela tudo relata, mostra-se frio e incrédulo, considerando-a sonhadora, visionária, alucinada.
     Por fim, depois de consultar o Arcebispo de Paris, que o encoraja a levar adiante o empreendimento, o Pe. Aladel encomenda, em 1832, as primeiras 20.000 medalhas.
Medalha Milagrosa: primeiros prodígios
     As Medalhas Milagrosas iniciaram seu esplendoroso cortejo de milagres durante a epidemia de cólera havida na França naquele mesmo ano. Seguem um exemplo de milagre na ordem da natureza e outro na ordem da graça, ou espiritual, ambos bastante significativos:
     * Na diocese de Meaux, uma senhora atingida pela cólera, já desenganada, e às vésperas de dar à luz, recebe uma Medalha Milagrosa: nasce uma bela e saudável criança, e sua mãe vê-se totalmente curada.
     * Prestes a falecer, um militar de Alençon respondia com blasfêmias e insultos a todos os incitamentos à conversão que lhe dirigiam o capelão e as religiosas: "O vosso Deus não gosta dos franceses: dizeis que Ele é bom e me ama, mas se assim fosse como deixar-me-ia sofrer deste modo? Não preciso de vossos conselhos, nem de vossos sermões".
     À medida que se aproximava a morte, multiplicavam-se as imprecações. Quando ninguém mais esperava sua conversão, seis dias depois de uma freira haver prendido ao leito, sem que ele o percebesse, uma Medalha Milagrosa, o militar declara: "Não quero morrer no estado em que me encontro; peçam ao padre que faça o favor de ouvir-me em confissão".
     E em meio a terríveis tormentos, morre com serenidade afirmando: "O que me causa pesar é haver amado tão tarde, e não amar muito mais".
     Esses fatos nos ensinam que a Medalha deve ser usada não somente para pedir benefícios de ordem material, mas principalmente para pedir graças de conversão, de santificação própria ou de outras pessoas, mudanças de comportamento, abandono de vícios e de situações pecaminosas, etc., enfim tudo aquilo que parece difícil, e até quase impossível, mas que pode ser alcançado pelo recurso ao poder da Virgem, através do uso devoto, humilde e confiante de Sua Milagrosa Medalha.
     E a oração que Ela certamente recebe com muito agrado, feita por aqueles que trazem consigo esta medalha de tantas graças, é a jaculatória nela gravada, e que Nossa Senhora mesma se dignou ensinar-nos, para que a rezemos muitas vezes ao dia:
     "Oh Maria Concebida Sem Pecado, Rogai Por Nós Que Recorremos A Vós!

                                                                              Sta. Catarina Labouré
Mons. José Luiz Villac

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Isabel, a Católica, rainha que empreendeu uma cruzada – 26 de novembro


Figura feminina extraordinária a muitos títulos, essa soberana exerceu papel decisivo na História da Espanha e de toda a Cristandade por seu espírito de cruzada contra o poder muçulmano da época

José Maria dos Santos

     Muito foi escrito sobre esta soberana cujo processo de canonização está em andamento. Seguem algumas pinceladas de sua extraordinária existência, ressaltando do seu aspecto guerreiro e espírito de cruzada, o que é possível transmitir num simples artigo.
Filha de João II, Rei de Castela, e sua segunda esposa, nasceu Isabel a 22 de abril de 1451 na pequena cidade de Madrigal. Aquela que seria a última mulher cruzada descendia, tanto pelo lado paterno quanto pelo materno, de dois reis santos e cruzados: São Luís IX, da França, e seu primo São Fernando III, de Castela.
     Falecendo o pai quando sua idade era pouco mais de três anos, foi educada piedosamente pela mãe, juntamente com seu irmão menor Afonso. “Bordava telas e casulas, costurava roupas para os pobres, aprendia a fiar como as mulheres do povo. Tecia sedas, urdia e confeccionava tapetes com assombrosa habilidade”. (1) Aos 11 anos foi levada com Afonso por Henrique IV, seu meio-irmão, para a corte castelhana, considerada então a mais corrompida da Europa.
Na corte castelhana, dois partidos em disputa  
    Na corte castelhana, “a princesinha estudava música, pintura, poesia, costura e gramática. Cada dia passava muito tempo em oração pedindo a Deus que os guardasse, a ela e a Afonso, livres de todo pecado; e especialmente invocava a Bem-aventurada Virgem, São João Evangelista e o apóstolo São Tiago, patrono de Castela”. (2)
     Pela fraqueza dos reis castelhanos, “nesse período [os nobres] tinham chegado ao ponto de despojar completamente o trono de sua autoridade. Aproveitavam-se da incrível imbecilidade de Henrique IV e das escandalosas relações entre Joana de Portugal, sua segunda mulher, e seu favorito Beltran de la Cueva”, (3) a quem atribuíam a paternidade da infanta Joana, por isso cognominada la Beltraneja.
     Com a chegada dos jovens príncipes, formaram-se logo na corte dois partidos: um que defendia a legitimidade destes ao trono, e outro que defendia a da Beltraneja. O primeiro partido tornou-se tão poderoso, que obteve do fraco rei que reconhecesse Afonso e Isabel como seus legítimos herdeiros.
     Falecendo o príncipe Afonso, o partido de Isabel quis aclamá-la rainha no lugar de Henrique IV. “Nessa ocasião, Isabel deu uma das primeiras provas de suas grandes qualidades, recusando a coroa usurpada que lhe era oferecida, e declarando que nunca, enquanto seu irmão vivesse, aceitaria ela o título de rainha”. (4)
     Aos 18 anos, Isabel casou-se secretamente com o herdeiro da coroa de Aragão, o príncipe D. Fernando, para evitar as tratativas que seu irmão fazia para casá-la com outro pretendente.
Assume as rédeas do governo e reconstrói o país
     Isabel assumiu o governo aos 23 anos, à morte de Henrique IV. Com sua energia, e acompanhada de seu marido Fernando, foi obtendo a adesão de cada cidade para sua causa. Mas o Rei de Portugal, Afonso V, querendo assenhorear-se de Castela, entrou no país para casar-se com a Beltraneja, a qual, afirmava ele, era a legítima herdeira do trono. Vários potentados castelhanos tomaram seu partido, aliando-se a ele. A alternativa para Isabel era ceder, ou então guerrear. E ela não cedia num ponto em que julgava estar inteiramente com a razão. Assim, apesar de estar esperando um segundo filho, pôs a cota de malhas e, a cavalo, foi recrutando gente em todas as suas cidades, enquanto Fernando fazia o mesmo em Aragão. Habilíssimo general e grande estrategista, Fernando obteve retumbante vitória sobre o soberano português, consolidando assim Isabel no trono.
     Triste foi a herança que recebeu Isabel de seu fraco e imoral meio-irmão. “As indústrias quebravam, a moeda andava escassa, centenas de cidades desafiavam sua autoridade sob o mando de prefeitos que se criam reis delas, o povo morria de fome e de epidemias. A Igreja necessitava de reforma, o governo existia só de nome, e por todas as partes os camponeses estavam oprimidos por bandos de ladrões”. (5)
     Os jovens soberanos entregaram-se com energia à tarefa de reconstruir o país. Começaram a reprimir severamente os abusos e aplicar a justiça contra quem quer que fosse. Fizeram reviver, para isso, a Santa Irmandade, força de voluntários que servia de polícia local, com jurisdição sobre assassinatos, atos de violência, rapina, atentados a mulheres e desobediência às leis e aos magistrados. Isabel obteve do Papa a instauração da Santa Inquisição em Castela para pôr fim aos abusos, na esfera religiosa, principalmente de cristãos-novos (judeus convertidos), muitos dos quais tinham fé duvidosa e utilizavam a usura para pressionar os cristãos.
     Isabel era muito ciosa de sua autoridade como rainha. Por isso, em 1475 firmou com seu esposo o acordo denominado Concórdia de Segóvia, pelo qual recebeu o título de Rainha e proprietária de Castela, e seu esposo o de rei consorte. “Desde esse momento os esposos formam um bloco impossível de dividir, e com essa firmeza podem fazer frente ao estalido da guerra”. (6)
A cruzada contra os infiéis maometanos
     Um dos maiores empenhos que Isabel teve em seu reinado foi mover a guerra santa contra o invasor muçulmano. Para esse empreendimento, obteve do Papa as mesmas indulgências de Cruzada concedidas aos que iam lutar na Terra Santa, tendo o Sumo Pontífice lhe enviado uma cruz de prata para ir à frente de seus exércitos.
     Nas várias campanhas que encetou, e sobretudo na reconquista de Granada, Isabel arrebatava seus soldados por sua energia sobre-humana, senso do dever e espírito sobrenatural. Estes “criam que ela era uma santa. Como Santa Joana d’Arc, sempre lhes recomendava viver honestamente e falar bem. Não havia nem blasfêmias nem obscenidades no acampamento onde ela se achava, e viam-se curtidos soldados ajoelhar-se para rezar, enquanto se celebrava a missa ao ar livre por ordem da piedosa rainha”. (7)
     A presença da soberana era para os guerreiros como uma garantia de vitória, pois lhes inspirava valor e confiança. Até os mouros admiravam a grande rainha, cantando sua bondade e beleza em suas canções, apesar de a temerem como inimiga.
     Enquanto Fernando, um dos melhores guerreiros de sua época, comandava o exército, a rainha cuidava de toda a retaguarda, como recrutamento de reforços, envio de alimentos e munições, bem como projetava os hospitais — foi ela quem instituiu o primeiro hospital militar da História, e suas enfermeiras precederam as da Cruz Vermelha em mais de trezentos anos. Cavalgava de um lugar a outro, indo mesmo aos acampamentos revestida de leve armadura de aço, para elevar o moral dos soldados. Mas essa rainha guerreira fazia questão de ela mesma costurar a roupa de seu marido, nunca usando o monarca outras senão as confeccionadas pelas hábeis mãos de Isabel ou de suas filhas.
Título glorioso de “Reis Católicos”
     Um fato mostra a têmpera dessa rainha. No cerco de Granada, uma vela mal colocada ateou fogo na tenda ao lado da rainha, e desta propagou-se para todo o acampamento, que foi tomado pelas chamas. Os mouros, das muralhas, cantavam vitória. Mas a enérgica soberana, para mostrar sua determinação de conquistar a cidade, mandou edificar novo acampamento de pedra, surgindo assim uma verdadeira cidade à qual deu o nome de Santa Fé. Foi de lá que partiram as investidas contra Granada, obtendo-se sua capitulação.
O Papa Alexandre VI concedeu ao real casal, por seus serviços em prol da Cristandade, o título de Reis Católicos, em harmonia com o de Rei Cristianíssimo, concedido anteriormente ao monarca francês.
     A política matrimonial que seguiram os Reis Católicos teve como intuito isolar a França, sua grande rival na época. Mas não tiveram felicidade com seus filhos. A primogênita, também chamada Isabel, casou-se com o jovem príncipe português Afonso e, ao enviuvar precocemente, contraiu matrimônio com o seu herdeiro Dom Manuel, o Venturoso. O príncipe João casar-se-ia com Margarida de Áustria, filha do Imperador Maximiliano I, mas morreria jovem. Joana, que entrará para a História como Joana a Louca, contraiu matrimônio com Felipe de Áustria, o Formoso, e tornou-se herdeira do trono que passou para seu filho, o futuro Carlos V. Maria casa-se com seu cunhado, o viúvo Dom Manuel, e Catarina será a desafortunada esposa do lúbrico Henrique VIII, da Inglaterra. 
    “O bom governo dos soberanos católicos levou a prosperidade da Espanha ao seu apogeu e inaugurou a Idade de Ouro do país”. (8)
     Três meses após a conquista de Granada, Isabel assinou uma ordem de expulsão dos judeus de seus territórios; e favoreceu a empresa de Cristóvão Colombo, que descobriria assim a América.
     A morte desta grande rainha foi muito lamentada pelos seus contemporâneos. Um deles deixou este depoimento: “O mundo perdeu seu adorno mais nobre; uma perda que deve chorar não somente a Espanha, que ela já não levará mais no caminho da glória, mas todas as nações da Cristandade, porque ela era o espelho de todas as virtudes, o amparo do inocente e o sabre vingador do culpado. Não conheço ninguém de seu sexo, nos tempos antigos nem nos modernos, que, a meu juízo, possa equiparar-se com esta mulher incomparável”. (9)
A Soberana no leito de morte dita seu testamento (Rosales)

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Notas:
1. Luís Amador Sanchez, Isabel, a Católica, tradução de Mario Donato, Empresa Gráfica O Cruzeiro S. A., Rio de Janeiro, 1945, p. 55.
2. William Thomas Walsh, Isabel de España, tradução castelhana de Alberto de Mestas, Cultura Española, 1938, p. 49.
3. Ramón Ruiz Amado, DO, The Catholic Encyclopedia, Vol. VIII, transcrito por WGKofron, copyright © 1910 de Robert Appleton Company, online edition copyright © 1999 by Kevin Knight. 4. Id. ibid.
5. William Thomas Walsh, op.cit., p. 171.
6. (Site: www.artehistoria.com, Protagonistas de la História, Isabel la Católica.)
7. Walsh, op.cit., p. 160.
8. The Catholic Encyclopedia, online edition.
9. Carta de Pedro Mártir, um dos secretários da rainha, comunicando a morte de Isabel ao Arcebispo Talavera, in William Thomas Walsh, Isabel de España, p. 599.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Beata Maria Cecília Cendoya y Araquistain, virgem e mártir – 23 de novembro

Martirológio Romano: Em Madrid, capital de Espanha, Beata Maria Cecília (Maria Felicidade) Cendoya y Araquistain, virgem, da Ordem da Visitação de Santa Maria, e mártir, que, na grande perseguição, ao ver que suas irmãs haviam sido presas, se entregou espontaneamente na mesma noite aos milicianos, e ao lado delas confirmou o testemunho de sua fé com o supremo sacrifício da vida († 1936).

     A pequena Maria Felicidade fez sua entrada na vida no lar católico de Antônio Cendoya e Isabel Araquistain no dia 10 de janeiro de 1910, em Azpeitia (Guipúzcoa), Navarra. Cresceu feliz ao lado de suas irmãs. Seus pais imprimiram no coração de suas filhas o santo temor de Deus e uma sólida piedade.
     Embora tivesse um temperamento muito vivo, seu amor a Maria Santíssima fez com que pudesse superar seu temperamento para ser religiosa, como desejava. Sua mãe dizia que ela possuía algo diferente das demais, mas quando ela manifestou o desejo de ser religiosa, ela lhe disse: “Você monja, com esse gênio?... Você tem que corrigir esse gênio se quiser ser monja”. E sua mãe dizia que ela mudou desde aquele momento.
     Decidida e alegre, aos 20 anos ingressou no Primeiro Mosteiro da Visitação de Madrid, em 9 de outubro de 1930. Em sua tomada de hábito recebeu o nome de Maria Cecília. Seu temperamento vivo contrastava com seu caráter amável, simples, humilde, abnegado e muito serviçal. “Era o Anjo das pequenas práticas”, costumava dizer as Irmãs.
     Desde o princípio sofreu todas as consequências da perseguição religiosa: distúrbios, queimas de igrejas e conventos, dispersão de sua comunidade, etc. Ela teve muitas oportunidades de voltar para sua família, mas por amor a Jesus e a sua vocação nunca aceitou as propostas e sempre dizia com grande firmeza que por nada neste mundo deixaria o convento.
     Era simples, humilde. Tímida, costumava cantar para Nossa Senhora enquanto trabalhava. Se distinguia por sua fidelidade, espírito de recolhimento e de mortificação, sempre consciente de viver na presença de Deus. Foi a Irmã que mais sofreu; era a mais jovem e estava a pouco tempo no convento, não conhecia ninguém e, como era basca, não sabia bem o castelhano; tudo isto ajudou a ser mais penosa a sua última solidão, porém Deus velava por ela e a cumulou de fortaleza. Quando as Irmãs morreram, confessou sua condição de monja e a fuzilaram três dias depois no cemitério de Vallecas.
     Foi beatificada em 10 de maio de 1998.


Fontes:

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Apresentação de Nossa Senhora no Tempo – 21 de novembro

    
     A memória que a Igreja celebra hoje não encontra fundamentos explícitos nos Evangelhos Canônicos, mas algumas pistas no chamado proto-evangelho de Tiago, livro de Tiago, ou ainda, História do nascimento de Maria. A validade do acontecimento que lembramos possui real alicerce na Tradição que a liga à Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, construída em 543, perto do templo de Jerusalém.
     Os manuscritos não canônicos, contam que Joaquim e Ana, por muito tempo não tinham filhos, até que nasceu Maria, que se dedicou total e livremente a Deus, impelida pelo Espírito Santo, desde sua concepção imaculada. Tanto no Oriente, quanto no Ocidente observamos esta celebração mariana nascendo do meio do povo e com muita sabedoria sendo acolhida pela Liturgia Católica, por isso esta festa aparece no Missal Romano a partir de 1505, onde busca exaltar a Jesus através daquela que muito bem soube isto fazer com a vida, como comenta Santo Agostinho em um dos seus Sermões:
     Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação; criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Fez Maria totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. E assim Maria era feliz porque já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente”.
  


   A Beata Maria do Divino Coração dedicava devoção especial à festa da Apresentação de Nossa Senhora, de modo que quis que os atos mais importantes da sua vida se realizassem neste dia. Em 21 de novembro de 1888, ela ingressou no Instituto do Bom Pastor em Münster.
     No dia oito de junho de 1899, em Roma, o Santo Padre Leão XIII iniciou com toda pompa o tríduo preparatório para a consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Nesse mesmo dia, expirava na cidade do Porto, após três anos de atrozes sofrimentos, a humilde religiosa que fora o principal instrumento da Divina Providência para tornar realidade esse ato de transcendental importância para a humanidade: a Beata Maria do Divino Coração, da Congregação da Caridade do Bom Pastor.

     Conheça um pouco mais sobre esta magnífica alma neste blog 6 de junho de 2011.

sábado, 18 de novembro de 2017

A Medalha Milagrosa e uma Conversão: a história de Claude Newman

Amanhã se inicia a Novena da Medalha Milagrosa, cuja festa é comemorada no dia 27 de novembro. Para marcar esta que é uma das grandes revelações de Nossa Senhora a partir do século XIX, reproduzimos abaixo um milagre obtido pelo uso da Medalha Milagrosa.

     Claude Newman (1923-1944), um homem negro, com cinco anos foi separado de sua mãe Fioretta e enviado a uma pequena cidade a leste de Vicksburg, Mississippi. Lá, junto com seu irmão mais velho, cresceu com sua avó Ellen Newman.
      Desde a infância Claude teve de tomar parte no trabalho pesado nos campos de algodão, onde trabalhou também Sid Cook, o homem com quem a avó Ellen havia se casado em 1939. Depois de testemunhar o maltrato contínuo e espancamentos que a avó amada sofria do marido, na tarde de 19 de dezembro de 1942, Claude matou Cook com um tiro de uma arma de fogo. Ele tinha 19 anos. Ele tentou fugir, mas depois de algumas semanas foi preso e condenado à morte.
     Em 1943, Claude Newman, estava aguardando a execução em uma prisão do Mississippi. Um dia, Claude notou uma medalha pendurada no pescoço de um companheiro de prisão e perguntou ao jovem o que era. Este respondeu lançando a medalha ao chão com uma maldição e disse: "pegue isso". Ele não sabia que o pingente era uma Medalha Milagrosa. Mesmo não sabendo nada sobre ela, ou o que representava, Claude pegou e pendurou-a no pescoço. Ele não tinha ideia de como esta ação simples mudaria sua vida.
Visões  
   Durante a noite, Claude foi despertado por uma visão brilhante, que mais tarde descreveu como "a mulher mais bela que Deus jamais criou". A visão acalmou o homem assustado e disse: "Se você quiser que eu seja sua Mãe e você meu filho, vá a um sacerdote da Igreja Católica". E desapareceu.
     "Um fantasma, um fantasma!", gritou Claude, clamando por um padre. Na manhã seguinte, o Pe. Robert O'Leary (que mais tarde redigiu a história) foi convocado. Depois de ouvir o relato extraordinário e falar com ele, o padre descobriu que Claude era uma alma muito simples e analfabeta que sabia muito pouco sobre a religião.
     O padre começou a ensinar o jovem sobre o Catolicismo, e logo as aulas de catecismo incluíram outros quatro presos que ficaram profundamente impressionados com a visão de Claude. Várias semanas depois, o padre introduziu o sacramento da Confissão e Claude se disse: "Oh, eu sei sobre isto! A Senhora me disse que quando vamos nos confessar estamos ajoelhados não diante de um sacerdote, mas diante da Cruz de Seu Filho. E quando nos arrependemos verdadeiramente de nossos pecados, e nós confessamos os nossos pecados, o sangue que Ele derramou cai sobre nós e nos liberta de todos os pecados".
     Os outros ficaram surpresos com essa nova revelação. Vendo sua surpresa, Claude pediu desculpas, "Oh, não fiquem bravos, não fiquem com raiva, eu não quis fazer mal".
Revelação
    Assegurando-lhe que ele estava longe de se zangar, Pe. O'Leary perguntou a Claude se ele tinha visto a Senhora novamente. Levando o sacerdote para um canto, o jovem disse: "Ela me disse que se o Sr. duvidasse de mim ou mostrasse hesitação, eu devia lembrá-lo que, deitado em uma vala na Holanda em 1940, o Sr. fez um voto a Ela, que Ela ainda está esperando se concretizar”.
     Esta revelação o convenceu completamente das afirmações de Claude. Durante a guerra, o Pe. O'Leary prometeu erguer uma igreja em homenagem à Imaculada Conceição se ele sobrevivesse. Ele cumpriu a promessa em 1947 e a igreja ainda permanece em Clarksdale, Mississippi.
     Quando o padre e Claude retornaram à aula sobre a Confissão, Claude disse a seus amigos: "Vocês não deveriam ter medo da Confissão. Vocês realmente estão dizendo a Deus seus pecados, não ao padre. Sabe, a Senhora disse que a Confissão é algo como um telefone. Conversamos com Deus por meio do sacerdote, e Deus nos fala por meio do sacerdote".
      Finalmente, os catecúmenos foram recebidos na Igreja. Nos registros batismais da paróquia de Santa Maria em Vicksburg, MS, o batismo de Claude é registrado em 16 de janeiro de 1944, quatro dias antes da execução programada.
     Quando o dia se aproximou, o xerife perguntou a Claude se ele tinha um último pedido.
     "Bem, os meus amigos estão todos abalados. O carcereiro está abalado. Mas você não entende. Eu não vou morrer; apenas esse corpo é que vai. Eu vou estar com Ela. Então, eu gostaria de fazer uma festa".
     "O que você quer dizer?", perguntou o xerife Williamson.
     "Uma festa!" disse Claude. "O Sr. daria permissão ao Padre O'Leary para trazer alguns bolos e sorvete, e permitiria que os prisioneiros do segundo andar fossem levados para a sala principal para que todos possamos estar juntos e fazer uma festa?"
     O xerife estava admirado, mas consentiu, e até permitiu que os companheiros de Claude participassem.
     Então, o padre O'Leary visitou uma rica patrona da paróquia, e ela generosamente forneceu sorvete e bolo, e todos gostaram da festa.
     A pedido de Claude o Pe. O'Leary trouxe livros de oração da Igreja, e todos juntos rezaram a Via Sacra e fizeram uma Hora Santa, sem o Santíssimo Sacramento, rezando especialmente por Claude e por todas as suas almas.
     À medida que a hora da execução de Claude se aproximava, os homens foram colocados de volta à suas celas.
     O sacerdote foi então para a capela para buscar o Santíssimo Sacramento para que ele pudesse dar a Comunhão a Claude momentos antes da sua execução. O Padre O'Leary voltou à cela de Claude. Este se ajoelhou de um lado das grades, o sacerdote ajoelhou-se, e eles rezaram enquanto o relógio caminhava para a hora da execução.
     Quando ele já se preparara com o Pe. O'Leary, o xerife chegou apressadamente e gritando que o governador havia concedido um adiamento da execução de duas semanas. Para seu espanto, o jovem começou a chorar, inconsolável.
     Claude não estava ciente de que o xerife e o procurador do distrito estavam tentando obter uma suspensão da execução de Claude para salvar sua vida. Mas quando Claude descobriu, começou a chorar.
     Desconcertado, o xerife deixou a sala. O padre permaneceu e Claude se acalmou, então o Padre O'Leary deu a Comunhão a ele. Depois, Claude disse: "Mas o Sr. não entende! Se o Sr. tivesse visto seu rosto e olhado nos olhos dEla, não gostaria de viver outro dia!... O que eu fiz de errado nessas últimas semanas para que Deus me recusasse ir para casa?... Por que, padre? Por que eu ainda devo permanecer aqui por duas semanas?"
     O Padre O'Leary teve uma súbita inspiração. Ele lembrou-o de James Hughs, um prisioneiro branco na mesma prisão, que odiava Claude intensamente. Este prisioneiro levou uma vida horrivelmente imoral, e, como Claude, ele também fora condenado a ser executado por assassinato. James foi criado como católico, mas agora ele era um réprobo e rejeitava Deus e todas as coisas cristãs.
     O Padre O'Leary disse então: "Talvez nossa Bem-aventurada Mãe queira que você ofereça esse adiamento de estar com Ela para a conversão dele". E o sacerdote continuou: “Por que você não oferece a Deus cada momento que você está separado da sua Mãe celestial por esse prisioneiro, para que ele não seja separado de Deus por toda a eternidade?”.
     Claude pensou por um momento, depois concordou, e ele pediu ao Padre O'Leary que lhe ensinasse as palavras para fazer a oferta. O Padre O'Leary cumpriu e, mais tarde, declarou que, a partir desse momento, as duas únicas pessoas na terra que conheciam essa oferta pessoal eram Claude e ele mesmo, porque era um assunto privado entre Deus, a Santíssima Mãe, Claude e ele mesmo.
     Algumas horas depois (ainda na manhã seguinte ao seu indulto de execução) Pe. O'Leary veio mais uma vez visitar Claude que disse ao padre: "James me odiava antes, mas, ó padre, como ele me odeia agora!" (Isso ocorreu porque James tinha ouvido falar do perdão de Claude e tinha ciúmes) Para encorajá-lo, o bom padre disse: "Bem, talvez seja um bom sinal”.
A execução de Claude
      Durante as duas semanas de indulto, Claude generosamente ofereceu seus sacrifícios e orações por seu companheiro prisioneiro, o réprobo James Hughs. Duas semanas depois, Claude foi finalmente morto pela cadeira elétrica em 4 de fevereiro de 1944.
      Sobre a santa morte de Claude, o Padre O'Leary testemunhou: “Nunca vi ninguém ir para a morte com alegria e felicidade. Mesmo as testemunhas oficiais e os repórteres do jornal ficaram maravilhados. Eles disseram que não entendiam como alguém podia sentar-se na cadeira elétrica radiante de felicidade”.
     A notícia da morte de Claude apareceu em Vicksburg Evening News no dia da sua execução (vide foto à esquerda). Suas últimas palavras para o Padre O'Leary foram: "Padre, eu me lembrarei do Sr. E sempre que tiver um pedido, peça-me e eu vou pedir a Ela”.
A milagrosa conversão e execução do prisioneiro James Hughs

     Três meses depois, em 19 de maio de 1944, o homem branco por quem Claude tinha oferecido seu sacrifício, deveria ser executado. O Padre O'Leary disse: "Este homem era a pessoa mais imunda que eu já havia encontrado. Seu ódio a Deus e a tudo que fosse espiritual é difícil de descrever".
     Ele não permitia um sacerdote ou um clérigo em sua cela. Pouco antes de sua execução, o médico do condado suplicou que pelo menos ele se ajoelhasse e rezasse o "Pai Nosso" antes que o xerife viesse buscá-lo. O prisioneiro cuspiu no rosto do médico!
     Quando ele foi preso na cadeira elétrica, o xerife disse a ele: "Se você tem algo a dizer, diga agora". James Hughs começou a blasfemar. De repente, ele parou de falar e seus olhos se fixaram num canto da sala, teve um olhar de surpresa rapidamente seguido por um grande horror, e ele gritou: "Xerife, me chame um padre!"
     O Padre O'Leary estava na sala, porque naquela época a lei do Mississippi exigia que um clérigo estivesse presente nas execuções. O sacerdote, no entanto, tinha se escondido atrás de alguns repórteres porque o condenado ameaçava amaldiçoar Deus se ele visse um clérigo.
     Ao ouvir o seu pedido, o Padre O'Leary imediatamente foi até o condenado. As pessoas saíram da sala e ele ouviu a confissão do homem. James disse que era católico, mas se afastou de sua religião quando tinha 18 anos por causa de sua vida imoral. Ele confessou todos os seus pecados com profundo arrependimento e fervor intenso.
     Quando todos voltaram para a sala, o xerife perguntou ao padre: "Padre, o que o fez mudar de ideia?"
     "Eu não sei", disse o Padre O'Leary, "não perguntei a ele".
     O xerife disse: "Bem, eu não vou dormir hoje à noite se eu não lhe perguntar". O xerife foi ao condenado e perguntou: "Filho, o que fez você mudar de ideia?"
     O prisioneiro respondeu: "Lembra-se daquele homem negro, Claude - aquele que eu odiava tanto? Bem, ele estava parado ali [e ele apontou], naquele canto. E atrás dele, com as mãos sobre os ombros dele, estava a Santíssima Virgem Maria. E Claude me disse: ‘Ofereci minha morte em união com Cristo na Cruz para a sua salvação. Ela obteve para você este dom de ver seu lugar no inferno se você não se arrepender’. E foi-me mostrado meu lugar no inferno, e é por isso que eu gritei".
     James Hughs foi executado como previsto, mas a aparição celestial de Nossa Mãe Santíssima com Claude Newman e a visão subsequente do inferno converteram instantaneamente sua alma nos últimos momentos de sua vida.
     Mais uma vez, o simples uso da Medalha Milagrosa atraiu o olhar de Nossa Mãe, e salvou não só uma, mas muitas almas naquela prisão do Mississippi