sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Beata Margarida de Saboia, Marquesa, Viúva, Dominicana – 23 de novembro

 
   A Beata Margarida de Saboia (não confundir com a homônima Rainha da Itália, que viveu uns cinco séculos depois) era aparentada com as principais famílias reais da Europa. Seu pai era o Conde Amadeu de Saboia-Acaja, e sua mãe era uma das irmãs de Clemente VII, que durante o Grande Cisma se declarou papa em Avinhão. Margarida mereceu o apelido de Grande, que adquiriu por ter sido realmente um exemplo de grandeza evangélica nos diferentes estados em que Deus a colocou: filha, esposa, soberana e religiosa.
     Nasceu em Pinerolo, Turim, entre os anos de 1382 e 1390. Desde a infância foi a imagem da candura e de uma sabedoria precoce, o que a fazia aborrecer tudo que o mundo ama. Tendo ficado órfã bem cedo, junto com a irmãzinha Matilde foi entregue à tutela do tio Luís, que por falta de herdeiros homens, sucedeu o falecido príncipe Amadeu.
     O primeiro passo de Luís de Saboia foi pôr um fim às longas discórdias entre Piemonte e Monferrato, e ambas as partes viu em Margarida um penhor seguro de paz duradoura. Há décadas o Piemonte era agitado por guerras que visavam dominar esta região da Itália. Os Saboia, o Marquês de Saluzzo, os marqueses de Monferrato e os viscondes de Milão disputavam-na ferrenhamente.
     A jovem princesa já sonhava com o claustro, entusiasmada no seu propósito por São Vicente Ferrer, que era então pregador no Piemonte. Margarida, pelo bem comum e pela paz entre as duas zonas do Piemonte, sacrificou com generosidade os seus mais preciosos ideais: em 1403, ela se tornou esposa do Marquês de Monferrato, Teodoro II Paleólogo, muito mais velho do que ela.
     Nenhuma ilusão terrena, porém, seduzia a jovem marquesa, que iniciou a nova vida de soberana com os pés na terra, mas o coração fixo no céu. Após ter sido sábia conselheira do esposo e mãe terníssima dos súditos, enviuvou no ano de 1418. Governou então como regente até a maioridade de seu enteado João. Assim que este pode tomar as rédeas do governo, ela retirou-se para o palácio de Alba, de sua propriedade, junto com suas mais fiéis donzelas, para dedicar-se às obras de caridade, recusando a proposta de casamento de Filipe Maria Visconti.
     Tornou-se terciária dominicana e fundou uma congregação inicialmente de terciárias e depois, em 1441, com a aprovação do Papa Eugênio IV, de monjas. Nasceu assim o Mosteiro de Santa Maria Madalena, na cidade de Alba.
     A nova vida religiosa de Margarida não foi isenta de trabalhos e dificuldades. Teve um dia a visão de Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe trazia três setas, cada uma com uma palavra escrita: doença, calúnia e perseguição. Realmente, no período seguinte teve que suportar todos estes três sofrimentos.
     Afligida por uma saúde delicada, foi acusada de hipocrisia, depois de tirania nos confrontos com as Irmãs do mosteiro. Um pretendente rejeitado por ela espalhou a calúnia que o mosteiro era um centro de propulsão da heresia valdense. O frade que era seu diretor espiritual foi preso e quando Margarida dirigia-se ao castelo para pedir sua liberdade, o portão foi-lhe fechado violentamente, fraturando uma de suas mãos.
     Apesar de todas as dificuldades, por vinte e cinco anos ela viveu retirada em oração, estudos e caridade. A Biblioteca Real de Turim conserva um volume contendo as cartas de Santa Catarina de Siena copiadas e encadernadas "por ordem de nossa ilustre senhora, Margarida de Saboia, Marquesa de Monferrato".
     Imitando a Santa Doutora da Igreja, que durante o cativeiro de Avinhão se dedicou de corpo e alma ao retorno do pontífice para Roma, Margarida empenhou-se intensamente para que seu primo Amadeu VIII, primeiro duque de Saboia, eleito antipapa com o nome de Felix V, no Concílio de Basiléia, desistisse de sua posição.
     Felix V abdicou e reconheceu como único chefe da Igreja o Papa então legitimamente reinando em Roma. Voltando a ser Amadeu de Saboia, continuou a dirigir a Ordem Mauriciana fundada por ele no mosteiro às margens do lago de Genebra. O Papa o recompensou por ter recomposto a unidade da Igreja nomeando-o cardeal e legado pontifício. O Cardeal Amadeu morreu em fama de santidade e ainda hoje repousa na Capela do Sudário, adjacente à Catedral de Turim.
     Margarida de Saboia faleceu em Alba, no dia 23 de novembro de 1464, rodeada do afeto e da veneração de suas filhas espirituais.
     Em 1566, o Papa São Pio V, religioso dominicano e prior do convento de Alba, permitiu um culto a Margarida de Saboia reservado ao Mosteiro de Alba. O Papa Clemente IX a beatificou solenemente em 9 de outubro de 1669, fixando seu memorial no dia 27 de novembro, para toda a Ordem de São Domingos. Hoje ela é celebrada também em algumas dioceses do Piemonte. O Martirológio Romano a festeja no dia 23 de novembro, aniversário de seu nascimento para o céu. O seu corpo incorrupto é ainda objeto de veneração na Igreja de Santa Maria Madalena de Alba.
     A Beata Margarida de Saboia, grande e ativa figura feminina no Piemonte de seu tempo, fautora da paz e da concórdia entre as várias zonas da região, mereceria plenamente ser honrada como patrona celeste do Piemonte e também com a canonização, para que fosse universalmente venerada como um virtuoso exemplo de esposa, mãe, soberana e religiosa.

Fonte: http://www.santiebeati.it/dettaglio/90491

Quase cinco séculos antes das aparições, prenúncio do triunfo de Fátima
     Um misterioso acontecimento no mosteiro de Margarida é digno de nota. A prova documental tornou-se pública somente no ano 2000.
     No dia 16 de outubro de 1454, Irmã Filipina estava em seu leito de morte no Mosteiro de Santa Maria Madalena.
     Em torno do leito dessa dominicana com odor de santidade, acompanhando-a com as orações pelos moribundos, estava toda a comunidade religiosa, a abadessa e fundadora do mosteiro, a Beata Margarida de Saboia, e o confessor das religiosas, Pe. Bellini. Eles lavraram um documento endereçado "àquelas pessoas que nos anos futuros lerão estas folhas" [1] Em 2000 as próprias dominicanas de Alba publicaram os documentos relativos ao caso [2].
     "Aconteceu que durante a agonia, ela [Irmã Filipina] recebeu do Céu uma magnifiquíssima visão ou revelação, durante a qual, diante do Padre Bellini, da Abadessa Fun¬dadora e de todas as monjas, manifestou em alta voz coisas ocultas. [...] Raptada por uma alegria celeste, voltando o seu olhar para o alto, saudou nomina¬¬lmente e em alta voz os celícolas (habitantes do Céu) que lhe vinham ao encontro, ou seja: a Santíssima Senhora do Rosá¬rio, Santa Catarina de Siena, o Beato Umberto, o abade Guilherme de Saboia; falava de acontecimentos futuros, prósperos e funestos para a Casa Sabauda, até um tempo, não precisado, de terríveis guerras, do exílio de Umberto de Saboia em Portugal, de um certo monstro do Oriente, tribulação da humanidade, mas que seria morto por Nossa Senhora do Santo Rosário de Fátima, se todos os homens a tivessem invocado com grande penitência. Depois do que, expirou nos braços da prima, a nossa santa Madre Margarida de Saboia".
[1] Il Cervo della Beata Margherita di Savoia, nº 2, 2000, Ano XLVIII, Alba.
[2] Os documentos históricos do Convento de Alba são três. Eles fornecem o fundamento deste artigo. 
     O documento 1 é uma nota manuscrita, acrescentada a um livro de autoria do Pe. Jacinto Baresio, de 1640. Ocupa quatro páginas não numeradas. É datada de 7 de outubro de 1640. Nela se encontra o essencial da revelação. O documento 2 consiste num acréscimo ao caderno, que leva a inscrição: 1624 - Livro no qual se anotam as Missas, Milagres, ex-votos que acontecem diariamente à Beata Margarita de Saboia em Alba. É datado de 1655. Começa a partir da página 52, e é escrito com "uma caligrafia alta e clara" por uma religiosa que assina Soror C.R.M. (vide abaixo). Descreve a mesma revelação. O documento 3 consiste em apontamentos da Irmã Lúcia Mantello em 1855. Esta passou brevemente pelo convento e depois tornou-se religiosa salesiana. Ela não conheceu os dois documentos anteriores. Todos os três foram "reencontrados casualmente em 19 de agosto do ano passado [1999]" e publicados em 2000.
     Em 1655, uma religiosa que só anotou suas iniciais deixou mais um documento escrito, confirmando tudo quanto dizia o anterior, nos seguintes termos:
     "Dizem as memórias escritas que lá, na Lusitânia, há uma igreja numa cidadinha que se chama Fátima, edificada por uma antepassada de nossa Santa Fundadora Margarida de Saboia, Mafalda rainha de Portugal e filha de Amadeu terceiro de Saboia, e que uma estátua da Vir¬ge¬m Santíssima falará sobre acontecimentos futuros muito graves, porque Satanás fará uma guerra terrível; porém perderá, porque a Virgem Santíssima Mãe de Deus e do Santíssimo Ro¬sá¬rio de Fátima, 'mais forte que um exército em ordem de batalha', vencê-lo-á para sempre".
     A. D. 1655. São Domingos, te confio estas folhas.
     Soror C. R. M."(17)
     Os leitores poderão ver nessas linhas alusões aos trágicos acontecimentos do século XX e à mensagem transmitida por Nossa Senhora nas aparições aos três pastorinhos de Fátima, Portugal.
Fonte: Revista Catolicismo, maio de 2004

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Beata Salomé da Cracóvia, Rainha e Clarissa - 18 de novembro


     Salomé, filha de Leszek, Príncipe da Cracóvia, nasceu em 1211. Leszek I era Duque de Cracóvia, e, portanto, grão-duque da Polônia, e sua esposa era Grzynistawa de Luck. Salomé era a irmã mais velha de Boleslau V, o Casto. 
     Aos 3 anos de idade foi confiada ao Bispo da Cracóvia, o Beato Vicêncio Kadlubek, para que ele a conduzisse à corte do soberano húngaro, André II, pois um acordo com aquele rei tornara-a prometida como esposa de seu filho, Kálmán (nome latinizado para Colomano), de seis anos. Acordos matrimoniais deste gênero eram comuns naquela época e a menina desde pequena passou a viver na corte do futuro sogro. Como sua mãe tinha conexões ancestrais com as terras da Galícia, e tanto seu pai quanto o rei André queriam dominar aquela área, esse plano parecia atender às necessidades de ambas as partes.
     No outono de 1215 teve lugar a coroação que, com a autorização do Papa Inocêncio III, foi celebrada pelo Bispo de Strigonia. Eles reinaram em Halicz por cerca de três anos, quando a cidade foi invadida pelo príncipe da Rutênia, Mistislaw, que os aprisionou.
     Naqueles tempos (Salomé tinha somente 9 anos e Colomano 12) eles fizeram, de comum acordo, voto de castidade. Quando André, filho do Rei da Hungria, veio a ser Rei de Halicz, eles retornaram à corte húngara.
     O piedoso casal competia entre si em suas práticas de piedade e penitência. Com o consentimento de seu marido, Salomé recebeu o hábito da Ordem Terceira de São Francisco das mãos de seu confessor, um frade franciscano. Seguindo seu exemplo, muitas das damas da corte renunciaram à pompa e vaidade mundanas, e o palácio assumiu a aparência de um convento.
     Em 1226, Colomano foi nomeado Duque da Eslováquia por seu pai e assumiu a responsabilidade pelo governo da Estônia, Croácia e Dalmácia.
     Em 1227, aos 16 anos, Salomé chegou à maioridade, sempre se mantendo ligada ao voto de castidade e, apesar de sua beleza, evitava a companhia de homens, vestia-se modestamente, não tomava parte nas festas e diversões da corte e dedicava o tempo livre à oração.
     Em 1241, Colomano morreu em uma batalha contra os Tártaros. Durante aquele período Salomé protegia os conventos dos franciscanos e dos dominicanos.
     Um ano após a morte de seu marido, voltou para a Polônia onde, em 1245, junto com seu irmão Boleslau, fundou a igreja e o convento dos franciscanos em Zawichost, o hospital e o mosteiro das Clarissas pobres em Sandomierz, onde ela mesma vestiu o hábito religioso.
     Diante da ameaça dos Tártaros, em março de 1259 uma parte das Clarissas se transladou para Skala, onde Salomé fundou um novo mosteiro e o dotou com os utensílios e ornamentos litúrgicos.
     Vinte e oito anos viveu a Beata Salomé no silêncio do mosteiro, e foi modelo de penitência, de abnegação, de humildade, de inocência e de caridade. Por muitos anos foi abadessa boa, afável, serviçal, amante do ideal da seráfica pobreza. Era muito respeitada por suas irmãs por causa de sua virtude.
Clarissas c. sec. XI
     Quando tinha 57 anos, a Beata Salomé de Cracóvia foi acometida por uma doença um dia durante a Santa Missa, e ela previu que sua morte ocorreria em breve. No dia 17 de novembro de 1268 foi agraciada com uma aparição da Santíssima Virgem e de seu Filho; reuniu suas Irmãs e as exortou à mútua caridade, à paz, à pureza de coração, à obediência sem limites e ao desprendimento das coisas do mundo. Pouco depois as Irmãs viram uma pequena estrela que, saindo da bem-aventurada mãe, se dirigia ao Céu. Salomé da Cracóvia havia entregado sua bela alma a Deus na idade de 57 anos.
     Quando seu corpo foi exumado sete meses após o enterro, foi encontrado incorrupto e exalando um odor doce. Ela foi então sepultada na Igreja Franciscana de Cracóvia ao lado de seu marido, o rei Colomano. Muitos milagres ocorreram em testemunho de sua santidade. Seus despojos foram transladados mais tarde para a igreja dos Franciscanos de Cracóvia, onde se encontram até hoje. Ela também é retratada em um vitral à esquerda do altar-mor.
     Seu culto foi aprovado por Clemente X em 17 de maio de 1672.
Túmulo da Beata Salomé

Fontes: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Saloméia da Polônia – Wikipédia, a enciclopédia livre
O Livro Franciscano dos Santos, ed. por Marion Habig, OFM
Beata Salomé de Cracóvia

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Beata Maria Merkert, Cofundadora - 14 de novembro

 
   Nasceu em 21 de setembro de 1817, no seio de uma família católica da burguesia, em Nysa, na Silésia de Opole (então diocese de Breslávia), cidadezinha chamada de ‘Roma silesiana’ por causa de seus numerosos monumentos, que hoje pertence à Polônia, mas naquele tempo era alemã.
     Era a segunda filha de Carlos Antonio Merkert e Maria Bárbara Pfitzner. No batismo lhe puseram o nome de Maria Luísa. Seus pais e sua irmã pertenciam à Confraria do Santo Sepulcro. Seu pai morreu quando ela tinha um ano. Sua mãe influenciou muito na inclinação de suas duas filhas, Maria Luísa e Matilde, para o serviço caritativo aos necessitados e à vida religiosa.
      Por ocasião da morte da mãe, em 1842, Maria Luísa decidiu se dedicar totalmente aos pobres, aos doentes e aos abandonados. Aconselhada pelo confessor, junto com sua irmã Matilde e com Francisca Werner, uniu-se a Clara Wolff, jovem virtuosa terciária franciscana que havia decidido servir os doentes e aos pobres em domicílio.
     As quatro formaram uma espécie de associação. Clara, a mais velha, de índole vivaz, sensível, já havia assistido doentes durante uma epidemia de cólera. Francisca tinha uma personalidade forte embora fosse humilde e modesta; sobreviveu a beata, sucedendo-a como Superiora Geral da Congregação. Matilde Merkert era de índole dócil e muito religiosa.
     Elas iniciaram suas atividades em Nysa no dia 27 de setembro de 1842; prepararam-se para este passo com a confissão, a comunhão e um ato de consagração ao Sacratíssimo Coração de Jesus. O presbítero Francisco Xavier Fischer lhes deu a bênção. Mas não fizeram votos e não tinham aprovação oficial, mas conquistaram em poucos meses a atenção e a estima das autoridades eclesiásticas. Dois anos depois, o pároco apresentou uma primeira Regra.
     A partir de então Maria cumpria diariamente os compromissos assumidos, assistindo os doentes e os pobres em suas casas, e recolhendo esmolas para os mais necessitados.
     Em 8 de maio de 1846, Matilde faleceu em Prudnik, contagiada enquanto cuidava de enfermos de tifo. Foi um golpe duro, mas elas continuaram os trabalhos.
     Por vontade do confessor, Maria Merkert e Clara Wolff entraram no noviciado das Irmãs de São Carlos Borromeu de Praga, um Instituto de origem francesa, onde elas deviam formar-se para dar vida à obra de assistência que sentiam o dever de realizar. Elas trabalharam como enfermeiras nos hospitais de Podole, Litomierzyce
 e Nysa.
     Notando que estas religiosas consideravam secundária a assistência dos doentes em domicílio, Maria deixou seu noviciado em 30 de junho de 1850, se bem que a formação recebida nesse período lhe serviu muito. Não faltaram incompreensões, porém Maria pode dedicar-se totalmente ao projeto original de assistência em domicílio dos enfermos, dos pobres e dos mais necessitados.
     Foi naquele momento que Maria e Clara seguiram caminhos diversos: a última, em 1852, indo cuidar de um enfermo se envolveu em um acidente e morreu devido às feridas, no dia 4 de janeiro de 1853.
     Em 19 de novembro de 1850, festa de Santa Isabel da Hungria, Maria Merkert e Francisca Werner, cheias de confiança em Deus recomeçaram em Nysa a atividade caritativa apostólica, escolhendo Santa Isabel por patrona da comunidade nascente e, inspirando-se no exemplo desta Santa, dedicaram-se totalmente aos pobres e aos necessitados, contemplando em seu rosto o do Redentor.
     Em Nysa, devido à revolução liberal na Silésia e ao seu envolvimento nas guerras prussianas e austríacas, a pobreza estava muito difusa com feridos e consequentes epidemias.  
Gravura antiga de Nysa
     Muitos recorriam às Irmãs, certos de serem acolhidos e ajudados. Maria, incansável, estava sempre pronta para todos atender. Uma companheira testemunhou: “Madre Maria comprava carne, café e pão para as pobres viúvas e ela mesma levava estas coisas aos pobres e lhes dava com tanta afabilidade de coração que aqueles velhinhos choravam de alegria e todos a chamavam ‘a querida mãe de todos’”.
     Nove anos mais tarde, em 4 de setembro de 1859, a Congregação das Irmãs de Santa Isabel recebeu a aprovação por parte do bispo de Breslavia; a associação já contava com sessenta religiosas em onze casas, também em regiões prevalentemente protestante. Em 15 de dezembro foi celebrado o primeiro capítulo geral, que elegeu Maria Merkert como Superiora Geral.
     Em 5 de maio de 1860, Maria, junto com outras vinte cinco religiosas, fez os votos de castidade, pobreza e obediência, aos quais foi acrescentado um quarto voto: servir aos enfermos e aos necessitados.
     Nos anos 1863-1865, a Beata construiu em Nysa a casa mãe da Congregação; ela se preocupou logo em dotá-la de uma igreja bela e funcional.
     O Instituto obteve o reconhecimento jurídico estatal em 1864. Dois anos depois, as primeiras Irmãs missionárias foram enviadas à Suécia. Em 7 de junho de 1871, o Papa Pio IX lhe concedeu o "Decretum laudis".
     A Beata, além de doar todas as suas energias em favor do próximo enfermo e abandonado em seus domicílios, se preocupava muito com suas religiosas, que instruía intelectual e espiritualmente num espírito de humildade profunda. Nos seus vinte e dois anos de governo formou quase quinhentas Irmãs e fundou noventa casas, distribuídas em nove dioceses e em dois vicariatos apostólicos. No fim de cada ano, recolhia as notícias das várias casas. Madre Maria foi mulher de grande oração, tomando como modelo Nossa Senhora, a quem recorria em todas as necessidades. Chamavam-na “a samaritana dos pobres”.
     A missão de Madre Maria estava cumprida, tinha oferecido toda sua vida pelos outros. Em fins de 1872 pressentiu que sua caminhada nesta terra chegava ao término. No dia 14 de novembro o seu coração generoso parou de bater, tranquilamente, sem nenhuma agonia: tinha 55 anos. Morreu com fama de santidade, que foi aumentando depois de sua morte.
     Quinze anos depois Leão XIII outorgou a aprovação definitiva ao seu Instituto. Em 1964, seus despojos foram levados para a cripta da sua igreja paroquial; desde 1998 estão numa capela lateral.
     Na sua cidade de Nysa, hoje na Diocese de Opole, foi beatificada em 30 de setembro de 2007. Sua Congregação hoje está presente em diversos lugares do mundo.

domingo, 10 de novembro de 2024

Beata Alice (Maria Jadwiga) Kotowska, Virgem e mártir - 11 de novembro

 
   A Beata Alice nasceu em 20 de novembro de 1899 em Varsóvia. Ela era a segunda de oito filhos de John e Sophie Kotowski. No dia seguinte, na festa da Apresentação de Maria Santíssima, ela foi batizada e recebeu os nomes de Maria, Edwiges. No início, a família morava em sua propriedade em Krasiniec, mas depois se mudou para Varsóvia. 
     O pai era organista na igreja dominicana de São Jacinto. Seu pai profundamente devoto desempenhou um grande papel no desenvolvimento espiritual de sua filha Marylka [diminutivo de Maria], que desde a mais jovem amava Jesus, presente no Santíssimo Sacramento, e sua Mãe. A família rezava o rosário e lia a Sagrada Escritura juntos. 
     De acordo com os costumes da época, Maria e os outros filhos de Kotowski inicialmente estudaram em casa sob o olhar atento dos pais. Em seguida, Maria e sua irmã Hania frequentaram o internato particular de Pauline Hewelke em Varsóvia. Aqui Maria tornou-se amiga de Maria Przybyłowicz, que mais tarde entrou na Congregação das Irmãs da Ressurreição, tomando o nome de Irmã Beata. 
     Maria estava imbuída de um espírito de patriotismo por sua família e escola. Deus e seu país foram os dois amores aos quais ela permaneceu fiel até o fim de sua vida. Como estudante em 1919, Maria organizou uma viagem de toda a turma para cumprimentar Joseph Piłsudzki, que havia chegado a Varsóvia depois de ser libertado da prisão em Magdeburgo. 
     Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Maria desejou aliviar o sofrimento dos soldados feridos. Essa intenção foi realizada quando, aos 19 anos, ela se juntou às fileiras da Organização do Exército Polonês como auxiliar de enfermagem.
     Em junho de 1918, Maria recebeu seu diploma. Desejando ajudar os que sofrem, ela começou seus estudos em medicina na Universidade de Varsóvia. Quando, em 1920, a Polônia novamente teve que lutar contra o inimigo, desta vez além da fronteira oriental, Maria ajudou seu amado país como membro da Cruz Vermelha. Durante oito meses, ela levou ajuda a soldados feridos em hospitais de Varsóvia. Em 1932, Maria foi condecorada com a Cruz da Ordem "Polonia Restituta" por seu sacrifício e dedicação.
     Nesse ínterim, graças à sua amiga Maria Przybyłowicz, Maria conheceu as Irmãs da Ressurreição. Os primórdios das Irmãs da Ressurreição estão associados à perda da independência da Polônia. A Congregação foi fundada por uma mãe e sua filha, também beatificas hoje: a mãe Celina Borzecka e a filha Jadwiga (vide Heroinas da Cristandade: Beata Celina Chludzinska Borzecka, Viúva e Fundadora - 26 de outubro).
     Ela queria interromper seus estudos para entrar na Congregação, mas submeteu essa decisão aos superiores. Em 19 de abril de 1922, ela escreveu uma petição para ser aceita pela Congregação à superiora geral, Madre Antonine Sołtan. Em sua carta, lemos as seguintes palavras: ... Tendo me familiarizado com o espírito e a regra, peço gentilmente ser recebida na Congregação das Irmãs da Ressurreição. Desejo viver e morrer por Cristo, amando-O acima de tudo, pois Ele é o Amor Supremo, Senhor, Deus e meu Tudo.
     Maria Kotowska foi aceita pela Congregação e nesse mesmo ano, em 29 de julho, cruzou o limiar do convento em Kęty. Ela então recebeu seu nome religioso: Alice. Em 1º de fevereiro de 1923, Irmã Alice iniciou seu noviciado de um ano e depois professou seus primeiros votos.
     Após os votos, Irmã Alice foi enviada para a comunidade local em Varsóvia, onde continuou seus estudos, não no campo da medicina, mas em matemática e ciências naturais. Em 1932, ela defendeu sua tese de mestrado em química, após a qual começou seu trabalho como professora no seminário de professores em Varsóvia, em Sewerynów, e após a abertura das escolas em Żoliborz, na escola secundária de lá. Irmã Alice ensinava química e, ao mesmo tempo, cumpria os deveres de enfermeira. Depois de dois anos, ela passou nos exames e recebeu seu diploma como professora do ensino médio. 
     Durante esse tempo, ela teve uma reflexão significativa: Ainda não experimentei a felicidade de sofrer por Deus. O Senhor vê que ainda estou muito fraca, que amo sofrer, mas de longe, que já ao menor sinal disso minha natureza estremece, por isso Ele espera. Mas isso não pode ser por muito tempo. Em outro lugar: ... Há apenas uma coisa digna na vida: sofrer por amor a Deus. Sei que também este desejo é uma graça; sei que eu mesmo temo o sofrimento e quero evitá-lo a todo custo. Mas eu acredito no poder de Jesus; acredito que Ele mesmo mereceu o poder necessário para nós; eu acredito que Ele quer isso de mim.
     Em agosto de 1929, Irmã Alice fez sua profissão perpétua. De acordo com a decisão de seus superiores, ela se tornaria a diretora das escolas em Varsóvia, mas o escritório do superintendente da escola não deu seu consentimento, sugerindo que a candidata era muito jovem e tinha pouca experiência. 
     Enquanto isso, Irmã Emmanuela Roman foi à Pomerânia para procurar um lugar para um acampamento de verão para jovens pobres. Enquanto estava lá, ela descobriu que as autoridades de Wejherowo queriam liquidar suas instituições educacionais na Rua Klasztorna, 9. Após a conversa da Irmã Emmanuela com o prefeito de Wejherowo, o conselho da cidade decidiu entregar as instituições deterioradas à Congregação. Irmã Alice Kotowska foi designada para ser a superiora local e diretora das escolas em Wejherowo. Irmã Alice assumiu ambas as funções e as cumpriu com grande zelo e responsabilidade.
     A partir de setembro de 1934, as Irmãs da Ressurreição, sob a direção de Irmã Alice, começaram seu trabalho no jardim de infância, na escola primária, no ginásio feminino e no internato para meninas. As irmãs tinham a intenção de realizar dois objetivos: elevar o nível do ensino e educar em um espírito patriótico e religioso. Em menos de dois anos, o nível escolar das instituições melhorou e as irmãs receberam credenciamento governamental completo para suas escolas.
     Excursões foram organizadas nas escolas. Ensinaram aos jovens o amor pelo seu país, sua história e cultura. Os alunos assistiram a concertos e ao teatro. Eles relembraram com emoção sua visita ao Castelo Real de Varsóvia e o encontro com o presidente Ignacy Mościcki. Irmã Alice também organizou peregrinações a Swarzewo e Wilno. 
     Em 1936, ela buscou e obteve o patrocínio de Nossa Senhora de Swarzewo para as instituições educacionais da Congregação em Wejherowo. Graças aos esforços de Irmã Alice, em 1938 teve início a construção de um anexo ao prédio da escola. O resultado foram dez novas salas de aula e que, embora não totalmente concluídas, foram dedicadas em julho de 1939.
     Agora, com mais frequência, falava-se sobre a ameaça de guerra. Poucos dias antes do início da guerra, Irmã Alice escreveu à superiora geral: Estamos vivendo momentos importantes e significativos, que decidirão sobre a guerra ou a paz para a Polônia e o mundo inteiro. Confiamos na Misericórdia Divina e entregamos aos seus cuidados o destino da Nação e de todos nós, e também de toda a humanidade. O início do ano letivo não ocorrerá em seu horário normal, mas está sendo adiado para um tempo futuro, ainda indeterminado.
     Em uma ocasião, durante uma caminhada, Irmã Alice contou a uma das irmãs sobre uma experiência dela. Eu tive um sonho estranho hoje. Eu me encontrei diante do Cristo Sofredor. Eu perguntei a ele: Senhor, quando vou morrer? O Senhor respondeu: "Quando um acréscimo for construído a esta casa”. A adição já foi construída, portanto, talvez agora. ... Durante o curso posterior da conversa, Irmã Alice expressou palavras significativas: Não é a mesma coisa onde o corpo ficará? Eu até gostaria que ninguém soubesse sobre mim. O que está em jogo é poder unir-se a Deus, e isso é possível em todos os lugares e em todas as circunstâncias. Viver n'Ele, afogar-me como uma gota d'água no oceano de Sua Misericórdia – este é o meu grande desejo. Esse desejo logo foi realizado.
     Logo após a eclosão da guerra e a captura de Wejherowo pelos alemães, as prisões e execuções de poloneses começaram. Os primeiros a serem liquidados foram os representantes dos intelectuais e do clero. Prevendo que haveria roubos ou também profanação de paramentos litúrgicos, Irmã Alice instruiu o zelador da escola a enterrar o baú com artigos litúrgicos. No entanto, Francisco mostrou-se um espião e traidor. Ele informou a Gestapo e mostrou aos alemães o lugar onde havia enterrado o baú, e eles ameaçaram a Irmã Alice de ser presa. Uma parte da casa foi confiscada para uso do exército. 
     No dia 23 de outubro, Irmã Alice foi visitada pela mãe de uma das alunas para avisá-la e aconselhá-la a fugir, pois ela tinha visto seu nome na lista dos condenados à morte. Irmã Alice agradeceu a gentileza e as informações, mas não fez uso dos conselhos. No dia seguinte, ela foi se confessar. À tarde, ela foi presa. O líder dos soldados alemães que estavam estacionados no convento perguntou à Gestapo o que essa freira havia feito com eles? Em resposta, ele ouviu: Basta que ela seja polonesa. As irmãs que estavam prontas para ir no lugar da superiora souberam que ela estava sendo bem cuidada. Saindo de casa, Irmã Alice disse as seguintes palavras às irmãs: Eu perdoo Francisco por tudo. Era 24 de outubro de 1939.
     Irmã Alice, juntamente com os outros prisioneiros, foi encarcerada na prisão de Wejherowo. Todas as tentativas de libertá-la (mesmo os esforços do general superior e de Jan Kotowski com Hitler) provaram ser infrutíferas. Além disso, nenhum consentimento foi dado para que qualquer irmã entrasse nas dependências da prisão para se encontrar com Irmã Alice. Pelos relatos das testemunhas, sabe-se que na prisão a Irmã rezou muito e serviu seus companheiros de prisão consertando suas roupas esfarrapadas.
     No dia em que se celebra o renascimento da Polônia, 11 de novembro de 1939, Irmã Alice compareceu durante a chamada na praça da prisão com um grande grupo de prisioneiros. Viu-se como a Irmã se aproximou de um grupo de crianças judias e junto com elas entrou em um caminhão. A coluna de automóveis dirigiu-se para a floresta de Piaśnica, onde todos foram assassinados.
     A exumação dos corpos começou em 1946 em Piaśnica. Muitas famílias reconheceram seus parentes. Os restos mortais de Irmã Alice, no entanto, não foram descobertos, pois alguns dos corpos foram desenterrados e queimados pelos alemães. O diretor do grupo de exumação testemunhou que na sepultura nº 17 eles encontraram um fragmento de um grande rosário preto parcialmente queimado, como as irmãs usavam em seu cinto. Este é o único vestígio que aponta para o suposto local da morte da mártir Irmã Alice.
     Cristo ressuscitado, a quem ela dedicou sua vida, realizou todos os seus desejos: ela viveu para Ele, morreu por Ele, e ninguém sabe o lugar exato de sua morte.
     Em 13 de junho de 1999, o Papa João Paulo II, durante sua 7ª peregrinação à Polônia, elevou Irmã Alice Kotowska às fileiras das beatas junto com 107 mártires da Segunda Guerra Mundial.

Reflexão: Irmã Alice permaneceu em poder dos nazistas por 18 dias. Como as mártires da Igreja primitiva, ela deve ter sofrido pressões psicológicas e físicas para renunciar a sua Fé. Os relatos sucintos de seu martírio não nos falam desses últimos dias de sua vida, mas certamente foram terríveis, pois a crueldade dos opositores da Fé Católica é implacável. Peçamos a Beata Alice Kotowska a graça de permanecermos fiéis aos dogmas e aos princípios ensinados pela Santa Igreja de sempre. Que não pactuemos com as novas teorias que são insufladas no seio sacrossanto da Igreja Católica! Elas não têm o “bom odor” de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas o “hálito da morte”, e da morte eterna!...

Fontes:
Suore della Risurrezione » BLESSED ALICE
Irmã Alicja Kotowska, mártir da floresta de Piaśnica | Dziennik Bałtycki
Beata Alice (Maria Jadwiga) Kotowska

sábado, 9 de novembro de 2024

Beata Maria do Monte Carmelo do Menino Jesus, Fundadora - 9 de novembro

      Maria del Carmen Gonzalez-Ramon Garcia-Prieto nasceu em Antequera, no território da diocese de Málaga, Espanha, em 30 de junho de 1834, filha de Salvador Gonzalez e Joana Ramos.
     Desde a infância, transcorrida na casa paterna, demonstrou um temperamento amável, espontâneo e sensível. Os primeiros estudos foram feitos com o auxílio de professores e preceptores particulares.
     Nos anos da sua infância e juventude a Beata Carmem praticava uma intensa vida de piedade. A fonte inesgotável da qual aprendeu a viver era a Eucaristia. Aproximava-se diariamente para receber a Sagrada Comunhão, o que não era frequente na época. Nela radica a sua força. Por isso ela pode afirmar: "Os sofrimentos desta vida parecem nada, comparados com a honra de poder receber diariamente Jesus Sacramentado".
     Juntamente com a Eucaristia, os Mistérios de Belém e o Calvário iluminam o caminho espiritual desta Beata e marcam a sua entrega aos irmãos.
     Em 1857, contraiu matrimônio com Joaquim Muñoz del Cano de Hoyos, mas os 24 anos de vida conjugal foram para ela um cálice amargo, que ela soube suportar com admirável fortaleza, alcançando com seu exemplo a conversão do esposo.
     A Paixão do Senhor, a sua Morte redentora, é também uma força muito viva na Madre Carmem do Menino Jesus para superar os longos e difíceis anos de seu matrimônio e também os sofrimentos que teve que suportar como fundadora. Quando ela afirma que "a vida do Calvário é a mais segura e proveitosa para a alma", experimentou como o amor a Jesus Cristo, que sofre e morre para nos salvar, dá sentido ao silêncio e à paciência nas acusações e calúnias, ao perdão generoso, à doação de si, à docilidade constante à vontade de Deus.
     Tendo enviuvado em 1881, começou a dedicar-se inteiramente aos atos de piedade e cheia de desejo de servir a Nosso Senhor Jesus Cristo na pessoa dos humildes e necessitados, transformou sua residência em um verdadeiro asilo de caridade. Em seu coração nasceu o desejo de consagrar a Deus os restantes dias de sua vida e guiada por seu diretor espiritual, o capuchinho Padre Barnabé da Astorga, empreendeu a fundação de um novo instituto religioso, a Congregação das Irmãs Terceiras Franciscanas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria.
     Ela compreendeu a missão que Deus lhe confiava: aproximar de Jesus as almas que Ele colocou no seu caminho, contar as maravilhas do Senhor "que tanto nos ama", ensinar a descobri-lo e a amá-lo. E, ao mesmo tempo, enxugar as lágrimas dos pobres e enfermos dando-lhes ajuda e conforto; ocupando-se da educação das crianças e jovens, do cuidado dos enfermos e idosos, das jovens operárias, dos menores necessitados de cuidados.
     A contemplação da pobreza e humildade do Divino Nascimento ensinou-a a fazer-se pequena, a não procurar grandezas materiais, a acolher com amor as crianças, principalmente as pobres, a fazer-lhes todo o bem que pode. "Vede nas crianças a presença do Menino Jesus", dizia às suas irmãs.
     Madre Carmem devia ser o instrumento para enxugar as lágrimas, diminuir o pranto, confortar no sofrimento. Pelo espírito franciscano Deus dispô-la a ser portadora de Paz e de Bem; pela devoção ao Coração de Jesus manso e humilde, estimulou-a a "manifestar a todos o amor que Deus nos tem" (cf. Constituições, 5); no Coração Imaculado de Maria ensinou-lhe "a atitude diante de Deus e da vida" (Ibid., 6).
Madre Carmen idosa
     No dia 17 de setembro de 1881, junto com oito companheiras, a fundadora emitiu os votos temporários e em 20 de fevereiro de 1889 fez a profissão perpétua assumindo o nome de Maria do Monte Carmelo do Menino Jesus. Naquela ocasião foi eleita a primeira superiora geral da Congregação, cargo que desempenhou sempre com grande prudência, diligência e amável magnanimidade.
     Sob seu governo o instituto cresceu rapidamente, graças também às numerosas vocações. Nasceram centros para os jovens, escolas e hospitais para o cuidado dos pobres e dos necessitados em geral.
     Em 1897 Madre Carmen deixou a direção da Congregação a cargo das mais novas e dois anos depois, no dia 9 de novembro de 1899, faleceu, já gozando de uma indiscutível fama de santidade.
     Há quase 130 anos esta cidade de Antequera recebe a bênção que Deus envia através da Madre Carmem e pode contar as obras que o Senhor faz por meio da Congregação em diversas regiões da Espanha e em vários países da América: República Dominicana, Nicarágua, Porto Rico, Uruguai e Venezuela. 
Madre Carmen com religiosas
c. 1886
    A Madre Carmem repetia: "Bendito seja Deus, que tanto nos ama", no sofrimento e na alegria. E a sua alma não queria ficar com esse tesouro só para ela. Por isso exclamava: "Quando olho para o céu, aumentam os meus desejos de ir pelo mundo afora ensinar as almas a conhecer e a amar Deus".
     Somente em 1948 os processos informativos foram entregues à cúria de Málaga, para depois ser introduzida a causa de beatificação, em 19 de dezembro de 1963, com decreto da Sagrada Congregação dos Ritos. Nos dois anos seguintes foram celebrados em Málaga os processos apostólicos e em 17 de abril de 1984 ela foi declarada Venerável.
     Finalmente, em 6 de maio de 2007, Madre Maria do Monte Carmelo do Menino Jesus foi beatificada.
Panorama de Antequera, Espanha
 
Fontes:
1. Homilia do Cardeal José Saraiva Martins no rito de beatificação de Madre Maria do Monte Carmelo (excertos) - Antequera (Espanha), 6 de maio de 2007
2. www.santiebeati.it/

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Beata Margarida da Lorena, Mãe de família, viúva, Clarissa - 6 de novembro

     
     Margarida nasceu no Castelo de Vaudémont, próximo de Nancy, em 1463. Era filha de Iolanda de Anjou, descendente de São Luis IX de França, e de Henrique de Vaudémont, Duque da Lorena. Ela passou sua infância em Nancy.
     Jovem órfã, ela foi confiada ao seu avô materno, Renato de Anjou, Rei de Provença, que procurou dar a ela uma boa educação católica. Quando tinha 10 anos, durante um passeio no bosque, Margarida se escondeu com algumas amigas, causando apreensão entre as pessoas do séquito. Encontrada antes do anoitecer, confessou que tinha querido se dar a vida eremítica. As pessoas do seu convívio não ficaram surpresas, pois sabiam que o avô fazia com que a menina lesse a Vida dos Padres do deserto e a Legende Dorée.
     Por ocasião da morte do Rei Renato, ela voltou para a Lorena e casou-se, em 1488, com Renato, Duque de Alençon, filho de um companheiro de Santa Joana d’Arc nas lutas contra os ingleses. O casamento não foi fácil, porque os desastres da Guerra dos Cem Anos angustiavam o pequeno Ducado.
     Margarida seguia os conselhos e o exemplo de sua cunhada Felipa de Gueldre, Duquesa da Lorena e Rainha da Sicília, que também ingressou nas Clarissas.
     Margarida ficou viúva em 1492, após 4 anos de casamento. Passou então a se dedicar à educação de seus três filhos – Carlos, Francisca e Ana – e à administração de sua casa, sem negligenciar a oração e as obras de penitência. Os parentes tinham querido subtrair as crianças de sua tutela, mas ela soube educá-las tão bem, que se tornaram admiráveis jovens de sangue real e fizeram ótimos casamentos.
     Ela governou com sabedoria o Ducado de Alençon. Fundou vários conventos e instituições de caridade, em particular o mosteiro de Clarissas de Alençon, a partir do mosteiro da Ave Maria de Paris, depois o de Argentan.
     Depois de 22 anos de viuvez, de escrupulosa abnegação à família e ao ducado, Margarida, livre do cuidado dos filhos, dividiu seus bens em três partes: uma destinada aos pobres, outra a Igreja e a terceira ao seu próprio sustento; depois se retirou no Castelo de Essai, que se transformou num verdadeiro mosteiro, e permaneceu em estreito contado com as Clarissas de Alençon.
O Bispo da Diocese precisou aconselhar a Duquesa Margarida a moderar seu próprio zelo ascético, que a levava a permanecer quase a noite toda em oração, a usar cilícios, a jejuar longamente, para provar, como ela mesma dizia, “algo da Paixão de Jesus”. Cedendo às exortações do prelado, Margarida aceitou mudar o método: passou a cuidar das chagas dos doentes, num ambulatório aberto por ela em Mortagne.
     Antes de se tornar Clarissa em Argentan, Margarida enriqueceu igrejas e mosteiros com bordados de mérito incalculável feitos por ela com todo o carinho: o famoso “ponto de Alençon”, uma arte das mais sutis, e que lhe dão direito a ser considerada legítima ascendente das nossas modernas rendeiras.
   O apadrinhamento histórico desta famosa renda cabe à Duquesa Margarida. Esta antepassada de Henrique IV, nora do “Gentil Duque”, que foi o companheiro de armas de Santa Joana d'Arc, não se limitou a administrar o ducado durante vinte anos, com tal sensatez e condescendência que lhe deram o nome de “mãe de toda a caridade”: ela praticou e incentivou esta arte que perdura até nossos dias, e da qual também foi uma engenhosa empreendedora a mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus, a Beata Zélia Guerin (*).
     Finalmente, a vocação religiosa de Margarida pode ser coroada de um modo completo e ainda mais austero, quando ela ingressou nas Clarissas pobres de Argentan, aceitando a duríssima vida das filhas de Santa Clara, que hoje a honram como uma de suas Beatas.
Ela professou do mosteiro de Argentan no dia 11 de outubro de 1520, nas mãos do Bispo de Séez, na presença do Irmão Gabriel Maria, comissário geral dos Menores da Observância, enquanto sua cunhada, Felipa de Gueldre, entrava nas Clarissas de Pont-à-Mousson.
     Ela deu exemplo da mais generosa observância da Regra; dotou o mosteiro de Estatutos particulares aprovados pelo Papa Leão X: ele autorizou Margarida a agregar ao mosteiro casas de religiosas da Ordem Terceira regular que ajudariam as religiosas reclusas.
     Margarida faleceu como verdadeira Clarissa no dia 2 de novembro de 1521, com a reputação de santidade. Sobre seu peito foi encontrada uma cruz de ferro, com três pontas que penetravam na carne da Duquesa de Alençon, neta preferida do Rei Renato de Anjou.
     Muitos milagres foram atribuídos à sua intercessão. O Papa Bento XV a beatificou em 20 de março de 1921.
 
(*) Lembremo-nos que Santa Teresinha do Menino Jesus nasceu em Alençon, onde sua mãe tinha um ateliê de ponto de Alençon que empregava várias rendeiras. Foi após a morte de Zélia que a família se transferiu para Lisieux.

Beata Margherita di Lorena

domingo, 3 de novembro de 2024

Santa Sílvia, Mãe de São Gregório Magno – 3 de novembro

      

     Acima de tudo, Santa Sílvia foi uma mãe afetuosa, cuidadosa e carinhosa. Nascida por volta do ano 520, aos 18 anos foi dada em casamento a Gordiano, um personagem relativamente abastado e que desempenhava uma função pública.
     Santa Sílvia, celebrada no dia 3 de novembro, teve sua memória acrescentada ao calendário da Igreja no século XVII, quase 1.200 anos após sua morte. Sabemos muito pouco sobre ela, mas o pouco que sabemos é suficiente para justificar o fato de ela ter ganhado a glória do altar.
Descendente de uma antiga família cristã
     Quando Sílvia se casou com seu primo distante, o senador Gordiano, em Roma, por volta do ano 538, ela devia ter 18 ou 20 anos. Ambos pertenciam a uma família patrícia muito antiga, os Acilii Glabriones, os últimos descendentes da aristocracia republicana. Seu avô, o cônsul Marcus Acilius Glabrio, havia se convertido ao cristianismo já no ano 70. Morreu por Cristo em 83, por negar os deuses pagãos.
     A família permaneceu firme defensora da Igreja. É por isso que não emigraram para Constantinopla, como fizeram quase todos os patrícios no século IV. Preferiram o humilde serviço de Deus e o papado sob perseguição às grandes carreiras políticas e militares da corte imperial.
Servindo à família e a Deus
     Quando se casou com Gordiano, Sílvia sabia que o casamento deles - como era prática em famílias muito piedosas - duraria pouco tempo. Depois que ela tivesse assegurado o futuro da família dando filhos ao marido, o casal se separaria para “viver no santo propósito”, ou seja, ambos entrariam no serviço de Deus.
     Esta escolha, que nos parece surpreendente, era comum na época. Existiam verdadeiras famílias sacerdotais, com homens casados ​​e com filhos separando-se das esposas e adotando o celibato e tornando-se padres, bispos e até papas. Seus filhos, muitas vezes, seguiram seus passos. Na verdade, Gordiano era tataraneto de Félix III.
     Sílvia também sabia que estava apostando no futuro, pois os tempos eram ruins no século VI. Foi tão difícil que algumas pessoas, pensando que o fim do mundo era iminente, recusaram-se a casar e a ter filhos. Este não foi o caso do jovem casal, que se instalou na vasta casa de família no Monte Célio, em Roma. Eles levaram a vida típica de seu meio, entre as obrigações mundanas, a oração e a caridade.
     Entre os dois há um amor verdadeiro e de profunda inspiração cristã. Toda a família respira cristianismo: as irmãs de Gordiano (Santas Tarsila e Emiliana) vivem em casa uma vida quase monástica, temperada pela oração e pela penitência. As histórias que chegaram até nós dizem que da união do casal houve alguns filhos, provavelmente dois; o primeiro deles passaria para a história com o nome de Gregório Magno, um dos papas mais importantes da Igreja antiga.
     Ela deu à luz Gregório em 540, depois de um primeiro cujo nome não sabemos. Depois disso, Gordiano e Sílvia desistiram da vida de casados, embora continuassem a viver na mesma propriedade, grande o suficiente para evitar a tentação. Mais tarde ela retirou-se para o que ficaria conhecido como “oratório de Santa Sílvia” e depois para a igreja de Santa Sílvia.
Amor materno, espelho do amor divino
     Os dois filhos seguem a carreira paterna, trabalhando em cargos públicos: Gregório, por exemplo, trabalhará na corte do império bizantino e, posteriormente, desempenhará o papel de Prefeito de Roma. Apesar da carreira meteórica, Gregório se sente atraído pela vida monástica e, após a morte do pai, transforma a propriedade da família em Célio num mosteiro em que ele e outros jovens vão viver a vida ascética.
     Perante a escolha do filho, Santa Sílvia decide viver igualmente uma vida retirada para se dedicar à oração e à penitência; sempre preocupada com a saúde frágil do filho, todos os dias prepara um prato de legumes ou verduras que ela mesma cultivava em sua horta e manda para que seu filho coma no mosteiro onde vive. Mais tarde, a pedido do Papa, Gregório se tornará diácono e o futuro Papa Gregório. A memória de Santa Sílvia e de seu gesto carinhoso em relação ao filho, foram conservados na Igreja, mostrando como a santidade se manifesta mesmo nas pequenas ações e no seio da família cristã.
     Como exemplo de amor maternal, São Gregório um dia contaria esta anedota. Quando menino, enquanto brincava na beira de uma janela de um andar alto, sua mãe o pegou quando ele estava prestes a cair. Primeiro, ela instintivamente deu-lhe um tapa de terror por ele ter colocado sua vida em perigo descuidadamente, depois, chorando de alívio, ela desesperadamente o segurou perto dela e o cobriu de beijos. Esta memória serviu para ilustrar o amor divino que, como o de uma mãe, não se altera pela correção necessária.
Padroeira de todas as mães de sacerdotes
     Confidente de seu filho sobrevivente, Gregório, ela sabia que, depois de um desgosto juvenil, ele não queria se casar e estava considerando o sacerdócio. Seu pai, Gordiano, não aprovou e empurrou Gregório para uma carreira política. Ele se destacaria na política, tornando-se o último grande prefeito da cidade e um destacado administrador. Esse treinamento lhe seria de grande utilidade quando se tornasse papa e enfrentasse as piores dificuldades.
     Sem dúvida foi Sílvia quem implorou ao marido que deixasse o filho seguir o seu próprio caminho. Somente em 575, após a morte de seu pai, Gregório conseguiu renunciar ao cargo e fundar um mosteiro na propriedade da família. Sílvia morreu ali, talvez em 592.
     Se isso for verdade ela pode ter tido a alegria de assistir à coroação pontifícia de seu filho, que se tornou papa em 3 de setembro de 590. Porém, isso não é conhecido com certeza. O certo é o amor filial do Sumo Pontífice, que mandou pintar os retratos dos seus pais (ambos canonizados pela Igreja) na igreja do seu mosteiro Sant'Andrea al Celio.
     O Papa São Gregório Magno legou-nos assim a imagem da sua mãe forte, piedosa, abandonada à Providência, que soube ajudá-lo na sua vocação sacerdotal. Como tal, Santa Sílvia é a padroeira de todas as mães de sacerdotes, bem como daqueles que se dedicam a ajudar os sacerdotes e a rezar pelas vocações.

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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Baronesa Herbert de Lea: convertida à fé católica – 30 de outubro

     
     Maria Elizabeth Ashe à Court-Repington nasceu em Richmond, Surrey, em 21 de julho de 1822. Era a única filha do tenente-general Charles Ashe à Court-Repington, membro do Parlamento, e sobrinha de William à Court, 1º Barão Heytesbury, embaixador britânico na Corte Imperial Russa em São Petersburgo.
     Em agosto de 1846, aos 24 anos, casou-se com o Honorável Sidney Herbert, segundo filho do 11º Conde de Pembroke.
     Durante a Guerra da Crimeia (1853-1856), seu marido foi nomeado Secretário de Guerra e, em 1862, 1º Barão Herbert de Lea e um par do reino, mas morreu em poucos meses, deixando Lady Herbert viúva aos 39 anos de idade, com quatro filhos pequenos e três filhas ternas.
     Seu filho mais velho, Jorge, herdou o baronato e, no ano seguinte, sucedeu seu tio como 13º Conde de Pembroke e 10º Conde de Montgomery.
     Por muitos anos, Lady Herbert sentiu-se atraída pela Igreja Católica, mas hesitou muito em se converter, por medo de que seus filhos pequenos fossem tirados dela. Antes de sua própria conversão à fé católica em 1851, o futuro Cardeal Manning tinha sido um amigo íntimo e até mesmo diretor espiritual para ela e seu marido. Mas não querendo criar dificuldades políticas para seus nobres amigos, o douto convertido havia interrompido todo o contato.
     Um dia, Lady Herbert não resistiu mais e foi visitá-lo. Ajoelhada diante dele, ela pediu sua bênção, que ele deu em silêncio.
     Cada vez mais atraída pela fé, ela abriu o coração e revelou seus medos ao futuro cardeal. Perguntou-lhe se tinha ouvido falar de Santa Joana Francisca de Chantal. Quando esta santa disse aos filhos que estava decidida a entrar na vida religiosa, um filho deitou-se do outro lado da porta para impedir que ela saísse. Mas, destemida, a santa havia passado sobre ele. O exemplo ajudou Lady Herbert a encontrar a força moral para se converter. Abjurou o anglicanismo e entrou na Igreja Católica em 1866, cinco anos após a morte do marido.
      Tornou-se uma "ultramontana fervorosa", ou seja, uma forte defensora do Papado e de seus direitos, e seu grande amigo espiritual, agora arcebispo de Westminster, acabou sendo o grande campeão inglês para a proclamação do dogma da infalibilidade papal em 1870, durante o Concílio Vaticano I.
     Seus filhos foram tirados dela e feitos alas na Chancelaria, sendo criados na Igreja da Inglaterra. Apenas sua filha mais velha, Maria, a seguiu na fé católica.
     
Lady Herbert continuou a ter muita influência na alta sociedade britânica. Ela escreveu e traduziu extensivamente, trazendo para o inglês de seu original francês, o aclamado Garcia Moreno, do padre Agostinho Berthe. Após sua conversão ao catolicismo, ela viajou para Roma em peregrinação quase anual.
     A Baronesa Herbert de Lea morreu em Herbert House, em Londres, em 30 de outubro de 1911.
 
* Cf. Como entrei no rebanho por Lady Herbert de Lea
Contos sobre Honra, Cavalaria e o Mundo da Nobreza — nº 400
Baronesa Herbert de Lea: uma convertida à fé católica - Nobreza e elites tradicionais análogas (nobility.org)

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Beatas Maria Clotilde Ângela de São Francisco de Borgia Paillot e suas cinco companheiras, Virgens e Mártires da Revolução Francesa – 23 de outubro

   
    
No final do século XVIII, em 14 de julho de 1789, a França foi duramente golpeada pela Revolução. Foi um momento de importantes transformações para praticamente todas as sociedades ocidentais. Foi também um período conturbado, sangrento, em que profundas injustiças foram cometidas.
     No dia 30 de setembro de 1790, os comissários da municipalidade de Valenciennes, de acordo com o decreto da Constituinte, se apresentaram no convento das Ursulinas para inventariar os bens da comunidade e para questionar se as irmãs tinham a intenção de perseverar na sua vocação.
     Havia então 32 irmãs no convento e a superiora era Madre Clotilde Paillot (* 25/11/1739 - + 23/10/1794), que tinha sido eleita no dia 13 de fevereiro do mesmo ano. A resposta das irmãs foi unânime: pretendiam continuar Ursulinas, devotadas à educação das jovenzinhas da cidade.
     Em 13 de setembro de 1792, Valenciennes foi assediada pelas tropas inimigas e no dia 17, tendo sido solicitado seu convento para os defensores da cidade, as Ursulinas foram obrigadas a procurar hospedagem junto às coirmãs de Mons, Bélgica. No dia 6 de novembro as tropas francesas, tendo vencido a batalha de Jammapes, ocuparam Mons, o que obrigou as Ursulinas, algumas semanas depois, a se mudarem novamente.
     Mas a ocupação francesa em Mons durou pouco. Derrotadas na batalha de Neerwinden, as tropas francesas a evacuaram em 21 de março de 1793. As Ursulinas de Valenciennes podiam pensar em retornar à sua cidade, já que os austríacos, possuidores da cidade, encorajavam a reconstituição da comunidade.
     Quando as religiosas chegaram à sua casa, iniciaram logo os trabalhos de restauração, pois fora saqueada. As irmãs não tardaram em retomar com toda intensidade suas atividades, tanto que em 29 de abril de 1794 houve uma profissão e uma vestição em seu convento.
     Em 26 de julho as tropas francesas conseguiram uma grande vitória em Freurus e em 26 de agosto os austríacos se retiraram de Valenciennes. Algumas irmãs permaneceram no convento com Madre Clotilde e foram aprisionadas em 1º de setembro e mantidas encarceradas em suas próprias celas. As outras foram procuradas e aprisionadas com numerosos outros suspeitos.
     O representante da Convenção era então um certo João Batista Lacoste, um dos personagens mais repugnantes daquela época. A sua grande ânsia era poder dispor de uma guilhotina, o que se tornara para ele uma verdadeira obsessão. Ele recebeu uma somente no dia 13 de outubro.
     Naquela data, o golpe de Estado do 9 termidor (27 de julho de 1794) já ocorrera, mas ele não levou isto em conta e mandou instalar a máquina sinistra, e naquele mesmo dia cinco condenados foram guilhotinados.
     No dia 15 de outubro, às nove horas da noite, 116 suspeitos foram reunidos no município e colocados à disposição do tribunal constituído ilegalmente por Lacoste. Eram particularmente numerosos os padres e as religiosas. A razão para condená-los era ocultada sob a acusação de traição e emigração. Os prisioneiros se encontravam em condições higiênicas incríveis e em grande promiscuidade, mas muitas irmãs puderam aproveitar para confessar-se e comungar.
     As primeiras Ursulinas a comparecerem diante do tribunal no dia 17 de outubro, juntamente com os padres refratários, foram guilhotinadas naquele mesmo dia.
     O segundo grupo de religiosas foi martirizado no dia 23 de outubro de 1794: Madre Maria Clotilde de S. Francisco de Borja foi a primeira a ser guilhotinada; Irmã Maria Escolástica de S. Tiago (Margarida José Leroux), aprisionada no mesmo tempo que sua irmã Ana Josefa, chamada Josefina, professa nas Clarissas de Nuns, que fora obrigada a deixar a clausura por causa das leis emanadas durante a Revolução e se retirara entre as Ursulinas, junto à irmã; duas brigidinas: Maria Lívia Lacroix e Maria Agostinha Erraux; a última, uma conversa, Irmã Maria Cordola Josefa de S. Domingos (Joana Luísa Barré)
     É preciso salientar o aspecto do testemunho dado pelas 11 religiosas por ocasião do processo que as mandou para a morte. A priora, Madre Clotilde Paillot, deu aos juízes respostas dignas dos mártires da Igreja primitiva e manifestamente inspiradas pelo Espírito Santo.
     Condenadas, as irmãs cortaram, elas mesmas, seus cabelos e desguarnecerem seus hábitos em volta do pescoço para facilitar a obra da guilhotina. Ansiosas por dar a conhecer o perdão aos seus perseguidores, apressaram-se em beijar as mãos de seus algozes. Subiram o patíbulo recitando o "Te Deum" e as ladainhas da Virgem.
     As 11 religiosas guilhotinadas em Valenciennes foram beatificadas por Bento XV em 13 de junho de 1920, junto com 4 Filhas da Caridade de Arras.
     As religiosas guilhotinadas no dia 23 de outubro têm sua festa litúrgica neste dia.
 
Fonte:
Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus: Beatas Clotilde Paillot e companheiras, Mártires (assassinadas na Revolução Francesa).

domingo, 20 de outubro de 2024

Santa Adelina de Mortain, Abadessa - 20 de outubro


     
Adelina, ou Aline, foi a primeira abadessa da Abadia das “Damas Brancas” em Mortain, no departamento da Mancha, Normandia, Diocese de Coutances, França.
     Era irmã de São Vital, Abade de Savigny (*), como ele atraída pela vida monástica, e fundou um grupo de monjas em Neufbourg, próximo de Mortain. Logo que Vital mandou construir um convento em Mortain a comunidade ali se instalou adotando a regra e o hábito cisterciense. Chamavam-na “Abadia das Damas Brancas” e mais tarde “Abadia Branca”.
     Martirológio Romano: Em Savigny, na Normandia, por volta de 1125, Santa Adelina, primeira abadessa do mosteiro de Mortain, que ela havia construído com a ajuda de seu irmão São Vital.
 
 
(*) São Vital de Savigny (ca. 1060 - 16 de setembro de 1122) foi o fundador canonizado da Abadia de Savigny e da Congregação de Savigny (1112).
 
     Ele nasceu Vital de Mortain na Normandia em Tierceville perto de Bayeux por volta de 1060–5. Seus pais eram Rainfred le Vieux e Rohais. Não sabemos nada de seus primeiros anos; após a ordenação, ele se tornou capelão do irmão do duque Guilherme, o Conquistador, Roberto de Mortain (falecido em 1090). Vital ganhou o respeito e a confiança de Roberto, que lhe concedeu um canorário na igreja da abadia de Saint Evroul em Mortain, que ele fundou em 1082.
     Mas Vital sentia dentro de si o desejo de um estado de vida mais perfeito. Ele desistiu de seu canonismo em 1095, estabeleceu-se em Dompierre, 19 milhas a leste de Mortain, e se tornou um dos líderes da colônia eremita da floresta de Craon. Ali por dezessete anos ele viveu uma vida ascética e foi chamado Vital le Vieux ("Vital, o Velho"), derivado do nome de seu pai. Ao mesmo tempo, ele se preocupou, como seu mentor Roberto d’Arbrissel, com a salvação da população circundante, dando ajuda prática aos párias que se reuniam ao seu redor.
     Ele foi um grande pregador, notável pelo zelo, insensível ao cansaço e sem medo de falar; diz-se que ele tentou reconciliar Henrique I da Inglaterra com seu irmão, Roberto Curthose. Ele parece ter visitado a Inglaterra e uma parte considerável do oeste da França, mas a Normandia foi o cenário principal de seus trabalhos.
     Entre 1105 e 1120 ele fundou um mosteiro de freiras, Abbaye Blanche, em Mortain, com sua irmã Adelina - mais tarde canonizada – como abadessa. Ele morreu em Savigny, em 16 de setembro de 1122.

Santa Adelina de Mortain, Abadessa