sábado, 28 de setembro de 2019

Santa Líoba (ou Leoba), Abadessa – 28 de setembro

    
     A participação ativa das religiosas nas missões estrangeiras se desenvolveu tanto nos séculos XIX, XX e atual, que chegamos a considerá-la como uma inovação moderna. Mas tal, entretanto, não é verdadeiro, pois apesar de algumas diferenças de métodos, devidas ao aparecimento de congregações ativas sem clausura, o mesmo sistema de missões era praticado no início da evangelização dos bárbaros na Europa.
     Como exemplo, basta citar a solicitude missionária de São Bonifácio a qual corresponderam Santas Líoba, Tecla, Valburga e muitas outras que, deixando sua tranquila Abadia de Wimborne, na Inglaterra, transladaram-se para as terras selvagens dos pagãos alemães.
     Líoba pertencia a uma boa família de Wessex e sua mãe, Ebba, era aparentada com São Bonifácio. Embora a data de seu nascimento não seja conhecida, este é considerado um milagre. Os pais de Líoba eram muito religiosos e levavam uma vida santa e temente a Deus. Passados muitos anos sem ter filhos, pediam a Deus que lhe enviasse um filho para perpetuar sua descendência e, assim, mesmo na velhice, o bom Deus lhes presenteia com uma linda criança. Tinne e Ebba, seus caros pais, nunca se cansaram de rezar e pedir a Deus o cumprimento de um desejo que a muitos anos lhes era tão caro.
     Numa noite, sua mãe teve um sonho em relação ao nascimento da filha Líoba. Assim foi o seu sonho revelador: “Sonhara que trazia em seu seio um sino de igreja e no momento em que estendia a mão para tomá-lo, o sino emitia doces e melodiosos sons. Ebba chamou sua fiel ama e narrou-lhe o sonho; a velha escrava, tomada de espírito profético, disse-lhe: ‘Dareis à luz a uma filha, que deveis consagrar ao serviço de Deus’”. (Vida de Santa Líoba, 1914, p. 5). Assim, bem pequena foi consagrada e entregue aos cuidados da abadessa do Mosteiro de Wimborne, Santa Tetta. A criança fora batizada com o nome de Thruthgeba, logo modificado para Liobgetha (Leofgyth) e abreviado para Líoba (ou Leoba), que significa “a bem-amada”.
     Interessante também foi o sonho que teve a própria Santa Líoba, que resumia toda a sua santa vida. Assim foi o seu sonho: “Parecia-lhe que um fio cor de fogo saia de sua boca; quanto mais se esforçava por tirá-lo, tanto mais e mais se prolongava, como se saísse do íntimo do seu coração. Tendo a mão cheia deste rico fio de seda, começou a enrolá-lo em forma de um novelo, que se tornava cada vez maior, até que cansada de enrolar, adormeceu, vencida pela fadiga e a ansiedade”. (Vida de Santa Líoba, 1914, p. 8). Este sonho ficara tão vivo em sua memória, pois sabia que Deus queria dizer-lhe algo através dele. E, realmente, neste, resumia sua vida inteira.
     Quando chegou a maioridade, Líoba decidiu permanecer no mosteiro, fez sua profissão religiosa e progrediu rapidamente na virtude e na sabedoria. Sua inocência servia de exemplo para as monjas mais velhas. Ela se deleitava nas leituras sacras e nas devoções.
     Em 722, São Bonifácio foi sagrado bispo pelo papa São Gregório Magno, que o enviou para pregar o Evangelho na Saxônia, na Turíngia e no Hesse. Quando as notícias de seu trabalho chegaram aos ouvidos das monjas de Wimborne, sua jovem parente, Líoba, se atreveu a escrever-lhe uma carta (conservada em arquivo). Nesta carta Líoba pede orações pela alma do pai, há oito anos falecido, por sua mãe, Ebba, que ainda vivia, e para si própria. Além disso, ela envia uma pequena poesia composta em latim. (*)
     São Bonifácio comoveu-se com sua carta e manteve uma longa correspondência com as monjas de Wimborne, até o ano de 748, quando escreveu para Santa Tetta pedindo-lhe que enviasse Líoba com outras companheiras para estabelecer um mosteiro e centros de religião para mulheres na nascente Igreja da Alemanha.
     A abadessa enviou umas 30 monjas, entre as quais as Santas Líoba, Tecla e Valburga. Todas se reuniram a São Bonifácio em Mainz, e Líoba foi colocada na direção da comunidade que se instalou em um mosteiro chamado Bischofsheim, isto é, “Casa do Bispo”, o que faz supor que São Bonifácio tenha cedido sua residência para as monjas.
     Sob a direção de Líoba o convento rapidamente atraiu mais vocações e dele saíram as monjas que ocupariam outras casas que a própria Líoba fundou na Alemanha, em Kitzingen e Ochsenfurt.
     Um monge de Fulda chamado Rodolfo, que escreveu a vida da Santa antes de transcorrerem sessenta anos de sua morte, relata que segundo o testemunho de quatro das monjas de seu convento, todas as casas religiosas naquela parte da Alemanha solicitavam uma monja de Bischofsheim para guiá-las.
     Segundo essa “Vida”, a beleza de Líoba era notável: tinha o rosto “como de um anjo”, sempre sereno e sorridente, embora raramente ela fosse vista rindo. Ninguém jamais a viu de mau humor, nem a ouviram dizer uma palavra dura; sua paciência e sua inteligência eram tão amplas quanto sua bondade.
     Diz-se que o copo em que ela bebia era o menor de todos, dado que nos permite afirmar que ela se entregava a jejuns e austeridades, em uma comunidade sujeita a Regra de São Bento, onde não se comia mais que duas vezes diárias.
     Todas as monjas faziam trabalhos manuais, e além dos afazeres domésticos na cozinha, refeitório, horta, recebiam uma educação intelectual: aprendiam latim e tinha uma sala destinada à escrita.
     Líoba não tolerava as penitências excessivas, como privar-se do sono, e insistia que todas descansassem ao meio-dia, como constava da Regra. Ela mesma se recostava naquele período, enquanto alguma das noviças lia para ela passagens das Escrituras; e se acreditando que a abadessa havia dormido a leitora se descuidava da tarefa, não passava um instante sem que Líoba abrisse os olhos e a boca para corrigi-la.
     A abadessa dedicava duas horas para conversas com qualquer das Irmãs que quisesse falar com ela. Todas essas atividades estavam à margem do dever principal: oração em comum, adoração de Deus e assistência aos sacerdotes que trabalhavam na missão junto com elas.
     A fama de Santa Líoba espalhou-se por toda parte; os vizinhos pediam a ajuda de suas orações quando o perigo de incêndio, as tempestades ou as doenças os ameaçavam, e os homens responsáveis pelos assuntos da Igreja e do Estado lhe pediam conselho.
     No ano de 754, São Bonifácio empreendeu uma viagem missionária à Frísia, onde sofreria o martírio, e recomendou Líoba a seu sucessor na sé episcopal, São Lull, e a todos seus monges de Fulda, pedindo que cuidassem dela com todo respeito e honra. Nessa ocasião, ele pediu também que fosse enterrado com ela, para que juntos eles aguardassem a ressurreição e permanecessem eternamente unidos no Senhor.
     Após o martírio de São Bonifácio, gozando de um privilégio especial, Líoba visitava frequentemente seu túmulo na Abadia de Fulda e assistia as cerimônias em sua honra.
     Depois de ter governado Bischofsheim por 28 anos, estando já bem idosa, Santa Líoba fez visitas de inspeção a todos os conventos que estavam sob seus cuidados, renunciou ao cargo de abadessa e foi residir em Schornsheim, a seis quilômetros de Mainz, numa propriedade dada a ela por Carlos Magno.
     Sua amiga, a Beata Hildegarda, esposa de Carlos Magno, insistentemente a convidou para a corte de Aachen; ela não pode deixar de ir, porém sua estadia foi breve. Ao despedir-se da rainha, disse: “Adeus, parte preciosa de minha alma! Cristo, nosso Criador e Redentor, queira dar-nos a graça de voltar a nos vermos, sem perigo de confundir os rostos, no claro dia do juízo final, porque nesta vida não voltaremos a nos ver”.
     Assim aconteceu, pois Santa Líoba morreu poucos dias depois de ter regressado, a 28 de setembro de 782, e foi sepultada na igreja da Abadia de Fulda, não no mesmo túmulo de São Bonifácio, porque as monjas temiam perturbar suas relíquias, mas junto dele, no lado norte do altar mor.
     Em 838, o abade de Fulda, Rabano Mauro, para proteger suas relíquias, transferiu-as para a Igreja Monte de São Pedro, e encarregou o monge Rodolfo de escrever a vida da Santa, estendendo seus relatos a quatro discípulas dela: Ágata, Tecla, Maria e Eoliba.
     Santa Líoba é mencionada no Martirológio Romano e sua festa se celebra em várias partes da Alemanha no dia 28 de setembro. 

(*) Ao Reverendíssimo Senhor Bispo Bonifácio,
     Líoba, a última das servas de Cristo, saúda Bonifácio, seu muito amado em Cristo, que se acha revestido da maior dignidade do Senhor, a quem está ligada pelos laços de parentesco.
     Rogo que vos digneis lembrar-vos de vossa amizade para com meu pai Tinne, habitante de Wessex, falecido a oito anos e para a alma de quem peço vossa intercessão junto a Deus. Recomendo-vos também minha Mãe Ebba que, como sabeis, vos está ligada pelos laços de parentesco. Sua vida passou-se no sofrimento; durante muito tempo prostrou-a o peso das enfermidades corporais. Sou sua única filha e desejaria que me fosse permitido, embora indigna, considerar-vos como um irmão, no qual confio mais do que em qualquer outro de meus parentes. Envio-vos este pequeno presente, não que seja digno de vosso agrado, mas a fim de que vos lembreis de minha humilde pessoa e que a distância não me apague completamente de vossa memória. Desejo também muito que esse presente estreite entre nós o laço de sincero afeto, para que perdure sempre.
     Suplico-vos, irmão bem-amado, ajudar-me com o escudo de vossas orações contra os assaltos de meu inimigo invisível. Peço-vos também que vos digneis corrigir esta carta tão mal redigida e não recuseis enviar-me algumas palavras, pelas quais ardentemente suspiro como prova de vosso fervor.
     Procurei compor os seguintes versos, segundo as regras da metrificação poética, embora tenha pouca confiança em meu talento e somente deseje exercitar minha veia poética, ainda muito fraca, o que prova que nisto também preciso de vossa direção. Aprendi esta arte com Eadburga, que nunca cessa de meditar sobre a santa Lei de Deus.
     Adeus! Vivei por muito tempo, sede feliz e rezai sempre por mim”.

(Seguem-se quatro linhas de versos em latim)
“Arbiter omnipotens, solus qui cuncta creavit,
In regno Patris semper qui lumine fulget,
Qua jugiter flagrans sic regnat gloria Christi,
Ilaesum servet semper te jure perenni”.

Postado neste blog em 27 de setembro de 2011

Fontes:
http://www.santiebeati.it/dettaglio/72350

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Beata Francisca Javier de Rafelbuñol, Religiosa e mártir - 27 de setembro

Martirológio Romano: Em Gilet, na província de Valência, Espanha, beatas mártires Francisca Javier (Maria Fenollosa Alcayna), religiosa da Ordem Terceira de Capuchinhas da Sagrada Família, e Hermínia Martínez Amigó, mãe de família, que confirmaram com seu sangue sua fidelidade ao Senhor durante a perseguição religiosa de 1936.

     Francisca Javier nasceu em Rafelbuñol-Valência (Espanha), em 24 de maio de 1901. Foi batizada com o nome de Maria.
     Seus pais, José Fenollosa e Maria Rosa Alcayna eram humildes agricultores, ambos pertencentes à Ordem Terceira de São Francisco.
     A família era formada pelos pais e dez filhos, e viviam todos sob a doutrina cristã. Neste ambiente religioso transcorreu a infância e a juventude de Francisca Javier, enquanto frequentava a escola do povoado, onde realizou estudos primários. Muito devota da Mãe de Deus, Francisca formava parte da Associação de Filhas de Maria.
     Durante os trabalhos do dia, não se esquecia da leitura espiritual, especialmente o Evangelho, e a recitação do rosário. Segundo uma testemunha: "Com estes antecedentes, não é de estranhar que nela nascesse de modo natural a vocação religiosa". Quando ela expos a ideia de ingressar na vida religiosa, sua mãe se opôs, porque Maria era seu braço direito na casa. Cedeu quando o diretor espiritual de sua filha lhe indicou a obrigação que tinha de não a impedir a entrar em um convento.
     Ingressou no postulantado em 15 de novembro de 1921, vestiu o hábito em 11 de maio de 1922, e em 1924 nesta mesma data, emitiu seus votos temporais. A profissão perpétua em 30 de agosto de 1928.
     Antes de iniciar seus serviços se preparou para o apostolado e aperfeiçoou seus conhecimentos musicais. Dava aula de música às meninas internas. Foi ajudante da mestra de noviças do repleto noviciado daquele tempo.
     A Irmã Francisca Javier é descrita como uma religiosa de muito boa aparência, afável, alegre e piedosa. Destacam sua prudência, equanimidade, simplicidade, humildade. Era respeitosa com todos e grande empreendedora. Cumpria seus deveres com alegria e eficácia, ao final dos quais se recolhia no silêncio junto à Eucaristia, da qual era grande devota. As visitas que fazia à sua família eram ocasião para reunir jovens e rezar com elas o rosário, além de falar a elas sobre a importância da oração.
     Exerceu funções em Altura (Castellón), Meliana, Benaguacil e Massamagrell (Valência).
     Estando em Massamagrell foi surpreendida pela guerra civil espanhola. Em 20 de julho de 1936 teve que deixar o convento e voltar para a casa paterna. Localizada, a obrigaram a executar tarefas na casa do Comitê, até que em 27 de setembro de 1936 foi presa e assassinada no cemitério de Gilet (Valência), junto com a Beata Hermínia Martínez Amigó. “Que Deus vos perdoe como eu vos perdoo”, ouviu-a dizer aquele que estava prestes a dar o golpe de graça.
     Foi beatificada em 11 de março de 2001, integrando o grupo de 233 mártires de Espanha.

Fontes:
franciscanos.org // hagiopedia.blogspot.com

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Beata Emília Tavernier Gamelin, Fundadora - 23 de setembro

  
   Emília Tavernier nasceu em Montreal, Canadá, em 19 de fevereiro de 1800, de pais humildes, mas virtuosos e trabalhadores, a última de quinze filhos. Sua família vivia em um local ao norte da cidade chamado Terra Providência. Emília admirava sua mãe que, apesar de seus modestos meios, nunca deixava que os mendigos que vinham bater à sua porta fossem embora com as mãos vazias.
     A infância de Emília foi marcada pela dor: nove de seus irmãos morreram na infância; aos 4 anos perdeu sua mãe e o seu pai aos 14 anos. Depois da morte da mãe, foi adotada por uma tia paterna que a orientou a fazer seus estudos no Colégio das Irmãs da Congregação Notre-Dame. Aos 18 anos seu coração caridoso levou-a a ajudar um irmão viúvo, depois a uma prima doente na cidade de Quebec, antes de voltar para Montreal. O único que pedia era poder servir comida aos mendigos que se apresentavam. A mesa que utilizava para servi-los ela chamava carinhosamente de “A Mesa do Rei”.
     Aos 23 anos, Emília contraiu um casamento feliz com Jean-Baptiste Gamelin, um produtor de maçãs que era 27 anos mais velho do que ela. Os esposos tinham em comum o interesse e o amor pelos pobres. Entretanto, sua felicidade não durou muito. Seus dois primeiros filhos morreram três meses depois de nascidos. Apenas 4 anos após o casamento, Emília perdeu seu esposo, em 1º de outubro de 1827. Uns meses mais tarde, no verão de 1828, seu terceiro filho também faleceu na idade de 21 meses. Em menos de cinco anos Emília tinha perdido seus entes mais queridos.
     Estas perdas dolorosas serviriam de base para a vocação de Emília. Seguindo o conselho de um sacerdote, ela rezou aos pés da Cruz, com uma imagem de Maria, Mãe das Dores. Aquela meditação despertou nela uma profunda devoção da qual tiraria força e valor. Como poderia rechaçar um sacrifício depois de contemplar a dor de Maria e os sofrimentos de Jesus? Se sente chamada a demonstrar sua confiança na Divina Providência e a encarnar a compaixão da Mãe das Dores atendendo aos mais necessitados. As obras de caridade se converteram em um alívio para seu sofrimento pessoal, que toma então um novo significado.
     Emília permaneceu em sua casa da rua Saint-Antoine, da qual era dona, com Dodais, um adolescente com deficiência intelectual, e a mãe idosa deste, os quais eram cuidados pelo Sr. Gamelin, desde que a vida do jovem fora salva por ele. Antes de morrer, o Sr. Gamelin havia pedido a Emília que continuasse cuidando deles como lembrança de seu amor.
     A partir de então, Emília dedicou sua vida e pôs todos seus recursos ao serviço dos idosos, dos doentes e dos órfãos da epidemia de cólera (1832), dos prisioneiros, inclusive os da insurreição de 1837-1838 e dos “alienados”. Idosos, órfãos, presos, imigrantes, desempregados, surdos-mudos, jovens ou casais em dificuldades, deficientes físicos e doentes mentais, todos conheciam bem a sua casa que chamam de “Casa da Providência”, porque ela mesma é uma “verdadeira providência”.
     Grande senhora de Montreal no século XIX, a Sra. Gamelin marcou sua época ao organizar a caridade na metrópole em crescimento. Um pouco depois, ela elegeu fazer-se serva dos pobres e se dedicou a Deus por voto particular, em 2 de fevereiro de 1842. Emília era bem recebida tanto nos lares como nos cárceres, entre os enfermos e entre os que estão saudáveis, porque levava consolo e assistência. Ela era verdadeiramente o Evangelho em ação: “O que fazes ao menor de meus irmãos, a Mim me fazes”.
     Familiares e amigas se reúnem junto a ela para ajudá-la. Outros, porém não entendem tanta dedicação e ao ver que outro refúgio está sendo aberto, comentam: “Madame Gamelin não tinha loucas suficientes, teve que buscar outras!”.
     Durante quinze anos seus gestos heroicos de dedicação se multiplicaram, no início sob o olhar de reconhecimento e aprovação do Bispo Jean-Jacques Lartigue, e depois de Mons. Ignace Bourget, o segundo Bispo de Montreal, que pensava que uma vida tão preciosa não podia desaparecer sem que alguém seguisse o exemplo.
     Em uma estadia em Paris, em 1841, Mons. Ignace Bourget pediu o envio das Filhas de São Vicente de Paula para dar suporte a obra da Sra. Gamelin, com a finalidade de estabelecer as bases de uma comunidade religiosa. Ao receber a resposta afirmativa, mandou construir uma casa para acolhê-las em Montreal. Porém, na última hora as religiosas mudaram de ideia. A Providência tinha outros planos. A obra da Sra. Gamelin sobreviveu a tudo isto.
     Como consequência da resposta negativa daquela instituição, Mons. Bourget e Emília Tavernier Gamelin fundaram, em 1843, uma comunidade de irmãs canadenses e Emília se une ao grupo de noviças em outubro do mesmo anos. Foi a primeira a fazer profissão na Congregação, então conhecida como Filhas da Caridade Servas dos Pobres, que as pessoas chamavam carinhosamente de Irmãs da Providência. No dia seguinte, Emília passou a ser a 1ª superiora da Congregação, aos 44 anos.
     A primeira profissão religiosa foi celebrada no dia 29 de março de 1844. As necessidades dos pobres, dos doentes, dos imigrantes etc., não cessavam de aumentar naquela cidade, na sociedade em vias de desenvolvimento.
     O Instituto conheceu horas sombrias, quando as Irmãs diminuíram de número devido às epidemias. Quando o Bispo Bourget duvidou da boa vontade da superiora, influenciado por uma religiosa muito negativa, a fundadora manteve-se de pé junto a Cruz, seguindo o exemplo da Virgem das Dores, seu modelo a partir das horas de luto. O mesmo bispo reconheceu sua grandeza de alma e sua generosidade que chegava ao heroísmo.
     A nova comunidade cresceu: as Irmãs da Providência se multiplicaram, eram 50 em 1851, apenas oito anos após seu nascimento e no ano mesmo em que a fundadora faleceu, vítima da epidemia de cólera. Ela havia continuado sua missão na vida religiosa até sua morte, em 23 de setembro de 1851. Suas últimas palavras, que dirigiu às suas irmãs, foram: “Humildade, simplicidade, cari... (dade)!” Os pobres, os vulneráveis a quem dedicou sua vida, estão no coração da missão apostólica que ela legou às Irmãs da Providência.
     A partir de um início humilde, são 6147 jovens que se comprometeram a seguir o exemplo da Beata Emília Tavernier Gamelin. Hoje elas são encontradas no Canadá, Estados Unidos, Chile, Argentina, Haiti, Camarões, Egito, Filipinas e Salvador.
     Em 23 de dezembro de 1993, as virtudes heroicas de Emília Tavernier Gamelin foram promulgadas. Depois de um milagre atribuído a sua intercessão ser reconhecido oficialmente, em 18 de setembro de 2000, sua beatificação foi proclamada em 7 de outubro de 2001.
     Sua festa litúrgica é 23 de setembro, dia de seu falecimento em 1851.  
Casa-mãe da Congregação cerca de 1890, Montreal, Canadá
Fontes:

Publicado neste blog em 22 de setembro de 2011

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Nossa Senhora de La Salette - 19 de setembro

     Dois pastorinhos - Maximino Giraud e Melania Calvat - tiveram uma visão da Virgem Maria numa montanha perto de La Salette, França, a 19 de setembro de 1846, por volta das três horas da tarde. Fazia muito sol. Maximin Giraud e Mélanie Calvat haviam recebido apenas uma muito limitada educação.
   A aparição consistiu em três fases diferentes. As crianças viram, numa luz resplandecente, uma bela dama em uma estranha vestimenta, falando alternadamente francês e patois. Ela estava sentada sobre uma pedra, e as crianças relataram que a "Belle Dame" estava riste e chorando, com seu rosto descansando em suas mãos. A Bela Senhora pôs-se de pé e disse: "Vinde, meus filhos, não tenhais medo, aqui estou para vos contar uma grande novidade!"
     As crianças foram até a Bela Senhora. Ela não parava de chorar. Segundo os relatos das crianças a Senhora era alta e toda de luz. Vestia-se como as mulheres da região: vestido longo, um grande avental, lenço cruzado e amarrado às costas, touca de componesa. Rosas coroavam sua cabeça, ladeavam o lenço e ornavam seu calçado. Em sua fronte a luz brilhava como um diadema. Sobre os ombros carregava uma pesada corrente. Uma corrente mais leve prendia sobre o peito um crucifixo resplandecente, com um martelo de um lado, e de outro uma torquês.
   A Bela Senhora falou em segredo a Maximino e depois a Melânia. E novamente, os dois em conjunto ouvem as seguintes palavras: "Se se converterem, as pedras e rochedos se transformarão em montões de trigo, e as batatinhas serão semeadas nos roçados" E a Bela Senhora concluiu, não mais em patois, e sim em francês: "Pois bem, meus filhos, transmitireis isto a todo o meu povo". Terminou assim a aparição.
     Segundo as crianças ela andava, mas as plantas de seus pés não esmagavam a relva, quase não dobravam os talos. Melania correu e a contemplou de novo lá no alto. E depois, segundo ela, viu o rosto e a figura da Senhora desaparecendo à medida que a luminosidade aumentava.

   Durante a aparição, Nossa Senhora, após dar o segredo, ditou à vidente Mélanie Calvat, palavra por palavra, uma regra para que se fundasse uma ordem religiosa com o nome de "Ordem da Mãe de Deus" e que se destinaria aos "Apóstolos dos Últimos Tempos".
   Em relação aos "Apóstolos dos Últimos Tempos", Nossa Senhora de La Salette disse:
   Eu dirijo um urgente apelo à Terra; chamo os verdadeiros discípulos do Deus Vivo que reina nos Céus; chamo os verdadeiros imitadores de Cristo feito Homem, o único e verdadeiro salvador dos homens; chamo os meus filhos, os meus verdadeiros devotos, aqueles que já se me consagraram a fim de que vos conduza ao meu Divino Filho; os que, por assim dizer, levo nos meus braços, os que têm vivido do meu Espírito; finalmente, chamo os Apóstolos dos Últimos Tempos, os fiéis discípulos de Jesus Cristo que têm vivido no desprezo do mundo e de si próprios, na pobreza e na humildade, no desprezo e no silêncio, na oração e na mortificação, na castidade e na união com Deus, no sofrimento e no desconhecimento do mundo. Já é hora de que saiam e venham iluminar a Terra. Ide e mostrai-vos como filhos queridos meus. Eu estou convosco e em vós sempre que a vossa fé seja a luz que alumie, e nesses dias de infortúnio, que o vosso zelo vos faça famintos da glória de Deus e da honra de Jesus Cristo.
   O tema central das mensagens da Virgem para a Humanidade foi que deveriam livrar-se do pecado mortal e fazer penitência, ou sofreriam terríveis sofrimentos. A Virgem Maria predisse eventos futuros da sociedade e da Igreja. O cumprimento destas previsões foi também visto como uma das indicações da veracidade da aparição nas investigações que se seguiram à aparição.
   No que diz respeito à sociedade, a Virgem Maria previu que a colheita seria completamente fracassada. Em dezembro de 1846, a maior parte das camadas populares foi atingida por doenças e, em 1847, uma fome assolou a Europa, resultando na perda de cerca de um milhão de vidas, sendo cem mil só na França. A cólera se tornou prevalente em várias partes da França e custou a vida de muitas crianças. O desaparecimento da Segunda República Francesa, com a Guerra franco-prussiana (1870-1871) e a revolta da Comuna de Paris de 1871 foram igualmente previstos.
   No que diz respeito à Igreja, Ela previu que a fé católica na França e no mundo, mesmo na hierarquia católica, iria diminuir bastante, por causa dos muitos pecados dos leigos e do clero. Guerras iriam ocorrer se os homens não se arrependessem, Paris e Marselha seriam destruídas. A Humanidade foi alertada para a vinda do Anticristo e do fim dos tempos. Para Maximino, Ela previra a conversão da Inglaterra na fase final do Apocalipse.
   A Virgem citou o ano de 1864, quando haveria a "multiplicação de maus livros sobre a terra" e a "pregação de um evangelho contrário ao de Jesus Cristo negando a existência do céu e do inferno". Seu alerta, embora parecesse confuso à época, previu o lançamento em 1864 do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec que pregava exatamente as mesmas abominações e relata os mesmo "prodígios" que Maria alertou dezenas de anos antes.
   Outro clamor atual da Virgem é quanto à crise moral e até mesmo litúrgica da vida sacerdotal; podemos até citar as desonras e a vergonha da Igreja com a falta de muitos dos seus membros pelos escândalos de pedofilia, sincretismo, apostasia e outras abominações:
   Os sacerdotes, ministros de meu Filho, os sacerdotes, por sua má vida, por suas irreverências e sua impiedade em celebrar os santos mistérios, por amor do dinheiro, das honras e dos prazeres, os sacerdotes tornaram-se cloacas de impureza. Sim, os padres pedem vingança, e esta está suspensa sobre as suas cabeças. Desgraçados dos padres e das pessoas consagradas a Deus, as quais, por suas infidelidades e sua má vida crucificam novamente o meu Filho! Os pecados das pessoas consagradas a Deus clamam ao Céu e chamam a vingança e ela está às suas portas, pois não se encontra ninguém para implorar misericórdia, e perdão para o povo; não há mais almas generosas não há mais ninguém digno de oferecer a Vítima sem mancha ao Pai Eterno em favor do mundo.
     A Basílica de Nossa Senhora de La Salette foi iniciada em 1852, concluída em 1865, e designada basílica em 1879. É uma grande, quase austera igreja, com uma fachada ladeada por duas torres. No interior da basílica, a nave é delimitada por duas fileiras de colunas bizantinas. Possui três medalhões representando as fases da aparição, os prantos, a mensagem, e a partida. A basílica também inclui um pequeno museu que documenta a história de La Salette.


Postado neste blog em 19 de setembro de 2011

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Santa Hildegarda von Bingen, Mística, Profetiza e Escritora – 17 de setembro

     Hildegarda von Bingen nasceu no Condado de Spanhein, Diocese de Maicus, no ano de 1098. Seus pais, Hildeberto e Matilde, provavelmente originários de Bermerschein, no Condado de Spanheim, pertenciam à nobreza do Palatinado.
     Conforme prática comum naquela época, com a idade de oito anos ela foi levada ao Mosteiro de Disibodensberg, ou do monte de Santo Disibode, onde foi colocada sob a direção de Jutta, filha do Conde de Spanheim, que tomou a si o encargo de cuidar dessa menina que dava sinais de grande vocação. Sua virtude sobressaiu de tal modo que, aos 39 anos, quando morre Jutta, as religiosas elegeram Hildegarda como Abadessa.
     Sabe-se que Hildegarda tinha uma saúde muito frágil e que sempre era favorecida por visões, além de ter intuições sobrenaturais de coisas por suceder. Todas essas manifestações sobrenaturais eram por ela narradas com simplicidade a sua tutora e a um dos monges do mosteiro de Santo Disibode, chamado Volmar, que posteriormente exercerá o ofício de seu secretário durante 30 anos.
     Como ela mesma conta em seus escritos: "Aos meus 40 anos, tive uma visão onde uma voz dizia: ‘Diga o que viste e entendeste, não à maneira de outro homem, mas segundo a vontade dAquele que sabe, vê e dispõe todas as coisas no segredo de seus mistérios’".
     Era uma ordem decisiva que indicava a vocação de Hildegarda, semelhante à dos profetas do Antigo Testamento, os quais eram as bocas de Deus. Sobre esta vocação, Hildegarda insistirá dizendo que "uma voz do Céu mandava-me tudo dizer e escrever, tal qual ouvia e era-me ensinado". Esta voz apresentou-se a ela como “a Luz viva que ilumina o que é obscuro”
Hildegarda menina entregue a Jutta
     Durante muito tempo ela resistiu por humildade e desconfiança. Mais por temor do que por desobediência, continuava a recusar a escrever. Foi então que caiu doente. Confiou sua preocupação ao seu diretor espiritual. Depois de aconselhar-se com os religiosos mais sábios da comunidade e de interrogar Hildegarda, o Prior ordenou-lhe que escrevesse. Assim que ela começou a escrever, imediatamente se viu curada e levantou-se da cama.
     Ajudada pelo monge Volmar, escreveu, entre 1141 e 1151, a sua grande obra Scivias (Conhece as vias do Senhor), uma espécie de Apocalipse sobretudo dogmático e um pouco moral.
     Em 1147, o prior, desconfiando do seu próprio critério, apresentou os escritos de Hildegarda ao Arcebispo Henri, de Mainz, Diocese onde se localizava o Mosteiro de Disibodensberg. Aproveitando a presença do Papa Eugênio III em Trier, onde iria reunir-se um Sínodo preparatório do Concílio de Reims, o arcebispo consultou o Papa.
     Trier é a cidade do Imperador Constantino, que ali residiu com sua mãe Santa Helena até o ano 316. O Papa Eugênio III era um cisterciense formado por São Bernardo. Ele reuniu Cardeais, Bispos e Abades para um alto tema: confirmar mais uma vez as reformas empreendidas pelo Papa São Gregório VII.
     O Papa, desejoso de conhecer melhor o assunto, enviou o Bispo de Verdum, Alberon, ao Mosteiro de Hildegarda, que respondeu com simplicidade às perguntas que lhe foram feitas. Os escritos feitos até então por Hildegarda foram entregues a ele e lidos em voz alta na presença do Arcebispo, dos Cardeais e de todo o clero reunido. Entre os ouvintes estava a maior figura da Cristandade: São Bernardo de Claraval.
     A conclusão da assembleia é atribuída a São Bernardo: "É preciso impedir que se apague uma tão admirável luz animada pela inspiração divina". Este Santo conhecera Hildegarda e pediu que o Papa divulgasse tão grande graça concedida por Deus à Igreja no seu pontificado, e a confirmasse com sua autoridade.
     O Papa seguiu seu conselho, escreveu a Hildegarda: "Nós ficamos admirados, minha filha, que Deus mostre em nosso tempo novos milagres. Nós te felicitamos pela graça de Deus. Conserve e guarde esta graça" (*). Pediu ele ainda que ela relatasse com frequência tudo que lhe fosse revelado por intermédio do Espírito Santo.
     A santa relatou ao Papa Eugênio III, em carta bastante longa, tudo quanto ouvira da voz celeste relativamente ao pontífice. Anunciava uma época difícil, cujos primeiros sinais já se manifestavam:
     “As próprias montanhas, que são os prelados, em lugar de se elevarem continuamente a comunicações íntimas com Deus, a fim de cada vez mais se transformarem na luz do mundo, descuidam-se e obscurecem-se. Daí a sombra e a perturbação que reina nas ordens superiores. E porque vós, grande Pastor e Vigário de Cristo, deveis buscar luz para as montanhas e conter os vales, dai preceitos aos senhores e disciplinas aos súditos. O Soberano Juiz recomenda-vos que condenais e repilais de junto de vós os tiranos importunos e ímpios, no temor de que, para vossa grande confusão, eles se imiscuam na vossa sociedade, mas sede compassivo com as desgraças públicas e particulares, pois Deus não desdenha as chagas e as dores daqueles que O temem”.
     Começou assim uma nova vida para Hildegarda. Sua fama, não só devido a seus escritos, mas também aos milagres, difundiu-se além do Reno. Muitos vinham visitá-la. Ela penetrava nos pensamentos dos peregrinos e afasta-se dos que se aproximam com más intenções ou para provar sua virtude. Exortava à conversão à Fé verdadeira os judeus que vinham ouvi-la. Hildegarda livrou do demônio uma possessa de Colônia, que os sacerdotes da Abadia de Brauweisler não tinham conseguido expulsar. 
    Santa Hildegarda mantinha correspondência com Papas, Bispos e altas autoridades temporais, como, por exemplo, os Imperadores Conrado III e Frederico Barbaruiva, da Alemanha.
     Frederico Barbaruiva pediu que a Santa o visitasse em seu palácio de Ingelheim, perto de Mainz. Os detalhes desse encontro são conhecidos pelas cartas do Imperador e das respostas de Santa Hildegarda. Ela não se intimida diante de tão ilustre destinatário e o adverte em termos proféticos e pede que o Imperador "vele pelos costumes dos Prelados que caíram na abjeção", exortando-o a que "tome cuidado para que o Supremo Rei não te lance por terra por culpa da cegueira de teus olhos. Seja tal, que a graça de Deus não te falte".
     O Imperador lutou contra o Papado, destituiu o Arcebispo de Mainz, fiel a Roma, mandou suas tropas arrasar Milão e nomeou nada menos do que quatro antipapas apenas durante o pontificado de Alexandre III.  Ficou surdo às exortações da Santa!
     Correspondia-se ela com São Bernardo de Claraval, que lhe escreveu em termos elogiosos e sobrenaturais: "Agradeço a graça de Deus que está em ti. Eu te suplico de lembrar-te de mim diante de Deus..."
     Ela recebera a vocação de aconselhar, segundo os caminhos de Deus, não só as mais altas autoridades da época, mas também pessoas simples que a ela recorriam pedindo um conselho. A todos Hildegarda respondia com o tom que caracterizava o seu estilo, isto é, com solenidade, humildade e severidade.
     Santa Hildegarda anunciou a eclosão de uma terrível heresia que ergueria o povo contra o Clero, porque este "tinha uma voz e não ousou levantá-la", o que permitiu ao inimigo "oferecer os seus próprios bens, enchendo os olhos, as orelhas e o ventre de todos os vícios!" Pouco tempo depois, explodiu a heresia dos cátaros, descrita por ela com detalhes que surpreendem os historiadores. Ela vai além, prevendo a vitória da Igreja sobre essa heresia.
     Santa Hildegarda é mística, profetiza, escritora, pregadora, conselheira, médica e compositora. Seus outros dois livros que compõem a trilogia hildegardina são: o Líber vitae meritorum ou Livro dos Méritos, onde são apresentados os grandes dados da moral do século II; e o Líber divinorum operum ou Livro das obras divinas, de caráter científico, contendo ilustrações de grande precisão e originalidade. Ela compôs ainda diversas obras de menor importância sobre assuntos variados, como o Tratado de Medicina. Compôs também 77 sinfonias em um estilo similar ao gregoriano.
     Santa Hildegarda viveu seus últimos anos no convento de Eibingen, o terceiro fundado por ela na outra margem do Reno. Foi o único que se salvou dos bárbaros e das guerras. Uma das religiosas narra a morte de Santa Hildegarda: "Nossa boa Mãe, depois de combater piedosamente pelo Senhor, tomada de desgosto da vida presente, desejava cada dia mais evadir-se desta Terra para unir-se com Cristo. Sofrendo de sua enfermidade, ela passa alegremente deste século para o Esposo celeste, no octogésimo ano de sua existência, no dia 17 de setembro de 1179".
     Em 1233 foi feito um inquérito sobre as suas virtudes e os seus milagres, ordenado pelo Papa Gregório IX, mas não chegou a bom termo.
Sta. Hildegarda com seu secretário
     Ao longo do século XIII se desenvolveu um culto popular dirigido a ela, em 1324 o papa João XXII autorizou sua veneração pública, e suas relíquias foram autenticadas no encerramento do século XV. Finalmente seu nome foi inscrito como santa na primeira edição do Martirológio Romano, de 1584, aprovada pelo papa Gregório XIII, e sua inclusão foi ratificada na edição revista de 2001 publicada sob os auspícios do papa João Paulo II, que a descreveu como "uma santa extraordinária, uma luz para seu povo e sua época que nos dias de hoje brilha ainda mais intensamente".
     A partir da segunda metade do século XX o interesse pela sua figura histórica e seus escritos renasceu, especialmente através dos estudos monumentais de Marianna Schrader, Christel Meier e Aldegundis Führkötter, e com as traduções feitas dos originais latinos para o inglês por Otto Müller, tornando acessível seu trabalho para um público muito mais vasto, de modo que atualmente sua produção já é objeto de análises particularizadas por um bom número de acadêmicos da Europa e Estados Unidos, destacando-se Peter Dronke, Barbara Newman e Heinrich Schipperges, entre muitos outros.
     Para dirimir quaisquer dúvidas que ainda pairassem sobre o seu estatuto de santa, em 10 de maio de 2012 o papa Bento XVI proclamou publicamente sua santidade e determinou que seu culto fosse estendido à Igreja Universal na forma devida aos santos, ratificando definitivamente a inclusão do seu nome na lista dos santos católicos. Em 7 de outubro do mesmo ano, através de Carta Apostólica, foi honrada com o título de Doutora da Igreja, considerando a ortodoxia da sua doutrina, a sua reconhecida santidade, a importância dos seus tratados e sua influência sobre outros teólogos.
 
Abadia de Santa Hildegarda em Rüdesheim
(*) A carta é uma das 390 que aparecem no livro recentemente publicado na Alemanha sob o patrocínio da Abadessa Walburga Storch OSB, da própria Abadia de Santa Hildegarda, em Rüdesheim-Eibingen.

    “Por que Deus quis que ela tivesse essas visões? Porque o verdadeiro católico tem que ter uma filosofia da História. Ele deve saber que sua época é um elo entre o passado e o futuro, e deve interpretar os acontecimentos de sua época não como acontecendo só hoje, mas como nascidos de mil fatores do passado e gerando mil coisas no futuro. É um processo, é uma coisa que gera outra, que gera outra, que gera outra, que gera outra. Para nós conhecermos este processo veio esta revelação”.

Fontes: Catolicismo setembro 1998; Pe. Rohbacher

Postado neste blog em 16 de setembro de 2011

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Santa Notburga de Eben, Doméstica – 14 de setembro

    
      O culto a Santa Notburga teve uma imensa difusão nos países de sua região, Áustria e nos estados vizinhos, porque era então pouco comum que uma empregada doméstica, pertencente ao mundo camponês, fosse venerada como santa. Eram comuns no campo feminino as santas religiosas, abadessas, ou também rainhas. Muitas 'Vitae' e livros devocionais foram escritos sobre ela, bem como ela foi retratada em muitas obras de arte.
     Notburga nasceu em 1265 em Rattenberg (Tirol Norte). Foi doméstica e cozinheira no vizinho Castelo de Rottenburg.
     Filha de uma família de lavradores sem fortuna do Tirol, foi educada nos princípios católicos. Aos dezessete anos foi admitida como cozinheira no palácio do Conde Henrique de Rottenburg. Henrique e Jutta, sua esposa, grandes esmoleres, designaram Notburga como sua despenseira para com os pobres que chegavam a toda hora em seu palácio. Ela distribuía generosamente aos pobres tudo aquilo que sobejava da mesa dos patrões. Ela também doava aos pobres o seu próprio alimento, especialmente às sextas-feiras.
     Seis anos viveu com os condes; com a morte deles tudo mudou para Notburga. Otília, a nova condessa, a maltratou de mil modos, e por fim a expulsou de sua casa. Mas, Otília ficou mortalmente enferma e Notburga cuidou dela e a preparou para a morte.
     Notburga depois passou a trabalhar para os agricultores do vale do Eben. Ali realizou um milagre para que os trabalhos nos campos terminassem após o toque dos sinos das Vésperas do sábado – que segundo o costume medieval indicava o início da festa dominical –, para que os camponeses pudessem se dedicar à oração e aos trabalhos da casa.
     Depois do falecimento de Otília, seus filhos, que herdaram seus bens e eram católicos piedosíssimos, acolheram a jovem, que voltou a trabalhar como cozinheira no castelo. Novamente despenseira dos pobres, continuou suas atividades caritativas até sua morte.
     Notburga faleceu em 14 de setembro de 1313 no Castelo de Rottenburg. Um pouco antes de sua morte ela dissera ao seu senhor para colocar seu corpo em uma carroça puxada por dois bois, e para enterrá-lo onde os bois parassem. Os bois dirigiram a carroça para a Capela de São Roberto, em Eben am Achensee, onde ela foi sepultada.
     A Santa é invocada como modelo e patrona da juventude rural, e venerada como patrona dos camponeses e das domésticas. O seu culto se difundiu no Tirol, Áustria, Ístria, Baviera e foi confirmado pelo Papa Pio IX com decreto de 27 de março de 1862.
     Não existem documentos contemporâneos que mencionem sua vida, somente um texto muito antigo, em alemão, pintado a óleo sobre madeira, que adornava o túmulo de Notburga em Eben am Achensee, e se perdeu.
Túmulo da Santa
     Este texto, que foi transcrito para o latim e é conservado no Museu Ferdinandeum de Innsbruck, narra numerosos milagres e prodígios que aconteceram depois de sua morte. A iconografia que a representa é numerosa e a mostra como um dos seus símbolos: a foice. Segundo a legenda, diante da insistência de um camponês em continuar a trabalhar após o toque do sino, Notburga lançou a foice para o alto, e ela ficou suspensa no ar.
     Notburga foi alvo de um culto notável nos séculos seguintes, eram numerosos os peregrinos que iam venerar seu túmulo e levavam um pouco de terra do cemitério consigo para usá-la contra as doenças que afligiam homens e animais.
     A igrejinha de Eben onde ela estava sepultada foi ampliada em 1434 e em 1516, e embelezada com o apoio do imperador Maximiliano I de Habsburg. Em 1718 as suas relíquias foram recompostas, segundo o uso da época, revestidas com seda, ouro e prata, e colocadas no altar mor em posição vertical e ali estão ainda hoje.
 Eben am Achensee
Postado neste blog em 13 de setembro de 2012