Elisabete
nasceu em Codrongianos, na Sardenha, em 23 de abril de 1788, numa família de
agricultores rica de fé e de filhos, e morreu com fama de santidade em Roma, em
1857. Logo após a sua morte, sua fama aumentou de forma extraordinária. São
Vicente Pallotti foi seu diretor espiritual por 18 anos.
Elisabete foi acometida pela varíola três meses após o nascimento e se
restabeleceu, mas ficou com os braços estropiados e as articulações
enrijecidas, o que não a impediu de crescer enfrentando sua incapacidade como
uma coisa natural, de desenvolver melhor as tarefas domésticas e a se
apresentar sempre ordenada e asseada.
Da família recebeu o dom de uma intensa vida cristã desde pequena, tanto que
aos seis anos foi crismada. Pouco depois foi confiada a Lúcia Pinna, terceira
franciscana, animadora de um grupo de mulheres dedicadas a Adoração
Eucarística, ao Rosário, ao socorro aos pobres. Lúcia, embora analfabeta como
muitas mulheres daquele tempo, era uma excelente catequista das crianças da
vila e do campo. Na escola, Elisabete aprendeu a conhecer Jesus e a ama-Lo.
Com 10 anos fez a primeira Confissão e a primeira Comunhão. Frequentava o
catecismo dado pelo Pe. Luís Sanna, primo do pai, e convidava suas companheiras
a acompanhá-la.
Com 15 anos, nos dias festivos reunia jovens em sua casa e lhes ensinava a
doutrina cristã e a rezar o Rosário. Seu irmão, Antônio Luís, que a incentivara
no culto a Nossa Senhora, entrou no Seminário de Sassari e se tornou sacerdote.
Permanecendo no mundo, se inscreveu nas Confrarias do Rosário e do Escapulário
do Carmelo. Viveu uma adolescência serena, cheia de trabalho, de colóquio com
Nosso Senhor, de apostolado. Desejava ser religiosa, pois sendo deficiente não
pensava em se casar. Entretanto, aos 19 anos é procurada para esposa por jovens
de bons princípios.
Assim, em 13 de setembro de 1807 se casou com Antônio, um bom cristão de
modesta condição. Uma festa simples e tranquila, uma total confiança no Senhor
e em Nossa Senhora, foi o início de sua vida conjugal. Antônio era um marido e
pai exemplar; aos amigos dizia: “Minha mulher não é como as vossas, é uma
santa!” Elisabete diria: “Eu não era digna de tal marido, tão bom ele era”. A
sua família era modelo para toda a região.
O casal teve sete filhos dos quais dois morreram muito cedo. Ela passava o dia
entre a casa, empenhada na educação dos filhos, e o campo, onde trabalhava sem
se poupar. Ainda encontrava tempo para longas horas de oração na igreja.
Ela mesma preparou seus filhos para a Confissão e a Comunhão e lhes transmitiu
o seu grande amor a Jesus, com muita doçura, sem jamais usar modos bruscos. Uma
verdadeira educação. Não temia as críticas por sua fé professada e vivida
publicamente.
No dia 25 de janeiro de 1825, seu esposo, assistido por ela, morreu
prematuramente. Viúva com cinco filhos – o mais velho de 17 anos, o menor com
apenas 3 anos de idade – intensifica a vida de orações e de caridade, sem
jamais descurar de seus deveres de mãe e a sua família continua com dignidade e
decoro.
Sua casa se torna quase um pequeno oratório onde, além de seus familiares, se
reúnem em oração os vizinhos. Ela vive como uma monja no mundo. Naqueles anos
compôs em seu dialeto uma belíssima ladainha que era cantada em Codrongianos.
Em 1829 chegou à cidade um jovem vice pároco, o Pe. José Valle, de família
nobre, de notável ascendência sobre as almas. Ele se tornou o confessor e
diretor espiritual da família Sanna, em particular de Elisabete, que chama de
tia. O Pe. Valle, vendo as ótimas disposições de Elisabete, a convida à
comunhão frequente, permite que ela use o cilicio e que faça o voto de
castidade.
A sua vida cristã se torna ardente. Jesus pede que ela O siga mais de perto.
Elisabete pensa em ir à Palestina e confia seus filhos ao irmão sacerdote. No
fim de junho de 1830 ela pretendia embarcar no navio para Chipre, mas o Pe.
Valle descobre que não tinham visto para o Oriente. Ela então foi em
peregrinação para Roma.
Em 23 de julho de 1830, o Pe. Valle se tornou capelão do hospital Santo
Espírito e Elisabete Sanna se acomodou em um pequeníssimo alojamento em frente
à igreja do Espirito Santo, bem próximo da Basílica de São Pedro.
Elisabete somente conhecia seu dialeto natal e por isso não falava com ninguém,
só com Deus na oração e vivia na sua pequena cela como uma eremita: visitava
igrejas, assistia várias Missas durante o dia, fazia caridade com os pobres. No
seu alojamento, dois meses depois, acolheu o Pe. José Valle, como um filho para
curar. O padre ali ficará até 1839 assistido por Elisabete como por uma mãe.
Nas suas peregrinações pelas igrejas de Roma, diante de suas dúvidas se devia
voltar para a Sardenha, encontrou certo dia com um santo padre romano, Vicente
Pallotti, dedicado a um intenso apostolado junto aos leigos que deu vida, em
1835, à Sociedade do Apostolado Católico. Homem de grande influência sobre
religiosos e leigos, rico de um fascínio singular, o Pe. Pallotti seria
canonizado em janeiro de 1963.
Elisabete passou a ser dirigida pelo Pe. Pallotti que, iluminado por Deus, viu
a missão a que ela era chamada na Urbe. Ela passou a colaborar na casa de Mons.
João Saglia, secretário da Congregação dos Bispos e futuro cardeal. Tornou-se
terciária franciscana e primeira colaboradora do Apostolado Católico fundado
por São Vicente Pallotti, acompanhou o desenvolvimento do Instituto fundado
pelo Pe. Vicente Pallotti, a Congregação dos Pallotinos, por 22 anos, até à sua
morte em Roma.
Elisabete doou todos os seus bens para seus filhos, que viviam na Sardenha,
contente em viver na pobreza perfeita. Alguém dirá: “Ela via Deus em tudo e O
adorava em todas as coisas”. Na escola de São Vicente Pallotti cresceu ainda
mais na sua devoção a Maria Ssma. e sua morada se torna um pequeno santuário
mariano onde se reúnem pessoas para rezar com ela.
Ela é venerada como mãe, também como santa, pelos primeiros pallotinos e por
numerosíssimos romanos que de algum modo se aproximaram dela. O próprio Pe.
Pallotti tem por ela uma enorme estima e incentiva os seus filhos espirituais a
ouvi-la.
Quando o Papa Pio IX foi exilado em Gaeta, e Roma caiu em mãos dos sem Deus,
Elisabete demonstrou uma grande fortaleza diante daqueles que a hostilizam:
“Por quem rezas?”, perguntam com ironia. - “Por todos!” “E também pela
república?” – “Eu não conheço esta pessoa!”
São Vicente Pallotti faleceu em 22 de janeiro de 1850, morte prevista por
Elisabete, que agora ficava mais sozinha. Intensifica suas orações e o seu
apostolado. Torna-se a santa que conquistou o coração dos romanos. Já anciã e
sofredora, se consome como uma vela que arde no altar. No dia 17 de fevereiro
de 1857, Elisabete falece após ter visto São Vicente Pallotti e São Caetano de
Thiene, que vinham buscá-la para o Paraiso.
No seu funeral as pessoas diziam: “Morreu a santa de São Pedro”. Era tão grande
o consenso popular sobre ela, que 4 meses apenas após a sua morte foi nomeado o
postulador da sua causa de beatificação, que durou um século e meio. Como
resultado de uma cura havida no 2008 de uma jovem brasileira que tinha um tumor
que paralisava um braço, foi beatificada em 17 de setembro de 2016, na Basílica
da Santíssima Trindade de Saccargia em Codrongianos.
A Beata e o demônio
No processo de beatificação e canonização da Beata consta que os assédios de
satanás não eram incomuns em sua vida. Duas testemunhas proeminentes relataram:
o seu diretor espiritual Pe. José Grappeli e a grande amiga Adelaide Balzani.
Balzani
disse: "Tendo mencionado os maus tratos que o demônio lhe infringia
durante a noite, devo acrescentar que ela me dizia que o diabo aparecia nas
formas feíssimas, e que às vezes apertava sua garganta para sufocá-la, e ela o
punha em fuga invocando a Virgo Potens”.
“Outras
vezes ela recorria à água benta, e embora devido à sua deficiência não pudesse
tomá-la com a mão, ela colocava uma pequena vasilha sobre a mesa e o colocava
sobre a fronte. Creio que deve ser atribuída ao diabo aquela irrupção
extraordinária de ratos que de dia invadiam sua sala”.
“Eles
passeavam pela sala com a maior desfaçatez, mesmo na minha presença e de
outros, e se alguém tinha levado qualquer coisa mais delicada para comer - que
a Serva de Deus certamente dispensava para doentes pobres, porque ela nunca
usava para si - os ratos estragavam tudo em um momento, porém sem comê-lo”.
“Minha
mãe disse a ela que nunca mais iria vê-la ir por causa daqueles bichos e a
Venerável disse que os animais não eram para ela. E isto confirmou a opinião
comum, compartilhada pelo Pe. José Grappelli, que naqueles camundongos havia
algo não muito natural, talvez fosse obra do demônio”.
“Acrescento
que a Venerável questionada por mim sobre as infestações diabólicas, me dizia
que o diabo não pode fazer nada além do que Deus permite e que ele nada obtém
daqueles que têm uma verdadeira confiança em Deus e na Santíssima Virgem. Ela
me disse que uma noite o demônio apareceu como um cavalo soltando fogo pela
boca, narinas e olhos e se lançou sobre ela. Ela ficou surpresa e não podia se
libertar, exceto quando com grande força invocou a Virgo Potens e ouviu Nossa
Senhora responder-lhe: "Aqui estou, filha!" E o demônio
desapareceu".
O
Pe. José Grappelli informou que o demônio a molestava durante a noite com a
aparição de pessoas imundas e assustadoras, ou de um cão raivoso que mordia seu
rosto, ou um cavalo selvagem; sufocava sua garganta, batia e machucava; às
vezes ele aparecia sob o disfarce do marido ou de um filho, que lhe faziam
propostas horríveis.
"Toda
vez que eu ia ter com ela, me implorava para marcá-la com água benta e para
aspergir o quarto e a cama, e me dizia que na época de Pe. Vicente Pallotti e
Pe. F. Vaccari essas batalhas eram mais frequentes e terríveis, e muitas vezes
eles recorreriam aos Oblatos de Tor de Specchi, à Senhora Rosa Rinaldi, que
muitas vezes viu os hematomas, o inchaço extraordinário da face e outros sinais
na Serva de Deus, e também de alguma forma eram conhecidos da Marquesa
Fioravanti, de Joana Guidi e outros, e, na última aparição, a do cavalo bufando
fogo, a Serva de Deus teve tanto medo, que sua saúde ficou muito
abalada".
Fonte:
Pe. Marcello Stanzione
Publicado
pela 1ª vez em 15 de fevereiro de 2017