quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Beata Maria de la Dive, Viúva, mártir da Rev. Francesa - 26 de janeiro

     Maria de La Dive nasceu em Saint-Crespin-sur-Moine (hoje no Maine-et-Loire), no dia 18 de maio de 1723. Era viúva de M. du Verdier de La Sorinière. Aristocrata, ela foi condenada à guilhotina por sua Fé e sua fidelidade à Igreja.
     Maria de La Dive vivia em sua propriedade de Champ-Blanc, próximo de Longeron, com suas duas filhas: Catarina de La Sorinière, de 35 anos, e Maria Luísa de La Sorinière, 28 anos. Sua cunhada, Rosália du Verdier de La Sorinière, 49 anos, religiosa beneditina do Mosteiro de Nossa Senhora do Calvário de Angers (em religião Madre Santa Celeste), se refugiara junto a ela após a dispersão de sua comunidade pelas leis revolucionárias.
     Seu filho, Henrique Carlos Gaspard, que combatia junto com os Vandeanos contra os revolucionários, havia sido executado em 25 de outubro de 1793.
     As quatro mulheres foram aprisionadas em 19 de janeiro de 1794 e interrogadas pelo comitê revolucionário de Cholet. Suas duas filhas foram fuziladas no dia 10 de março junto com uma doméstica, Maria Fonteneau. A Beata Madre Celeste foi guilhotinada no dia 27 de janeiro.
     Maria de La Dive sofreu o martírio no dia 26 de janeiro de 1794 perto de Angers, e foi beatificada por João Paulo II em 19 de fevereiro de 1984, junto com Madre Celeste e um grupo de 99 mártires da Diocese de Angers dirigidos pelo sacerdote Guilherme Repin, todos eles vítimas da mesma perseguição.
 
* * *
Beata Rosália du Verdier de la Sorinière
 
Martirológio Romano: Em Angers, França, a Beata Rosália du Verdier de la Sorinière, virgem no mosteiro do Calvário nesta cidade e mártir, condenada à morte enquanto a revolução francesa grassava em ódio à fé cristã.
 
     Nascida em 12 de agosto de 1745 em Château de la Sorinière, Rosália du Verdier de la Sorinière entrou no convento das Irmãs Beneditinas de Nossa Senhora do Calvário, em Angers, e tomou o nome de Irmã Santa Celeste. De 1780 a 1790, foi enviada para Orleães, onde permaneciam apenas duas irmãs jansenistas muito antigas.
     Madame de la Sorinière (cunhada de Rosália) decidiu não emigrar quando a Revolução eclodiu. Ela ficou com suas filhas perto de Angers, onde a Irmã Celeste se juntou a elas 1792, quando sua comunidade fechou.
     Em março de 1793, a guerra da Vendeia é declarada; o povo da Vendeia se levantou contra os republicanos e se recusou a responder ao decreto que ordenava a arrecadação de 300 mil homens. Em Longeron, a família de la Sorinière pratica a hospitalidade para aqueles que clamam por socorro e conforto.
     O terror se espalhou em Vendée e Anjou, os republicanos querendo eliminar qualquer germe de revolta contra a Convenção. Em 19 de janeiro de 1794, quatro membros da família do Sorinière e a empregada doméstica Maria Fonteneau foram presas. Irmã Rosália após dois interrogatórios, foi presa no Convento dos Jacobinos, em Angers. Antes para ser condenada, ela foi submetida a interrogatório público. Finalmente foi guilhotinada em 27 de janeiro de 1794 em Angers, Place du Ralliement. A caminho para sua execução, ela teve um gesto de nobreza: deu seu casaco a uma pobre mulher que tremendo de frio lhe implorava.
 
Beatificação
     Em 1905, Joseph Rumeau, bispo de Angers, apresentou a causa de várias vítimas mortas por ódio à fé e à Igreja Católica. Um procedimento canônico de beatificação foi então lançado e o decreto proclamando o martírio de noventa e nove dessas vítimas foi feito em 9 de junho de 1983. Ela foi beatificada com todos os 99 mártires de Angers pelo Papa João Paulo II, em 19 de fevereiro de 1984, na Basílica de São Pedro em Roma, As Prioresas de todas as comunidades foram a Roma com a diocese de Angers para participar da celebração da beatificação.
 
Fontes:
https://benedictines-prailles.fr/Sr-Rosalie.html
www.santiebeati/it

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Beatas Margarida Molli, Mística e Gentile Giusti, sua discípula - 23 de janeiro

     As informações sobre a Beata Margarida Molli e sua discípula e parente, a Beata Gentile Giusti se encontram na edição de 1535 de uma 
Vida de duas Beatíssimas Mulheres, Margarida e Gentile, compilada de acordo com notícias em parte recebidas da mesma Gentile Giusti pelo Cônego Regular Lateranense (Agostiniano) Padre Serafim Aceti de Porti da Fermo (1496-1540), portanto contemporâneo das duas beatas. Desta edição não existe atualmente nenhum exemplar, mas somente uma cópia manuscrita no arquivo de Santo Apolinário em Russi (Ravena).
     Margarida Molli, filha dos abastados Francisco e Joana Molli, nasceu no castelo de Russi, a 15 k de Ravena, no dia 8 de maio de 1442. Logo o sofrimento se apresentou em sua vida apesar da riqueza da família, porque aos três meses ficou cega devido a uma grave doença.
     Muito pequena, já aos cinco anos, iniciou uma vida de penitência e de contemplação; caminhava sem calçado em qualquer tempo. Tudo indicava uma precoce inclinação à santidade. Cresceu perseverando na penitência, deixando os bens terrenos aos pobres, vivendo de esmolas, infringindo-se jejuns e asperezas, como por exemplo, dormir sobre a terra nua. Emitiu na adolescência o voto de virgindade. Devido a sua cegueira, que muito embora não a impedisse de caminhar rapidamente e sem guia, não podia aspirar ao ingresso em uma ordem religiosa, então passou a viver como monja em sua casa.
     Embora vivesse afastada, a fama de sua santa vida se difundiu nos arredores e muitas pessoas procuravam-na para ouvir os seus conselhos para uma vida verdadeiramente evangélica, receber as consolações dirigidas aos aflitos, suscitando arrependimento nos pecadores.
     Margarida teve o dom da profecia, como também o de operar milagres: predisse a Batalha de Ravena de 1512, o Concílio de Trento (1545-1564) e a vitória de Lepanto de 1571.
     Era chamada por todos de “a Mãe, a Santa”; ela reuniu em Pieve de São Pancrácio, distante três quilômetros de sua casa, um grupo de jovenzinhas para instrui-las e educá-las cristãmente.
     Em 1485, aos 43 anos, deixou Russi e se mudou para Ravena onde morou na casa de Lourenço Orioli, seu parente e devoto, continuando sua atividade em muitas obras de caridade, visitando as igrejas, recebendo e guiando muitas pessoas admiradas e atraídas pela sua heroica prática das virtudes cristãs.
     Conservou uma grande serenidade de espírito e resignação, mesmo diante das calúnias daqueles que não acreditavam nela. Em união com o papa, empenhou-se na defesa da Cristandade contra os muçulmanos, e ao mesmo tempo estimulava as pessoas a rezarem pela união de todos os cristãos.
     Para os inúmeros fiéis que recorreriam a ela criou a Confraternidade do Bom Jesus que depois de sua morte, por obra de seu discípulo Jerônimo Maluselli, auxiliado por outra discípula, Gentile Giusti, se tornaria a Congregação dos Padres do Bom Jesus, muito ativa em Ravena e em Romagna (em 1538, foi aprovada pelo papa Paulo III e, em 1651, foi supressa pelo papa Inocêncio X).
     Margarida morreu em Ravena no dia 23 de janeiro de 1505. Seu modesto túmulo em Santo Apolinário Novo se tornou meta de muito devotos. Como ele fora profanado durante a invasão dos franceses, seu devoto parente, Lourenço Orioli, com o consenso dos sacerdotes, transferiu o corpo levando-o sobre um asno, deixando o animal livre para ir aonde desejasse. Em meio à noite o asno parou próximo à igreja de São Pancrácio de Russi, sob uma grande árvore, e ali o corpo foi enterrado à luz de uma multidão de pirilampos.
     Em 1659 as suas relíquias foram unidas as da Beata Gentile Giusti na Igreja do Bom Jesus de Ravena. Após outras transladações, as relíquias das duas beatas repousam na igreja de Santo Apolinário em Russi.
     Em 1537, por disposição do papa Paulo III, iniciou-se um processo para os milagres atribuídos às duas beatas. O culto é de origem popular e a festa das beatas é celebrada no último domingo de janeiro.
* * *
     Gentile era filha de um ourives de Verona, e casou-se muito jovem com um alfaiate de Ravena, de sobrenome Pianella, matrimônio combinado pelos pais. Seu esposo era certamente um “bom partido” tendo em vista a grande clientela que tinha. Grosseiro, pouco sensível e nada religioso, Pianella era exatamente o contrário de Gentile, que era sensibilíssima por natureza, muito piedosa e delicada. Assim, não se pode dizer que o casamento fosse feliz: Gentile era maltratada e ele mofava dela. Afinal o marido a abandonou e se transferiu para Pádua, deixando-a sozinha com duas crianças para criar. Embora o péssimo marido a tivesse denunciado por bruxaria, o Bispo de Ravena pessoalmente reconheceu a absoluta correção e religiosidade de Gentile.
     Anos depois ele voltou e encontrou a mulher que, apesar de tudo, permanecera fiel e havia criado os filhos (embora um deles morresse muito jovem) e continuara a rezar por sua conversão. E o milagre da unidade familiar aconteceu com a mudança radical do estilo de vida do marido, graças ao exemplo da mulher. Ele faleceu pouco tempo depois e Gentile, especializada em paciência e fidelidade, continuou a oferecer o seu exemplo de viúva dedicada aos outros.
     Parece que a sua missão específica era realmente a de tornar melhores os homens que encontrava: Jerônimo Maluselli, incrédulo e violento, após abrir-se com ela e ter escutado seus conselhos, mudou de vida e se tornou sacerdote. Também Leonel, o único filho que lhe restou, ao qual se dedicava para que não seguisse o exemplo do pai, se tornou sacerdote.
     Gentile na realidade se inspirava no modelo de vida de sua prima, Margarida, cega e arruinada pelas ásperas penitências que se infligia.
     Gentile Giusti faleceu no dia 28 de janeiro de 1530, mas ainda hoje as regiões de Russi e de Ravena reservam o último domingo de janeiro para festejar juntas as duas primas, que depois de ter partilhado os ideais de vida cristã, repousam em uma única urna, circundadas de uma devoção vivíssima.
 
Fonte: Beata Margherita Molli (santiebeati.it)

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Santa Margarida da Hungria, Princesa e Dominicana - 18 de janeiro

     Dessa santa, filha dos reis da Hungria, diz o Martirológio Romano neste dia: “Em Buda, na Hungria, Santa Margarida, virgem, oriunda da dinastia dos Arpádios, religiosa da Ordem de São Domingos, insigne pela virtude da castidade e o rigor da penitência”.
     O ano de 1241 foi um ano dificílimo para a Polônia e a Hungria. O tártaro Ogotai tinha a intenção de conquistar o mundo inteiro. Venceu os polacos em Liegnitz e a seguir invadiu a Hungria. O Rei Bela IV e seus homens lutaram heroicamente, o que não impediu que o rei tivesse que se refugiar junto ao Mar Adriático, na costa oriental.
     Foi então, no Castelo de Ulissa, que nasceu, na primavera de 1242, Santa Margarida da Hungria, décima filha dos soberanos. Margarida foi batizada ao ar livre, na Ilha de Trau, por um dos poucos bispos húngaros sobreviventes - um terço da população tinha perecido. O rei, muito virtuoso, ofereceu-a a Deus em holocausto, com esta oração: “Senhor Jesus, consagro-te esta menina; dispõe, Senhor, que torne a existir a Hungria. Torna a ser misericordioso e salva o teu povo; assim, os nossos lábios e o nosso coração não pararão de dar-te graças”. Suas orações foram ouvidas e Margarida, aos três anos de idade, foi confiada ao convento das religiosas de São Domingos, de Veszprem.
     Aos dez anos a princesa foi transferida para o mosteiro da mesma Ordem construído por seu pai e sua esposa, a Rainha Maria Lascaris, na ilha do Danúbio, próximo de Budapeste, no coração da capital. O povo húngaro começou a considerá-la sua defensora contra os tártaros, pela santidade de sua vida, e por suas orações. A santa aceitou de bom grado essa missão de ser um holocausto por toda a Nação.
     Margarida, com apenas doze anos de idade, fez sua profissão diante do Beato Humberto de Romans.
     Bela IV recebeu o título de “campeão da cristandade” e foi descrito como “o último gênio dos Arpádios”. As qualidades de Margarida provam que ela havia herdado as qualidades extraordinárias de seu pai; sua nobre linhagem realça mais os detalhes de sua extraordinária vida de abnegação. A Ordem de São Domingos tomou o cuidado de guardar a memória de uma de suas primeiras e mais ilustres filhas.
     Parece que Margarida era excepcionalmente bela. Aos 16 anos, idade em que, segundo o costume, era declarada a maioridade, o Arcebispo de Esztergom, primaz da Hungria, comunicou-lhe que o Papa Alexandre III a dispensava do voto dos pais, caso fosse de interesse da Nação que ela se casasse, ou que ela não sentisse vocação religiosa. Com efeito, o Rei Otokar, da Boêmia, desejou sua mão após tê-la visto com hábito de religiosa.
     Margarida, porém, estando acompanhada da prioresa declarou: “Honras-me sobremaneira, rei valente e poderoso, ao desejares que seja tua mulher, e está muito longe de mim desprezar a vocação de esposa. Mas como poderia fazê-lo, tendo presente o exemplo da bem-aventurada Virgem Maria, como também a dedicação da minha própria mãe querida, de quem sou a décima filha? Mas eu não nasci para ser esposa e mãe. A minha tarefa é completamente diversa. Por isso peço que te vás embora sem te zangares, e busca para ti uma esposa que possa fazer-te ditoso. Eu, ó rei, não poderia fazer-te feliz”.
     Por sua vez, Carlos de Anjou também planejou obter sua mão e recebeu igual negativa.
     Como a maioria das religiosas do convento pertencia à nobreza, a princesa Margarida era tratada com especial consideração. Ao perceber isso, ela procurou escolher sempre os trabalhos mais humildes, repugnantes e tediosos. Cuidava dos doentes que padeciam os males mais repulsivos.
     Margarida foi não só uma religiosa exemplar, mas santa, sendo um modelo para todas. Desde muito pequena sentia uma atração especial por Nosso Senhor Crucificado, e trazia constantemente consigo uma pequena cruz de madeira, na qual estava incrustado um pedaço do Sagrado Lenho.
     Por uma graça excepcional, uma cópia completa dos testemunhos do processo de beatificação de Santa Margarida, iniciado menos de sete anos depois de sua morte, chegou até nossos dias. Cinquenta de suas companheiras falaram sobre a mortificação e a caridade de Margarida nesse processo. Ao lermos esses depoimentos, ficamos plenamente convencidos que o seu valor na luta contra o mundo e a carne exerceu uma profunda influência nos que a rodeavam.
     Na véspera dos dias em que devia unir-se a Jesus Cristo pela recepção da sua adorável Eucaristia, o seu único alimento era pão e água; passava também a noite em oração. No dia da comunhão, orava em jejum até o entardecer, e só comia o necessário para sustentar o corpo. O seu amor a Jesus Cristo a levava, outrossim, a honrar especialmente a Criatura bendita da qual Ele desejou nascer no tempo; daí o júbilo que lhe iluminava o rosto quando se anunciavam as festas da Mãe de Deus. Celebrava-as com piedade e fervor pouquíssimo frequentes.
     Os relatos que as Irmãs fizeram sobre ela apresentam também pormenores humanos e agradáveis. A sacristã conta que Margarida acariciava sua mão e lhe prodigalizava todos os agrados possíveis para que ela deixasse a porta da capela aberta durante a noite, a fim de passar diante do Santíssimo Sacramento as horas que devia consagrar ao descanso.
     Margarida tinha uma confiança ilimitada na oração e seus pedidos a Deus tinham algo de imperioso. Várias religiosas contam algo acontecido quando a Santa tinha apenas dez anos.
     Dois frades dominicanos tinham ido visitar o convento e Margarida pediu que eles permanecessem mais tempo. Eles responderam que tinham que partir imediatamente. A menina lhes disse: - “Vou obter que Deus faça chover de tal forma, que não podereis ir embora”. Embora os frades dissessem que não haveria chuva que os detivesse, Margarida foi para a capela para rezar. A tormenta que desabou em seguida foi tão violenta, que impediu os frades de partirem.
     Este episódio lembra o famoso caso ocorrido com Santa Escolástica e São Bento. As companheiras de Santa Margarida atestam sob juramento tantos casos do mesmo tipo, que se torna difícil atribuí-los a simples coincidência.
     Uma Quinta-feira Santa, Margarida não só lavou os pés das setenta religiosas do coro do convento, como também de todas as serviçais. A Santa havia passado a Quaresma em duras penitências, o que tornava tal ação bem exaustiva. Entretanto, ela apenas comentou que aquele tinha sido o dia mais curto do ano, pois não tinha tido tempo nem de rezar nem de praticar todas as penitências que desejaria.
     O dia 18 de janeiro de 1270 parece ter sido a data de seu falecimento, quando tinha apenas vinte e oito anos.
     Um ano depois da sua morte seu irmão Estevão V, rei da Hungria, encaminhou a Roma o pedido de reconhecimento de sua santidade. Mas este processo desapareceu, bem como um outro que foi enviado em 1276. Porém, na sua pátria e em outros países, Margarida já era venerada como Santa. O processo de sua beatificação nunca foi concluído, mas o culto de Santa Margarida foi aprovado em 1789.
     Entretanto, sua canonização oficial pela Igreja só foi feita pelo Papa Pio XII, em 1943, em meio ao júbilo dos devotos e fiéis de todo o mundo, especialmente pelos da comunidade cristã do Leste Europeu, onde sua veneração é muito intensa.
 
Fontes:
www.santiebeati.it
https://www.ipco.org.br/18-01-santa-margarida-da-hungria-virgem
  

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Venerável Ana de Guigné - 14 de janeiro


Uma tão grande alma para uma menina tão pequena 
    
     “Temos muitas alegrias na terra, mas duram pouco; a que permanece é a de ter realizado um sacrifício”. Palavras ditas por uma criança que viveu pouco mais de 10 anos! O intenso amor a Deus e aos outros dava aos seus sacrifícios um elevado valor sobrenatural. “Nada custa quando O amamos”, dizia ela, pensando na conversão dos pecadores e alívio dos doentes.
     A Venerável Ana de Guigné, a mais velha de quarto irmãos, nasceu em 25 de abril de 1911, em Annecy (Alpes franceses). Seu pai era o Conde Jacques de Guigné e sua mãe Antonieta de Charette. O Conde era tenente do 13º. Batalhão, Chambéry de Chasseurs Alpins. A avó materna de Ana Francisca Eulália Maria Madalena de Bourbon-Busset era uma descendente direta do sexto filho do Rei São Luís IX de França. A mãe de Ana era sobrinha neta do General François de Charette, um dos líderes da contra-revolução da Vendeia.
     Quando Jacques (Jojo) nasceu 15 meses depois de Ana, esta ficou enciumada, jogava coisas nos olhos do bebê, inclusive uma vez chegou a dar-lhe um pontapé. Felizmente isto não durou muito e logo ela se sentiu feliz por ser a mais velha. Os primeiros 4 anos de Ana foram difíceis: era muito difícil de controlar. Mas logo ela haveria de mudar.
     Em setembro de 1913 Madalena nasceu e em janeiro de 1915 Maria Antonieta. Ana era a madrinha de Maria Antonieta, que era chamada por todos de Marinete. Quando Ana tinha 3 ½ começou a guerra entre a França e a Alemanha, e seu pai foi enviado para o front. Um mês depois ele volta ao lar após grave ferimento. Ana, que amava imensamente seu pai, começou a cuidar dele trazendo-lhe livros e ajeitando as cobertas. Após nova ida para o front, ele é ferido ainda mais do que anteriormente. A Sra. Guigné vai visita-lo no hospital de Lyons levando Ana; a menina ficou comovida quando a mãe mostrou-lhe os soldados feridos.
     Em 3 de maio, sentindo-se melhor, o Conde partiu novamente para o front. Na Alsácia, em 22 de julho de 1915, de Guigné, após receber a absolvição, liderou o ataque com seu homens. Com um grande sinal da cruz o Conde foi morto. A notícia de sua morte foi dada a Sra. Guigné em 28 de julho.
     Naquela manhã a provada viúva conta para Ana que seu pai morrera. Chorando, ela disse para Ana: “Se você deseja me consolar, você precisa ser boazinha”. Olhando longa e pensativamente os olhos de sua mãe, a menina compreendeu que para agradar a Deus ela precisava ser boa e Ana resolveu ser boa para agradar sua mãe. O dia todo Ana ficou pensativa, tentando fazer as outras crianças se comportarem. “Você precisa ser bom, Jojo, porque a mamãe está triste”. Daí em diante não houve mais cenas temperamentais nem egoísmos. Mas esta grande mudança não foi fácil para Ana; embora ninguém adivinhasse a batalha diária com ela mesma, ela lutou.
     Quando Ana tinha 4 anos, ela estava caminhando com seu avô e eles passaram por uma armazém de trigo. Seu avô perguntou: “Ana, você sabe o que se faz com o trigo?” Ana respondeu: “Não, vovô”. “O fazendeiro apanha o trigo e então o moi e faz a farinha para nós. Nós usamos essa farinha para fazer pão e também as Hóstias que o padre nos dá na Missa. Você sabe o que a Hóstia se torna?” Ana respondeu: “O Pequeno Jesus vem e se esconde na Hóstia branca, que se torna Jesus”.    
     Um mês antes de seu pai falecer, Ana mencionara o desejo de se preparar para a 1ª Comunhão. No outono de 1915, a Sra. Guigné colocou-a na aula de catecismo dada por Madre São Raimundo no Convento Auxiliadora. A Madre São Raimundo percebeu que Ana, embora fosse uma criança de apenas 5 anos, era mais adiantada do que dos restantes alunos. “Eu logo vi que Ana era uma criança privilegiada; mas o que mais me causou admiração foi isto: os outros não tinham ciúmes dela, embora ela fosse mais inteligente do que qualquer um deles e a mais nova. Todos a amavam e a admiravam. Eu penso que é porque ela nunca tentou se exibir ou se fazer de melhor do que ninguém. Ela era gentil tanto com as crianças mais mimadas quanto com as que se comportavam bem”.
     A 1ª Comunhão foi para ela um farol que iluminou o resto da sua vida. Devido sua tenra idade (6 anos) necessitou uma licença especial; foi admitida ao sacramento após um minucioso exame que levou o padre inquiridor a confessar: “Não somente está pronta como desejo que vós e eu estejamos sempre ao nível de instrução desta menina”.
     Em 26 de março de 1917 Ana fez a 1a. Comunhão; era uma segunda-feira da semana da Paixão e festa de Nossa Senhora da Assunção, que fora transferida para este dia porque o dia 25 caíra no Sábado da Paixão. No grande dia festivo, Ana deixou um bilhete sobre o altar: “Meu pequeno Jesus, amo-Vos e, para Vos agradar, tomo a resolução de obedecer sempre!” Assim prometeu, assim fez…
     Ana tinha grande devoção a Nossa Senhora das Dores porque Ela era “Nossa Senhora da Consolação”. Este título ela deu a uma pequena imagem que havia no jardim, junto à qual as crianças brincavam. Ali ela ia para pedir ajuda quando o auto controle se tornava mais difícil.
     Aos 10 anos ela resolveu imitar Nosso Senhor em tudo: “Como eu farei isto? Combatendo todos os obstáculos que impedir Jesus de crescer em mim: minhas faltas, meu amor próprio, minha preguiça... Isto deverá ser um combate diário”. Ela fez estas três resoluções: “Eu preciso ter: 1) limpeza (de alma); 2) roupas apropriadas; 3) ornamentos – as boas ações”.
     Ana escreveu: “Minha alma destina-se ao Paraíso. As pessoas estão muito preocupadas com sua aparência exterior e dificilmente com suas almas... Minha alma foi feita para a vida eterna, para infinitamente feliz ou infinitamente infeliz. O Bom Deus deseja que ela seja eternamente feliz. Isto depende somente de mim. Mamãe não pode fazer este trabalho para mim”.
     Certa vez um incêndio destruiu um casa pobre próxima e Ana, ouvindo que a viúva e as crianças ficaram sem lar, pediu a sua mãe se eles podiam fazer um bazar. As quatro crianças prepararam um “chá” que foi “servido” para clientes como a mãe, o avô e tia Paula, que ficaram contentes de pagar um montante que as crianças logo encaminharam para a família da viúva.
     Em novembro de 1919, Ana escorregou no gelo e feriu um músculo de seu joelho. Ela ficou bastante machucada e tentava se erguer; sua mãe correu para ajudá-la, mas embora tivesse lágrimas nos olhos, não soltou um gemido. “Sinto muito por tê-la assustado, mamãe. Eu estou bem. Não é nada”. Um ano depois de ferir seu joelho ela começou a ter muita dor de cabeça. Para não chamar a atenção para suas terríveis dores de cabeça, Ana continuou a fazer os seus trabalhos escolares e outras atividades, mas finalmente algo chamou a atenção de Madre São Raimundo, que perguntou se Ana tinha dores de cabeça, ao que ela respondeu afirmativamente. 
     Ana pacientemente oferecia todos estes sofrimentos sem reclamar. A alguém que lhe disse: “Pobre Ana, você sofre corajosamente”, ela respondeu: “Oh não, eu não estou sofrendo; eu estou apenas aprendendo a sofrer”.
     Em dezembro de 1921 as dores de cabeça retornaram, mas o médico não pensou ser nada alarmante, pois ela não parecia pior, apenas um pouco mais calma do que o costume. Mas em 19 de dezembro de 1921, as dores de cabeça se tornaram tão severas, que ela foi levada para seu quarto. O médico continuou pensando que não era nada sério até que em 27 de dezembro, quando ele viu que Ana estava em coma concluiu que ela tinha meningite.
     Pela tarde ela recobrou a consciência, mas a terrível dor de cabeça, a febre e a dor nas costas faziam sua face se contorcer devida a dor. Ela resolveu: “Eu desejo oferecer meus sofrimentos como Jesus fez na Crus”. Com uma incrível fortaleza, ela nunca reclamava ou chorava. “Você está consolando Jesus e convertendo pecadores”, sua mãe lhe recordava. Ela respondeu: “Bem, então, se é assim, desejo sofrer ainda mais”. Ela foi ouvida dizer certa vez “O, querido Deus, eu estou muito mal!” Uma vez, quando ela estava delirando, ouviram-na gritar: “Eu fui fiel, Jesus? Pequeno Jesus, tenho medo de não ter sido valente. Eu não rezei o suficiente. Querida Santa Ana, tem piedade de meus pecados”.
     Aproximando sua morte, Ana nunca falava de sua morte próxima diante de sua mãe, para não causar sofrimento a ela.  Ana sempre agradecia aquele que tinha feito alguma coisa para ela. Quando o confessor vinha ouvi-la em confissão e lhe dava a comunhão, antes do padre deixar o quarto, ela o chamava e lhe agradecia.
     No dia 30 de dezembro, Ana recebeu a Extrema Unção. No Dia do Ano Novo ela parecia estar se sentido melhor. Mas dois depois o médico constatou que os músculos do peito estavam paralisados e Ana teria ataques de sufocação que duraria horas. Por duas semanas ela sofreu desta maneira e na noite de 13 de janeiro Ana pergunta a sua tia, que era religiosa: “Irmã, posso ir com os anjos?” “Sim, minha querida criança”. “Obrigada, Irmã. Oh obrigada!”. Às 5:25 do sábado, 14 de janeiro de 1922, Ana olhando obedientemente pela última vez para sua mãe, faleceu.
      Esta pequena menina é uma “santa”, é o veredito geral. A sua professora deixou o seguinte testemunho: “Foi ela que me ensinou o que é amar Deus”.  Os testemunhos abundam, artigos são publicados e o bispo de Annecy inicia em 1932 o processo de beatificação.
 
     Os estudos conduzidos em Roma sobre a possibilidade da heroicidade das virtudes da infância foram concluídos positivamente em 1981 e a 3 de março de 1990 o decreto reconhecendo a heroicidade das virtudes de Ana de Guigné e declarando-a venerável era assinado pelo papa João Paulo II e indicou-a como exemplo para todas as crianças e não só elas.
 


Ana aos 9 anos, imagem da inocência

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Santa Cesira (ou Cesária) de Arles, Irmã de São Cesário – 12 de janeiro

 
Sta. Cesira com seu irmão
São Cesário
   
Nascida nas proximidades de Chalon-sur-Saône por volta de 465, viveu por um tempo em um claustro em Marselha, onde foi preparada na vida monástica. Ela no único mosteiro que havia na Gália, para ali ser educada, pois sendo destinada pelo Senhor para conduzir e governar outras pessoas, ela devia aprender desde muito jovem o que ela iria ensinar.
     Seu irmão, São Cesário, sagrado bispo de Arles em 502, pensou nela como a futura superiora da comunidade monástica feminina que ele pretendia introduzir em sua cidade.
     O primeiro mosteiro de freiras, no entanto, construído perto de Arles, ainda não estava concluído quando foi destruído na guerra entre os francos e os burgúndios (508). Mas Cesário não esmoreceu e mandou construir um segundo, dedicado a São João. O Mosteiro compreendia uma igreja, um claustro e celas para as monjas, e foi inaugurado em 26 de agosto de 512, e sua direção foi confiada a Cesária, chamada de Marselha, tornando-se sua primeira abadessa.
     A jovem se instalou ali inicialmente com duas ou três monjas. Logo grande quantidade de virgens atraídas por seu exemplo se junta a ela, abandonando voluntariamente seus bens e seus pais, dizendo corajosamente adeus aos prazeres do mundo. Elas se colocaram sob a direção de São Cesário e de Santa Cesária, sendo para elas um pai e uma mãe segundo a graça.
     Oração, penitência e trabalho; celebrar a glória de Deus por meio dos Salmos, dos hinos e dos cânticos; fazer leituras piedosas, eis suas atividades diárias feitas na alegria.  Elas aprendiam também a escrever e copiavam os livros sagrados.
     As monjas faziam seus próprios hábitos e passavam grande parte do tempo costurando e tecendo, já que podiam bordar, lavar e remendar as roupas das pessoas que viviam nos arredores, fora do Mosteiro. Os enfeites da igreja eram simplesmente lã ou linho, sem bordados. Algumas as monjas se ocupavam transcrevendo livros. Todas estudavam duas horas por dia e uma lia para as demais no horário de trabalho. A carne era proibida, exceto para as doentes, e a regra impunha o banho, mas lembrando que isso se devia a razões de higiene e não de prazer. Apenas a Abadessa e sua assistente estavam dispensadas do trabalho doméstico.
     Para a comunidade, Santa Cesira elaborou uma excelente regra, cujas pedras angulares eram a renúncia a todos os bens pessoais, a clausura perpétua, a isenção da jurisdição episcopal e a obediência à superiora, chamada matèr.
     Cesira teve muitas discípulas chegando a duzentos o número de monjas; ela governou a comunidade por mais de dez anos, até sua morte em 525. Ela morreu, de fato, logo após a dedicação da basílica de Santa Maria (524), talvez em 525, e foi enterrada perto do sarcófago que seu irmão havia reservado para si.
     Sua santidade foi reconhecida por toda parte e de seu mosteiro saíram numerosas famílias de virgens que obedeciam a Regra de Santa Cesária.
     Segundo o testemunho de seus contemporâneos, São Gregório de Tours e São Venâncio Fortunato, a Abadessa era uma pessoa de excelentes dons. Santa Cesaria era venerada como santa já na época de São Venâncio Fortunato, que associa seu nome ao de Inês.
     Cesária (ou Cesira) é lembrada no Martirológio Romano de 12 de janeiro.
 
Etimologia: Cesira = nome de uma família romana, elevada à dignidade imperial
Santa Cesira (Cesaria) de Arles (santiebeati.it)

Sta. Leônia Francisca de Sales Aviat, Fundadora - 10 de janeiro

     
Leônia Aviat nasceu no dia 16 de setembro de 1844 na cidade de Sézanne, na região francesa de Champagne. Seus pais eram católicos praticantes e honestos comerciantes.
     Conforme o costume da época, quando completou dez anos eles a enviaram para o colégio das Irmãs da Visitação da cidade de Troyes, ali permanecendo por seis anos. Foi naquele período que ela recebeu a Primeira Comunhão e a Crisma. Sob a sábia orientação do capelão Pe. Luís Brisson e da superiora Madre Chappuis, recebeu uma educação humanística, uma profunda formação religiosa e moral, marcada pela doutrina salesiana de abandono à Divina Providência.
     Em 1866, Leônia rejeitou um vantajoso matrimônio, expressando o desejo sincero de dedicar sua vida a Jesus Cristo. Com autorização dos pais ela foi visitar o Pe. Brisson a fim de se aconselhar.
     A cidade de Troyes naquela época tinha se tornado um polo de indústrias têxteis que atraiam a mão-de-obra do campo para o centro urbano.
     Atento a esta situação e sensível às necessidades das adolescentes camponesas que deixavam suas famílias em busca do trabalho promissor, desde 1858 o Pe. Brisson havia fundado a Obra São Francisco de Sales, uma casa-família que acolhia e assegurava a assistência e a educação cristã àquelas jovens operárias. Porém, como era difícil encontrar uma diretora estável para esta casa-família, o Pe. Brisson havia decidido fundar uma congregação religiosa.
     Durante a visita de Leônia o experiente padre expôs esta situação e encontrou nos anseios da jovem um sinal de Deus. Colocou-a na direção da casa-família.
     Em 1868 ele fundou a Congregação para continuar de forma organizada a sua Obra para as operárias e Leônia vestiu o hábito religioso juntamente com Lucia Cannet, sua ex-companheira de estudos, adotando o nome de Irmã Leônia Francisca de Sales Aviat.
     Em 1872 Leônia foi eleita superiora da nova Congregação, colocada sob a proteção e guia do santo bispo de Genebra, de quem adotam completamente as regras espirituais e pedagógicas. Isto explica o nome adotado “Madres Oblatas de São Francisco de Sales”.
     Desde então, Madre Aviat se dedicou ao apostolado entre as jovens operárias, dando a elas segurança, educação religiosa, recreação e preparando-as para no futuro constituírem famílias católicas bem estruturadas. As Oblatas abrem escolas básicas nas paróquias.
     Após ter estabilizado a Congregação e as casas-famílias de Troyes, Madre Aviat foi para Paris, onde organizou um pensionato para moças de famílias ricas, revelando-se uma educadora excepcional, obtendo, junto à alta sociedade parisiense, o mesmo sucesso que alcançara com as jovens operárias de Troyes. Madre Aviat dirigiu esta obra por oito anos, estendendo assim seu apostolado às diversas classes sociais.
     Retornando a Casa-Mãe da Congregação, ali residiu por mais quinze anos, assumindo o posto de superiora até sua morte.
     Madre Aviat enviou Irmãs Oblatas para a Namíbia, África do Sul, Equador, Suíça, Áustria, Inglaterra e Itália, abrindo pensionatos, escolas e obras assistenciais.
     No ano de 1903 as leis anticlericais francesas de Emilio Combes decretaram a dissolução das Congregações religiosas e o fechamento de suas casas, apoderando-se de todos os seus bens. Vinte e três casas de sua obra, mais seis dos padres Oblatas foram fechadas.
     Madre Aviat e suas Oblatas se refugiam em Perúgia, onde desde 1896 tinham uma casa para assistência das jovens empregadas domésticas.
     Daquela cidade Madre Aviat, que não esmorecera, continuou a atividade da Congregação, exortando suas Irmãs com cartas, visitas e ensinamentos.
     Em 2 de fevereiro de 1908, o venerando Pe. Brisson falece na sua cidade natal, e Madre Leônia só pode assistir ao funeral vestindo roupas civis.
     Nos últimos anos ela se dedicou à obtenção da aprovação definitiva das Constituições da obra, que ela apresentou ao Papa São Pio X, tendo este dado a aprovação canônica em 1911.
     Madre Leônia morreu em Perúgia, Itália, no dia 10 de janeiro de 1914, na Casa religiosa da Via della Cupa. Foi primeiramente sepultada no cemitério local. Mais tarde seu corpo foi transladado para a Igreja de Santa Maria della Valle e atualmente repousa na Casa-Mãe da Congregação em Troyes, França.
     Foi beatificada em 27 de setembro de 1992 pelo Papa João Paulo II e canonizada pelo mesmo pontífice em 25 de novembro de 2001, na Basílica Vaticana, em Roma. Para sua festa litúrgica a Igreja reservou o dia 10 de janeiro.
 
Fonte: www.santiebeati.it

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Santa Joana d'Arc nasceu no dia 6 de janeiro há 612 anos

 
   
Jeanne d'Arc, por seus contemporâneos comumente conhecida como la Pucelle (a Virgem), nasceu em Domremy, em Champagne, provavelmente em 6 de janeiro de 1412; morreu em Rouen, 30 de maio de 1431.
     A vila de Domremy ficava nos limites do território que reconhecia a suserania do duque da Borgonha, mas no prolongado conflito entre os armagnacs (o partido de Carlos VII, rei da França), por um lado, e os burgúndios em aliança com os ingleses, por outro, Domremy sempre permaneceu leal a Carlos.
     Jacques d'Arc, pai de Joana, era um pequeno camponês, pobre, mas não necessitado. Joana parece ter sido a mais nova de uma família de cinco pessoas. Ela nunca aprendeu a ler ou escrever, mas era hábil em costurar e fiar, e a ideia popular de que ela passou os dias de sua infância nos pastos, sozinha com as ovelhas e o gado, é bastante infundada.
     Todas as testemunhas no processo de reabilitação falaram dela como uma criança singularmente piedosa, grave além de seus anos, que muitas vezes se ajoelhava na igreja absorvida pela oração e amava os pobres com ternura.
     Grandes tentativas foram feitas no julgamento de Joana para conectá-la com algumas práticas supersticiosas supostamente realizadas em torno de uma certa árvore, popularmente conhecida como a "Árvore das Fadas" (l'Arbre des Dames), mas a sinceridade de suas respostas confundiu seus juízes. Ela havia cantado e dançado ali com as outras crianças, e tecido coroas de flores para a imagem de Nossa Senhora, mas desde os doze anos de idade mantinha-se afastada de tais diversões.
     Foi aos treze anos e meio, no verão de 1425, que Joana tomou consciência daquela manifestação, cujo caráter sobrenatural seria agora temerário questionar, que ela passou a chamar de "vozes" ou "conselhos". A princípio era simplesmente uma voz, como se alguém tivesse falado bem perto dela, mas também parece claro que uma chama de luz a acompanhava, e que mais tarde ela discerniu claramente de alguma forma a aparência daqueles que falavam com ela, reconhecendo-os individualmente como São Miguel (que estava acompanhado de outros anjos), Santa Margarida, Santa Catarina e outros.
     Joana sempre relutou em falar de suas vozes. Ela não disse nada sobre eles ao seu confessor, e constantemente se recusou, em seu julgamento, a ser introduzida em descrições da aparência dos santos e a explicar como os reconhecia. No entanto, ela disse aos juízes: "Eu os vi com esses mesmos olhos, assim como os vejo".
     Grandes esforços foram feitos por historiadores racionalistas, como M. Anatole France, para explicar essas vozes como o resultado de uma condição de exaltação religiosa e histérica que havia sido fomentada em Joana por influência sacerdotal, combinada com certas profecias correntes no campo de uma donzela do bois chesnu (madeira de carvalho), perto da qual a Fada Árvore estava situada, que salvaria a França por um milagre. Mas a falta de fundamento dessa análise dos fenômenos foi totalmente exposta por muitos escritores não católicos. Não há uma sombra de evidência que sustente essa teoria de conselheiros sacerdotais treinando Joana em uma parte, mas muito que a contradiz.
     Além disso, a menos que a acusemos de falsidade deliberada, o que ninguém está disposto a fazer, foram as vozes que criaram o estado de exaltação patriótica, e não a exaltação que precedeu as vozes. Suas evidências sobre esses pontos são claras.
     Embora Joana nunca tenha feito qualquer declaração sobre a data em que as vozes revelaram sua missão, parece certo que o chamado de Deus só lhe foi dado a conhecer gradualmente. Mas em maio de 1428, ela já não duvidava que tinha sido convidada a ir em auxílio do rei, e as vozes tornaram-se insistentes, instando-a a apresentar-se a Roberto Baudricourt, que comandava Carlos VII na cidade vizinha de Vaucouleurs. Essa viagem acabou por realizar um mês depois, mas Baudricourt, um soldado rude e dissoluto, tratou-a e à sua missão com pouco respeito, dizendo ao primo que a acompanhava: "Leve-a para casa do pai e dê-lhe uma boa chicotada".
     Enquanto isso, a situação militar do rei Carlos e seus apoiadores era cada vez mais desesperadora. Orleães foi investido (12 de outubro de 1428), e no final do ano a derrota completa parecia iminente. As vozes de Joana tornaram-se urgentes e até ameaçadoras. Foi em vão que ela resistiu, dizendo-lhes: "Eu sou uma pobre menina; não sei mandar nem lutar". As vozes apenas reiteravam: "É Deus quem manda". Finalmente cedendo, ela deixou Domremy em janeiro de 1429 e novamente visitou Vaucouleurs.
     [...] O objetivo principal da missão de Joana foi alcançado: o rei Carlos VII foi coroado na Catedral de Reims, e algumas autoridades afirmam que agora era seu desejo voltar para casa, mas que ela foi detida com o exército contra sua vontade.
     [...] Nenhuma palavra pode descrever adequadamente a vergonhosa ingratidão e apatia de Carlos e seus conselheiros em deixar a Pucelle à sua sorte. Se a força militar não tivesse aproveitado, eles tinham prisioneiros como o Conde de Suffolk em suas mãos, por quem ela poderia ter sido trocada. Joana foi vendida por João de Luxemburgo aos ingleses por uma quantia que equivaleria a várias centenas de milhares de dólares em dinheiro moderno. Não pode haver dúvida de que os ingleses, em parte porque temiam sua prisioneira com um terror supersticioso, em parte porque tinham vergonha do pavor que ela inspirava, estavam determinados a todo custo a tirar sua vida. Eles não poderiam matá-la por tê-los espancado, mas poderiam condená-la como bruxa e herege.
     Além disso, eles tinham uma ferramenta pronta na mão em Pierre Cauchon, o bispo de Beauvais, um homem inescrupuloso e ambicioso que era a criatura do partido burgúndio. Um pretexto para invocar sua autoridade foi encontrado no fato de que Compiègne, onde Joana foi capturada, estava na diocese de Beauvais. Ainda assim, como Beauvais estava nas mãos dos franceses, o julgamento ocorreu em Rouen - este último vê estar vago naquele momento. Isso levantou muitos pontos de legalidade técnica que foram sumariamente resolvidos pelas partes interessadas.
     As reuniões preliminares da corte ocorreram em janeiro, mas foi somente em 21 de fevereiro de 1431 que Joana apareceu pela primeira vez diante de seus juízes. Ela não tinha permissão para advogar e, embora acusada em um tribunal eclesiástico, estava ilegalmente confinada no Castelo de Rouen, uma prisão secular, onde era guardada por soldados ingleses dissolutos. Joana queixou-se amargamente disso. Ela pediu para estar no presídio da igreja, onde teria atendentes. Foi, sem dúvida, para melhor proteção de sua modéstia em tais condições que ela persistiu em manter seu traje masculino. Antes de ser entregue aos ingleses, ela tentou escapar se jogando desesperadamente da janela da torre de Beaurevoir, um ato de aparente presunção pelo qual foi muito criticada por seus juízes. Isso também serviu de pretexto para a dureza demonstrada em relação ao seu confinamento em Rouen, onde ela foi inicialmente mantida em uma gaiola de ferro, acorrentada pelo pescoço, mãos e pés. Por outro lado, não lhe foram permitidos privilégios espirituais — por exemplo, a presença na missa — por causa da acusação de heresia e do monstruoso vestido (habitus difformitado) que usava.
     [...] A sua atitude foi sempre destemida e, a 1 de março, Joana anunciou corajosamente que "dentro de sete anos os ingleses teriam de perder um prémio maior do que Orleães". Paris foi perdida para Henrique VI em 12 de novembro de 1437 - seis anos e oito meses depois. Foi provavelmente porque as respostas da Pucelle conquistaram perceptivelmente simpatizantes para ela em uma grande assembleia, que Cauchon decidiu conduzir o resto do inquérito perante uma pequena comissão de juízes na própria prisão.
     [...] Os juízes pediram que ela se submetesse à "Igreja Militante". Joana claramente não entendeu a frase e, embora disposta e ansiosa para apelar ao papa, ficou intrigada e confusa. Afirmou-se mais tarde que a relutância de Joana em comprometer-se a uma simples aceitação das decisões da Igreja se devia a alguns conselhos traiçoeiros que lhe foram traiçoeiramente dados para trabalhar a sua ruína. Mas os relatos dessa suposta perfídia são contraditórios e improváveis.
     No dia 5 de abril de 1431, Joana começou a perder saúde por causa da ingestão de alimentos venenosos que a fez vomitar. Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam mantê-la viva, principalmente os ingleses, porque planejavam executá-la.
     Durante a visita do médico, Jean d’Estivet acusou Joana de ter ingerido os alimentos envenenados conscientemente para cometer suicídio. No dia 18 de abril, quando ela se viu em perigo de morte, pediu para se confessar.
     Os ingleses impacientaram-se com a demora do julgamento. O conde de Warwick disse a Cauchon que o processo estava demorando muito. Até o primeiro proprietário de Joana, Jean de Luxemburgo, apresentou-se a Joana fazendo-lhe a proposta de pagar por sua liberdade se ela prometesse não atacar mais os ingleses. A partir do dia 23 de maio, as coisas se aceleraram, e no dia 29 de maio, ela foi condenada por heresia.
     
Joana foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas dezenove anos. A cerimônia de execução aconteceu na Praça do Velho Mercado (Place du Vieux Marché), às 9 horas, em Ruão.
     Antes da execução ela se confessou com Jean Totmouille e Martin Ladvenu, que lhe administraram os sacramentos da Comunhão. Entrou, vestida de branco, na praça cheia de pessoas, e foi colocada na plataforma montada para sua execução. Após lerem o seu veredito, Joana foi queimada viva. Suas cinzas foram jogadas no Rio Sena, para que não se tornassem objeto de veneração pública.
     A revisão do seu processo começou a partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, e o processo que a condenou foi considerado inválido, e em 1909 a Igreja Católica autoriza sua beatificação. Em 1920, Joana d'Arc é canonizada pelo Papa Bento XV.
     Uma outra versão informa que vinte anos após a sua condenação à fogueira, a mãe de Joana d'Arc pediu que o Papa da época, Calisto III, autorizasse uma comissão que, numa pesquisa serena e profunda, reconheceu a nulidade do processo por vício de forma e de conteúdo. Joana d´Arc desta maneira teve sua honra reabilitada, e o nome feiticeira e bruxa foi apagado para que ela fosse reconhecida por suas virtudes heroicas, provenientes de uma missão divina.
     Ela foi proclamada Mártir pela Pátria e da Fé.
 
Fonte:
Herbert Thurston (Enciclopédia Católica de 1913)

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Aparições de Nossa Senhora em Beauraing – 3 de janeiro


     Em várias ocasiões ao longo da história, a Virgem Maria apareceu às crianças para nos lembrar, através delas, que devemos voltar a Deus e viver o Evangelho com simplicidade.
     Precisamente, Nossa Senhora manifestou-se em momentos particulares em que a maioria se distanciava da vida cristã. Sua mensagem não é nenhuma novidade, mas sim um apelo persistente ao arrependimento, conversão e oração.
     Nesta linha está inserida a mensagem das aparições marianas ocorridas em 1932, na cidade de Beauraing, Bélgica. Ali Nossa Senhora se manifestou a alguns irmãos e lhes deu uma mensagem para todas as gerações.
“Rezem, rezem muito”, a reconhecida aparição da Virgem do Coração de Ouro
     Em 29 de novembro de 1932, o Sr. Voisin pediu aos filhos Fernanda (15 anos) e Alberto (11 anos) que fossem procurar sua irmã Gilberta (13 anos) na escola das Irmãs da Doutrina Cristã. No caminho, as crianças convidam as amigas Andrea Degeimbre (14) e sua irmãzinha Gilberta (9 anos) para acompanhá-los.
     Quando as crianças chegaram ao internato, Alberto bateu na porta e, enquanto esperavam, virou-se e viu a Virgem Maria caminhando no ar sobre a ponte ferroviária. Para espanto de Alberto, sua irmã e suas amigas também olharam para a ponte e puderam ver Nossa Senhora.
     De repente, a Irmã Valéria abriu a porta e as crianças disseram-lhe que tinham visto a Virgem, mas a freira repreendeu-as e disse-lhes que não acreditavam nas suas piadas.
     As crianças correram para suas casas, assustadas, e prometeram voltar no dia seguinte, no mesmo horário, para procurar Gilberta.
     De 1º de dezembro a 3 de janeiro de 1932, a Virgem apareceu 30 vezes às crianças. Elas a descreveram como uma mulher com um longo vestido branco com um véu branco, uma coroa dourada de luz e as mãos cruzadas em oração na frente do peito. Numa das últimas aparições, Nossa Senhora abriu os braços para mostrar um coração de ouro. É por isso que ela começou a ser chamada de Virgem do Coração de Ouro.
     Nestas aparições, a Mãe de Jesus deixou mensagens curtas, mas fundamentais. No dia 17 de dezembro, a Virgem pede uma “capela”.
     Alguns dias depois, em 21 de dezembro, uma das crianças perguntou a Ela: “Diga-nos quem você é”. Nossa Senhora respondeu: “Eu sou a Virgem Imaculada”.
     Nas últimas aparições ocorridas entre 30 de dezembro e 3 de janeiro, a Virgem do Coração de Ouro comunicou o essencial de sua mensagem.
     No dia 30 de dezembro disse “Reze, reze muito”, e no dia seguinte lembrou “Reze sempre”. No dia 3 de janeiro, Maria Ssma. contou um segredo aos três filhos mais novos e disse-lhes para não contarem a ninguém.
     Naquela última aparição, a Virgem do Coração de Ouro assegurou: “Converterei os pecadores”. Então ela falou sobre si mesma e disse: “Eu sou a Mãe de Deus, a Rainha do Céu”.
     “Você ama meu Filho, você me ama? Então, sacrifique-se por mim”, disse ele a uma das meninas e depois se despediu.
Reconhecimento eclesiástico
     A devoção à Nossa Senhora do Coração de Ouro foi autorizada em 2 de fevereiro de 1943. A autenticidade dos acontecimentos foi reconhecida em 2 de julho de 1949 por Monsenhor Charue, Bispo de Namur.
     Como toda revelação privada, nenhum católico tem a obrigação de nela acreditar e deve-se proceder com prudência. Sempre o critério para aceitar as supostas revelações é que nunca contradigam os Santos Evangelhos, a Tradição e o Magistério da Igreja.
 
     Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!
 
Fonte: https://pt.churchpop.com