Todos os Santos por Frá Angélico |
A Enciclopédia Católica define o Dia de
Todos os Santos como uma festa em “honra a todos os santos, conhecidos e
desconhecidos”. No fim do segundo século, os cristãos começaram a honrar os que
haviam sido martirizados por causa da sua fé e, achando que eles já estavam com
Nosso Senhor Jesus Cristo no céu, rezavam a eles para que intercedessem a seu
favor.
Esta tradição de recordar os santos está na
origem da composição do calendário litúrgico, em que constavam inicialmente as
datas de aniversário da morte dos cristãos martirizados, realizando-se nelas
orações, missas e vigílias, habitualmente no mesmo local ou nas imediações de
onde foram mortos, como acontecia ao redor do Coliseu de Roma. Posteriormente
tornou-se habitual erigirem-se igrejas e basílicas dedicadas em sua memória
nesses mesmos locais.
A partir da perseguição de Diocleciano o
número de mártires era tão grande, que se tornou impossível designar para cada
mártir um dia do ano. No século IV, em Antioquia já eram celebrados todos os
santos mártires em um dia comum, no domingo seguinte ao de Pentecostes,
tradição que se mantém nas igrejas orientais.
Com o passar dos anos, mais homens e
mulheres se sobressaíram como exemplos de santidade. Ao martírio pela fé que os
cristãos respeitavam se soma a entrega de toda a vida no serviço de Deus; assim,
"o dia de todos os santos" celebra todos os cristãos que se encontram
na glória de Deus, tenham ou não sido canonizados (*).
A comemoração regular começou quando, em
13 de maio de 609 ou 610 d.C., o Papa Bonifácio IV dedicou o Panteão — o templo
romano em honra a todos os deuses — a Maria e a todos os mártires.
A data foi mudada para novembro quando o
Papa Gregório III (731-741 d.C.) dedicou uma capela em Roma a todos os santos e
ordenou que eles fossem homenageados em 1° de novembro. Não se sabe ao certo
por que ele fez isso, mas pode ter sido porque já se comemorava um feriado
parecido na mesma data na Inglaterra.
A Enciclopédia da Religião afirma: “O
Samhain continuou a ser uma festa popular entre os povos celtas durante todo o
tempo da cristianização da Grã-Bretanha. A Igreja britânica tentou desviar esse
interesse em costumes pagãos acrescentando uma comemoração cristã ao
calendário, na mesma data do Samhain. É possível que a comemoração britânica
medieval do Dia de Todos os Santos tenha sido o ponto de partida para a
popularização dessa festividade em toda a Igreja cristã”.
Markale menciona a crescente influência
dos monges irlandeses em toda a Europa naquela época. De modo similar, a Nova
Enciclopédia Católica afirma: “Os irlandeses costumavam reservar o primeiro
dia do mês para as festividades importantes e, visto que 1° de novembro era
também o início do inverno para os celtas, seria uma data propícia para uma
festa em homenagem a todos os santos”.
Finalmente, em 835, o Papa Gregório IV
declarou-a uma festa universal.
O Dia de Finados, no qual as pessoas rezam
a fim de ajudar as almas no purgatório a obter a bem-aventurança eterna, teve
sua data fixada em 2 de novembro durante o século XI pelos monges de Cluny, na
França. Embora se afirmasse que o Dia de Finados era um dia santo católico, é
óbvio que na mente do povo ainda havia muita confusão. A Nova Enciclopédia
Católica afirma que “durante toda a Idade Média era popular a crença de que,
nesse dia, as almas no purgatório podiam aparecer em forma de fogo-fátuo,
bruxa, sapo, etc.”.
Intenção
catequética da festividade
Segundo o ensinamento da Igreja, a
intenção catequética destas celebrações que tem lugar em todo o mundo, ressalta
o chamamento de Cristo a cada pessoa para segui-lo e ser santo à imagem de
Deus, a imagem em que foi originalmente criada e para a qual deve continuar a
caminhar em amor. Isto não só faz ver que existem santos vivos (não apenas os
do passado) e que cada pessoa o pode ser, mas sobretudo faz entender que são
inúmeros os potenciais santos que não são conhecidos, mas que da mesma forma
que os canonizados igualmente veem Deus face a face, têm plena felicidade e
intercedem por nós.
Além disso, é importante recordar o artigo
do Credo que fala da Comunhão dos Santos. Na Doutrina Católica a comunhão dos Santos
tem dois significados intimamente relacionados: "comunhão nas coisas
santas, sancta" e "comunhão entre as pessoas santas,
sancti".
O primeiro significa a participação de
todos os membros da Igreja nas coisas santas: a Fé, os Sacramentos
(nomeadamente a Eucaristia), os carismas e os outros dons espirituais. O
segundo significa a união viva e espiritual de todos os fiéis cristãos e
membros da Igreja que, "pela graça, estão unidos a Cristo",
formando um único Corpo Místico de Cristo e sendo por isso "pessoas
santas (sancti) em Cristo". Logo, esta comunhão de santos forma "uma
só família, a Igreja", que está organizada em três estados espirituais
diferentes:
- A Igreja militante, formada pelos fiéis que "peregrinam na
Terra", nomeadamente aqueles que estão em estado de graça (ou seja,
que não estão manchados por pecados mortais não confessados);
- A Igreja padecente ou purgante, constituída pelas almas que ainda
padecem no Purgatório e que, por isso, necessitam das orações de sufrágio
(nomeadamente a missa), das boas obras, dos sacrifícios, das indulgências e das
obras de penitência praticadas pelos membros da Igreja militante. Todas estas
ações aceleram a purificação e posterior entrada no Céu destas almas
padecentes;
- A Igreja triunfante, composta pelos habitantes do Céu (desconhecidos, anônimos
ou oficialmente reconhecidos pela Igreja), que alcançaram a eterna e definitiva
santidade e que, portanto, são os intercessores dos homens junto de Deus.
Todos os membros da Igreja destes três diferentes estados espirituais,
unidos espiritualmente em Cristo, podem por isso interceder e ajudar-se
mutuamente através de orações, boas obras, sacrifícios e indulgências, ou seja,
através da "comunicação dos bens espirituais".
Esta união viva é sustentada na doutrina católica de que "todos
os crentes formam um só corpo, [logo] o bem duns é comunicado aos outros [...].
E assim, deve-se acreditar que existe uma comunhão de bens na Igreja. [...] Mas
o membro mais importante é Cristo, que é a Cabeça [...]. Assim, o bem de Cristo
é comunicado a todos os membros, comunicação que se faz através dos sacramentos
da Igreja". Esta união espiritual, em última análise, é fundamentada
"no mesmo amor de Deus e do próximo" que todos os católicos
comungam, "embora de modo e grau diversos", formando assim uma
só Igreja.
Compêndio do Catecismo da Igreja
Católica.
Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. ISBN
972-603-349-7
(*)
No século V, teve início o uso de um processo para que a heroicidade de vida
cristã de alguém aclamado pelo povo fosse averiguada; após o término do processo,
o investigado pode ser chamado universalmente de beato ou santo. O processo
também institui um dia e o tipo e lugar para as celebrações, normalmente com
referência especial na missa.