quarta-feira, 28 de maio de 2025

Madre Francisca de Jesus: uma grande mística brasileira - 28 de maio

      

     O nome de Madre Francisca de Jesus, fundadora da Companhia da Virgem, falecida a 28 de maio de 1932, portanto há 93 anos, é geralmente desconhecido entre nós. ...
     Madre Francisca de Jesus chamou-se, no século, Francisca Carvalho do Rio Negro e era a nona filha dos barões do Rio Negro. Nasceu em Petrópolis a 27 de março de 1877, e passou sua primeira infância no Brasil. Ainda extremamente jovem, passou-se com sua família para a Europa, onde foram residir em Paris. Poucas vezes mais haveria de ver sua terra natal; porém, a obra que iria fundar em regiões distantes, pelos desígnios secretos da Providência, transportar-se-ia para o Brasil, vindo a realizar aqui, neste país tão necessitado de padres, o seu alto objetivo: a oração pelo Papa e pelas vocações sacerdotais.
     Tudo isso, entretanto, não se passou sem grandes, sem enormes dificuldades. A futura fundadora estava longe de imaginar aquilo que o Céu esperava dela, mesmo porque o Céu não se deu pressa em lhe revelar seus desígnios, deixando-a perplexa por muito tempo.
     Ainda em plena adolescência, por um impulso cuja espontaneidade só pode ser atribuída a uma inspiração sobrenatural, Francisca, diante de uma pequena imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que sempre a acompanhava, ligou-se a Deus por um voto de virgindade perpétua. Saberia ela as lutas que a defesa deste voto lhe iria custar? (...) Durante 14 anos teve que se debater, resistindo à sua família, que por força queria casá-la. Mais do que isso, incompreendida por seu confessor, que declarava seu voto nulo. E considere-se que se tratava de um sacerdote virtuoso, de tanto merecimento, que acabou por ser elevado à dignidade episcopal. (...)
* O desafio de Deus 
     Após anos, Francisca conseguiu convencer a todos desta verdade: Deus não a queria para o casamento. Quanto trabalho! Os pretendentes não lhe faltavam. Ela era de uma beleza pura, tranquila e firme. Em sua fisionomia tudo era calmo e preciso: a testa alta, o nariz longo, retilíneo e afilado, a boca rasgada num talho convicto e harmonioso, tudo enquadrado no oval elegante de seu rosto, e iluminado por dois olhos profundos, expressivos e resolutos. A sua beleza era grande e digna. (...)
      Francisca vencera a primeira batalha. Agora, no meio dia dos trinta anos, sua natureza afirmava-se na madureza da idade, ao mesmo passo que a sua vida espiritual era um campo fértil e trabalhado. E ei-la livre, inteiramente desobrigada por sua família e por seu diretor, pronta para atender ao primeiro apelo dAquele a quem ela se consagrara de corpo e alma!
     Então... então este apelo se fez esperar por mais três anos. Francisca se viu na condição de uma pessoa que após ter sacrificado tudo por um ideal, parece perdê-lo quando pensa alcançá-lo. Seu diretor obrigou-a a fazer várias experiências, mas todas resultaram infrutíferas, sem que se descobrisse o gênero de vida que Deus queria dela. “Eu queria fazer a vontade divina, custasse o que custasse, era impossível descobri-la!” - havia de escrever mais tarde, nas notas sobre este período de sua vida. (...)
* A fundação  
    Em pleno mar (era outubro; ela voltava, com sua mãe, de uma viagem ao Brasil, que, nunca mais tornaria a ver. Ela não era mais do que um ponto perdido na imensidade do Oceano, mas um ponto que era toda a predileção da Providência), em pleno mar, Francisca foi convidada por Deus para uma oração mais profunda; e, no meio do maior recolhimento, a bruma começou a desfazer-se, e ela começou, pouco a pouco, a ver claro em sua Vocação. Luzes extraordinárias começaram a instrui-la sobre o Sacerdócio, a Hierarquia Eclesiástica, o valor do Santo Sacrifício da Missa. E ela compreendeu que deveria ir a Roma, falar com o Santo Padre sobre a fundação de uma ordem religiosa que fosse destinada à oração e à imolação pelas intenções do Papa, pela Hierarquia e pelas vocações sacerdotais. Durante o resto da viagem este ideal se foi precisando, completando, esclarecendo, por obra dAquele mesmo que o havia inspirado. (...)
     Enfim, em 13 de dezembro de 1910, foi recebida por S. S. Pio X. O grande pontífice, que ilustrou a Igreja pela santidade de sua vida, não tardou em perceber a origem sobrenatural dos ideais de Francisca. Concedeu-lhe várias entrevistas, e acabou por induzi-la a fazer um ensaio de fundação, à qual deu, desde logo, ao Cardeal Pompilli como protetor. Datam deste tempo suas primeiras companheiras, duas jovens que também se deixaram seduzir pelo elevado objetivo da imolação pelos interesses da Igreja. Para este pequeno grupo, o Santo Padre, em 26 de maio de 1912, concedeu o favor da Consagração das Virgens, o que se realizou pouco mais tarde, em 6 de fevereiro do mesmo ano. E este gérmen minúsculo da Companhia da Virgem fechou-se num apartamento do Corso d’Itália.
     Naquele momento as forças da civilização moderna ajustavam os lances gigantescos que deveriam determinar o futuro do mundo, um futuro naturalista e pagão; os preliminares da Grande Guerra já estavam concluídos. E, no meio desta imensa trama, Nosso Senhor estabelecia a conspiração mística de três pobres e frágeis mulheres, escondidas e humildes. O tempo, entretanto, há de mostrar quem era mais forte.
     Com o desenvolvimento da fundação, tiveram de mudar-se para lugares mais espaçosos. Primeiro, a Villa Patrizi, perto da Porta Pia. Depois, a cômoda residência, cercada de jardins, da Via Tuscolana n° 367, esta já de propriedade da Congregação, onde a sua fundadora teve o cuidado de mandar construir uma pequena igreja, dedicada à Imaculada Conceição. Enfim, em 12 de junho de 1921, S. Em. o Cardeal Pompilli consagrou esse templo, e a casa recebeu o nome de ‘Priorado da Virgem’. (...)
 * O maravilhoso 
     Então, Madre Francisca de Jesus atingiu aquela plenitude de vida cristã que é uma oposição ao terra a terra quotidiano, à mediocridade cíclica da rotina, que é uma libertação da vulgaridade do mundo exatamente porque as próprias coisas vulgares, que estão necessariamente ligadas ao viver terreno, adquirem um sentido novo e invulgar. É uma vida em segunda potência, em que as misérias, as tristezas e as alegrias são elevadas a um plano superior e transfiguradas, porque tudo é projetado para um ideal único, ao qual tudo se refere, tudo se sacrifica e tudo se compromete. (...) 
    Agora, depois da fundação, isto tudo atingiu a plena maturidade. Toda a sua vida tornou-se extraordinária, ainda mesmo quando resolvia as questiúnculas engendradas pelos equívocos, pelos mal-entendidos, pelas contradições, com que todas as fundações têm de se defrontar. Ao mesmo passo, voltaram-lhe, com redobrada violência, as penas interiores. E, como se tudo não bastasse, sua saúde comprometeu-se irremediavelmente, pois veio a contrair a terrível moléstia de Basedow, que é um envenenamento progressivo do organismo até a morte, envenenamento que vai ampliando a repercussão dos sofrimentos, de forma a transformar uma simples contrariedade num sofrimento quase intolerável. Por causa desta doença teve de sofrer uma séria operação em 1922. Logo no ano seguinte os médicos desesperaram de salvá-la; ela deveria ser operada novamente, desta vez de um abscesso no interior do crânio. Curou-se, entretanto, depois de uma novena a Pio X. Ainda outra vez foi curada milagrosamente de um flegmão, por intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus, que lhe apareceu.
     Esta avalanche de contrariedades não impediu a fundadora de organizar cuidadosamente a vida interna de seu convento de contemplativas. Mas ela estava arrasada. Certa vez, em 28 de outubro de 1922, pensou sucumbir aos sofrimentos internos e externos que a submergiam. Num último alento, ainda encontrou forças para fazer este supremo oferecimento: “Entretanto, eu quero sofrer conVosco, meu Senhor Jesus”. Neste momento, ela viu ao seu Senhor Jesus, a Cruz às costas, seguido por uma turba ululante que lhe disse: “Quem sofreu tanto como Eu? Siga-me, preciso de ti. Recusarás vir?”
     Não, não havia de ser a Madre Francisca de Jesus quem recusaria segui-Lo. Imediatamente Lhe pede perdão, e suplica-Lhe queira infundir um verdadeiro amor. Como lembrança desta graça extraordinária, a Santa Face de Jesus imprimiu-se na parede da cela, como outrora no lenço da Verônica. Até hoje lá se pode ver, protegida por um vidro.
     Ainda mais tarde, numa outra contingência em que a Fundação atravessava períodos difíceis, Madre Francisca, novamente assoberbada por abatimentos mortais, ouviu ao falecido Papa Pio X, que numa voz interior lhe disse: “À tua obra, que também é minha, nenhum mal será feito”.
     Em fins de 1928, diversas postulantes, em que ela depositava as maiores esperanças, abandonaram o Priorado. ... Uma voz interior se fez ouvir para a consolar: “Serás sacudida, tu e a tua barca, mas nem tu, nem a tua barca naufragarão”.
* “Tu me tens amado” 
     Assim, a última fase de sua vida foi recoberta daquela poeira dourada, que se encontra nos “Fioretti” e na “Legende Dorée”. Os seus menores gestos tinham uma repercussão sobrenatural. Entretanto, acima de tudo isso, pairava habitualmente uma obscuridade compacta, de tal forma que Madre Francisca julgava haver perdido a fé. ...
     Datam desta época os mais belos e inspirados escritos de Madre Francisca, pois que as suas trevas eram iluminadas momentaneamente por luzes vivíssimas, que a mergulhavam num mar de felicidade. Estes escritos são um alimento espiritual de primeira ordem, e aproximam, singularmente, sua autora dos grandes contemplativos que a Igreja produziu.
     Assim discorreu pelos últimos anos de sua vida, até que entregou, santamente, a alma ao Criador, em 28 de maio de 1932. Dois anos antes ela escrevera a suas filhas: “É preciso amar Nosso Senhor generosamente, até a destruição de si mesmo, o que é absolutamente necessário, se se quer amá-Lo verdadeiramente”. Pois bem, Madre Francisca fora destruída de tal forma que nela já não havia senão o que o próprio Jesus Cristo edificara; em verdade, ela nascera novamente, havendo morrido tudo quanto nela era do pecado.
     Depois de sua morte, grandes prodígios em curas e conversões se realizaram, mediante sua intercessão. Mas maior prodígio foi certamente o fato da Companhia da Virgem vir a perder a casa da Via Tuscolana, 367. ...  E com isso, a Companhia mudou-se para o Brasil [1], para Petrópolis, vindo rezar pelas vocações neste país de clero escasso, berço de sua fundadora. (...)


[1] A imagem da Sagrada Face, desenhada por Madre Francisca, foi transferida para o Brasil, onde se encontra no Priorado da Virgem, em Petrópolis, para onde se transportaram as Religiosas da Congregação fundada pela insigne santa brasileira.
 
Plinio Corrêa de Oliveira, Legionário N° 381, 31/12/1939 (excertos)

sábado, 24 de maio de 2025

A Virgem Iverskaia ou Virgem Ibérica


     
Chamou-nos a atenção, enquanto fazíamos uma busca em textos antigos, o conteúdo do artigo que damos a seguir. Há tanta conexão com o Centenário de Fátima, que nos pareceu interessante trazê-lo ao conhecimento dos leitores deste blog. Que a Virgem Ibérica volte a reinar na nação que a profanou!
 
 Virgem Iverskaia, esperança de conversão da Rússia
 
     Uma das mais importantes coleções de ícones – pinturas religiosas típicas do Oriente – existentes na Europa, e talvez no mundo, encontra-se na pequena cidade de Torrejón de Ardoz, não longe de Madri. Ali, na antiga granja do Colégio Jesuíta de Santo Isidro, é que o nobre Sérgio Otzoup instalou seu Museu de Ícones.
     Não se sabe ao certo a data da construção do conjunto de edifícios da granja, mas tudo leva a crer que tenha sido nos primeiros anos do século XVII, quando a Companhia de Jesus adquiriu um pedaço de terra em Torrejón, para usá-lo no abastecimento do Colégio Imperial, fundado pela Imperatriz Maria, filha de Carlos V e viúva de Maximiliano I.
     Com a expulsão dos jesuítas da Espanha em 1767, a granja foi adquirida por D. Juan de Aguirre. Em 1805, o extenso imóvel estava em poder da casa dos Pignatelli de Aragão, Condes de Fuentes, muito chegados aos filhos espirituais de Santo Inácio, aos quais devolveram o direito sobre o solar, durante a restauração da Companhia de Jesus no reinado de Fernando VII.
     Expulsos novamente os jesuítas da Espanha no século XIX, volta a granja às mãos dos Condes de Fuentes, permanecendo com eles até 1902. Por fim, restaurada por D. Rafael Onieva Ariza, com toda a magnificência atual, foi ela destinada para fins culturais, recebendo o nome de La Casa Grande.
* * *
     Se percorrermos as dependências de La Casa Grande, e penetrarmos no Museu de Ícones, uma pintura da Mãe de Deus chama especialmente a atenção: a Virgem Iverskaia ou Virgem Ibérica.
     Nela, a Mãe de Deus é representada tendo em seu braço esquerdo o Menino Jesus, com a majestade de quem se assenta em seu trono natural. É em Maria que encontra Jesus suas complacências. A Virgem, ao mesmo tempo que sustém com todo cuidado e proteção o Menino Deus, com o braço direito indica ao fiel ser Ele o modelo de todas as perfeições e o Juiz supremo de todas as causas. Como Medianeira Universal de todas as graças que é, seu terno olhar volta-se para cada devoto que se apresenta a seus pés invocando sua intercessão e confiando em seu amparo.
     A harmonia, a doçura que se desprendem da pintura – toda feita de cores em que predominam o vermelho e o dourado, mas suaves e matizadas – são contrariadas violentamente ao observarmos nela alguns furos ocasionados por balas de fuzil. Percebem-se marcas claríssimas de fuzilamento, tanto no rosto da Mãe quanto no do Filho!
     Esse fato tão insólito encontra sua explicação em passado ainda recente. Sua data? 13 de maio de 1917!
     Sim. Enquanto em Fátima Nossa Senhora aparecia pela primeira vez, dando início a uma série de manifestações em que profetizava a expansão dos erros da Rússia pelo mundo inteiro, como açoite pelos pecados do gênero humano, e prometia o triunfo final de Seu Coração Imaculado, em Moscou, essa profanação era cometida durante os distúrbios que precederam à revolução bolchevista.
* * *
     Infelizmente, como se sabe, com o cisma do Oriente, pequeno foi o número dos fiéis que, no Império dos Czares, continuaram a manter sua fidelidade ao trono de São Pedro. Um belo exemplo do que restou dessa união com a Cátedra da Verdade deu-se no jubileu de São Pio X, quando uma delegação de católicos russos presenteou o Santo Pontífice com um ícone da Mãe de Deus, justamente sob a invocação de Virgem Iverskaia. De onde, tudo leva a crer que esse culto a Nossa Senhora é anterior à ruptura daquela nação com Roma. Tendo até, quem sabe, um significado auspicioso para a conversão da Rússia, anunciada na Mensagem de Fatima.
     Dentro do cisma, a Virgem Santíssima continuou ainda a ser cultuada – se bem que fora da verdadeira Igreja de Cristo – em muitíssimos santuários, e por meio de vários ícones espalhados por todo aquele vasto território.  Entre estes, destacava-se o da Virgem Ibérica, que é padroeira de Moscou, e cujo nome tinha sua origem na Ibéria, região do sul da Rússia, na zona do Cáucaso. Esta pintura de Maria ficava exposta numa pequena capela na entrada do Kremlin. Segundo prospectos e cartões do museu de Torrejón de Ardoz, esse ícone teria sido pintado no século XVI.
     Deposto o Czar, durante a efêmera regência do Príncipe Lvov, sob o governo de Kerensky, a capela de tal forma foi destruída naquele dia 13 de maio do ano da Revolução comunista, que dela não restou pedra sobre pedra. O ícone da Virgem Iverskaia foi fuzilado e consta que chorou ao ser profanado! Considerada perdida durante esses meses que antecederam a revolução bolchevista, a pintura da Mãe de Deus pode ser conservada juntamente com outros tantos ícones, graças a Sérgio Otzoup, que em dezembro de 1918 conseguiu retirá-los da Rússia.
     Hoje, exposta no Museu de Ícones de La Casa Grande, a Virgem Iverskaia – profanada por ódio à Religião – permanece como sinal de esperança, sobretudo para a Rússia e também para o mundo, da nova era prometida por Nossa Senhora em Fátima, e profetizada por São Luís Maria Grignion de Montfort – o extraordinário missionário francês do século XVII – como sendo o Reino de Maria!
 
Fonte: Revista Catolicismo, maio de 1986
Auxilium Christianorum, ora pro nobis!

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Beata Berta de Bingen, Mãe e penitente - 15 de maio

     
     Entre as inúmeras figuras de mães de Santos, elas também veneradas pela Santa Igreja como Santas ou Beatas, aparece a figura da Beata Berta, mãe de São Ruperto de Bingen.
     A comovente história de Berta e Ruperto teria se perdido ao longo dos séculos se não tivesse sido escrita pela grande mística, escritora e musicista, Santa Hildegarda de Bingen, que viveu na mesma região séculos depois. Esta Santa tinha grande veneração pelo Santo e o mosteiro do qual era abadessa guardava as relíquias de ambos.
     Berta viveu nos séculos VIII-IX, era filha do Duque da Lorena, e foi casada com o príncipe pagão Robolau (ou Roboldo), no tempo de Carlos Magno (742-814), tendo recebido como dote um vasto território ao longo da região do Rio Reno, hoje conhecida como Rupertsberg (Renânia, Alemanha).
     Sendo católica praticante, procurou converter o marido, mas sem sucesso. Este morreu ainda jovem, combatendo, pouco tempo depois do nascimento de seu filho. Berta enfrentou com coragem a viuvez e dedicou-se ao serviço de Deus e a educação do filho, Ruperto, de três anos, e a proteger sua propriedade de Bingen das pretensões dos familiares de seu marido.
     Ruperto cresceu fiel aos ensinamentos maternos e com a assessoria do seu mentor, São Vigberto, sacerdote e diretor espiritual de Berta, que os inclinou às práticas de devoção e obras de caridade. Iniciou-se assim uma relação de profunda convivência espiritual entre mãe e filho.
     Ruperto mostrou um precoce entendimento dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando Berta disse a ele que planejava financiar a construção de uma igreja, Ruperto retrucou: "Mas primeiro precisamos obedecer a Deus e dar pão aos famintos e roupas aos nus". Tocada pela compaixão de Ruperto, Berta associou seu filho, então com 12 anos, a fundação de um mosteiro em Bingen, usando também seus bens para construir hospitais para os pobres e doentes.
     Anos depois, Berta e Ruperto fizeram uma peregrinação ao túmulo dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, em Roma. Como sua fé se aprofundava, Berta decidiu transferir-se, com Ruperto, para Bingen a fim de levarem uma vida de solidão e contemplação. Esta frutífera colaboração entre mãe e filho somente foi truncada com a morte de São Ruperto, aos 21 anos, após uma grave enfermidade.
     A grande dor que Berta provou foi mitigada pela consolação ao ver a veneração por seu filho que logo a população expressou. Berta adotou uma vida de oração e penitência e doou seus bens para o sustento dos monges do mosteiro em que São Ruperto fora sepultado.
     Berta sobreviveu a seu filho uns 25 anos, falecendo em meados do século IX, e foi enterrada próximo de seu filho, cujo túmulo já era destino de numerosas peregrinações, a ponto de toda aquela região ser chamada Rupertsberg (a Montanha de Ruperto). Durante as invasões normandas do século X os dois túmulos foram profanados. Na Guerra dos 30 Anos, seus restos foram transladados para Eibingen.
     Seu culto se conserva ainda hoje. Berta foi considerada beata desde os primeiros tempos e sua festa, junto com a de seu filho, é celebrada em 15 de maio.
 
Fonte: Beata Berta di Bingen

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Santa Prisca ou Priscila, Protomártir romana - 5 de maio

      No dia 3 de maio de 1616, sendo então Arcebispo de Cagliari D. Francisco Desquivel, quando estavam sendo feitas escavações para encontrar o túmulo de São Esperate, descobriu-se também a sepultura de Santa Prisca (ou Priscila), Virgem e Mártir.
     Sobre seu túmulo havia uma inscrição que apenas mencionava que ela dera sua vida em sacrifício pela causa da Fé.  A lápide que cobria seu sarcófago continha a seguinte inscrição: “+ D(E)D(ICAVIMUS) F(IDE)L(I) MART(YRI) PRISCE NIMIS N(OBIS) D(ILECTAE)”, que traduzida significa: DEDICAMOS (ESTE SEPÚLCRO) À FIEL MÁRTIR PRISCA POR NÓS ARDENTEMENTE AMADA.
     Segundo a interpretação dos descobridores, esta epígrafe deve ter sido colocada pelo Bispo de Cagliari, Brumasio, no início do século VI. Pesquisas recentes do arqueólogo Mauro Dadea demonstraram que este bispo providenciara pessoalmente a colocação das relíquias de São Esperate, e de outros mártires seus companheiros, na antiga igreja do centro habitado de Valeria, depois conhecida como São Esperate. Esta jovem, portanto, viveu no tempo da perseguição aos cristãos pelos romanos, no século II d.C.
     As atas do descobrimento das relíquias, que se encontram no Santuário de Caller do Pe. Esquirro, relatam um fato extraordinário: quando o sarcófago de Prisca foi aberto, o seu corpo apareceu, para grande espanto dos arqueólogos, imerso em um mar de rosas. Os descobridores seiscentistas de seu túmulo supõem que a Santa tivesse origem sarda.
     As suas relíquias, conforme consta de documentos antigos do século XVII, foram deixadas em São Esperate. No decorrer dos séculos se perdeu a sua exata localização. Mas alguns fragmentos menores destas relíquias foram distribuídos a alguns expoentes da alta aristocracia, que os conservaram nas capelas privadas de seus palácios. Uma destas relíquias, depois do falecimento do último representante de uma família nobre de Cagliari, da qual era proprietário, retornou a São Esperate no ano jubilar de 2000, doada pelos seus descendentes.
     Todos os anos, no dia 5 de maio, data do "adventus", isto é, dia da trasladação do corpo da Santa para a cidade, no dia mesmo em que se celebra a solenidade de Santa Prisca, Virgem e Mártir, a relíquia é exposta ao culto público na igreja paroquial, para onde vem transportada numa procissão pelas ruas da cidade, que para a ocasião se enfeita com um tapete de pétalas de perfumadíssimas rosas.
*
     De acordo com o teólogo católico Johamm Kirsh, narrativas relacionadas à Santa não são históricas. Segundo a legenda, Santa Prisca pertencia a uma família nobre e na idade de treze anos foi levada diante do imperador Cláudio acusada de ser cristã. Este imperador ordenou que ela sacrificasse ao deus Apolo e, diante de sua recusa, ela foi flagelada e colocada na prisão.
     Como ela persistia na sua fé em Jesus Cristo após a saída da prisão, foi novamente punida e aprisionada. Ela foi levada para o anfiteatro para ser morta por um leão, mas este se colocou aos seus pés sem feri-la. Após três dias na prisão, foi torturada, continuou viva, mas foi decapitada.
     Os cristãos sepultaram seu corpo na catacumba próxima ao local de seu martírio. Ainda existe, no Aventino, em Roma, uma igreja de Santa Prisca, no mesmo local em que uma antiquíssima igreja, a Titulus Priscoe, era mencionada no século V e construída provavelmente no século IV.
 
Etimologia:
Prisca, do latim Priscus = "prisco, antigo, velho". Na época imperial romana, na linguagem poética, tinha um matiz de respeito e veneração. Priscila = diminutivo de Prisca.

Outra versão
     No século VIII começaram a identificar a mártir romana com Prisca, mulher de Áquila, de que fala o Apóstolo São Paulo em sua Carta aos Romanos: “Saudai Prisca e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus; pela minha vida eles expuseram suas cabeças. A eles agradeço, não só eu, mas também todas as igrejas dos gentios” (Rm 16,3).
    Áquila e Priscila tinham uma vida unida, sempre em movimento, com o olhar fixo em Cristo. Seu dinamismo em dar testemunho de fé chamou a atenção de Paulo de Tarso, do qual se tornaram amigos íntimos. Os poucos dados sobre a vida deste casal podemos encontrar nas Cartas do Apóstolo dos Gentios e nos Atos, quando Paulo elogia seus amigos.
     Áquila era um judeu, nascido em Ponto, atual Turquia; ao imigrar para Roma casou-se com uma jovem romana chamada Priscila. Juntos, iniciam uma fábrica de tendas e, juntos, convertem-se ao cristianismo. Mas, não puderam permanecer por muito tempo na Cidade Eterna, por causa do edito, promulgado pelo Imperador Cláudio, no ano 49, que previa a expulsão de todos os judeus acusados de fomentar tumultos.
Amizade com Paulo
     Áquila e Priscila transferiram-se para Corinto, uma cidade cosmopolita, onde prosperava o culto a Afrodite. Ali, encontraram Paulo, que o hospedaram em sua casa, o envolveram em seu trabalho, para que pudesse providenciar o necessário para a sua subsistência.
     Naquela cidade, capital da Acaia, o apóstolo escolheu, como local de culto e pregação, a casa do prosélito, Tício Justo, próxima àquela dos cônjuges. A amizade deles, arraigada em Jesus, nunca se interrompeu, nem quando Paulo decidiu voltar para a Síria. Os dois esposos acompanham-no, em parte da viagem, e se estabeleceram em Éfeso.
Risco de vida
      Na cidade jônica da Anatólia, centro de intercâmbios culturais, religiosos e comerciais, os três encontraram-se novamente. Ali, Paulo morou por mais de dois anos e fundou uma Igreja. Áquila e Priscila, sem deixar suas atividades comerciais, ajudaram-no na formação de novos convertidos; de modo especial, acompanharam a iniciação cristã de Apolo, um judeu de Alexandria, profundo conhecedor das Escrituras; ele ficou fascinado pela catequese deles, que se tonou crível pelo testemunho reciprocidade e oblação conjugal.
     A grande casa em Éfeso, adquirida pelos cônjuges, tornou-se logo ponto de referência para a comunidade recém-nascida, que ali se encontrava para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia. Ali, o Apóstolo se hospedou, recordando sempre, com gratidão, a calorosa acolhida dos dois amigos, que, para o salvar - escreve na Carta aos Romanos - "arriscaram a sua vida".
Testemunhas do amor conjugal, arraigado no Evangelho
     Ao cessar o edito imperial, concernente à expulsão dos judeus, Áquila e Priscila retornaram a Roma, sempre propensos ao zelo missionário e ao testemunho do Ressuscitado.
     Nada se sabe sobre a morte dos dois esposos. Há quem identifica Priscila com Prisca, a primeira mulher mártir, decapitada e venerada na igreja homônima do bairro romano do Aventino. Outros, com a Priscila, proprietária das catacumbas na Via Salária. A estas duas era ligada a gens Acilia, que alguns estudiosos intitulam o nome de Áquila.

Fontes:
SS. Áquila e Prisca (ou Priscila), discípulos de S. Paulo - Informações sobre o Santo do dia - Vatican News
História de Santa Prisca - Santos e Ícones Católicos - Cruz Terra Santa

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Santa Oportuna de Séez, Abadessa - 22 de abril


“A taumaturga da Normandia”

     Uma Vita et miracula Sanctae Opportunae foi escrita cerca de um século após sua morte (ca. 885-88) por Santo Adelino), bispo de Séez.
     Santa Oportuna nasceu na outrora importante Exmes, na diocese de Séez, próximo de Argentan, numa data desconhecida. Seu pai governava esta região com o título de conde; seu irmão, Santo Godegrande, ocupava a sede episcopal de Séez; e sua tia, Santa Lantilde, era abadessa das beneditinas de Almenèches, fundada dois séculos antes.
     Muito jovem Oportuna decidiu ingressar no convento. Embora a abadia beneditina de Almenèches governada por sua tia ficasse mais próxima, ela preferiu a solidão de Montreuil, pequeno mosteiro no vale do Auge, célebre por sua estrita observância. Oportuna recebeu o véu pelas mãos de seu irmão, Godegrande, alguns dias após sua entrada na abadia.
     Após o falecimento da abadessa, as religiosas escolheram Oportuna para sucedê-la. A nova abadessa mudou de condição, mas não de conduta, aumentou suas devoções e penitências. Ela dormia sobre a terra nua e tinha por coberta um simples cilício; alimentava-se apenas de pão e aos domingos comia um pouco de peixe; jejuava nas 4as e 6as feiras.
     Oportuna primava pela prudência e pela caridade com os pobres; tinha uma maneira muito peculiar para instruir suas filhas, ou para corrigi-las, sempre temperando a justiça com a misericórdia, por suas orações e exemplo. Ela fazia isto tão bem, que as mais recalcitrantes se tornavam dóceis aos movimentos do espírito de Deus que a conduzia.
     Contudo, como a vida dos justos é cheia de cruzes para estar conforme a de Jesus Cristo, Deus permitiu que ela as tivesse e a maior foi a seguinte.
Vitral de Sta. Oportuna e seu irmão
São Godegrande
     Seu irmão, Godegrande, fez uma viagem a Roma e a Palestina para visitar os lugares santos. Ele deixou como vigário geral Godoberto. Este, ao invés de agir como o bom pastor, tornou-se um lobo por suas injustiças, especialmente contra as pessoas religiosas da diocese e em particular contra Oportuna. Sua ambição, tão alta quanto violenta, o fez se consagrar bispo de Séez. Oportuna rezava pedindo o fim de tanta desordem.
     Finalmente, sete anos depois de sua partida, o Santo voltou a sua diocese e restabeleceu a ordem. Furioso com sua deposição, Godoberto conspirou contra a vida do santo bispo e o mandou assassinar durante o trajeto de uma visita que ele faria a irmã. Pessoas piedosas desejavam dar sepultura ao bispo, mas sua irmã, que chegara ao local do crime, o levou para seu mosteiro, onde ele foi solenemente sepultado.
     Algumas fontes dizem que Oportuna morreu de uma doença causada pelo sofrimento após a morte de seu irmão, que ocorreu dia 3 de setembro de 769. Embora ela tivesse previsto sua morte numa visão profética, nada pode fazer para impedi-la.
     Antes de sua morte a Santa teve uma visão: recebeu a visita das Santas Luzia e Cecília, cuja presença inundou sua cela de uma brilhante claridade e de um odor muito agradável; elas asseguraram que a Rainha dos céus logo viria buscá-la. Oportuna recebeu o santo viático e a Ssma. Virgem lhe apareceu para levá-la em seus braços. Era o dia 22 de abril de 770. Seu corpo foi sepultado próximo ao de seu irmão.
     Devido aos inúmeros milagres que ocorriam junto a sua sepultura, muito numerosas eram as visitas que lhe fazia o povo rogando por sua intercessão. Foram tantos os milagres alcançados, que Santa Oportuna ficou conhecida como “a taumaturga da Normandia”.
     A vita de Santa Oportuna relata que certa vez um camponês roubou um jumento do convento e recusava admitir seu crime. Oportuna deixou o caso nas mãos de Deus e no dia seguinte o campo do homem estava coberto de sal. O camponês arrependido não só devolveu o animal como doou as terras para as religiosas.
     A Santa é muito venerada entre as monjas beneditinas de Almenèches, Argentan, que a invocam para os casais estéreis que desejam um filho, e é a patrona das antigas igrejas paroquiais de Lessay.
     Em 1374, seu braço direito e uma costela foram colocados num relicário em uma pequena igreja dedicada a ela em Paris, próxima da ermida chamada Notre Dame des Bois. Conforme a cidade crescia, o mesmo se dava com a igreja. Seu relicário de Paris é levado em procissão junto com as relíquias dos Santos Honório e Genoveva.         

História da Abadia de Almenèches-Argentan
     Uma das mais antigas abadias femininas da França, com Poitiers e Jouarre, sua origem é bastante obscura; os mais antigos arquivos datam do século XII. Sempre modesta, a abadia atravessou séculos e enfrentou muitas vicissitudes, com duas interrupções: durante um século e meio, após as invasões vikings do século IX, e durante 30 anos após a Revolução Francesa.
     Segundo a tradição, no final do século VII, o monge Santo Evroul († 707) fundou 15 mosteiros na região, entre eles o de Almenèches, a 10 km sudoeste de Argentan, governado por Santa Lantilde no século VIII, e um outro, o Monasteriolum, a 17 km ao norte de Argentan. Neste foi abadessa Santa Oportuna notável por sua grande caridade fraterna e por sua devoção mariana.
     No fim do século IX, os dois mosteiros foram destruídos pelas invasões normandas. As relíquias de Santa Oportuna foram colocadas em segurança na região de Paris, sinal de que ela já era objeto de uma grande veneração.
1060: Uma restauração difícil
     Rogério II de Montgomery, parente de Guilherme o Conquistador e “amigo dos monges”, reconstrói Almenèches em 1060, e dota a abadia de muitas ricas possessões na Normandia e na Inglaterra. Sua filha, Ema, aí se tornou abadessa em 1074. Uma parte das relíquias de Santa Oportuna retorna então a Almenèches, que a acolhe como patrona. Envolvidos, apesar deles, nas lutas opositoras dos Montgomery, os mosteiros foram incendiados por duas vezes, em 1103 e 1118, e ficaram muito empobrecidos.
Do século XII ao século XV, a decadência
     O Registro de Visitas do arcebispo de Rouen, de 1250 a 1260, menciona 33 religiosas que cantavam o Ofício. A decadência vai se acentuando no decorrer do século XIV, em seguida a um novo incêndio, em 1318, e das circunstâncias difíceis da época: a Guerra dos 100 anos, peste e problemas na Normandia. Em 1455, o bispo de Séez constata que o capítulo fora transformado em estábulo e que as religiosas se alojam como podem nas ruínas e arredores.
Nos séculos XV e XVI, uma renovação sob o signo de Fontevrault
     A ajuda da Abadia de Fontevrault tornou possível a necessária renovação da vida monástica. Um primeiro desenvolvimento foi dado por uma jovem abadessa vinda de Fontevrault, Maria de Alençon. Em 1517, 16 monjas de Fontevrault chegam a Almenèches para uma segunda reforma. O culto de Santa Oportuna começa então a se desenvolver, em seguida a um milagre.
     Com a Pseudo-reforma protestante a existência do mosteiro se tornou precária: em 1563, os huguenotes saquearam a abadia e o fervor se torna morno.
As grandes abadessas do período clássico
     Uma nova vitalidade foi dada pela jovem abadessa, Luisa Rouxel de Médavy (1593-1652), que se revelou uma grande abadessa: ela restaura o claustro e adota as Constituições de Poitiers, próximas da observância de Fontevrault. A vida no mosteiro se torna profundamente religiosa, mas de uma austeridade relativa. Ela também funda o priorado de Exmes em 1629, e participa do estabelecimento de muitos mosteiros, entre os quais o de Verneuil (1627). O impulso dado à comunidade se mantém sob as duas abadessas que a seguiram.
     Em 1736, a abadessa Helena Marta de Chambray se vê obrigada por Luis XV a fechar Almenèches e transferir o mosteiro para o antigo priorado Notre-Dame de la Place de Argentan, para facilitar o recrutamento.
     Às vésperas da Revolução Francesa, a comunidade contava com trinta monjas: todas se recusaram a prestar juramento a constituição civil do clero. Mas em 1792, elas foram dispersas. Duas delas foram aprisionadas.
A segunda restauração em 1822
     Em 1822, Carlota Bernart de Courmesnil conseguiu reagrupar as sobreviventes dos dois mosteiros, Argentan e Exmes, a princípio em Vimoutiers, depois, em 1830, em Argentan. Notre-Dame de la Place estando irrecuperável, a comunidade renascente se instala nas modestas construções do Quarteirão São Joaquim. Pouco a pouco elas vão crescendo no século XIX, com a abertura de um pensionato, de um orfanato e de uma escola gratuita, e, em 1874, de uma escola de rendas destinada a retomar a tradição esquecida do “ponto de Argentan”. As múltiplas tarefas educativas, desejadas pelo contexto político, afastam um pouco as religiosas do ideal monástico.
As leis de 1901 e o retorno à vida contemplativa
     Com as leis anti-congregacionistas do início do século XX, a existência do mosteiro é ameaçada. Em 1904, se procede ao inventário de seus bens: graças ao prestígio da escola de rendas, foi obtido um sursis. O pensionato foi fechado em 1907. Em 30 de junho de 1914, aparece o decreto de fechamento do mosteiro, mas a guerra o suspende oficialmente: uma parte do mosteiro é transformada em ambulatório e as religiosas ficam no local.
     A supressão do pensionato leva as monjas a retornarem para a grande tradição monástica. Em 1912, o Ofício monástico substitui o Ofício romano e o título abacial é restaurado pela Santa Sé. A nova igreja abacial é dedicada em 1933.
     Durante a 2ª Guerra Mundial, o mosteiro sofre o bombardeiro de 6 de junho de 1944. Três monjas sucumbem, as outras encontram asilo na “Antiga Misericórdia” de Séez durante 14 anos. Foi a Madre São Leão Chaplain, abadessa de 1940 a 1964, que assegurou a unidade da comunidade nessas circunstâncias difíceis e pode reconstruir o mosteiro. Em 26 de julho de 1958, retornam a Argentan, em uma construção nova, situada às margens do Orne. A dedicação da igreja teve lugar no dia 17 de setembro de 1962.
     A comunidade conta agora com 46 monjas, que desejam cultivar a herança dos séculos passados e continuar a servir a Deus Nosso Senhor.
     É impressionante que após 1.241 anos de seu falecimento, Santa Oportuna continue tão presente. Que ela inspire o seu ideal monástico em muitas jovens almas de nossos dias!

Fontes:
Sainte Opportune
Opportune de Montreuil — Wikipédia
Abbaye Notre-Dame d'Argentan

sexta-feira, 18 de abril de 2025

As Maravilhas de Santa Bernadette – festa 16 de abril

 
    Nascida em uma família humilde que, aos poucos, caiu na pobreza extrema, Bernadette Soubirous sempre foi uma criança frágil. Desde pequena, sofria de problemas digestivos. Depois, tendo escapado por pouco de ser vítima da epidemia de cólera de 1855, sofreu dolorosas crises de asma, e sua saúde precária quase a afastou para sempre da vida religiosa.
     Quando Monsenhor Forcade pediu para levar Bernadette, a Madre Superiora das Irmãs de Nevers respondeu: “Monsenhor, ela será um pilar da enfermaria”.
     Ela viveu no convento por treze anos, passando grande parte desse tempo, como previsto pela Madre Superiora, doente na enfermaria.
     Quando uma colega freira a acusou de ser "preguiçosa", Bernadette respondeu: "Meu trabalho é ficar doente".
     Ela foi gradualmente acometida por outras doenças além da asma: entre elas, tuberculose pulmonar e um tumor no joelho direito.
     Rezemos a Santa Bernadette para que nos ajude nestes dias de enfrentamento das nossas doenças. Ela sofreu bravamente para salvar almas. Que ela nos ensine também a ter tanta confiança na misericórdia de Deus e um grande amor por Nossa Senhora.
     Que Nossa Senhora de Lourdes, Imaculada Conceição, Auxiliadora dos Enfermos, rogai por nós e nos conceda a graça da perseverança para rezar o Rosário diariamente, fazer penitência e emendar nossas vidas.
Santa Bernadette, rogai por nós!
* * *
O corpo incorrupto de Sta. Bernadette

"Não permitirás que o teu santo veja a corrupção" – Salmo 16:10

     A Igreja Católica está cheia de mistérios e milagres; aquelas ocorrências sobrenaturais no tempo que mostram o poder de Deus por toda a eternidade.
     A incorruptibilidade é um desses milagres. E Santa Bernadete (dia da festa: 16 de abril) é uma das santas escolhidas por Deus para mostrar Seu poder.
     Toda quarta-feira de cinzas ouvimos: "Tu és pó e ao pó voltarás". A morte e a decadência são um fato da vida para nós, meros mortais; todos nós, isto é, exceto os poucos escolhidos de Deus – os Incorruptíveis. Estes são os santos ao longo da história da Igreja cujos corpos não se deterioraram ao longo do tempo. Até milênios se passaram, como no caso de Santa Cecília, sem que seus corpos se transformassem em pó.
     A luz de Cristo sempre brilhou mais intensamente em tempos de trevas, e o século XX não foi exceção. Certamente uma época sombria de apostasia e desintegração dos costumes, uma luz que brilhou intensamente foi a vida de Santa Bernadette Soubirous, a vidente de Lourdes, França.
A Vida de Santa Bernadette Soubirous (1844-1879)
     Pode ser visto como irônico que a mensageira de Nossa Senhora em Lourdes, um lugar de cura, deva ser tão sobrecarregada pela doença ao longo de sua vida natural. Parece que o milagre de Lourdes não foi para ela. De fato, em uma visão, Nossa Senhora disse a Santa Bernadete: "Não posso prometer-lhe felicidade nesta vida, apenas na próxima".
      Ela viveu no convento por treze anos, passando grande parte desse tempo, como previsto pela Madre Superiora, doente na enfermaria. 
     Na quarta-feira, 16 de abril de 1879, sua dor piorou severamente. Pouco depois das 11:00 da manhã, ela parecia estar quase sufocando e foi carregada para uma poltrona, onde se sentou com os pés em um banquinho em frente a uma fogueira. Ela morreu por volta das 15h15 da tarde. Ela tinha trinta e cinco anos.
Médico declara: "Não é um fenômeno natural"
     Ao longo dos 46 anos seguintes, o corpo de Santa Bernadette foi exumado nada menos que três vezes: a primeira vez em 1909, depois novamente em 1919 e finalmente em 1925.
     Na primeira exumação, ficou rapidamente evidente que um milagre havia ocorrido: o tom de pele de Santa Bernadette era perfeitamente natural. A boca estava ligeiramente aberta e podia-se ver que os dentes ainda estavam no lugar. Embora o rosário em suas mãos tivesse se deteriorado, mostrando ferrugem e corrosão em alguns pontos, as mãos virginais que ainda o seguravam eram perfeitas! As irmãs presentes lavaram bem o corpo e o vestiram com um novo hábito antes de colocá-lo em um caixão duplo oficialmente lacrado.
     A segunda exumação, em 1919, não mostrou mais evidências de decomposição, embora suas mãos e rosto tivessem ficado um pouco descoloridos devido à lavagem bem-intencionada dada pelas freiras dez anos antes. Um trabalhador em cera foi contratado para criar uma máscara de cera leve das mãos e do rosto de Santa Bernadette. Temia-se que, embora o corpo fosse preservado, o tom enegrecido do rosto e os olhos e nariz fundos causassem uma impressão desagradável no público.
     Isso nos leva a 1946 e à perturbação final do local de descanso de Santa Bernadette. Um dos médicos que supervisionou a exumação final, o Dr. Comte, escreve: "Deste exame concluo que o corpo da Venerável Bernadette está intacto, o esqueleto está completo, os músculos atrofiaram, mas estão bem preservados; apenas a pele, que encolheu, parece ter sofrido os efeitos da umidade no caixão. … O corpo não parece ter se putrefeito, nem qualquer decomposição do cadáver se instalou, embora isso fosse esperado e normal depois de um período tão longo em uma abóbada escavada na terra.
     O médico ficou surpreso com o estado de preservação do fígado: "O que me impressionou durante este exame, é claro, foi ... o estado totalmente inesperado do fígado após 46 anos. Alguém poderia pensar que esse órgão, que é basicamente macio e inclinado a desmoronar, teria se decomposto muito rapidamente ou teria endurecido até uma consistência calcária. No entanto, era macio e quase normal em consistência. Eu apontei isso para os presentes, observando que isso não parecia ser um fenômeno natural”.
Considerações finais
     Este é verdadeiramente o corpo de Bernadette, realista em sua atitude de meditação e oração.
     Este é o rosto que foi levantado dezoito vezes para a Senhora de Lourdes, as mesmas mãos com as quais ela rezou seu rosário durante as aparições, e os dedos que arranharam a terra em obediência ao pedido de Nossa Senhora e fizeram aparecer a primavera milagrosa.
     Parece justo que Nosso Senhor preserve perfeitamente os ouvidos que ouviram a mensagem de Lourdes e os lábios que repetiram o nome da "Senhora" ao Padre Peyramale; "Eu sou a Imaculada Conceição."
     Este é também o coração que tinha tanto amor por Jesus Cristo, pela Virgem Maria e pelos pecadores.
     Há uma compreensão profunda neste coração que um dia escreveria: "Eu não era nada, e desse nada Deus fez algo grande. Na Sagrada Comunhão, estou de coração a coração com Jesus. Quão sublime é o meu destino".
     Sim, quão sublime é o destino de qualquer católico que abraça o chamado de Cristo para ser uma luz que brilha na escuridão de qualquer século em que se encontre. E quão sublime é o destino daqueles que encontram cura nos braços d'Aquela que é "a Imaculada Conceição".
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Por Tonia Long

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Santa Júlia Billiart, Fundadora – 8 de abril


 Juntamente com uma nobre que escapou do Terror, ela fundou as Irmãs de Notre Dame
 
    Maria Rosa Júlia Billiart, fundadora e primeira superiora-geral da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, nasceu em 12 de julho de 1751, em Cuvilly, uma vila da Picardia, na Diocese de Beauvais e no Departamento de Oise, França; morreu em 8 de abril de 1816, na Casa-Mãe de seu instituto, em Namur, Bélgica. 
     Ela era a sexta de sete filhos de Jean-François Billiart e sua esposa, Marie-Louise-Antoinette Debraine. Ela, seus pais e seus 8 irmãos viviam do trabalho na lavoura e de um pequeno comércio. A infância de Júlia foi notável: aos sete anos, ela sabia o catecismo de cor e costumava reunir ao seu redor seus pequenos companheiros para explicá-lo a eles. Sua educação se limitou aos rudimentos obtidos na escola da aldeia que era mantida por seu tio, Thibault Guilbert. 
     Nas coisas espirituais, seu progresso foi tão rápido que o pároco, M. Dangicourt, permitiu que ela fizesse sua Primeira Comunhão e fosse confirmada aos nove anos de idade. Nessa época, ela fez um voto de castidade. Por uma disposição interior, ou por um chamado sobrenatural, e por fé viva na presença real de Jesus na Eucaristia, a Eucaristia passou a ser o único alimento de sua vida. Do ponto de vista meramente humano, já foi um milagre o fato de a pequena Júlia sobreviver até a adolescência alimentando-se apenas da comunhão Eucarística. Quando completou treze anos, ela começou a ter sérios problemas de saúde. Sem nutrição, foi ficando paraplégica. Ela sobreviveu assim por 22 anos.
     Durante os anos de sua paraplegia, Santa Júlia Billiart mergulhou nos mistérios profundos da oração, da contemplação, da vida mística. O Senhor, presente na Eucaristia, passou a ser o centro de sua vida. Ele revelou a ela os mistérios da salvação, dos sofrimentos no Calvário, da imensurável glória celeste e da luz de Deus que ilumina a vida do cristão. 
     Ela aprendeu a ler e a escrever, porque, com este saber, ajudava no sustento da sua casa.  Os infortúnios se abateram sobre a família Billiart quando Julia tinha dezesseis anos, e ela se entregou generosamente à ajuda de seus pais, trabalhando nos campos com os ceifeiros. 
     Ela era tão estimada por sua virtude e piedade que era comumente chamada de "a santa de Cuvilly". 
     Como recebia a Sagrada Comunhão diariamente, Júlia exercia um dom incomum de oração, passando quatro ou cinco horas por dia em contemplação. O resto de seu tempo era ocupado em fazer toalhas e rendas para o altar e catequizar as crianças da aldeia que ela reunia ao redor de sua cama, dando atenção especial àqueles que se preparavam para a Primeira Comunhão.
     Em Amiens, onde Júlia Billiart foi obrigada a se refugiar com a Condessa Baudoin durante os tempos difíceis da Revolução Francesa, ela conheceu Françoise Blin de Bourdon, Viscondessa de Gizaincourt, que estava destinada a ser sua colaboradora na grande obra ainda desconhecida de qualquer uma delas.
     Quando os revolucionários franceses procuravam a “bruxa” de Cuvilly, a fim de eliminar sua influência na contracorrente ideológica, ela foi escondida em diversos lugares, sempre levada por outras pessoas, uma vez que suas pernas se recusavam a andar. Em Compiègne, ela ficou disfarçada por três anos (1791-1794), tendo que trocar de local por cinco vezes. O sentido da vida foi posto à prova. Júlia teve a sua crise e pediu ao bom Deus: “Senhor, não quereis dar-me agasalho no vosso paraíso, visto que, na terra, não encontro mais?” Ela também registra que, em toda a sua vida, não sofrera tanto como na noite de inverno em que fora descarregada da carroça que a levava embaixo do feno, e ficou à beira da estrada até ao amanhecer. Congelada em Compiègne!
     A Viscondessa Blin de Bourdon tinha trinta e oito anos na época de seu encontro com Júlia e passara sua juventude em piedade e boas obras; ela havia sido presa com toda a sua família durante o Reinado do Terror e escapou da morte apenas com a queda de Robespierre. 
     A princípio, ela não foi atraída pela paralítica quase muda, mas aos poucos passou a amar e admirar a inválida por seus maravilhosos dons de alma. Um pequeno grupo de senhoras jovens e nobres, amigas da viscondessa, formou-se em torno do leito da "santa". Júlia ensinou-lhes como levar a vida interior, enquanto se dedicavam generosamente à causa de Deus e de Seus pobres.
     Embora tenham tentado todos os exercícios de uma vida comunitária ativa, alguns dos elementos de estabilidade devem ter faltado, pois essas primeiras discípulas desistiram até que não restou ninguém além de Françoise Blin de Bourdon. Ela nunca se separou de Júlia, e com ela em 1803, em obediência ao Padre Varin, superior dos Padres da Fé, e sob os auspícios do Bispo de Amiens, foi lançada a fundação do Instituto das Irmãs de Notre Dame, uma sociedade que tinha como objetivo principal a salvação das crianças pobres. 
     Vários jovens se ofereceram para ajudar as duas superioras. As primeiras alunas eram oito órfãs. 
     Na festa do Sagrado Coração, 1º de junho de 1804, ao fim de uma missão popular, aconteceu um fato extraordinário. O padre confessor pediu que Madre Júlia se unisse a ele em uma novena por uma intenção particular. Ao quinto dia da novena, que era dia do Sagrado Coração, o padre se aproximou da Madre, que há 22 anos estava paralítica, e lhe disse: “Madre, se tens fé, dê um passo em honra ao Sagrado Coração de Jesus”. A Madre se levantou e começou a caminhar: foi curada da paralisia. 
     Os primeiros votos de religião foram feitos em 15 de outubro de 1804 por Júlia Billiart, Françoise Blin de Bourdon, Victoire Léume e Justine Garson, e seus nomes de família foram alterados para nomes de santos. Elas propuseram para o trabalho de sua vida a educação cristã de meninas e o treinamento de professores religiosos que deveriam ir aonde quer que seus serviços fossem solicitados. 
     O Padre Varin deu à comunidade um governo provisório por meio de liberdade condicional, que era tão perspicaz que seus fundamentos nunca foram alterados. Em vista da extensão do instituto, ele seria governado por uma superiora-geral, encarregada de visitar as casas, nomear as superioras locais, corresponder-se com os membros dispersos nos diferentes conventos e destinar as receitas da sociedade.
     As devoções características das Irmãs de Notre Dame foram estabelecidas pela fundadora desde o início. Ela foi original em acabar com a distinção consagrada pelo tempo entre irmãs do coro e irmãs leigas, mas essa perfeita igualdade de posição não a impediu de forma alguma de colocar cada irmã no trabalho para o qual sua educação a capacitava. Ela atribuiu grande importância à formação das irmãs destinadas às escolas, e nisso foi habilmente assistida por Madre São José (Françoise Blin de Bourdon), que havia recebido uma excelente educação.
     Quando a Congregação das Irmãs de Notre Dame foi aprovada por um decreto imperial datado de 19 de junho de 1806, contava com trinta membros; naquele e nos anos seguintes, fundações foram feitas em várias cidades da França e da Bélgica, sendo as mais importantes as de Ghent e Namur; Madre São José foi a primeira superiora de Namur. 
     Esta difusão do instituto para além da diocese de Amiens custou à fundadora a maior dor da sua vida. Na ausência do Padre Varin daquela cidade, o confessor da comunidade, o abade Sambucy de St. Estevão, um homem de inteligência e realizações superiores, mas empreendedor e imprudente, esforçou-se para mudar a regra e as constituições fundamentais da nova congregação, de modo a colocá-la em harmonia com as antigas ordens monásticas. Ele até influenciou o bispo. Dom Demandolx, que Madre Júlia não teve outra alternativa a não ser deixar a Diocese de Amiens, contando com a boa vontade de Dom Pisani de la Gaude, bispo de Namur, que a convidou a fazer de sua cidade episcopal o centro de sua congregação, caso uma mudança se tornasse necessária. 
     Ao deixar Amiens, Madre Júlia expôs o caso a todas as suas súditas e disse-lhes que elas eram perfeitamente livres para permanecer ou segui-la. Todas, exceto duas, escolheram ir com ela e, assim, em meados do inverno de 1809, o convento de Namur tornou-se a Casa-Mãe do instituto e ainda o é. 
     Dom Demandolx, logo desenganado, fez todas as reparações ao seu alcance, suplicando a Madre Júlia que voltasse a Amiens e reconstruísse seu instituto. Ela realmente voltou, mas depois de uma luta vã para encontrar súditas ou receitas, voltou para Namur. 
     Os sete anos de vida que lhe restaram foram gastos na formação de suas filhas para uma piedade sólida e para o espírito interior, do qual ela mesma era o modelo. Dom De Broglie, bispo de Ghent, disse dela que salvou mais almas por sua vida interior de união com Deus do que por seu apostolado exterior. Ela recebeu favores sobrenaturais especiais e ajuda inesperada em perigo e necessidade. 
     No espaço de doze anos (1804 - 1816), Madre Júlia fundou quinze conventos, fez cento e vinte viagens, muitas delas longas e árduas, e manteve uma estreita correspondência com suas filhas espirituais. Centenas dessas cartas estão preservadas na Casa-Mãe. 
     Em 1815, a Bélgica foi o campo de batalha das guerras napoleônicas, e a madre-geral sofreu grande ansiedade, pois vários de seus conventos estavam no caminho dos exércitos, mas escaparam de ferimentos. Em janeiro de 1816, ela adoeceu e, após três meses de dor suportada em silêncio e paciência, morreu com o Magnificat nos lábios. A fama de sua santidade se espalhou e foi confirmada por vários milagres.
     No dia 13 de maio de 1906 o papa São Pio X a beatificou após o reconhecimento de dois milagres - um deles ocorrido no Brasil. A canonização ocorreu no dia 22 de junho de 1969, sob o pontificado de Paulo VI.

Fontes:
April 8 - Together with a noble who escaped the Terror, she founded the Sisters of Notre Dame - Nobility and Analogous Traditional Elites
Catholic.net - Julia Billiart (María Rosa), Santa