domingo, 14 de setembro de 2025

Santa Catarina (Fieschi Adorno) de Gênova, Viúva, Mística – 15 de setembro

     Santa Catarina nasceu no ano de 1447, na célebre família Fieschi de Gênova. Esta família deu à Igreja dois Papas, nove cardeais e dois arcebispos, além de magistrados e capitães. Seus pais eram fervorosos católicos e a educaram no santo temor de Deus. 
     Catarina foi objeto de copiosas bênçãos do Céu: aos oito anos, recebeu um dom particular de oração e união com Deus; aos 12, já procurava renunciar à sua vontade para só fazer a do Divino Redentor e meditava constantemente na Paixão de Nosso Senhor; aos 13 anos, quis consagrar-se a Deus em um convento, mas devido à pouca idade não foi admitida.
    

 Gênova então era palco de guerras sangrentas entre guelfos (partidários do poder temporal dos Papas) e gibelinos (defendiam o poder do Imperador). Aproveitando-se da situação caótica, o duque de Milão tomou a cidade.
     Logo a paz foi restabelecida e os desentendimentos entre as famílias rivais se acalmaram. Os Fieschi e os Adornos, que se reconciliaram a partir de então, decidiram promover o casamento de Catarina Fieschi com Julião Adorno. Catarina, então com 16 anos, em tudo via a mão de Deus e aceitou o matrimônio, algo tão contrário às suas aspirações.
     Mas, Julião, de temperamento colérico, volúvel e extravagante, tornou o casamento infeliz. Ele amava as pompas e as vaidades, o luxo, os prazeres, enquanto Catarina considerava tudo vaidade e aflição de espírito. Ele passou a desprezá-la e a ultrajá-la de muitos modos. Além disso, sendo um jogador contumaz, dilapidou sua fortuna, como também o dote de Catarina. Aos poucos o casal ia caindo na pobreza.
     Catarina, porém, procurava pela paciência e pela prática das virtudes conquistar a alma do esposo para Deus. Por cinco anos ela sofreu aquela situação, parecendo-lhe que Deus a deixara entregue à sua própria sorte. Vendo-a tão provada, os parentes a aconselharam a retomar a vida social; visitas a senhoras de sua categoria, diversões e festas de seu círculo, entretanto não preenchiam os anseios de seu coração. Outros cinco anos se passaram.
     Em 1473, no dia de São Bento, foi aconselhada por sua irmã religiosa a consultar o confessor do convento. Catarina, então com 26 anos, procurou o sacerdote. Mais tarde ela contaria que assim que se ajoelhou no confessionário, "foi objeto de uma das mais extraordinárias operações de Deus na alma humana, de que tenhamos notícia. O resultado foi um maravilhoso estado de alma que durou até sua morte. Nesse estado ela recebeu admiráveis revelações, às quais às vezes se referiu aos que a rodeavam, e que estão sobretudo incorporadas em suas duas celebradas obras – os Diálogos da Alma e do Corpo e o Tratado sobre o Purgatório". (1)
     "O Senhor dignou-se iluminar sua mente com um raio tão claro e penetrante de sua divina luz, e acender em seu coração uma chama tão ardente de seu divino amor, que ela viu em um momento, e conheceu com muita clareza, quão grande é a bondade de Deus, que merece infinito amor; além disso, viu quão grande é a malícia e perversidade do pecado e da ofensa a Deus, quaisquer que sejam, mesmo ligeiros e veniais".
     Catarina sentiu uma contrição muito viva por seus pecados e um amor tão grande a Deus, que fora de si exclamava: "Amor meu, nunca mais hei de ofender-te!". O resultado deste amor foi um desejo insaciável da Santa Comunhão. Obteve a graça de poder comungar diariamente, fato raríssimo naquele tempo. Era tão grande a força transmitida pelo Pão dos Anjos, que ela passava os 40 dias da Quaresma e os do Advento sem outro alimento além de um copo de água misturada com vinagre e sal.
     Catarina praticava severas austeridades: dormia sobre uma enxerga, tendo como travesseiro um pedaço de madeira; disciplinava-se, usava cilícios e proibiu a si própria de proferir palavras inúteis; rezava diariamente de joelhos durante sete a oito horas.
     Tendo Nosso Senhor lhe aparecido com sua cruz, cheio de sofrimento e irrisão, tão profunda foi sua dor ao contemplar aquela imagem sofredora, que ela chorava com frequência ao considerar a ingratidão dos homens depois dos benefícios da Redenção.
     Catarina conseguiu converter o marido após muitas orações, grande paciência e submissão. Combinaram viver como irmãos e praticar boas obras. Em 1482, eles se instalaram numa casa contígua a um hospital, onde cuidavam dos doentes. Julião entrou para a Ordem Terceira de São Francisco; enfrentou uma enfermidade que o levou à morte, em 1497, após receber os Sacramentos.
     Catarina entrou na Sociedade da Misericórdia, que fora constituída pelos mais distintos habitantes da cidade e por oito damas escolhidas entre as mais nobres e ricas de Gênova, tendo como objetivo o socorro os pobres.
     Ela foi encarregada da distribuição das esmolas angariadas pela associação; socorria de preferência os leprosos ou portadores de úlceras gangrenosas, procurava para eles moradia, cama, roupa e alimento. Conseguiu dominar a repugnância natural que essas pessoas provocavam e prestava a elas os mais humildes serviços, inclusive cuidar de suas chagas repugnantes.
     Admirados com sua dedicação, os administradores do Hospital Pammatone, de Gênova, entregaram a ela a sua administração, cargo que Catarina ocupou até a morte.
     A Santa sofreu, nos últimos nove anos de sua vida, uma doença que. segundo os melhores médicos da Itália, não tinha causa natural: sua origem era sobrenatural e não havia remédio para ela. Com frequência ela ficava às portas da morte.
     Obediente ao seu confessor, Catarina escreveu as duas mencionadas obras que contêm doutrina e são inteiramente de acordo com as verdades de Fé: os Diálogos da Alma e do Corpo e o Tratado sobre o Purgatório. No primeiro, Catarina descreve os efeitos do amor divino em uma alma, a alegria que os acompanham. Quanto ao segundo, tão grande era seu contato com as almas do Purgatório, que essa obra valeu a ela o título de Doutora do Purgatório.
     Santa Catarina faleceu em Gênova, aos 63 anos, no dia 15 de setembro de 1510, e foi sepultada na capela do Hospital. Seu corpo incorrupto foi removido para outros lugares nos anos 1551, 1593 e 1642. Em 1694, ainda incorrupto, foi colocado num relicário de prata e cristal, sob o altar-mor da igreja erigida em sua honra no bairro de Portoria, em Gênova. Ali a Santa é venerada por muito devotos.
     Em 1837 e em 1960, o corpo incorrupto de Santa Catarina foi cuidadosamente examinado por peritos. O médico chefe da última equipe declarou: "A conservação é verdadeiramente excepcional e surpreendente, e merece uma análise da causa. A surpresa dos fiéis é justificada quando atribuem a isso uma causa sobrenatural". (3)
     Catarina foi canonizada pelo Papa Clemente XII em 1737, e pelo Papa Pio, no ano de 1943, recebeu o título de Padroeira dos Hospitais Italianos.
 
Notas:
1. F. M. Capes, Saint Catherine of Genoa, in The Catholic Encyclopedia, Online Edition Copyright © 2003 by Kevin Knight,
2. Edelvives, Santa Catalina de Genova, in El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1955, tomo V, p. 153.
3. Joan Carroll Cruz, Saint Catherine of Genoa, in The Incorruptibles, Tan Books and Publishers, Inc., Rockford, USA, 1977, p. 160.
 

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Santa Rosália, Virgem e eremita de Palermo - 4 de setembro

 
    Rosália Sinibaldi viveu no período feliz de renovamento católico que se restabelecera na Sicília após a expulsão dos árabes, que haviam permanecido na região de 827 a 1072. Foi possível então a difusão dos mosteiros Basilianos e Beneditinos. Naquela atmosfera de fervor e renovação religiosa se inseriu a vocação eremítica desta Santa.
     Rosália nasceu no ano 1125 em Palermo, na Sicília, Itália. O nome Rosália resulta da contração dos nomes "Rosa" e "Lilia" (Lilium). Era filha de Sinibaldo, rico senhor de Quisquinia e das Rosas, na província de Agrigento, então chamada Girgenti, e de Maria Guiscarda, sobrinha do rei normando Rogério II. Segundo a tradição, ela pertencia a uma nobre família normanda descendente de Carlos Magno.
     Durante a adolescência foi dama da corte da Rainha Margarida, esposa do Rei Guilherme I da Sicília, que apreciava sua companhia amável e generosa. Porém, ela não se sentia atraída por nada disso, pois sabia que sua vocação era servir a Deus e ansiava pela vida monástica.
     Aos catorze anos, levando consigo apenas um crucifixo, Rosália abandonou de vez a corte e se refugiou numa gruta que pertencia ao feudo paterno e era um local ideal para a reclusão monástica, pois ficava próximo do convento dos beneditinos que possuía uma pequena igreja anexa. Mesmo vivendo isolada, Rosália podia receber orientação espiritual e seguir as funções litúrgicas.
     Mais tarde a ermitã se transferiu para uma gruta no alto do Monte Pelegrino, que lhe fora doada pela amiga a Rainha Margarida. Ali já existia uma pequena capela bizantina e nos arredores outro convento de beneditinos. Eles acompanharam, testemunharam e documentaram a vida eremítica de Rosália, que viveu em oração, solidão e penitência. Atraídos pela fama de santidade da ermitã, os habitantes do povoado subiam o monte para vê-la.
     Rosália faleceu no dia 4 de setembro de 1160 na sua gruta no Monte Pellegrino, em Palermo.
     No início de 1600, o seu culto havia caído quase no esquecimento, sendo ela entretanto ainda venerada; no Monte Pelegrino, em grutas vizinhas a que ela, segundo a tradição, habitara, alguns ermitões viviam e eram conhecidos como os “solitários de Santa Rosália”.
     Em 26 de maio de 1624, Jeronima Gatto, uma doente terminal, viu em sonho uma jovem vestida de branco que lhe prometia a cura se fosse ao Monte Pelegrino para agradecê-la. A mulher, ardendo de febre, foi ao monte acompanhada de duas amigas. Após beber a água que escorria da gruta se sentiu curada e caiu em um torpor repousante. A jovem de branco apareceu-lhe de novo dizendo-se ser Santa Rosália e lhe indicou o local onde estavam sepultadas as suas relíquias.
     O fato foi referido aos frades franciscanos do convento vizinho, cujo superior deles, São Benedito (1526-1589), já havia tentado encontrar as relíquias, sem sucesso. Eles então retomaram as buscas, e em 15 de julho de 1624 encontraram, a quatro metros de profundidade, uma urna de cristal de rocha de seis palmos de comprimento por três de largura, na qual estavam aderidos ossos.
     Levada para a cidade, a urna foi examinada por teólogos e médicos que chegaram a conclusão de que os ossos podiam pertencer a mais de uma pessoa. Não convencido, uma segunda comissão foi nomeada pelo Cardeal Arcebispo de Palermo, Giannettino Doria.
     Entrementes uma terrível epidemia grassou na cidade de Palermo fazendo milhares de vítimas. O Cardeal reuniu na catedral povo e autoridades, e todos juntos pediram a ajuda de Nossa Senhora, fazendo voto de defender o privilégio da Imaculada Conceição, tema de debates na Igreja de então, e de declarar Santa Rosália padroeira principal de Palermo, venerando suas relíquias quando elas fossem reconhecidas. Após a promessa, a epidemia cessou.
     Em 25 de agosto de 1624, quarenta dias após a descoberta dos ossos, dois pedreiros, que executavam trabalhos no convento dos dominicanos de Santo Estêvão de Quisquinia, acharam numa gruta uma inscrição latina muito antiga que dizia: Eu, Rosália Sinibaldi, filha das rosas do Senhor, pelo amor de meu Senhor Jesus Cristo, decidi morar nesta gruta de Quisquinia. Confirmando, assim, as tradições orais da época. Um santuário foi edificado na gruta onde seus restos mortais foram encontrados.
     Em 11 de fevereiro de 1625 uma comissão científica comprovou a autenticidade das relíquias e da inscrição, e em 1630 o Papa Urbano VIII incluiu as duas datas no Martirológio Romano. Estes fatos reacenderam o culto à Santa Rosália. 
    Santa Rosália é festejada em 15 de julho, data que suas relíquias foram encontradas, e em 4 de setembro, data de seu falecimento. Anualmente acontece em Palermo, na noite de 14 para 15 de julho, uma grande festa religiosa denominada Festino di Santa Rusulia. A procissão das relíquias da Santa, de pompa extraordinária, percorre as ruas da cidade entre orações, cânticos e aclamações. E a cada ano, no dia 4 de setembro, renova-se a tradição de caminhar, com os pés descalços, de Palermo até o Monte Pelegrino.
     A urna contendo os restos mortais de Santa Rosália pode ser venerada no Duomo de Palermo. Os palermitanos a chamam de "a Santuzza" (a santinha). Santa Rosália é venerada como padroeira de Palermo desde 1666 e é tida como protetora contra doenças infecciosas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Santa Febe (Phoebe), Coadjutora de São Paulo - 3 de setembro

      São Paulo ele mesmo é a fonte, tão ilustre quanto lacônica, sobre esta Santa. Dele ficamos sabendo que Febe (1) tinha uma incumbência eclesiástica junto à comunidade cristã de Kenchris, pequena cidade portuária ao leste de Corinto, no istmo do mesmo nome. Ela desempenhava o ofício de oráxovo (ministra), termo que foi dado pela primeira vez a uma mulher na Igreja nascente.
     De tais mulheres parece São Paulo tratar em I Tim. 5, 9 sg, onde são postas em relevo as qualidades familiares e morais necessárias às viúvas para serem eleitas: “seja escolhida a viúva (para o serviço da Igreja) com não menos de sessenta anos, que tenha sido mulher dum só marido, que tenha reputação de boas obras: se educou bem os seus filhos, se praticou a hospitalidade, se lavou os pés dos santos, se acudiu aos atribulados, se praticou toda a obra boa”.
     
     Santa Febe, como tantas outras figuras femininas mencionadas no Novo Testamento, refletem um dos trabalhos do Espírito Santo na Santa Igreja nascente: moldar o papel da mulher na instituição. As viúvas, as esposas e mães, as virgens, cada uma terá será sua função. As mães deveriam guardar os tesouros da Fé deixando-os indeléveis nas almas dos filhos; as viúvas, como Santa Febe, dedicando-se à comunidade cristã; as virgens, dedicando-se à vida de contemplação e sacrifício, que logo nos séculos seguintes desabrochariam nos primeiros conventos. Evidentemente, como tudo na Igreja, como todo o organismo vivo e saudável, nada era tão esquemático: viúvas houve que fundaram mosteiros, virgens que fundaram obras assistenciais, etc.
     Podemos deduzir que Santa Febe era viúva de uma certa idade e de boa condição social, o que lhe permitia dedicar-se às boas obras mencionadas por São Paulo, em particular a hospitalidade.
     Talvez São Paulo tenha aludido à hospitalidade ao elogiá-la por ter assistido a muitos, inclusive ele próprio, o que, aliás, é bastante aceitável pela posição geográfica de Kenchris, para onde convergia um importante tráfico com as ilhas Egeu e com a Ásia Menor. O que devia dar ocasião a Febe de atender os viajantes cristãos que vinham daquelas terras.
     Ignora-se o motivo de sua viagem a Roma, mas há uma tradição que a menciona como a portadora da Epístola aos Romanos. Também é desconhecido o ano e o local de seu falecimento. Se a Epístola aos Romanos foi escrita nos primeiros meses de 57, como parece certo, Febe já então sexagenária pode ter morrido algum tempo depois daquele ano.
     No Ocidente, o seu culto é bem documentado, atestado por vários martirologios, inclusive o Martirologio Romano. É comemorada no dia 3 de setembro.
 
(1) Etimologia: Febe deriva de Phoebe, do grego = radiante, brilhante, o sol
 
Fonte: www.santiebeati/it

Santa Colomba, Eremita – 1° de setembro

 

Santa Colomba representada junto a Nossa Senhora, tendo a esquerda seu irmão São Berardo
 
     Muito impressiona aos hagiógrafos o elenco de famílias inteiras de santos, desde o início da expansão do Cristianismo e mais especialmente os nobres e os governantes no período glorioso da Idade Média; o fenômeno é mais evidente nos países anglo-saxões, mas também na Itália houve muitos casos.
     Um dos casos mais famosos é o da família dos condes de Pagliara, próximo de Castelli, na província de Teramo. Eram desta família São Berardo, bispo de Teramo e padroeiro da cidade, sua irmã é Santa Colomba e seus irmãos os santos Nicolau e Egídio.
     Os Pagliara tinham o título de conde, talvez herdado dos antigos condes Marsi e eram os senhores do Vale Siliciano, que abrangia um vasto território no Grand Sasso, Itália.
     Berardo, já monge beneditino e sacerdote em Montecassino, se retirou no famoso Mosteiro de São João em Venere, Abruzzo, e dali foi chamado para a sede episcopal de Teramo.
     De seus irmãos, Nicolau e Egídio, só se sabe que eles são mencionados em uma breve citação, juntamente com Santa Colomba, por estudiosos hagiográficos, como os Bollandistas, constituídos pelo jesuíta belga Jean Bolland (1596-1665) para compilar o 'Acta Sanctorum'.
     Na mesma citação, no dia 1º de setembro, Santa Colomba é lembrada como uma jovem condessa de Pagliara que nasceu em 1100; retirou-se jovem para viver como ermitã nas encostas do Monte Infornace (Grand Sasso).
     A caverna onde ela viveu e morreu está localizada a meio caminho de um penhasco, no qual está esculpido um sinal dizendo "pente de Santa Colomba", em memória do uso pela jovem de um pente para manter seus longos cabelos; nas proximidades existe a impressão de uma mão na rocha, que recorda o fato da Santa ter se apoiado ali ao escalar a montanha íngreme.
     Os dois "sinais" estão ligados ao culto das pedras, ainda florescente em Abruzzo, incluindo a presença de um buraco milagroso, existente sob o altar da igreja dedicada a Santa Colomba, construída pelo Bispo Berardo, seu irmão, após sua morte ocorrida no inverno de 1116, então tinha apenas 16 anos; os devotos acreditam que ao introduzir a cabeça no buraco podem ser curados de algumas doenças.
     A capela foi abençoada em 1216 por Santo Atanásio, bispo de Penne. No dia 1º de setembro comemora-se a sua festa. 
     A Ermida de Santa Colomba está situada a 1250 metros acima do nível do mar, no sopé do Monte Infornace. Tem acesso por Pretara através de um bom caminho. Segundo a tradição, neste lugar, no século XII, Santa Colomba, filha dos condes de Pagliara e irmã de São Berardo, abandonando o conforto do castelo, se retirou em oração e penitência.
     Entre as legendas que cercam a vida da santa, as mais comuns são as que falam da impressão de sua mão em uma rocha, que pode ser encontrada no caminho até o eremitério e o do chamado "pente de Santa Colomba" que, para alguns, seria uma série de incisões paralelas (como os dentes de um pente) sobre uma rocha plana na vizinhança da Ermida.
     Santa Colomba morreu, amorosamente assistida por seu irmão, o futuro bispo de Teramo. Em 1595 seus restos mortais foram transferidos para a Igreja de Santa Lúcia e só em 1955 a imagem de Santa Colomba, e os seus restos sagrados, foram transferidos para a capela de Pretara.
     A igreja, recentemente restaurada, possui uma alvenaria de pedra calcária coberta com gesso cimentício de grão grande e uma torre sineira à vela posicionada na linha do telhado de duas águas. Dentro da base do altar e do afresco com a imagem da Madona e do Menino Deus devem ser observados.
     O interior é de forma trapezoidal, com o presbitério elevado em dois degraus. No altar, está a imagem de Santa Colomba e ao lado dela está uma abertura que abrigava as relíquias do Santa.
     A igreja foi restaurada recentemente. Em uma placa colocada em uma parede, lê-se "ANNO DOMINI MDCXXXXVII SACERDOS D. ROMANO DUS TATTONUS INSULANUS CARITATE SUIS MANIBUS FECIT HOC OPUS. FR. IO. PATRIMÔNIO MINISTÉRIO”. Do lado de fora, acima da porta da frente, outra placa diz: "À SANTA COLOMBA, CONDESSA DE PAGLIARA E IRMÃ DE SÃO BERARDO BISPO DE TERAMO, O POVO DE PRETARA EM RECORDAÇÃO DO CENTENÁRIO DO ENCONTRO DOS RESTOS MORTAIS DA SANTA RAINHA DAS NOSSAS MONTANHAS. PRETARA 1º DE SETEMBRO DE 1992. H. MT.1234".    
     Em 1º de setembro ocorre a festa da Santa e a igreja se torna um local de encontro de muitos devotos que vêm homenageá-la. Muitos vêm para admirar, segundo uma lenda antiga, a rocha onde está estampado o pente da Santa, outros para descansar a cabeça no buraco que tira a dor de cabeça, outros para admirar as maravilhosas e milagrosas cerejeiras que a Santa fez florescer em pleno inverno para homenagear seu irmão São Berardo.
 
                                                                                                             
http://www.santiebeati.it/dettaglio/92314.
 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Santa Maria de Jesus Crucificado Baouardy, Carmelita Descalça - 26 de agosto

      
     A Santa nasceu em Abellin, pequeno povoado a meio caminho entre Haifa e Nazaré, a 5 de janeiro de 1846. Era filha do casal Jorge Baouardy e Mariam Chahyn, fervorosos católicos palestinos. Eles haviam obtido a graça de seu nascimento após uma peregrinação a pé, percorrendo uma distância de 170 km até Belém, ao local onde nasceu o Menino Jesus. A menina foi batizada e crismada no mesmo dia, segundo o rito católico melquita, recebendo o nome de Mariam. Um ano depois nasceu-lhes um menino, Baulos (Paulo).
     Em 1848, os pais de Mariam morrem um após o outro. Segundo o costume oriental, as crianças foram repartidas entre os parentes. Baulos foi adotado por uma tia materna de um povoado vizinho, e ela acolhida por um tio paterno abastado. Aos 8 anos faz sua primeira comunhão. Alguns anos depois ele se mudou para Alexandria, Egito, levando-a consigo.
     Conforme o uso oriental, seu casamento foi ajustado e quando completou 13 anos lhe disseram que chegara o momento do casamento. Porém, Mariam já sentia um chamado de Deus e não desejava se casar, e comunicou isto aos tios. Nem as humilhações, nem os maus tratos puderam fazê-la mudar sua decisão.
     Após três meses, ela visitou um velho criado da casa de seu tio para que este enviasse uma carta a seu irmão, que vivia na Galileia, para que viesse ajudá-la. Ouvindo a narração de seus sofrimentos, o criado, que era muçulmano, exortou-a a converter-se ao Islã. Mariam respondeu com ênfase: "Muçulmana eu? Jamais! Sou filha da Igreja Católica e espero permanecer assim por toda vida!" Enfurecido, o homem deu-lhe um violento pontapé que a derrubou ao chão, e, com uma cimitarra, deu-lhe um golpe na garganta. Crendo que ela estava morta, envolveu-a num lençol e abandonou-a em uma rua escura. Era o dia 8 de setembro.
     A própria Mariam contaria muitos anos mais tarde que, como num sonho, lhe parecia ter entrado no Paraíso onde viu a Virgem, os Santos e também os pais e a Gloriosa Trindade. Ouviu então uma voz que lhe disse: "O teu livro ainda não está todo escrito".
     Acordando, se encontrava numa gruta onde passou vários dias com febre, sendo assistida por uma jovem senhora que parecia ser uma religiosa e que vestia um véu azul. Esta a atendia, alimentava e fazia dormir. Depois de quatro semanas, aquela senhora conduziu-a a igreja dos Franciscanos, deixando-a lá.
     Curada, mas só, pois não poderia voltar para sua família adotiva, com o ajuda de um franciscano Mariam se colocou como doméstica a serviço de famílias não abastadas em Alexandria, Beirute, Jerusalém. Nesta cidade fez o voto de castidade perpétua no Santo Sepulcro. Em 1863, a família Nadjar, para a qual trabalhava, se transferiu para Marselha, França, levando-a consigo.
     Em 1865, Mariam entrou em contato com as Irmãs de São José de Marselha. Tinha 19 anos, mas só parecia ter 12 ou 13. Falava mal o francês e possuía uma saúde frágil, mas foi admitida no noviciado.
     Sempre disposta aos trabalhos mais pesados, ela passava a maior parte do tempo lavando ou na cozinha. Mas, dois dias por semanas revivia a Paixão de Jesus: Mariam recebia os estigmas (que na sua simplicidade acreditava ser uma enfermidade) e toda classe de graças extraordinárias começaram a manifestar-se. Algumas irmãs ficaram desconcertadas com o que se passava com ela, e, ao final de dois anos de noviciado, não é admitida na Congregação.
     Em 14 de junho de 1867, Mariam entrou no Carmelo de Pau (Baixo Pirineus), apresentada por sua antiga mestra de noviciado, Irmã Verônica da Paixão, que declarou: "esta pequena árabe é um milagre de obediência".
     Em 27 de julho de 1867 tomou o hábito carmelitano adotando o nome de Maria de Jesus Crucificado. A sua condição de analfabeta a colocava entre as conversas e para ela, que aspirava somente servir, assim estava bem. Mas foi decidido colocá-la entre as coristas, e a obrigaram a aprender a ler e a escrever, porém sem sucesso. Em 1870 voltou a ser conversa.
     Em 1870, com um pequeno grupo de Irmãs, Mariam parte para a Índia, para fundar o primeiro mosteiro de carmelitas daquele país, em Mangalore. A viagem de barco foi uma aventura e três religiosas morreram antes de chegarem. Reforços são enviados e no final de 1870 a vida claustral pode ser iniciada.
     Os fenômenos extraordinários, que ela procurava esconder, continuaram na terra de missão. Ao mesmo tempo ela era a alma da fundação, enfrentando todos os trabalhos pesados e dando atenção aos problemas inerentes a uma nova fundação. Durante seus êxtases, as irmãs às vezes podiam ver seu rosto resplandecente na cozinha ou em outro local. Mariam participava em espírito dos acontecimentos da Igreja, por exemplo, nas perseguições na China. Parecia estar possuída exteriormente pelo demônio, que a fazia viver terríveis tormentos e combates.
     A superiora e o bispo, porém, começam a duvidar da autenticidade das manifestações extraordinárias, acusando-a de visionária, de ter uma imaginação oriental muito ardente, etc. Apesar das tensões, ela emitiu os votos no término de seu noviciado, em 21 de novembro de 1871. Como as tensões continuassem, ela foi enviada de volta ao Carmelo de Pau em setembro de 1872. As Irmãs que a perseguiram reconheceram mais tarde o seu erro e expressaram o seu arrependimento.
     Em Pau ela retomou sua vida simples de Irmã conversa, feita de muito trabalho entremeado de episódios prodigiosos. Dom de profecia, ataques do demônio ou êxtases, entre todas essas graças divinas ela sabe, de maneira muito profunda, ser ‘nada’ diante de Deus, e quando fala dela mesma se chama "o pequeno nada", é realmente a expressão profunda de seu ser.
     Iletrada como era, encantada com a natureza, compunha belíssimas poesias e inventava melodias para cantá-la. É bom frisar que todos os fatos extraordinários são vividos por Irmã Maria com grande humildade e simplicidade. Muitas pessoas a procuravam para serem reconfortadas, aconselhadas, e pedir orações.
     Em 28 de junho de 1873, pela manhã, a Priora a encontrou sentada em um pequeno banco diante de uma janela aberta: "Madre - ela disse - todos dormem. E Deus, tão cheio de bondade, tão grande, tão digno de louvores, é esquecido!... Ninguém pensa nEle!... Vede, a natureza O louva; o céu, as estrelas, as árvores, as ervas, todas as criaturas O louvam; porém o homem, que conhece seus benefícios, que deveria louvá-Lo, dorme!... Vamos, vamos, despertemos o universo! Jesus não é conhecido, Jesus não é amado!"
A fundação do Carmelo de Belém     
Nossa Senhora havia predito que Irmã Maria seria a alma propulsora da fundação de Carmelos na Palestina. A fundação em Belém era algo muito complicado por motivos políticos. O Bispo de Biarritz escreveu uma carta ao Papa Pio IX expondo o projeto das religiosas do Carmelo de Pau e pedindo sua autorização para concretizar a fundação. O Papa apoiava o projeto e aprovou-o.
     Depois de uma peregrinação a Lourdes, no dia 20 de agosto de 1875 um pequeno grupo de carmelitas embarcou para esta aventura. Irmã Maria de Jesus Crucificado zarpou com elas para o Oriente Médio.
     Os locais sagrados já estavam nas mãos de muçulmanos e cismáticos. A alegria de estar na Terra Santa foi totalmente ofuscada por esse fato. A alegria de Irmã Maria esvaiu-se:
     "Como o Senhor permite semelhantes coisas? Ah, isto é demais! Se eu fosse Jesus jamais suportaria semelhante profanação!" Mas, ela faz uma reflexão e diz: "Isto é um castigo para a Cristandade, porque há uma coisa que é muito pior. Ah, Senhor, quantas almas são mais abomináveis ainda do que o Cenáculo estar nas mãos dos muçulmanos, e nessas almas Vós sois obrigado a descer! Eu compreendo a profanação deste lugar Santo pensando em todas as comunhões indignas e sacrílegas que acontecem na vossa Santa Igreja".
     O Senhor mesmo guiava Mariam na escolha do local e na forma de construção do novo Carmelo. Como ela era a única que falava árabe, encarregava-se particularmente de seguir os trabalhos “imersa na areia e na cal”. A comunidade instalou-se no dia 21 de novembro de 1876, enquanto certos trabalhos continuaram.
     Mariam preparou também a fundação de um Carmelo em Nazaré, viajando até lá para comprar o terreno, em agosto de 1878. Durante essa viagem Deus revelou a ela o lugar de Emaús, o qual foi adquirido.
     De volta a Belém, retomou a vigilância dos trabalhos sob um calor sufocante. Quando levava aos trabalhadores algo para beber, Mariam caiu de uma escada e partiu um braço. A gangrena avançou muito rapidamente e ela morreu poucos dias depois, em 26 de agosto de 1878, aos 32 anos.
     Ela foi beatificada pelo Papa João Paulo II a 13 de novembro de 1983 e canonizada em 17 de maio de 2015.
 
Fontes:
www.carmelitas.pt
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Sta. Maria Micaela do Ssmo. Sacramento, Fundadora - 24 de agosto

   

     Micaela Desmaissières y López de Dicastillo era filha de um opulento aristocrata e valente militar espanhol que em 1809 combatia as tropas de Napoleão que tinham invadido a Espanha. Sua mãe, Bernarda, era camareira da rainha Maria Luiza de Parma e tinha um irmão — Diego, depois conde de la Veja del Pozo — que foi embaixador do governo espanhol em Bruxelas e Paris, tendo falecido prematuramente aos 49 anos de idade.
     Austera, Bernarda educou os filhos à maneira das grandes famílias de antanho. Por isso quis que a filha, apesar de aristocrata, aprendesse a cozinhar, passar, e ocupar-se de todos os afazeres domésticos. Dizia que isso era “para o que possa suceder”. Micaela aprendeu também a tocar vários instrumentos musicais. Bernarda legou também à filha o hábito de passar de duas a três horas na igreja, o que Micaela fazia “embevecida em ternos afetos”.
     Em sua juventude Micaela costumava visitar os doentes e costurar para vestir os pobres. Reunia também em casa meninas pobres para ensinar-lhes a doutrina católica.
     Absorta em suas devoções e obras de caridade, Micaela chegou aos trinta anos sem pensar em casamento. Falecendo então a mãe, à qual era muito unida, ela herdou o título de Viscondessa de Jorbalán.
     Como encontrasse nos hospitais de Madrid muitas mulheres que, depois de levar vida devassa, sofriam as consequências de seus desmandos, veio-lhe a ideia de fundar uma casa de refúgio para a redenção dessas pecadoras. Foi o que fez com seus próprios recursos. Mesmo quando estava no exterior, a viscondessa não deixava de favorecer essa fundação com conselhos e dinheiro.
     Diz um seu biógrafo: “Seu irmão, o embaixador, apreciava tanto suas requintadas qualidades de gentileza no trato, sua discrição no falar e seu senso de oportunidade em tudo, que não podia separar-se de sua companhia. Para comprazer-lhe, a viscondessa aceitava aquela vida de sociedade, procurando harmonizá-la com uma intensa vida interior”. (1) Desse modo viveu vários anos nas principais capitais europeias.
     Ela mesma nos conta como passava seus dias: “De manhã, em obras de caridade; o resto do dia em visitas, passeios a cavalo ou de carro; e, à noite, no teatro, em reuniões e baile. Acrescente-se a isto o excessivo luxo e o primor na mesa”. (2) Isso, que poderia ser uma vida de dissipação, para ela era ocasião de sacrifícios. Pois, sob os ricos vestidos de seda, levava rudes cilícios e no teatro assistia à cena usando óculos sem vidros.
     Ela revela também a luta que tinha que enfrentar para vencer seu orgulho e caráter impetuoso e demasiado ativo. (4)
     Em 1848 ela voltou à Espanha, disposta a seguir o caminho que a Providência Divina lhe indicasse. Continuou enquanto isso a se vestir com muito luxo. Um dia ela foi assim toda ataviada se confessar. O sacerdote, ouvindo o frufru das sedas, disse-lhe bem espanholamente: “A Senhora vem demasiado oca para pedir perdão a Deus”. Ela desculpou-se: “São as saias”. O sacerdote retrucou: “Pois arranje outras”.
     No dia seguinte a santa apresentou-se no extremo oposto; tão desajeitada que chamava a atenção de toda a igreja. O sacerdote increpou-a novamente: “Como vem tão ridícula? Tire as sedas, mas se vista como essas senhoras virtuosas que vê na igreja”. Santa Micaela mandou fazer então um vestido simples de lã.
     Entretanto, sua obra para a regeneração de mulheres de má vida ia progredindo. O local se ampliava e o número de moças recolhidas crescia. Em 1850, Santa Micaela decide mudar-se para junto delas. “Seu talento organizador, sua penetração psicológica, seus dotes de mando e sua arte para dominar os espíritos mais rebeldes se revelam subitamente, com estupefação de todos que seguem o desenvolvimento da obra”. (6) No princípio tem que fazer de tudo: cozinhar, varrer, costurar, ensinar.
     A família fica chocada ao vê-la entre gente tão desclassificada, os círculos da aristocracia fazem vazio em torno dela, e seu irmão cai desmaiado ao ver a pobreza de seu quarto. Ao palácio real chega a notícia de que ela “endoideceu”. A rainha Isabel II deseja vê-la. E aí nasce entre ambas uma amizade profunda, muito aprovada pelo confessor da rainha, Santo Antônio Maria Claret.
     Aos poucos, entrementes a obra da santa começou a se impor aos olhos do público como força moralizadora e de grande significado religioso e social. Algumas moças da sociedade se uniram a Santa Micaela, surgindo assim, em 1858, a congregação das Adoradoras, Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, para a adoração perpétua do Sacramento do Altar e regeneração das mulheres perdidas ou moças com risco de se perderem.
     Santa Micaela soube unir a bondade à energia no trato com as desgraçadas. Um dia pergunta a uma delas, que desejava ir embora, para onde iria. Esta lhe responde descaradamente que ia voltar para o bordel. Ao ouvir isso, a Santa indignada desfere-lhe sonora bofetada no rosto. A jovem lançou-se então a seus pés e disse: “Só minha mãe me castigou assim. Eu vou obedecer à senhora como a ela. Se ela não tivesse morrido, eu não me teria perdido”.
     O demônio aparecia-lhe sob diversas formas, atormentava-a com estrondos e empurrões e mais de uma vez a lançou escada abaixo.
     Aprovada pela Santa Sé em 1861, sua congregação religiosa continuava a crescer de maneira a possibilitar a fundação de outras casas em diversas cidades da Espanha.
     No verão de 1865, chegou à casa-mãe de Madrid a notícia de que várias monjas da casa de Valência haviam sido atacadas pela cólera. Santa Micaela comentou: “Saio para Valência, pois aquelas filhas que tenho lá não são valentes, e temo que se acovardem ao ver tanta mortandade”.
     Alguns dias depois de chegar a Valência, sentiu os primeiros sintomas da peste e compreendeu que sua vida chegava ao fim. No dia 24 de agosto comentou: “Vou padecer um pouco; mas às doze horas tudo terá passado”. Efetivamente, à meia-noite ela entregou sua valorosa alma a Deus.
     Os biógrafos descrevem Santa Micaela como sendo severa e maternal, não muito afetuosa, mas nem por demais esquiva, disposta a rir quando se contava algo engraçado; cheia de espírito e de agradáveis comentários de muito propósito, inimiga das lágrimas, mesmo no momento dos maiores transes, tranquila nas dificuldades, e contente em ver as demais contentes. Fisicamente não era muito bonita, mas impunha-se por sua graça e simpatia, bem como pelo seu atrativo sem igual. Tinha o aspecto majestoso e cheio de uma distinção aristocrática. Em suma, por muitos traços de seu corpo, bem como por sua psicologia, Santa Micaela lembrava muito Santa Joana de Chantal, a cofundadora das visitandinas.
     Santa Maria Micaela do Santíssimo Sacramento foi beatificada em 1925 e canonizada em 1934. Sua festa é celebrada no dia 24 de agosto.
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Notas:
1. Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Santa Micaela, o la Madre Sacramento, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo III, p. 422. 2. Pe. José Leite, Santa Micaela, Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo II, p. 584. 3. Urbel, p. 422. 4. Id. Ib. 5. Leite, p. 584. 6. Urbel, pp. 423-424. 7. Id., p. 427.
Fonte: Plinio Maria Solimeo, www.catolicismo.com.br (excertos)
 

Santa Maria de Mattias, Fundadora - 20 de agosto

 

      Maria de Mattias nasceu em Vallecorsa, província de Frosinone, em 4 de fevereiro de 1805, filha mais velha de uma distinta família.

     Seu pai foi um educador excepcional que a ensinava a rezar e a amar a Sagrada Escritura. Ele formava seu coração  com narrativas bíblicas que a encantavam. Mais tarde, tornou-se seu confidente e guia. Foi ele quem a fez compreender, na sua adolescência, o significado profundo do Cordeiro Pascal, como simbologia de Jesus que foi conduzido à morte e verteu seu Sangue para a salvação da Humanidade. E a jovem conclui que ela também devia consumir-se completamente, se necessário até o derramamento de sangue, para levar Jesus a todos.

     Impetuosa, vivíssima e um pouco vaidosa, aos 16 anos foi favorecida com uma especial inspiração da Santíssima Virgem, compreendeu a vaidade e a transitoriedade dos prazeres do mundo e começou por renunciar a jóias e a adornos pelo ideal de uma vida dedicada a Deus e aos irmãos.

     Em 1822, quando São Gaspar del Bufalo, fundador da Sociedade dos Missionários do Preciosissímo Sangue, pregou numa missão em Vallecorsa, Maria descobriu sua vocação de missionária. Mas não na África, como havia sonhado em menina, mas na sua região.

     Maria respondeu ao chamado de Deus com a radicalidade dos santos. “Benditos somos - escrevia às primeiras discípulas - se podemos dar a vida e todo o nosso sangue pela fé, para salvar ainda que uma só alma”.

     Ela estava convencida de que a reforma da sociedade nasce do coração da pessoa e que esta se transforma quando compreende quão preciosa é aos olhos de Deus e de quanto amor foi objeto, pois  Jesus deu todo o seu Sangue para resgatá-la.

     Como tinha aprendido a ler e escrever, foi chamada pelo Administrador de Anagni, Mons. José Maria Lais, para ensinar as crianças. Em Acuto, uma aldeia de montanha não longe de Roma, começou a pregar e a catequizar na praça e na igreja, entusiasmando a todos e preocupando alguns, tanto que o bispo mandou um jesuíta observá-la incógnito, mas este concluiu que ela “fala melhor do que um padre”.

     Não podendo falar aos homens, estes acorriam voluntariamente para ouvi-la, embora às escondidas. Até os pastores lhe pediram que os ensinasse depois do pôr-do-sol; todos acorriam para ouvir as suas lições.

     Maria atraía até os sacerdotes, porque, quando falava de Jesus e dos mistérios da fé, parecia tê-los vivido em pessoa. O seu desejo era de que nem uma gota do Sangue de Jesus se perdesse. A preocupação de sua vida era dar gosto a Jesus, que lhe tinha roubado o coração desde a juventude, e salvar "o querido próximo".

     Sob o dorso de uma mula vai de uma aldeia a outra, atendendo aos pedidos e as necessidades dos lugares. E aonde não pode chegar pessoalmente, envia cartas (cerca de 2.000) tanto para gente simples, como também para padres e bispos, síndicos e prefeitos, para aconselhar, educar, propor e estimular.

     Sob a orientação do Venerável Pe. João Merlini, que por quarenta anos foi seu diretor espiritual, fundou, com algumas companheiras, a Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, em Acuto, a 4 de março de 1834.

     A Congregação tinha como fim especial a propagação da devoção ao Sangue de Cristo e a educação da juventude, especialmente em centros pequenos e abandonados. Outras atividades promovidas pela zelosa Fundadora foram os cursos catequéticos, missões, retiros para leigos, senhores e jovens.

     Sua ação ardorosa atraia muitas jovens e Maria de Mattias fundou muitas casas, chegando à Alemanha e à Inglaterra; em Roma, o próprio Papa Beato Pio IX a chamou para o Hospício de São Luís e para a Escola de Civitavecchia.

     Maria de Mattias faleceu a 20 de agosto de 1866, em Roma, e Pio IX mandou que fosse sepultada no Cemitério de Verano.

     O processo da sua Beatificação foi iniciado trinta anos depois, mas foi Pio XII que a beatificou em 1º de outubro de 1950. No dia 18 de maio de 2003, foi canonizada por João Paulo II, na Praça de São Pedro.

     Seus despojos são venerados na Igreja do Preciosíssimo Sangue anexa à casa generalícia do seu Instituto, em Roma.

     Atualmente cerca de 2.000 Adoradoras trabalham em todos os continentes, em 26 nações: Albânia, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Bósnia, Brasil, Colômbia, Coréia, Croácia, Filipinas, Guatemala, Guine Bissau, Índia, Itália, Liechtenstein, Polônia, Servia, Sibéria, Espanha, Suíça, Tanzânia, Ucrânia, EUA.