Este
título Maria Santíssima já recebeu nas Sagradas Escrituras. Nelas o lírio, por
sua beleza pura e sublime perfume, é usado com frequência para designar as
virtudes, a dignidade real, a beleza da sabedoria e a união esponsal. É muito
fácil compreender qual a razão de a Virgem Maria sempre ser comparada à esta
flor. O lírio é o símbolo da pureza e da beleza perfeita, em toda a natureza. E
a Imaculada Conceição de Maria lhe conferiu a eterna pureza do corpo, a beleza
perfeita da alma e o espírito pleno de sabedoria. Por isto, Maria é o lírio de
Deus, a única criatura plena de todas as graças.
Maria foi cantada em verso e prosa como um
campo de lírios, e também, representada segurando um lírio na mão ou ladeada
por estas flores. Mas a expressão latina: "lilium inter spinas", ou
seja: "lírio entre espinhos", citada na Ladainha de Nossa Senhora de
Loreto escrita em 1578, sem dúvida alguma é aquela que melhor descreve a Mãe de
Deus.
Esta comemoração se refere à primeira
igreja dedicada à Nossa Senhora do Lírio. Situada na abadia cisterciense
fundada em 1244, pelo rei São Luís IX e a rainha Branca de Castela, sua
virtuosa mãe, que cedeu um castelo de sua propriedade em Melun, França. Antes
de falecer, em 1252, a rainha-mãe expressou o desejo de ser sepultada na igreja
desta abadia.
As incontáveis graças e milagres
alcançados por intercessão de Maria são uma constante na cristandade desde os
primeiros séculos. Muitos destes episódios prodigiosos foram testemunhados e
acabaram entrando para as tradições populares cristãs. Estas, por sua vez,
determinaram o surgimento das igrejas santuários, meta de peregrinação e
romaria dos devotos do mundo todo.
O mais antigo santuário dedicado à Nossa
Senhora do Lírio foi erguido em 1300, na cidade de Sciacca, situada na ilha da
Sicília, Itália. Diz a tradição que ele surgiu por conta de uma imagem
milagrosa da Imaculada Virgem Maria que na mão segurava um lírio, pintada no
muro externo próximo da porta oeste da cidade. |
Santuário de Prato, Itália |
Em 1580 chegaram os franciscanos da
Terceira Ordem, que construíram no lado oriental da porta da cidade, o próprio
convento e uma nova igreja anexa, para melhor funcionalidade do serviço
religioso. Logo em seguida esta igreja foi escolhida para ser o novo e atual
santuário de Nossa Senhora do Lírio.
O Santuário de Nossa Senhora do Lírio
da cidade de Prato, Itália, é uma pequena igreja na Rua São Silvestre,
perto de Praça São Marcos.
Começou a ser chamada e venerada como
Santuário em 1680, mas já desde 1270, nesta área surgia uma igreja, a
do Spedale di San Silvestro (Hospital São Silvestre).
A Igreja foi transformada em Santuário
depois de muitos milagres começarem em 26 de agosto de 1664, quando foi
colocado um lírio seco na frente da imagem de Nossa Senhora do século XV. Este
lírio renasceu inexplicavelmente.
Num dos altares de laterais, da época 1670
- 1674, tem uma pintura de Alessandro Rosi com os santos Francisco Xavier
e Pedro de Alcântara.
No 1982 Dom Renzo fez que na cabeça
da pintura de Nossa Senhora do Lírio fosse colocada uma lindíssima coroa de
ouro. Assim, daquele dia em diante a imagem foi chamada Nossa Senhora do
Lírio, Rainha do céu e da terra.
Nossa Senhora do Lírio é celebrada no dia
8 de fevereiro.
Os 3
lírios de Maria Certa vez, naquele longínquo século XIII,
um dominicano de uma inteligência luzidia, muito douto e devoto da Santíssima
Virgem, estava passando por uma forte provação. Não conseguia entender como era
possível a Mãe de Deus permanecer virgem, tendo dado à luz o Menino Jesus.
Esta dúvida era como um espinho em seus
pensamentos, pois apesar de ser muito sábio, isto lhe permanecia oculto.
Um dia, tendo tomado conhecimento da
existência de um Frei franciscano, o Bem-aventurado Egídio de Assis, o qual
tinha fama de aliviar as consciências conturbadas, resolveu ir ao encontro
deste religioso.
Quando chegara às portas do convento
franciscano, não foi necessário chamar ninguém, pois Frei Egídio iluminado
acerca da situação deste dominicano saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: “Irmão
pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus”
[1]. Enquanto dizia isto, Frei Egídio golpeou o chão com seu cajado e
imediatamente brotou do solo um formoso lírio branco.
O dominicano surpreendido por este fato
inesperado continuou ouvindo o Frei, que prosseguiu: “Irmão pregador, Maria
Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus”. E com um novo golpe, outro lírio
floresce instantaneamente.
Atônito, o dominicano presta atenção por
mais uma vez: “Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos
Jesus”. Ao terceiro golpe, surge um lírio mais esplêndido que os anteriores.
Frei Egídio, sem dizer nenhuma outra
palavra, retorna ao convento, tendo desfeito aquela longa provação de seu irmão
religioso, o qual até o fim da vida conservou consigo os três lírios, símbolos
inequívocos da virgindade de Nossa Senhora: antes, durante e depois do parto.
Esta bela história nos mostra a envolvente
e cativante época dos milagres medievais, mas, sobretudo, destaca uma virtude
cada vez mais esquecida nos tempos atuais, a virgindade.
Houve época em que o casamento entre
pessoas virgens era uma questão de honra. Depois, isso se tornou uma
responsabilidade apenas do gênero feminino. Mas, hoje em dia, se fosse
perguntado aos jovens sua opinião sobre o assunto, provavelmente muitos até
ridicularizariam esta virtude tão sublime.
No entanto, ela deve ser preservada como
um tesouro inestimável, o qual devemos guardar a todo custo, sob o peso de
chorar sua perda. Por mais que certos ambientes possam zombar de sua prática e
tê-la como praticada por pessoas retrógradas, podemos bem aplicar seu valor aos
conhecidos versos de Casimiro de Abreu:
“Oh! que saudades
que eu tenho
Da aurora da minha
vida
Da minha infância
querida
Que os anos não
trazem mais!”.
Aqui podemos, inclusive, parafrasear
Casimiro de Abreu, entendendo por infância aquela inocência de criança, de uma
alma limpa e sem malícia, cujos anos, as más amizades, as ideias perniciosas,
muitas vezes vêm deteriorar. Depois de perdida a inocência, o colorido que o
mundo apresentava se torna mais opaco, quando não se apaga por completo.
Começa, então, uma longa caminhada em
busca de uma felicidade que a pessoa já possuía na aurora da vida, mas que
recusou diante de mentirosas promessas. Este é o momento de olhar para Nossa
Senhora, intitulada Rainha das Virgens (Regina Virginum) em sua Ladainha e
dizer a “Salve Rainha”.
Ela, como Mãe compassiva, olhará a miséria
humana e pedirá ao seu Divino Filho para que restitua aquela virtude angélica,
a fim de nos tornarmos verdadeiramente os “pequeninos”, aos quais pertence o
“Reino dos Céus” (cf. Mt 19,13-15; Mc 10,13-16; Lc 18,15-17).
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Imagem de Nossa Senhora do Lírio venerada no Santuário de Prato, Itália |
[1] Cf. Súrio, Vita del B. Edidio. Apud Pe. Gabriel
Roschini. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960, p. 209.
Thiago
de Oliveira Geraldo
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