Apóstola da Devoção ao Sagrado Coração
de Jesus
Margarida Maria Alacoque nasceu no dia 22
de julho de 1647, na Borgonha, França. Seu pai, Claude Alacoque, era escrivão
real; sua mãe, Philiberte Lamyn, era filha do também escrivão real François
Lamyn. Sua família de posses, religiosa, com reputação de seriedade e honra,
sofreu duro golpe após a morte do pai. Margarida teve uma juventude difícil:
enfermidades, sua e da mãe, a resistência dos parentes para que abraçasse a
vida religiosa. Finalmente, aos 24 anos, entrou no convento da Visitação de
Santa Maria, em Paray-le-Monial, Ordem fundada por São Francisco de Sales e
Santa Joana de Chantal.
Ela permaneceu entre as Visitandinas por
20 anos, e desde o princípio se ofereceu como “vítima ao Coração de Jesus”. Foi
incompreendida pelas religiosas, mal julgada pelos superiores; até os diretores
espirituais desconfiaram dela julgando-a uma visionária.
Finalmente, São Cláudio La Colombière tornou-se o
guia precioso desta mística Visitandina, ordenando-lhe narrar, numa
autobiografia, as suas experiências místicas. Por inspiração desta Santa a
festa do Sagrado Coração de Jesus nasceu, e a ela se deve a prática das Nove
Primeiras Sextas-feiras do mês.
Santa Margarida Maria faleceu no dia 17 de
outubro de 1690, em Paray-le-Monial, na França. Em março de 1824, Leão XIII a
declarou Venerável, e em 18 de setembro de 1864, Pio IX a beatificou. Santa
Margarida Maria foi canonizada por Bento XV em 1920.
Quando seu túmulo foi aberto
canonicamente, em julho de 1830, ocorreram duas curas instantâneas. Seu corpo
repousa sob o altar da capela em Paray, e muitos favores são obtidos por
peregrinos atraídos a este lugar de todas as partes do mundo.
*
A humilde visitandina, à qual o Sagrado
Coração de Jesus fez suas confidências, viveu no tempo em que reinava na França
Luís XIV, consagrado universalmente com o título de Roi-Soleile, epíteto que
correspondia à realidade, diziam que havia nele estofo para cinco reis. Luís
XIV representava o tipo clássico daqueles reis de contos de fada que costumam
deslumbrar a imaginação das crianças.
Com uma alma privilegiada chamada a
grandes realizações, cheio de predicados físicos e de grande personalidade, se
aquele Rei tivesse seguido o exemplo de São Luis, talvez ele tivesse podido
impedir a explosão da Revolução Francesa, a pseudo-reforma protestante sofresse
desastres irreparáveis, e a História teria tomado um outro rumo.
A vida de Luis XIV teve altos e baixos.
Ávido de prazeres, ambicioso e vaidoso, sacrificou os recursos e prestígio que
Deus lhe havia dado à sua sede de prazeres e à sua própria glória. Provocou
guerras com o intuito de dilatar seus Estados, desuniu as potências católicas
ameaçadas pelo protestantismo; aliou-se aos próprios muçulmanos contra o Santo
Império, enfim, mereceu a censura de todos os franceses verdadeiramente
católicos, mesmo os seus mais fieis súditos.
Entretanto, ele prestou assinalados
serviços para a Igreja, entre os quais figura com destaque a revogação do Edito
de Nantes. Além disso, grandes foram os avanços em todos os campos da vida
temporal, impulsionados por sua inteligência e bom gosto.
O certo é que o Rei não desempenhava
aquela missão providencial à qual fora chamado por Deus.
Em determinado momento, a humilde
Visitandina intervém. Entre as revelações que o Divino Redentor lhe fazia,
certa feita mandou que ela dissesse ao Rei para consagrar a si próprio e o
Reino ao Sagrado Coração. Nosso Senhor usou de um tom imperativo, e deixava
claro que a sua recusa acarretaria para ele e para a França os mais severos
sofrimentos. O Sagrado Coração de Jesus desejava uma consagração autêntica, que
implicava na renúncia a todos os pecados e a todos os erros do Rei.
Santa Margarida Maria fez chegar a
comunicação a Luis XIV por meio de uma pessoa da nobreza com quem tinha
relações. O Rei, porém, não lhe deu importância e a consagração não foi
efetuada.
Resultado: o Reino foi caindo mais e mais
nos abismos da impiedade e da libertinagem, até que a Revolução Francesa lançou
por terra o trono dos Bourbons, e espalhou pelo mundo inteiro o espírito de
rebeldia e de ódio a Deus e a Religião Católica.
Tempos mais tarde, entre os papéis do Rei
Luis XVI, encontrados em sua prisão do Templo, se achou uma nota em que este
soberano prometia se consagrar, e toda a França, solenemente, ao Coração de
Jesus, caso fosse libertado, o que desde logo, em forma privada, ele o fazia no
cárcere. Ele esperava com isto que o Coração de Jesus arrancasse a França aos
horrores da Revolução. Mas, este ato piedoso valeu apenas para que ele
enfrentasse com dignidade a guilhotina, e muitos o consideram como mártir.
*
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus
enfrentou muitas peripécias na sua expansão, mas atingiu o seu auge na Santa
Igreja Católica no século XIX e no período que vai mais ou menos até meados do
reinado de Pio XI, já no século XX.
Esta devoção foi muito estudada, ela teve
grandes doutores, entre os quais São João Eudes, ela foi bem recebida pelos
papas, Leão XIII fez uma consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Um
pouco por toda parte encontramos igrejas consagradas ao Sagrado Coração de
Jesus nas cidades construídas em fins do século XIX, ou no começo do século XX
no Brasil, por exemplo. Era uma devoção que realmente fazia muito bem às almas.
Esta devoção começou a ser objeto de uma
campanha a partir do momento em que a heresia modernista, condenada por São Pio
X, começou a levantar a cabeça com o rótulo de Ação Católica e Movimento
Litúrgico.
No reinado de Pio XI e até o reinado de
Pio XII, inclusive, o modernismo não fez senão se desenvolver sorrateiramente
dentro da Igreja e começou a combater a devoção ao Sagrado Coração de Jesus
numa manobra a mais perigosa: o silêncio! Deixou-se de impulsionar esta
devoção; deixou-se de falar a respeito dela; fez-se caso omisso disto.
A Grande Revelação (entre 13 e 20 de
junho de 1675)
“Eis
o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir
para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte
deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza
e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais
sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a
primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma
festa particular para honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando
pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares”.
“Prometo-te
que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre
aqueles que Lhe prestarem esta honra” (¹).
(¹)
Cf. Vida e Obras de Santa Margarida Maria, publicação da Visitação de Paray,
1920.