quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Santa Rosa de Lima e o "poço dos milagres"


     No dia 30 de agosto, milhares de fiéis se reúnem no Santuário de Santa Rosa de Lima para celebrar o dia da padroeira do Peru e das Filipinas.
     Com muita devoção, crianças e adultos se aproximam do histórico “poço dos favores” para depositar suas cartas dirigidas à santa Rosa. O poço está localizado no interior do lugar onde vivia a santa – e hoje é o seu santuário.
     Na praça em frente ao poço podem ser lidas as seguintes palavras: “Rosa jogou neste poço a chave do cadeado de uma corrente de ferro que ela colocou na cintura para fazer a penitência perpétua pelos pecadores”.
História da devoção 
     A determinação para fazer penitência e aproximar-se das dores de Jesus na cruz sempre foi um destaque da vida de Santa Rosa. É através deste ato de amor que seu sacrifício feito em vida há tantos séculos ainda hoje segue dando graças abundantes ao povo de Lima e do mundo inteiro que a invoca.
     Conta-se que, um dia, a santa jogou no poço a chave do cadeado da corrente de ferro que usava na cintura como penitência e, quando lhe pediram para tirasse o cinto, Rosa confessou a impossibilidade de fazê-lo.
     Diante do fato, a santa se dirigiu ao poço dos favores e, depois de suas súplicas, foi ali que Deus abriu milagrosamente o cadeado.
     Quando ela morreu, os milagres e as graças conseguidas por sua intercessão cresceram cada vez mais. Os fiéis, então, começaram a deixar seus pedidos no poço, na confiança que Santa Rosa receberia a correspondência e, por sua intercessão, Deus concederia as graças.
     Com o passar dos séculos, milhões de pessoas deram testemunho das graças ali recebidas pela intercessão de Santa Rosa. São graças espirituais e materiais.
A fé compartilhada através da internet
     Nem todos os devotos da santa têm a possibilidade de estar em Lima para se aproximarem da casa dela. Por isso, para aqueles que não podem estar lá pessoalmente, o arcebispado de Lima criou uma plataforma virtual (http://www.arzobispadodelima.org/santa-rosa-de-lima/2011/07/04/buzon-virtual/), onde os fiéis do mundo inteiro podem deixar seus pedidos e agradecimentos.
     As pessoas que administram a conta de e-mail de Santa Rosa o fazem com muito respeito e mantêm as mensagens em anonimato. Depois de lerem os assuntos, os voluntários imprimem os pedidos e os jogam ao poço.
     Depois de 400 anos de intercessão de Santa Rosa, o poço é, hoje, uma fonte de inúmeras graças para todos, lembrando-nos, como ela mesma dizia, “além da cruz, não há outra via pela qual podemos chegar ao céu”. 
Fonte: https://pt.aleteia.org/


     Em 2011 este blog publicou este pequeno resumo da vida desta Santa tão sublime:

Santa Rosa de Lima, Padroeira do Peru e da América – 23 de agosto

     Santa Rosa de Lima é a primeira Santa da América e padroeira do Peru e da América. Nascida em Quives, província de Lima no ano de 1586, coincidentemente no mesmo ano da aparição da Virgem Santíssima na cidade de Chiquinquira. Era descendente de conquistadores espanhóis. Seu nome de batismo era Isabel Flores y Oliva, mas a extraordinária beleza da criança motivou a mudança do nome de Isabel para Rosa, ao que ela acrescentou o de Santa Maria. Seus pais eram Gaspar de Flores, espanhol arcabuz do Vice-Rei e Maria Oliva, limenha. Era a terceira dos onze filhos do casal. 
     Seus pais antes ricos tornaram-se pobres devido ao insucesso numa empresa de mineração e ela cresceu na pobreza, trabalhando na terra e na costura até altas horas da noite para ajudar no sustento da família. Cultivava as rosas de seu próprio jardim e as vendia no mercado e por isso é tida como patrona das floristas. Diz-se que tangia graciosa a viola e a harpa e tinha voz doce e melodiosa. Além de muito bela, Rosa era tida como a moça mais virtuosa e prendada de Lima. 
     Foi pretendida pelos jovens mais ricos e distintos de Lima e arredores, mas a todos rejeitou por amar a Cristo como esposo. 
     Um dia estava rezando diante de uma imagem da Virgem Maria, com Jesus Cristo ainda bebê nos braços, quando ouviu uma voz que vinha da pequena imagem de Jesus, que lhe dizia: "Rosa, dedique a mim todo o seu amor..." A partir de então, tomou a decisão de amar somente a Jesus, mas devido à sua beleza, muitos homens acabavam se apaixonando por ela. Para não ser motivo de tentações, Rosa cortou seus longos e belos cabelos, e passou a cobrir o rosto constantemente com um véu. 
     Decidiu ingressar em um convento da Ordem Agostiniana, entretanto, estando diante da imagem da Virgem Santíssima, sentiu que não podia levantar-se nem mesmo com a ajuda de seu irmão. Foi então que percebeu ser tudo aquilo um aviso dos céus para não ir, e bastou fazer uma prece à Nossa Senhora para que a paralisia desaparecesse por completo. 
     A partir deste dia, Rosa, que se espelhava em Santa Catarina de Sena como modelo de vida a ser seguido, passou a pedir diariamente a Deus para indicar-lhe em que ordem religiosa deveria ingressar. Percebeu que todos os dias, assim que começava a rezar, aparecia uma pequena borboleta nas cores branca e preta, e com este sinal chegou à conclusão que deveria ingressar na Congregação da Ordem Terceira de São Domingos, cujas vestimentas eram nestas cores. 
     Tendo ingressado na ordem aos vinte anos, pediu e obteve licença de emitir os votos religiosos em casa - e não no convento - como terciária dominicana e tomou o hábito da Ordem Terceira Dominicana, após lutar contra o desejo contrário dos pais. 
     Construiu uma cela estreita e pobre no fundo do quintal da casa dos pais e começou a ter vida religiosa, penitenciando seu corpo com jejuns e cilícios dolorosos; conta-se que utilizava muitas vezes um aro de prata guarnecido com fincos, semelhante a uma coroa de espinhos. Entre as penitências estava o jejum contínuo: Rosa consumia o mínimo necessário para sua sobrevivência e quase não bebia água. Dormia sobre duras tábuas e ao olhar para o crucifixo dizia: "Senhor, a sua cruz é muito mais cruel que a minha". 
     Quando seu pai perdeu toda a fortuna, Santa Rosa não se perturbou ao ter que trabalhar de doméstica, pois tinha esta certeza: "Se os homens soubessem o que é viver em graça, não se assustariam com nenhum sofrimento e padeceriam de bom grado qualquer pena, porque a graça é fruto da paciência". Vivendo fora do convento, renunciou à vida fácil, dizendo: "O prazer e a felicidade que o mundo pode me oferecer são simplesmente uma sombra em comparação ao que sinto". 
     Alcançando um alto grau de vida contemplativa e de experiência mística, suas orações e penitências conseguiram converter muitos pecadores. Era extremamente bondosa e caridosa para com todos, especialmente para com os índios e negros, aos quais prestava os serviços mais humildes em caso de doença.
     Segundo os relatos de seus biógrafos e dos amigos que a acompanharam, dentre eles seu confessor Frei Juan de Lorenzana, por sua piedade e devoção Santa Rosa recebeu de Deus o dom dos milagres. Ela era constantemente visitada pela Virgem Maria e pelo Menino Jesus que quis repousar certa vez entre seus braços e a coroou com uma grinalda de rosas, que se tornou seu símbolo. Também é afirmado que tinha constantemente junto a si seu Anjo da Guarda, com quem conversava. Ainda em vida lhe foram atribuídos muitos favores: milagres de curas, conversões, propiciação das chuvas e até mesmo o impedimento da invasão de Lima pelos piratas holandeses em 1615. 
     Apesar de agraciada com experiências místicas fora do comum, nunca lhe faltou a cruz, a fim de que compartilhasse dos sofrimentos do Divino Mestre, sofrimentos provindos de duras incompreensões e perseguições e, nos últimos anos de vida, de sofrimentos físicos, agudas dores devidas à prolongada doença que a levou à morte em 24 de agosto de 1617, aos 31 anos de idade. Suas últimas palavras foram "Jesus está comigo!" 
     Seu sepultamento foi apoteótico e pranteado por todo o Vice-Reino do Peru e seu túmulo tornou-se palco de milagres, bem como também os lugares onde viveu e trabalhou pela causa da Igreja.
    Conta-se que o Papa Clemente relutava em elevá-la aos altares, mas foi convencido após presenciar uma milagrosa chuva de pétalas de rosa que caiu sobre ele, vinda do céu e que atribuiu a Santa Rosa de Lima. 
     Ela foi beatificada por Clemente IX em 1667 e canonizada em 1671 por Clemente X. Foi a primeira santa canonizada da América e proclamada padroeira da América Latina. É também padroeira das Filipinas. 
     No Brasil, alguns municípios, como Nova Santa Rosa, no Paraná, a adotam como Padroeira.

Reconstituição facial utilizando técnicas forenses, por Cícero Moraes

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Santa Beatriz de Nazaré, Cisterciense - 29 de agosto


Às vezes (a alma) tem outro modo de amor, em que empreende a tarefa de servir a Nosso Senhor de maneira totalmente gratuita só com amor, sem um porquê”. (1)

     Nos mosteiros belgas do século XI havia o costume de admitir para o coro as jovens de boas famílias da alta burguesia. As outras, incultas, entravam somente na qualidade de conversas. Recebiam ajuda de famílias importantes, como os Brabantes ou Tirlemont. Beatriz nasceu no seio desta última família.
     Nós conhecemos a vida de Beatriz por uma biografia escrita por um capelão do Mosteiro de Nazaré, no século XIII. Ele não chegou a conhecê-la, mas para esta biografia se serviu dos escritos dela mesma em flamengo medieval: o Livro da vida, que era um diário seu e recolhia os 20 anos anteriores a sua estrada no Mosteiro de Nazaré; são notas que escreveu sendo já priora e seu tratado místico chamado Dos sete modos de Amor. Somente o seu tratado chegou até nós. O anônimo capelão se serviu também, para escrever a biografia, dos dados comunicados pelas monjas que a conheceram, fundamentalmente das recordações da irmã de Beatriz, Cristina, a qual lhe sucedeu como priora.
     Beatriz era a mais nova de seis irmãos e nasceu em Tirlemont, a uns 20 km de Louvaine, na diocese de Liége, Bélgica, no ano 1200. Seu pai, o Beato Bartolomeu, ao falecer sua esposa ingressou na Ordem de Cister como leigo cisterciense. Ele ajudou a construir outros três mosteiros de monjas, como o de Oplinter e o de Nazaré.
     A mãe de Beatriz a instruiu pessoalmente; com cinco anos ela era capaz de recitar integralmente o saltério de Davi. Aos sete anos, ao morrer sua mãe, seu pai a enviou à escola das beguinas de Leau (2) para que estas lhe ensinassem as virtudes e ao mesmo tempo frequentava uma escola da mesma cidade de Zoutleeuw, onde aprendeu as artes liberais. Permaneceu nela um ano, mas não chegou a acabar os estudos de artes liberais que compreendiam gramática, retórica e dialética.
     Aos dez anos ingressou como oblata no mosteiro de Bloemendaal ou Florival, que havia passado a ser cisterciense em torno do ano 1210 e onde seu pai era o administrador. Ali continuou o trivium e o quadrivium que consistia em música, aritmética, geometria e astronomia.
     Neste período o pai de Beatriz ingressou como leigo em Bloemendaal e seu irmão Wickbert ingressou também como converso; suas irmãs Cristina e Sibila entraram na mesma comunidade em 1215. Quando Bloemendaal fundou Maagdendaal, perto de Tienen, o pai de Beatriz e os irmãos desta foram enviados para aí em 1221. Neste mosteiro Beatriz realizou sua profissão solene e foi consagrada virgem pelo Bispo.
     Conta-se que nos primeiros anos ocorreu com Beatriz o que aconteceu com São Bernardo: ao meditar a Paixão de Cristo, que deu a vida por nós na cruz, entregava-se a penitências excessivas na ânsia de se imolar por amor dEle. São Bernardo lamentaria mais tarde tais excessos da juventude, pois teve que lutar toda a vida para manter-se em pé. Tal se passou com Beatriz, que se entregou a severas austeridades e mais tarde sentiu o peso daquelas penitências indiscretas.
     Logo após professar, enviaram-na ao mosteiro de La Ramée para se aperfeiçoar na caligrafia e na confecção de iluminuras de manuscritos, tornando-se uma excelente mestra na arte de fazer pergaminhos ilustrados. Em La Ramée encontrou-se com Santa Ida de Nivelles, que lhe serviria de mestra e como mãe espiritual, graças a sua experiência nas vias de Deus. Beatriz percebeu que esta religiosa se esmerava em atendê-la e ao lhe perguntar por que dedicava tanto tempo em ajudá-la espiritualmente, a Santa religiosa respondeu que era porque via claramente que Deus a havia eleito para grandes coisas. Tais palavras proféticas se cumpriram inteiramente.
     Em 1235, Maagdendaal fez a fundação de Nazaré. Em 1236, Beatriz se translada para este novo mosteiro e exerceu ali a função de mestra de noviças durante dois anos; mais tarde, foi eleita priora.
     Beatriz procurou empenhadamente seguir os passos de sua mestra, vivendo uma espiritualidade centralizada toda no amor entendido como meio pelo qual Deus se manifesta às criaturas e a quem estas podem corresponder. Como resultado de sua experiência mística, escreveu uma preciosa obra intitulada Dos sete modos de praticar o amor, a qual, segundo aqueles que a estudaram a fundo, é um tratado de uma beleza ímpar.
     “Seu estilo é sóbrio e suas frases elegantes; sua exposição límpida e clara; a prosa é doce e ágil com lindas rimas muito naturais. A autora possui uma inteligência excepcional, consegue expressar magistralmente, no plano da forma e do pensamento, suas experiências místicas extraordinárias. O tratado é muito sintético, cada palavra tem seu peso e seu valor... deixando-nos seduzir por sua mensagem através da beleza literária do texto que, mais do que outra coisa, expressa a beleza de sua alma e é testemunha de sua busca absoluta do amor”.
     Em sua vida espiritual, Beatriz se ocupou do estudo da Santíssima Trindade e para isso manejava cópias de livros sobre este tema, e isso nos mostra “a acessibilidade nos mosteiros cistercienses de obras de conteúdo teológico e recorda ao mesmo tempo o útil ofício de copista aprendido em la Ramée”. (3)

     Dos sete modos de Amor é o compêndio da vida de Beatriz. Ela lê toda sua vida à luz do amor de Deus e a reconhece nesta palavra, minne (4). Minne leva em si a realidade divina e a experiência humana. “O amor de Deus – de quem Beatriz fala – é seu amor por Deus, no qual, paradoxalmente, Deus mesmo se dá a conhecer. Fazer isto evidente sete vezes é sua finalidade e sua tarefa”. (5)
     No segundo livro de sua Vida, aumentam estas experiências que vão se centrando na união mística; a mais significativa foi a ocorrida em Maagdendaal no ano 1232, onde Beatriz vê o Senhor que se aproxima dela e atravessa sua alma com uma lança ardente. Existe o simbolismo entre a lança que penetrou o Lado de Cristo em sua Paixão e a lança que penetra a alma de Beatriz e que lhe anuncia a união amorosa com o Amado, esposa eleita dos Cânticos.
     Em Nazaré, onde por mais de trinta anos serviria a comunidade como mestra de noviças e segunda superiora, desde o mês de julho de 1231 até 1268, ano de sua morte, lhe foi concedido o tempo de amar. Beatriz expressou, de maneira magistral, sua própria síntese, regalando-nos um admirável canto lírico de amor místico, como belamente definiu o Padre Mikkers seu pequeno tratado das sete maneiras do santo Amor de Deus.
     Ela escreveu ainda outras obras. Suas leituras preferidas eram as Sagradas Escrituras e os tratados sobre a Santíssima Trindade.
     Beatriz faleceu em 29 de agosto de 1268. Seus restos mortais tiveram que ser escondidos para que os calvinistas não os profanassem e se acredita que seu corpo foi transladado por anjos para Lier. 

Etimología: Beatriz = a que faz feliz, do latim.

Cidade de Lier

Fontes: www.santiebeati/it
Ir. Marina Medina/Mosteiro Cisterciense da Santa Cruz–Espanha
http://caminocisterciense.blogspot.com.br/2011/03/beatriz-de-nazaret.html - traduzido por José Eduardo Câmara de Barros Carneiro, para a Abadia Nossa Senhora Aparecida, das Monjas Cistercienses de Campo Grande.

Notas:
(1) Beatriz de Nazaret, Los siete modos de amor. II modo, Barcelona 1999, p. 287.
(2) As beguinas eram uma associação de mulheres católicas, contemplativas e ativas, que dedicaram sua vida tanto na defesa dos desamparados, enfermos, mulheres, crianças e anciãos, como em um brilhante labor intelectual. Organizavam a ajuda aos pobres e aos enfermos nos hospitais, ou aos leprosos. Trabalhavam para se manter e eram livres de deixar a associação a qualquer momento para se casar.
(3) V. Cirlot, b. garí, La Mirada interior. Escritoras místicas y visionarias en la Edad Media, Barcelona 1999, p. 118-119.
(4) Minne (feminino) é originariamente o pensamento (vivo em alguém) da pessoa amada.
(5) Liliana Schiano Moriello, Beatriz de Nazaret (1200-1268). Su persona, su obra, Cistercium 219 (2000) 442.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Beata Lourença (Leocádia) Harasymiv, Virgem e mártir - 26 de agosto

Em Kharsk, próximo de Tomsk, na região russa da Sibéria, Beata Lourença (Leocádia) Harasymiv, virgem da Congregação das Religiosas de São José, que, durante o regime de opressão perpetrado em sua pátria pelos perseguidores da fé, foi conduzida àquele campo de concentração, onde com sua morte gloriosa uniu à pureza de sua vida a perseverança na fé.

     Leocádia Harasymiv nasceu em Rudnyku, região de Lvov, Ucrânia, no dia 17 de agosto de 1911. Teve uma educação católica e em maio de 1932 ingressou na Congregação das Religiosas de São José. Dois anos depois, emitiu os seus primeiros votos assumindo o nome religioso de Lourença. Dedicava-se aos trabalhos religiosos e sociais próprios de sua família religiosa.
     Com a chegada do regime comunista, junto com a Beata Olímpia Bidá, substituiu junto aos fiéis a atenção religiosa supressa pelos revolucionários com a prisão dos sacerdotes e o consequente desaparecimento destes nos campos de concentração soviéticos.
     Em 1951, foi feita prisioneira pelos agentes da KGB, junto com a Beata Olímpia, quando elas acompanhavam um fiel defunto ao cemitério. Enviada para Borislav, foi depois deportada e encarcerada na fortaleza de Kharsk, perto de Tomsk, na província russa da Sibéria.
     Irmã Lourença já estava doente, com tuberculose. Apesar de sua saúde febril, dividia uma cela com um paralítico afetado pela tuberculose, que fora rejeitado por todos pelo medo do contágio. Suportou com paciência as condições de vida desumanas, continuando a rezar intensamente. Era assistida pela Beata Olímpia da melhor maneira possível, porém, a falta de atenção médica e de remédios levaram-na à morte no dia 28 de agosto de 1952. Seu glorioso martírio conjugou a firmeza da fé à pureza que distinguira toda sua vida.
     Foi beatificada por João Paulo II em 27 de junho de 2001, junto com outras 24 pessoas de nacionalidade ucraniana, vítimas do regime soviético.

Fontes: www.santiebeati/it e “Año Cristiano”- AAVV, BAC, 2003

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Nossa Senhora Rainha - 22 de agosto


Nesta data em que comemoramos a Realeza de Nossa Senhora, convidamos à leitura da origem da oração que a Ela dirigimos, chamando-a de Rainha.

Salve Rainha: a maravilhosa origem

     A Salve Rainha é a mais famosa oração a Nossa Senhora depois da Ave-Maria. Ela tem o valor da devoção medieval bem marcada: unção, espírito filial e sacral, lógica e suavidade.
     Ela parece ter sido sugerida pela própria Mãe de Deus à alma que a recitou pela primeira vez. Quem foi ela? É próprio da humildade e da pureza do espírito católico não querer atrair a atenção sobre si.
     E em casos como este, esquecer-se de si próprio para atrair todas as atenções para o objeto da oração: a Santíssima Mãe de Deus. Por isso, como em tantas outras maravilhas medievais, não se tem notícia certa do primeiro que recitou a Salve Rainha.
     Porém há boas razões para atribuí-la a Dom Ademar de Monteil, Bispo de Puy-en-Velay no século XI.
     Em Puy-en-Velay, na região de Auvergne, no centro da França, há um famosíssimo santuário dedicado à Nossa Senhora do Puy. Aliás, muitíssimo mais visitado nos tempos medievais do que nos séculos de decadência religiosa que advieram depois.
     No santuário de Puy-en-Velay venera-se também hoje a imagem de “Nossa Senhora das Cruzadas”.
     Peregrinos e cruzados que iam a Terra Santa costumavam passar antes por Puy para se encomendar especialmente a Ela. Dom Ademar foi o primeiro bispo cruzado e o primeiro cruzado. Foi ele o primeiro a pedir ao Papa Beato Urbano II para levar a Cruz em sinal de guerra aos maometanos.
     O acatadíssimo Migne defende que “antes de sua partida para a Cruzada, pelo fim do mês de outubro de 1096, ele compôs a canção de guerra da (Primeira) Cruzada, na qual ele implorava a intercessão da Rainha do Céu, a Salve Rainha” (Migne, “Dict. des Croisades”, s. v. Adhémar). Dom Ademar descobriu a Sagrada Lança durante essa Cruzada.
     Não menos importante é a devoção a São Miguel Arcanjo naquela abençoada localidade. Puy exercia quase tanto ou igual atração à devoção ao Príncipe da Milícia Celeste do que o famosíssimo Monte Saint-Michel na Normandia.
     Além do mais, Puy era uma das etapas as mais prezadas pelos romeiros que depois seguiam a pé ‒ e ainda hoje seguem ‒ até o longínquo túmulo do Apóstolo Santiago, em Compostela, Espanha.
     Há ainda outros que com boas razões acham que a Salve Rainha foi obra do bem-aventurado alemão Hermann Contractus, também cultuado como santo. Por certo, a ele é atribuída a melodia gregoriana. Entretanto, tão grande foi a devoção medieval pela Salve Rainha que o próprio gregoriano elaborou muitas formas de cantá-la.
     Acresce que Durandus, no seu “Rationale”, põe na origem o espanhol Dom Pedro de Monsoro, falecido perto do ano 1000, Bispo de Compostela.
     É lugar comum que as exclamações finais “ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria” tenham sido inspiradas por Nossa Senhora a São Bernardo de Claraval.

Regína, Mater misericórdiae, vita, dulcedo et spes nostra salve!
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!
Ad te clamámus, éxsules filii Evae.
A Vós bradamos os degredados filhos de Eva;
Ad te suspirámus geméntes et flentes in hac lacrimárum valle.
A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia ergo, advocata nostra, illos tuos misericórdes óculos ad nos convérte.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
Et Jesum, benedíctum fructum ventris tui, nobis post hoc exsílium, osténde.
E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto de vosso ventre.
O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria!
Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria.

Jaculatória final: Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Fonte: Blog Orações e Milagres Medievais
www.adf.org.br/



sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Santa Maria De Mattias, Fundadora – 20 de agosto

    
      Maria De Mattias nasceu em Vallecorsa, a cidade mais ao sul dos Estados Papais, na província de Frosinone, em 4 de fevereiro de 1805, filha mais velha de uma distinta família.
     Seu pai foi um educador excepcional que a ensinava a rezar e a amar a Sagrada Escritura. Ele formava seu coração com narrativas bíblicas que a encantavam. Mais tarde, tornou-se seu confidente e guia. Foi ele quem a fez compreender, na sua adolescência, o significado profundo do Cordeiro Pascal, como simbologia de Jesus que foi conduzido à morte e verteu seu Sangue para a salvação da Humanidade. E a jovem concluiu que ela também devia consumir-se completamente, se necessário até o derramamento de sangue, para levar Jesus a todos.
     Sem educação formal e sem contatos externos, por causa de sua classe social, Maria passou sua infância e início da adolescência retirada e focada em sua beleza. Mas quando ela chegou a adolescência, começou a procurar o significado de sua vida. Impetuosa, vivíssima e um pouco vaidosa, aos 16 anos foi favorecida com uma especial inspiração da Santíssima Virgem, compreendeu a vaidade e a transitoriedade dos prazeres do mundo e começou por renunciar a joias e a adornos pelo ideal de uma vida dedicada a Deus e aos irmãos.
     Em 1822, quando São Gaspar del Bufalo, fundador da Sociedade dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, pregou numa missão em Vallecorsa, Maria descobriu sua vocação de missionária. Mas não na África, como havia sonhado em menina, mas na sua região.
     Maria respondeu ao chamado de Deus com a radicalidade dos santos. “Benditos somos - escrevia às primeiras discípulas - se podemos dar a vida e todo o nosso sangue pela fé, para salvar ainda que uma só alma”.
     Ela estava convencida de que a reforma da sociedade nasce do coração da pessoa e que esta se transforma quando compreende quão preciosa é aos olhos de Deus e de quanto amor foi objeto, pois Jesus deu todo o seu Sangue para resgatá-la.
     Como tinha aprendido a ler e escrever, foi chamada pelo Administrador de Anagni, Mons. José Maria Lais, para ensinar as crianças. Em Acuto, uma aldeia de montanha não longe de Roma, começou a pregar e a catequizar na praça e na igreja, entusiasmando a todos e preocupando alguns, tanto que o bispo mandou um jesuíta observá-la incógnito, mas este concluiu que ela “fala melhor do que um padre”. Assim, Maria, da jovem tímida e introvertida que era, tornou-se uma pregadora que atraia crianças e adultos, simples e aprendizes, leigos e sacerdotes.
     Não podendo falar aos homens, estes acorriam voluntariamente para ouvi-la, embora às escondidas. Até os pastores lhe pediram que os ensinasse depois do pôr-do-sol; todos acorriam para ouvir as suas lições. Maria atraía até os sacerdotes, porque, quando falava de Jesus e dos mistérios da fé, parecia tê-los vivido em pessoa. O seu desejo era de que nem uma gota do Sangue de Jesus se perdesse. A preocupação de sua vida era dar gosto a Jesus, que lhe tinha roubado o coração desde a juventude, e salvar "o querido próximo".
     Sob o dorso de uma mula ia de uma aldeia a outra, atendendo aos pedidos e às necessidades dos lugares. E para onde não podia chegar pessoalmente, enviava cartas (cerca de 2.000) tanto para gente simples, como também para padres e bispos, síndicos e prefeitos, para aconselhar, educar, propor e estimular.
     Sob a orientação de um discípulo de São Gaspar del Bufalo, o Venerável Pe. João Merlini, que por quarenta anos foi seu diretor espiritual, fundou, com algumas companheiras, a Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, em Acuto, a 4 de março de 1834.
     A Congregação tinha como fim especial a propagação da devoção ao Sangue de Cristo e a educação da juventude, especialmente em centros pequenos e abandonados. Outras atividades promovidas pela zelosa Fundadora foram os cursos catequéticos, missões, retiros para leigos, senhores e jovens.
     Sua ação ardorosa atraia muitas jovens e Maria De Mattias fundou cerca de setenta casas, chegando à Alemanha e à Inglaterra; em Roma, o próprio Papa Beato Pio IX a chamou para o Hospício de São Luís e para a Escola de Civitavecchia.
     Maria De Mattias faleceu em Roma a 20 de agosto de 1866, e o Pio IX mandou que fosse sepultada no Cemitério de Verano, tendo escolhido um túmulo para ela e comissionado a confecção de um baixo relevo retratando a visão de Ezequiel: "Ossos secos, ouça a palavra do Senhor".
     O processo da sua Beatificação foi iniciado trinta anos depois, mas foi Pio XII que a beatificou em 1º de outubro de 1950. Ela foi canonizada em 18 de maio de 2003, na Praça de São Pedro. Seus despojos são venerados na Igreja do Preciosíssimo Sangue anexa à casa generalícia do seu Instituto, em Roma.
     Atualmente cerca de 2.000 Adoradoras trabalham em todos os continentes, em 26 nações: Albânia, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Bósnia, Brasil, Colômbia, Coréia, Croácia, Filipinas, Guatemala, Guine Bissau, Índia, Itália, Liechtenstein, Polônia, Servia, Sibéria, Espanha, Suíça, Tanzânia, Ucrânia, EUA.

Maria De Mattias nasceu em Vallecorsa, a cidade mais ao sul dos Estados Papais, na província de Frosinone, em 4 de fevereiro de 1805, filha mais velha de uma distinta família.
     Seu pai foi um educador excepcional que a ensinava a rezar e a amar a Sagrada Escritura. Ele formava seu coração com narrativas bíblicas que a encantavam. Mais tarde, tornou-se seu confidente e guia. Foi ele quem a fez compreender, na sua adolescência, o significado profundo do Cordeiro Pascal, como simbologia de Jesus que foi conduzido à morte e verteu seu Sangue para a salvação da Humanidade. E a jovem concluiu que ela também devia consumir-se completamente, se necessário até o derramamento de sangue, para levar Jesus a todos.
     Sem educação formal e sem contatos externos, por causa de sua classe social, Maria passou sua infância e início da adolescência retirada e focada em sua beleza. Mas quando ela chegou a adolescência, começou a procurar o significado de sua vida. Impetuosa, vivíssima e um pouco vaidosa, aos 16 anos foi favorecida com uma especial inspiração da Santíssima Virgem, compreendeu a vaidade e a transitoriedade dos prazeres do mundo e começou por renunciar a joias e a adornos pelo ideal de uma vida dedicada a Deus e aos irmãos.
     Em 1822, quando São Gaspar del Bufalo, fundador da Sociedade dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, pregou numa missão em Vallecorsa, Maria descobriu sua vocação de missionária. Mas não na África, como havia sonhado em menina, mas na sua região.
     Maria respondeu ao chamado de Deus com a radicalidade dos santos. “Benditos somos - escrevia às primeiras discípulas - se podemos dar a vida e todo o nosso sangue pela fé, para salvar ainda que uma só alma”.
     Ela estava convencida de que a reforma da sociedade nasce do coração da pessoa e que esta se transforma quando compreende quão preciosa é aos olhos de Deus e de quanto amor foi objeto, pois Jesus deu todo o seu Sangue para resgatá-la.
     Como tinha aprendido a ler e escrever, foi chamada pelo Administrador de Anagni, Mons. José Maria Lais, para ensinar as crianças. Em Acuto, uma aldeia de montanha não longe de Roma, começou a pregar e a catequizar na praça e na igreja, entusiasmando a todos e preocupando alguns, tanto que o bispo mandou um jesuíta observá-la incógnito, mas este concluiu que ela “fala melhor do que um padre”. Assim, Maria, da jovem tímida e introvertida que era, tornou-se uma pregadora que atraia crianças e adultos, simples e aprendizes, leigos e sacerdotes.
     Não podendo falar aos homens, estes acorriam voluntariamente para ouvi-la, embora às escondidas. Até os pastores lhe pediram que os ensinasse depois do pôr-do-sol; todos acorriam para ouvir as suas lições. Maria atraía até os sacerdotes, porque, quando falava de Jesus e dos mistérios da fé, parecia tê-los vivido em pessoa. O seu desejo era de que nem uma gota do Sangue de Jesus se perdesse. A preocupação de sua vida era dar gosto a Jesus, que lhe tinha roubado o coração desde a juventude, e salvar "o querido próximo".
     Sob o dorso de uma mula ia de uma aldeia a outra, atendendo aos pedidos e às necessidades dos lugares. E para onde não podia chegar pessoalmente, enviava cartas (cerca de 2.000) tanto para gente simples, como também para padres e bispos, síndicos e prefeitos, para aconselhar, educar, propor e estimular.
     Sob a orientação de um discípulo de São Gaspar del Bufalo, o Venerável Pe. João Merlini, que por quarenta anos foi seu diretor espiritual, fundou, com algumas companheiras, a Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, em Acuto, a 4 de março de 1834.
     A Congregação tinha como fim especial a propagação da devoção ao Sangue de Cristo e a educação da juventude, especialmente em centros pequenos e abandonados. Outras atividades promovidas pela zelosa Fundadora foram os cursos catequéticos, missões, retiros para leigos, senhores e jovens.
     Sua ação ardorosa atraia muitas jovens e Maria De Mattias fundou cerca de setenta casas, chegando à Alemanha e à Inglaterra; em Roma, o próprio Papa Beato Pio IX a chamou para o Hospício de São Luís e para a Escola de Civitavecchia.
     Maria De Mattias faleceu em Roma a 20 de agosto de 1866, e o Pio IX mandou que fosse sepultada no Cemitério de Verano, tendo escolhido um túmulo para ela e comissionado a confecção de um baixo relevo retratando a visão de Ezequiel: "Ossos secos, ouça a palavra do Senhor".
     O processo da sua Beatificação foi iniciado trinta anos depois, mas foi Pio XII que a beatificou em 1º de outubro de 1950. Ela foi canonizada em 18 de maio de 2003, na Praça de São Pedro. Seus despojos são venerados na Igreja do Preciosíssimo Sangue anexa à casa generalícia do seu Instituto, em Roma.
     Atualmente cerca de 2.000 Adoradoras trabalham em todos os continentes, em 26 nações: Albânia, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Bósnia, Brasil, Colômbia, Coréia, Croácia, Filipinas, Guatemala, Guine Bissau, Índia, Itália, Liechtenstein, Polônia, Servia, Sibéria, Espanha, Suíça, Tanzânia, Ucrânia, EUA.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Beata Leopoldina Naudet, Virgem e fundadora - 17 de agosto


     Leopoldina Naudet nasceu em Florença no dia 31 de maio de 1773, sendo seu pai José Naudet, francês, e sua mãe, Susanna d’Arnth, alemã, ambos a serviço dos arquiduques de Lorena. Aos três anos Leopoldina ficou órfã de mãe e em 1778, quando tinha cinco anos, foi enviada, com sua irmã Luísa, ao mosteiro do Castelo de S. Frediano do convento de S. José. Em 1783, foi para a França, a fim continuar os estudos e terminar sua instrução no convento das Damas de Nossa Senhora de Soissons, cidade de origem de sua família.
     Leopoldina se destacava por seu comportamento e por seu espírito de oração, tanto que recebeu a Crisma e a 1a. Comunhão respectivamente em 1781 e 28 de março de 1782.
     Em 1789 Leopoldina e a irmã retornaram a Florença, ocasião em que faleceu também o pai. Foram então convidadas a prestar serviços de camareira junto à corte do Arquiduque Leopoldo, no Palácio de Pittia. Leopoldina dirigiu a instrução dos filhos do grão-duque e quando este tornou-se Imperador Habsburgo em 1790, acompanhou-o à Viena. Naquela cidade, Leopoldina entrou em contato com um jesuíta, Pe. Nikolaus von Diessbach, que se tornou seu diretor espiritual. Este sacerdote havia fundado a Amicizia Cristiana, um grupo seleto e secreto composto de leigos e eclesiásticos, dedicado à difusão da imprensa católica. Embora vivendo na corte mais faustosa da Europa, Leopoldina não se deixou atrair por sua vida mundana.
     Em 1792, com a morte do Imperador Leopoldo, passou ao serviço da Arquiduquesa Maria Ana Fernanda, irmã do novo imperador Francisco II, e quando esta foi nomeada abadessa do canonicato de S. Jorge de Praga, as irmãs Naudet e algumas nobres, acompanharam-na na nova residência real na Tchecoslováquia.
     O piedoso ambiente criado pela arquiduquesa favoreceu em muito um desejo íntimo de viver uma vida mais religiosa. Dissuadida por seu diretor espiritual a entrar na Trapa, em 1799 encontrou o Pe. Nicolau Paccanari, que após a dissolução da Companhia de Jesus havia procurado reviver o espírito de Santo Inácio de Loyola fundando os Padres da Fé. Este sacerdote também havia planejado a criação de um Instituto feminino, as Diletas de Jesus, com finalidade educativa. Persuadida por seu diretor espiritual, Leopoldina passou a amadurecer o projeto, que teve o apoio e o empenho direto da Arquiduquesa Maria Fernanda.
     Em 31 de maio de 1799, na capela privativa da arquiduquesa na Abadia dos Beneditinos de Praga, junto com mais duas mulheres, pronunciou os votos temporários, empenhando-se em viver “para a maior glória de Deus e proveito para o próximo”.
     Com o objetivo de obter aprovação ao novo Instituto, retornaram à Viena para prosseguir para a Itália. Em 1800 tiveram um encontro pessoal com o Papa Pio VII, em Pádua, que as encorajou a prosseguir nos trabalhos; assim, deslocaram-se por diversas cidade italianas e chegando à Roma em fevereiro de 1801, foi organizada uma comunidade, e Leopoldina foi nomeada superiora. Sua iniciativa foi levada para outras casas na França e na Inglaterra.
     Em 1804, devido a acusações que circulavam contra o Pe. Paccanari, os Padres da Fé e as Diletas resolveram seguir um caminho autônomo; estas últimas deram origem à Sociedade do Sagrado Coração, sob a direção de Madalena Sofia Barat (canonizada em 1925), que já era superiora das Diletas francesas desde 1802.
     Em 1805 Leopoldina deixou Roma, com suas coirmãs, indo para Pádua e depois para Verona, a conselho do Mons. Luís Pacífico Pacetti, pregador apostólico e amigo de Pio VII. Ele era diretor espiritual da Marquesa Madalena de Canossa (canonizada em 1988), empenhada em fundar um instituto caritativo assistencial, dedicado também ao ensino das classes mais pobres: era o primeiro núcleo das Filhas da Caridade. Leopoldina ofereceu a colaboração dela e de seu grupo à iniciativa da marquesa, e em 8 de maio de 1808 a seguiu no mosteiro dos Santos José e Fidencio. Madalena teve por ela uma tal estima, que a nomeou superiora também de suas discípulas.
     Entretanto, a espiritualidade de Leopoldina era muito diferente, ela se sentia mais orientada a uma vida claustral e, no serviço apostólico, projetava dedicar-se às jovens das classes altas. A sua experiência a serviço do imperador, de fato a havia persuadido da necessidade de influenciar aquele ambiente onde as senhoras eram atraídas a levar uma vida frívola que, como consequência, as afastavam dos mais pobres.
     A comunidade canossiana tinha como diretor espiritual São Gaspar Bertoni, fundador da Ordem dos Estigmatinos (Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo), canonizado em 1989. Dirigida por seus conselhos, Leopoldina cresceu no espírito do mais puro abandono em Deus e estudou as regras de outras congregações religiosas, para criar uma toda sua. Foi sob a direção, orientação e preparo para seu crescimento espiritual, que São Gaspar Bertoni incentivou Leopoldina a fundar uma congregação de religiosas.
     No ano de 1816, Leopoldina deixou a Marquesa Canossa, que continuou a ter por ela grande estima, e com seu grupo estabeleceu-se em Verona, no ex convento de Santa Teresa de Verona, chamado popularmente “das Teresas”, onde teve início a Congregação das Irmãs da Sagrada Família. Este nome era devido a uma intuição que Leopoldina tivera cinco anos antes, enquanto rezava. Assim ela descreve nas suas notas intimas: “Na oração pensei em criar o Instituto sob a proteção da Sagrada Família, e para manter-se tomar a imitação de Jesus Cristo, tanto na sua vida escondida, como na pública”. As Irmãs firmavam votos monásticos, vivendo em clausura, porém, abertas ao apostolado educativo das moças nobres que viviam como internas no convento, mas que estudavam em escolas externas.
     Por este motivo Leopoldina abriu um educandário para as jovens nobres provenientes de todo o reino Lombardo-Vêneto, não só de Verona. Além disto, inaugurou escolas externas, completamente gratuitas, para as crianças e as jovens não ricas. Mais, desejava que suas casas religiosas estivessem abertas para acolher encontros formativos e exercícios espirituais, bem como um oratório para as muito jovens.
     Em 20 de dezembro de 1833, o Papa Gregório XVI aprovou o Instituto. Madre Leopoldina exclamou, enquanto tinha nas mãos a carta com o decreto, erguendo os olhos ao céu: “Basta isto. Deus mais nada deseja de mim. Agora posso dizer: ‘Nunc dimittis...’” Não muito tempo depois adoeceu, com fortes febres. Pareceu recuperar-se, mas teve uma recaída: a fundadora morreu em 17 de agosto de 1834. Seu corpo foi trasladado em 1958 para a capela da Congregação na cidade de Verona.
     Em 29 de abril de 2017 ocorreu a beatificação da Madre Leopoldina Naudet em Verona, na Basílica de Santa Anastásia, pelo Cardeal Ângelo Amato, Prefeito da Congregação da Causa dos Santos. A sua memória litúrgica, para as Irmãs da Sagrada Família e a diocese de Verona, é o 17 de agosto, dia de seu nascimento para o Céu.

Fontes:
www.santiebeati/it Autores: A. Borrelli e E. Flocchini


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Fundamento do Dogma da Assunção de Nossa Senhora


Paulo Corrêa de Brito Filho

Dogma definido no dia 1º de novembro de 1950 pelo Papa Pio XII, por meio da Constituição dogmática “Munificentissimus Deus”

     A Assunção de Nossa Senhora ao Céu em corpo e alma, que se comemora a 15 do corrente, é verdade conhecida na Santa Igreja desde os tempos mais remotos. É também o mais recente dogma proclamado pelo Supremo Magistério.
     Dogma! A palavra contunde os espíritos infectados pelo relativismo moderno. Entretanto é ela uma das mais esplendorosas estrelas na constelação da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, a única verdadeira do Deus único e verdadeiro.
     O que vem a ser, entretanto, um dogma? Uma verdade nova, inventada pela Santa Sé, a qual os católicos devem acrescentar às outras já anteriormente impostas de modo arbitrário pela Igreja? De nenhum modo!
     Há no Sagrado depósito da Revelação — Sagrada Escritura e Tradição — verdades explicitamente formuladas e outras que o estão de modo mais ou menos implícito. Tal fato não impede, porém, que um grandíssimo número de fiéis acatem também essas últimas, nelas crendo fervorosamente e de modo ininterrupto através dos séculos. Habitualmente vem depois o reconhecimento oficial e solene de que esta ou aquela verdade — já larga e amplamente difundida na Igreja — é elemento integrante da Revelação. Tal reconhecimento é fruto de longa e acurada maturação, meticulosos estudos, realizados por eminentes teólogos e exegetas, mas cuja decisão final cabe ao Papa. Em presença das conclusões dos peritos, o Supremo Pontífice emite o próprio juízo, decidindo pela proclamação, ou não, do dogma.
     O fato de o Soberano Pontífice decidir pela não proclamação não importa, de nenhum modo, na afirmação de que a doutrina em questão não é verdadeira. Mas, ou foram motivos de oportunidade, a juízo da Santa Sé, que a levaram a esse procedimento, ou foi porque esta não julgou ainda suficientes as razões apresentadas para proceder à solene definição.
     Quando, entretanto, a Santa Sé e o juízo do Papa as encontram suficientes, pode este último, invocando o privilégio da Infalibilidade Pontifícia, declarar a referida definição. Ou seja, proclamar o dogma.
     A proclamação do dogma é, pois, o reconhecimento solene, oficial e de caráter infalível de que determinada verdade está contida na divina Revelação. E enquanto tal exige, da parte do fiel, uma adesão incondicional para que ele permaneça unido ao corpo das verdades reveladas Àquela que, por disposição de seu divino Fundador, é a guardiã e mestra da Revelação: a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.